Monday, January 29, 2007

Index Quinzena 10! 30/1 a 14/2

Renovando o pedido :
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1 – Começamos com as desculpas esfarrapadas e dissimulações por não ter publicado o Reação neste passado Sábado... Fuja não, acompanhe o editorial do Reação, clicando aqui

2 – Luciano Piccazio abandona a fala musical. Música, agora, só ouvir, mesmo. Por outro lado, passou a escrever uma Novela. Ah, se vocês pensam o que eu penso, essa não se pode perder, portanto clique aqui

3 – No meio do caminho havia uma cratera... Nossos colunistas se preocupam com o terrível acidente nas construções da estação Pinheiros do metrô paulistano. Saiba o que pensa nosso Filósofo Vinícius, clicando aqui

4 – Camila Canali Doval, recém formada em Letras, compartilha suas impressões sobre a cratera. Acompanhe a volta de Camila à coluna venusiana, clicando aqui

5 – Professorinha Silvia reclama a educação lusitana. Leia o que a Professora tem a dizer, clicando aqui

6 – Joaquim “Joshua” dos Santos traz os versos da polêmica sobre a fome e a miséria. Leia mais, clicando aqui

7 – Louvemos à Sacerdotisa, com seu texto sobre um país brasileiro cada vez mais ‘interessante’. Clique aqui para saber mais

8 – Roberto de Queiróz está de volta de suas férias para a coluna CLAQUE-TE, que dessa vez fala sobre o casamento entre o cinema e as tragédias globais. Não percam, só cliquem aqui, relaxem e leiam

9 – André di Bernardi nos traz mais uma tocante poesia em sua coluna Poesia di Bernardi, que você deve ler, clicando aqui

Editorial Quinzena 10! 30/1 a 14/2


As crateras regionais se expandem na blogoesfera!

Peço perdão, e tenho todas as desculpas boas e ruins desse mundo, pelo atraso do Reação. O que aconteceu, porém, como aconteceu comigo e não convosco, a mim cabe e não nas páginas deste editorial. O que cabe aqui, que já é pouco, refere-se mais ao que vem pela frente. O Reação toma partido contra os absurdos do universo, e faz parte dos absurdos do universo. Quer coisa mais absurda do que o Reação?

Se conhecem algo mais absurdo, antes leiam o texto de Vinícius em sua filosofia sobre a decadência paulistana. Ao mesmo tempo, a Sacerdotisa nos abençoa com sua perspectiva sobre as tragédias de uma civilização ainda em busca de organização civil. Assim também faz a poesia de Joaquim “Joshua” dos Santos, que volta de longa ausência, mas que volta como sempre, para construir poéticas polêmicas. A cara do Reação...

Outra que volta à boca de nossa revista eletrônica é Camila Canali Doval, e parabéns à recém formada em Letras! Merecedora dos bons elogios reservados aos bons escritores e boas escritoras, como é o caso da Mulher de Sardas, que nos conta sobre as crateras urbanas, e suas profundidades.

Roberto de Queiróz conta como o cinema explora a tragédia, ou como a tragédia se espelha no cinema, em sua coluna Claque-te. André di Bernardi interrompe suas férias e nos envia mais uma de suas tocantes poesias. O Reação vai e volta, mas não sai saindo!

O mesmo se diz da outra amiga lusitana, Professora Silvia, que fala sobre a educação de sua província Portuguesa e nos honra com sua volta. Já Luciano Piccazio volta, mas volta mudado. Abandonou seu estilo de crítica musical e passou a noveleiro. Ele mesmo se explica, em sua nova coluna Novela, que vocês não podem perder.

Além de nossos textos, posso afirmar que as férias pré carnavalescas fizeram alguns de nossos leitores ocupados demais para ler a revista. Faz bem para pele o descanso! O fato é que o ideal será continuar e crescer, com agenda de eventos culturais internacionais, com a entrada final de um cartunista, com a participação de amantes do teatro... Ainda precisamos de colaborações, e isso depende muito de vocês, leitores e leitoras queridas! Alguns novos cadastros na quinzena me fazem acreditar que estamos a passo certo, que alguns por nós se interessam, e isso é sempre bom.

Um lançamento chamou a atenção e atraiu bloguistas de toda a blogoesfera, o blogue do SIVUCA. Veja o linque aí ao lado, e entenda do que se trata: Por uma mídia livre, de boa qualidade e sem a exploração corporativa da qual estamos cansados há anos!

Enfim, atrasado ou não, aí vai o Reação!

Aos Abrax,

Roy Frenkiel,
O editor que não edita.

NOVELA


Título da “novela”: República do Sol
Por Luciano Piccazio

Título do capítulo 1: Aquele do primeiro dia...

Sentado na sacada, eu via aqueles prédios baixinhos, uma ou duas estrelas no céu, um barzinho e uma cruz iluminada no alto de uma igreja. Minha casa, depois de 23 anos morando na casa dos meus pais! Mal conseguia acreditar nisso. Enquanto comia um sanduíche, o Vico arrastava algumas caixas para o quarto dele. A Fê tirava foto de tudo. Ela acha linda a casa como está, cheia de caixas, parecendo um depósito - tem aqueles olhares artísticos que conseguem ver beleza em quase tudo.

Fê e Vico são dois dos meus melhores amigos. Se conheceram logo na primeira semana de aulas da faculdade e poucos tempo depois começaram a namorar. Estão juntos há dois anos, e não há pessoa no mundo que os conheça e diga que não são um casal fantástico.

Quando entrei na faculdade demoramos um pouco para ficarmos amigos; fomos nos conhecendo aos poucos. Com o passar do tempo, ficamos mais e mais íntimos. Uma coisa, além de tantas afinidades, nos unia: o desejo enorme de sair (ou fugir) de casa. Eles já trabalhