Thursday, March 15, 2007

Entrevista com SON SALVADOR - Por Liliane Corrêa




* Ilustram esta entrevista, além de uma charge by Son Salvador, dois olhares sobre o chargista, pelos colegas Melado e Quinho, “fãs incondicionais”

GERSON SALVADOR, O DONO DA PADARIA
Por Liliane Corrêa


Son Salvador é uma metralhadora. O ilustrador publica, em Belo Horizonte, charges nos jornais Estado de Minas, Diário da Tarde e Aqui - Grande BH, além de colaborar eventualmente com o Correio Braziliense e o Aqui – DF, na capital federal, e abastecer o site Charge Online (www.chargeonline.com.br). Além disso, acaba de lançar o próprio sítio (www.sonsalvador.com.br), onde pretende abrir um canal entre seu trabalho e o público infantil. Trabalha ainda na concepção de personagens novos para quadrinhos que pretende lançar em breve.
O cronista esportivo Son Salvador publica diariamente a coluna “Boladas e Botinadas”, no Diário da Tarde, e comanda o DT Esportes, que vai ao ar na TV Horizonte, de segunda a sexta-feira, às 19h – com reapresentação à 1h15.
Como que para humilhar os “pobres mortais”, ainda lhe sobra tempo para ser pai coruja de um casal de “marmanjos espetaculares”, marido atencioso à companheira de quase 40 anos e, de quebra, cultivar hobbies como colecionar LPs, CDs e DVDs - com especial entusiasmo para antigos seriados de TV.
Em entrevista ao Reação Cultural, Son Salvador faz um vôo panorâmico sobre a própria carreira, observando os detalhes, como bom mineiro, e conclui que “o importante é não ficar parado”. E ele leva isso muito a sério.

By Quinho

Onde começou o Son Salvador chargista?
Comecei no Sindicato dos Bancários… Peraí, tô confundindo (risos). Tinha um jornal, em Belo Horizonte, que se chamava Oi, Bicho, que era uma espécie de Pasquim daqui. Aí, me pediram pra ilustrar umas poesias. É. Foi isso (risos). Então, eu mandei as ilustrações e mandei umas charges junto, né? Daí, eles publicaram as charges e nem ligaram para as ilustrações. Me deram as páginas centrais do jornal! Foi uma surpresa!

E quem fazia o Oi, Bicho?
Ah, uma moçada bacana. Tem um que hoje é delegado, o Danilo Pereira dos Santos, um amigão meu… (olha pra cima, suspira e sorri) Ele tá meio brigado comigo, mas é um amigão meu (risos). Ele é poeta, compositor, um artista! Estudamos juntos, no ginásio Cristiano Otoni.

O que fazia nessa época?
Eu estava estudando contabilidade, fazendo curso de desenho artístico… Tudo que aparecia, eu fazia. Tinha uns 19, 20 anos. Eu trabalhava como porteiro num prédio comercial e estudava de manhã. Então, era legal pra mim. Aí, chegou um cara lá, um dia, procurando uma seguradora, que tinha havido um incêndio não sei onde (risos)… Eu fui procurar pra ele o número da sala e ele olhou por cima do balcão, viu o desenho e perguntou se era meu. Eu disse que era e ele falou: “Então vai lá no Sindicato dos Bancários. Eles estão precisando de um desenhista”. Aí, fui lá no sindicato e arrumei o emprego. Fiquei desenhando lá, negócio de greve, aquelas coisas todas (risos)…


Por Melado

Então, tudo começou na portaria do prédio…
Tudo, na portaria do prédio. E tem mais. Eu não sabia que o irmão do Ziraldo tinha um escritório no nono andar desse mesmo prédio. Eu via aquele cara passando lá… Era o Ziralzi. Ele era representante comercial de cartões de humor e tal... ficamos amigos.

E abandonou o emprego de porteiro?
Não, durante algum tempo eu continuei nos dois, por segurança, né? Depois eu me encontrei, lá no sindicato, com o Vicente Sanches (repórter do jornal Diário da Tarde). Agora você vê… Vicente, com aquele jeito aluado dele (risos), chegou pra mim e falou assim: “Você desenha muito bem. Eu vou te mandar lá para o Fábio Doyle (editor geral do mesmo jornal)”. O Vicente pegou um envelope que estava no chão, de correspondência que o pessoal abriu e jogou fora, todo sujo, escreveu um bilhete de recomendação pro Fábio e me entregou. Eu pensei: “Puta merda, esse troço não vai dar certo…” Mas eu queria tanto fazer isso que fui lá, procurei o Fábio e levei três charges pra ele ver. Então, ele me falou: “Olha, meu filho, pra você trabalhar aqui, tem de me mostrar pelo menos umas 15 charges…” Eu fui pra casa e passei a noite fazendo charge. No outro dia, de manhã, eu estava na porta do jornal. Quando o Fábio Doyle subiu, eu gritei o nome dele e ele falou: “Uai, o que foi?” (risos). Eu disse: “É que eu trouxe as charges…” Ele ficou olhando para a minha cara, assustado (risos). Deixei com ele e fui embora, trabalhar no sindicato. No Dia das Crianças, nem sei em que ano foi isso, eu saí do sindicato, passei na banca e vi uma charge minha na capa do Diário da Tarde. Aí eu pensei: “Olha só… saiu!”. Aí eu fui ao jornal, o Fábio me encaminhou do Departamento de Pessoal e me contratou.

E você já era o Son Salvador?
Não, foi aí. Nessa época, eu já tinha feito amizade com o Ziralzi, e eu assinava Gerson Salvador. Aí, ele falou comigo assim: “Muda esse negócio. Esse nome tá muito ruim!”. Ele tinha levado meus desenhos pra mostrar para o Ziraldo e falou: “O Ziraldo disse que Gerson Salvador é nome de dono de padaria”(risos). Aí, eu perguntei: “Pô, mas que nome eu vou colocar, então?” O Ziralzi, entrando no elevador, virou pra mim e falou assim: “Ah, põe Son Salvador!”… Aí, ficou.

Quando foi isso? Você tem de se lembrar do seu ano de admissão…
É mesmo. Foi em 76… Tem de calcular… eu tinha uns 26 anos, por aí… Eu já tinha ralado muito em sindicato , de bancário, de metalúrgico, já tinha feito greve, andei em trio elétrico com panfleto… (muitos risos)

E sua família? Já tinha uma veia artística?
Meu pai sempre teve esse negócio de arte, sempre gostou muito de música, chegou a mexer com esse negócio de teatro amador… mas desenho, assim, não tinha ninguém não. Eu tinha tio que tocava em banda, tio que tocava violão… Minha família é enorme… tenho 116 primos de primeiro grau, só por parte de mãe (risos)… Para a última festa que a gente fez, tivemos que alugar a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Sabará (na Grande Belo Horizonte).

Eles te apoiavam?
Não… quer dizer… deu problema, uma época lá (risos)… Mas eu não toco nesse problema porque eu sei que, quando eu falo sobre isso, meu pai fica chateado. Ele fala que eu sou o único filho a quem ele tem de pedir desculpas. Porque teve uma época em que eu desenhava e ele achava que aquilo era negócio de quem não queria trabalhar (risos).
Mas eu não gosto de tocar nesse assunto porque meu pai tá com oitenta e tantos anos… Eu vivo tão bem com ele! Eu não quero magoá-lo, de jeito nenhum. E acho que era da época também… Lembro que, quando comecei a desenhar (pausa)… Minha mãe morreu nova, com 56 anos… ela ficava preocupada, porque veio a Revolução de 64 e minha mãe via aquilo e falava: “Olha o que que você está fazendo.. ” (muitos risos). Mas tem umas coisas que vão caminhando… não tem como…

Quantos irmãos vocês são?
Sete. Gerson, Gerci, Gertrudes, Giane, Gilson, Getúlio e Gecilda - essa foi a sacanagem do meu pai, que botou esse nome nela (risos). Mas ela se chama Gecilda Andréa, então todo mundo a chama de Andréa.

E por que todo mundo com G?
Ah, isso aí… vai entender! É igual ao segundo nome… Salvador é porque meu pai olhava na Folhinha de Mariana. Ele ia lá e olhava o santo que tinha no dia… No dia em que eu nasci, devia ter lá um São Salvador, uma coisa assim… Aí tem Gerci Maria, porque nasceu em maio; Giane da Paz, porque nasceu no Dia Nacional da Paz; Gilson Cirilo, porque era dia de São Cirilo. Mas é aquela história… ele tinha uma lógica. O santo é que pagava o pato (risos).

Você, como chargista, já passou por oito presidentes da República… Qual deles foi mais “inspirador”?

Ah, da ditadura, era o Figueiredo. Agora, o Lula é imbatível, com o ponto G dele (risos)…

O Figueiredo era rico porque - é claro que eu sempre fui contra a ditadura… Mas o Figueiredo não era o Médici, o Geisel. Com o Médici, a gente sabia o seguinte: “estão massacrando todo mundo, estão matando”… Com o Figueiredo, a gente sabia que tinha uma possibilidade de evolução do processo, de abertura… Isso tudo, a gente percebia… Agora, a minha geração é uma geração interessante… Eu vivi uma época parecida com a que viveu o pessoal da música de protesto. Se você desenhasse um quepe e publicasse, era genial. O pessoal pensava pô, esse cara tem coragem, desenhou um quepe... Só que, quando veio a abertura, você tinha que mostrar que tinha humor e conscientização política. Nessa, muita gente ficou perdida no tempo… Porque a nossa função é fazer uma crítica, mas essa crítica tem de usar sempre, como janela, a ironia e o humor…

O Luís G, que era chargista da Folha de S.Paulo durante a repressão, ficou de saco cheio porque tinha censura lá e começou a desenhar uma árvore e um lobo… Aí, o censor foi lá e falou pra ele que não podia. Isso eu acompanhei mesmo… Então, ele continuou desenhando só a árvore, mas foi fazendo a árvore retorcida, a mesma árvore, cada vez mais retorcida… Chegou a um ponto em que eles proibiram. Eles não sabiam o que aquilo significava e o Luís fazia aquilo só pra protestar, mas a censura brecou aquilo também.
Para você ver, essa árvore retorcida era um símbolo importante naquela época. Hoje, se eu fizer uma árvore retorcida, eles me internam… “Esse cara tá ficando doido”(risos). E é até antiecológico!

E como foi sua participação no Pasquim?
Na primeira fase, eu publiquei pouquíssimo. Teve até uma lá que saiu com meu nome que não fui eu quem fez (risos)… Mas, naquela época, era o seguinte: Você tinha de fazer a charge, colocar no envelope, ir até o Correio e mandar pelo Sedex, pagar uma nota de selo e mandar para o Rio, pro Pasquim, pra ver se saía. Acho que isso dificultava muito. Eu não tinha saco nem dinheiro pra passar a semana na porta do Sedex…Na segunda fase, eu publiquei páginas e mais páginas lá. O Quinho também publicou… era só mandar por e-mail e acabou… Então, essa segunda fase, pra mim, foi muito mais bacana… por causa da facilidade mesmo.

Você acha que vive hoje sua fase mais produtiva?
Ah, acho que é, até pela maturidade. Hoje, eu tenho consciência de que eu sou um profissional e tenho que desempenhar uma função diária, industrial. A gente, quando começa, fica naquele drama… “isso não tá legal, não tá legal…” E, muitas vezes, o que não tá legal para você está ótimo para o leitor. Então, esse drama é uma bobagem… Tem dia que eu não estou legal, mas ninguém vai fazer a charge por mim. Acho que o grande problema que eu via, antes, em ser chargista era este: “Pô, vou fazer charge todo dia? Mas eu vou ficar chateado, às vezes… vou brigar com a minha mulher”…

E como é que faz quando briga com a mulher?
Não existe ligação entre uma coisa e outra… não existe a menor possibilidade de uma coisa interferir na outra. Até porque, com 30 anos de casado, eu não tenho muito tempo pra ficar brigando com a minha mulher não (risos).

Ela era sua namorada quando começou a desenhar?
Era. Namorei com ela durante oito anos, antes de me casar. A gente morava no mesmo bairro, estudou na mesma escola. Quando eu comecei a desenhar, ela até me apoiava… Sempre me apoiou. Se bem que mulher, quando gosta do cara… se o cara falar: “Hoje vou largar tudo e trabalhar de pedreiro”… Ela fala: “Que maravilha! Uma profissão tão bonita, né?” (risos). Com o tempo, você vai sabendo também separar o profissional do pessoal. É como o cronista esportivo… as pessoas acham que você tem que discutir a situação do Atlético em todo lugar, misturam muito. Eu sou chargista e o pessoal vive pedindo para a gente contar piada… uma coisa não tem nada a ver com a outra, pô!

E sua ligação com o esporte? Como foi isso?
Eu tinha muita amizade com o Jacaré, do Movimento Machão Mineiro, da Banda Mole e tal, e a gente se encontrava lá, tinha uma roda de samba que era famosa… toda sexta-feira a gente caía na noite… as mulheres ficavam invocadas em casa (risos). Então, chegou um determinado momento em que a gente tava fazendo muita piada, com o Movimento Machão Mineiro, essas coisas, e o Jacaré falou assim: Vamos montar um programa de rádio?” Eu falei: “Vamos”. Fomos lá na Rádio Capital e perguntamos: “Quanto é que custa o horário aqui, no domingo?” “É tanto.” Aí, a gente comprou o horário (risos).

A gente ia para lá às 13h e fazia o programa até as 15h… se chamava Zona Franca. E a gente falava de tudo, entrevistamos o Zeca Pagodinho, o Marquinhos Satã… A gente falava de política… Eu criei um quadro chamado “Deu no Jornal”. A vinheta era um grito meu, com bastante eco: “Deuuuu noooo joooornaaaaal”… (risos). E a gente pegava as notícias e começava a rir das notícias, porque tem muita coisa no jornal que é engraçada mesmo…

Aí, acabaram com a equipe de esportes da rádio Capital e o cara perguntou pra gente: “Por que vocês não montam uma Jornada Esportiva? Olha só como uma coisa vai puxando a outra… Aí, pronto, assumimos o negócio lá. Assumimos o esporte, contratamos uma equipe boa… eu lancei três mulheres fazendo reportagem de futebol naquela época… porque era proibido. Isso foi uns 18 anos atrás. Então, era proibido e eu botei…

Fico puto porque eu era do Movimento Machão Mineiro, mas aquilo, pra mim, era uma piada… Então, quando alguém vem com essa história de discutir machismo, eu fico puto. Lá na televisão, hoje, por exemplo, tem duas mulheres no programa… Eu sempre fiz isso.

E o Zona Franca?
Então, a gente só produzia. Mas, um dia, faltou um comentarista e me puseram lá, para fazer o comentário na rádio. No outro dia, o povo disse: “Você tem de continuar”… É sempre assim. Depois, foi no jornal. Faltou uma coluna lá e o Afonso Barroso falou: “Ô, Son, escreve uma coluna pra nós aí… pro Diário da Tarde.”Aí eu escrevi. Botei “Boladas e Botinadas” no nome da coluna e escrevi um tanto de bobagem lá (risos)… E a coluna tá lá até hoje.
Comigo, as coisas sempre foram assim. Eu sempre aproveitei as oportunidades. Outra coisa, eu sempre colaborei, sem pensar em recompensa, sempre que alguém precisava… Eu digo que todo profissional tem de estar sempre buscando alguma coisa, até inconscientemente. Sobre a minha mesa sempre tem três, quatro jornais… Eu sempre busquei muita informação. Muitas vezes, pensando “tô lendo isso nem sei pra quê”, mas eu lia (risos). E no fim, eu precisava daquilo…

Você é atleticano?
Sou, sou…atleticano. Hoje, o pessoal até confunde… “Por que você fala tão mal do Atlético?” Mas é por isso mesmo… porque eu tô puto com esse time… (risos).

Você é muito admirado por seus colegas chargistas que trabalham em BH. Você tem consciência disso?
Eu nunca percebi isso. Acho que há, também, uma troca. Sabe o que é? Eu sempre me espelhei muito no meu começo, que foi muito complicado. Eu levava meus desenhos num lugar, no outro, tentando conseguir um emprego… não tinha, não dava. Foi uma parada! Então, eu sempre tive muita admiração pelo pessoal que começava, independentemente de começar perto de mim ou não. A Chantal, por exemplo, quando chegou aqui no jornal tinha 13 anos. Ela hoje é formada em design. Quantas vezes eu sentei junto dela e falei: “Seu desenho tá uma merda! O texto que você escreveu tá ruim…” E ela voltava e refazia. Hoje, ela pode me dar aula!
Agora, esses meninos novos já passaram por mim… Eu já fiquei pra trás. A vida é assim. Hoje, o Quinho e o Duke, por exemplo, estão num estágio muito superior ao meu. Talvez eu tenha um nome, uma marca, uma experiência… mas eles já estão acima, e com um campo muito mais amplo que o meu. Eu tenho consciência disso, tranquilamente. O Quinho é um gênio, uai! (risos) O Melado tá fazendo uns quadrinhos… um troço fantástico… Então, aí é que eu acho que a gente tem que entender isso, até pra não ficar perdido no tempo.

Você acha que os chargistas mais novos ganham por já terem começado depois da ditadura?
Ah, sim! Eles são muito mais ousados. Às vezes eu me surpreendo comigo mesmo… Outro dia, usei uma palavra numa charge… o Lula falando assim: “Eu vou invadir, vou dar porrada!”. Levei lá para o João Bosco (Martins Salles, editor geral do Estado de Minas) me dizer o que ele achava e o João disse que a charge podia ser publicada… E eu: “Mas a palavra porrada…” Aí, ele riu… Tá vendo? O que a ditadura fez com a gente não muda. Esses meninos são muito mais atrevidos (risos).

Atrevidos?
Ah, é. Hoje, tem coisas que eu evito. Eu tenho um certo pudor com algumas coisas mesmo. Chega um tempo em que a gente começa a pensar mais… Hoje, por outro lado, eu sou um cara mais reflexivo… talvez a melhor função pra mim, hoje, não fosse essa, de continuar desenhando feito um maluco, sei lá. Aqui, já teve desenhista que me trazia um editorial e pedia pra eu dar uma olhada… Hoje, eu leio cinco linhas de um editorial e já sei o que eu vou desenhar. E tenho uma teoria: Se você não entendeu o editorial, faça uma ilustração que ninguém vai entender também. Aí, o cara pega e fala: “Genial!!!! Ele pegou o espírito da coisa!” (risos)
Então, a minha função talvez fosse mais a daquele cara que diz assim: “Vai por esse caminho aqui que é melhor. Eu já passei por isso” (risos). Mas é tudo assim. Gosto de ajudar quem está começando.

Então, sua carreira simplesmente “aconteceu”…
Sempre foi assim comigo. Depois da Rádio Capital, fui ser comentarista da Rádio Globo. Era um negócio assim: um Fiat 147 pra cobrir o jogo Flamengo e Atlético no Maracanã (risos). Uma dificuldade! Eu ia comentar um jogo à noite em Varginha, no Sul de Minas, e tinha de trabalhar no jornal no dia seguinte, às 8h. Numa ocasião dessas, eu tava na rádio, chefiando a cobertura, e chamava, no Estádio Independência, os repórteres, ao vivo. “Repórter fulano, no banco do time tal”… e o cara entrava. Então, tinha um repórter lá que eu chamava e nada… Depois, chamava de novo… e nada… Até que chamei “Repórter Cardoso Neto, no vestiário do América”… E entrou uma voz dizendo: “Informo que o repórter Cardoso Neto é um irresponsável e não apareceu para trabalhar até agora. Aqui é o Machadinho, da técnica” (risos). Na hora, eu pensei: “Puta merda, vou ter de mandar o cara embora, poxa!” Quando eu cheguei no campo, me deu uma crise de riso… mas uma crise de riso…

E o site? Acaba de ser lançado, né?
É. Aquilo ali já faz parte dessa minha visão de que eu tenho de procurar outras coisas pra fazer também. Eu tô buscando, ali, um contato com o público infantil. Meu principal objetivo é esse. Eu preciso de um lugar pra colocar minhas histórias. Eu já tive uma peça infantil encenada no Palácio das Artes…

Você nunca pára (risos)?
Ah, paro. Eu chego lá em casa, pego meus LPs e vou ouvir… Eu tenho um espaço lá em casa pros meus LPs, CDs, DVDs… Tem de tudo. Só que agora eu estou resgatando os shows dos anos 70, de rock, de tudo. Devo ter mais de 1.500 LPs. Muita coisa ficou perdida no tempo, né? Tem muita coisa na casa do meu pai…Mas os principais eu tenho lá: Elvis Presley, Beatles, Beach Boys… tenho tudo lá.
CD eu tenho um armário grande cheio… mais os que eu vou comprar amanhã ou hoje… (muitos risos)
Agora, DVD é que é um barato! Eu tenho desde o “Ed Sullivan Show” até os seriados “Magnum”, “Kojak” (risos)… Tenho “O Fantasma”, de 1948, “Flash Gordon”… tudo que o DVD está trazendo de volta… E eu adoro achar fundo musical pras coisas que eu faço!
Mas, sabe o que é isso? Eu acho que sou um cara que gosto mesmo das coisas que eu vou fazendo… Então, não acho que sou um cara que trabalha demais...

E o Brasil, Son?
Qual? O do Lula, o nosso ou o do Dunga? (risos). Acho que o Brasil continua naquela fase de maturação e, por mais que a gente culpe o eleitor, há o aprendizado e há o crescimento.. Mas ainda vamos gastar uns três presidentes para isso aqui tomar jeito.

Mas o país de hoje é melhor que o de quatro anos atrás?
Ah, eu acho. Não que seja exclusivamente pelo governo Lula, mas é que o país está mesmo numa evolução. Isso é inegável. Desde o Plano Real… Antes do Plano Real, puxa vida, a gente recebia 1 milhão por mês e o dinheiro não dava pra nada (risos). Mas há uma evolução, sim. Com toda essa falta de moral dos políticos, eu acredito que está havendo uma melhorada. A gente critica o Lula como criticaria qualquer outro presidente. Mas que há uma evolução, há. Isso que muita gente tá falando, por exemplo, criticando Lula por se unir ao Bush… Eu acho que ele tá certo! Vai comprar briga com americano? Ué, então nós vamos nos unir ao Chávez?
Então, eu acho que o Brasil tem um futuro, até próximo, melhor também pela formação da juventude. Eu faço muitas palestras em faculdades e a gente está vendo surgir uma juventude com uma formação ética muito boa. Se essa geração superar esse problema de droga - que está parando muita gente boa -, acho que teremos uma boa surpresa…

E as desigualdades?
Aí é aquela história… ela sempre existiu. Eu vejo que há uma certa conscientização no sentido de reduzir isso. Mas a própria formação mais ética dessa moçada já faz com que eles também vejam essas desigualdades de forma diferente. Porque eu não acredito nessa história de que é a desigualdade que faz essa violência de narcotraficante, não. Isso, pra mim, é outra história… é ambição, é mau-caratismo… Não é porque o cara é pobre não… O pobre, aí, é usado como massa de manobra… Ainda mais no Brasil, esse país enorme. A verdade é que, quando a pessoa busca uma solução boa, encontra, desde que tenha opção. Porque esse negócio de narcotráfico vem de cima, o interesse não é do pobre. Alguém fala pra ele, o convence de que a única opção dele é aquela. Mas é mentira…

E agora? Qual é seu próximo projeto?
Quadrinhos. Tô bolando uns quadrinhos aí (risos)… A inspiração veio de um troço que meu pai fez lá na roça. Quando a caixa d’água tá vazia, acende uma luz vermelha em baixo. Quando tá cheia, acende a luz verde, em cima. “Para que isso, pai”, eu perguntei. “De longe, eu sei se a caixa está vazia ou cheia” (risos). Meu pai é um Professor Pardal… Então, tô fazendo um personagem inspirado nessa coisa de transformar objetos… mas isso é para os quadrinhos…

E como pretende publicá-los?
Ah, sei lá (gargalhadas)! Primeiro eu faço, depois descubro o que eu vou fazer com isso, uai!

2 comments:

Anonymous said...

Excelente entrevista. Parabéns ao entrevistado e à entrevistadora. Fez-me lembrar as do Pasca dos bons tempos.
(PS: tenho em algo em comum com Son Salvador: também comecei no Sindicato dos Bancários, só que de Porto Alegre).

Anonymous said...

Poxa, honradíssima pelo elogio e pela comparação, Jens. Valeu! Mas a gente sabe que bom mesmo é entrevistar gente que tem história pra contar, né? Então, deixo o mérito todo com o Son, cara bacanérrimo mesmo! Abração!

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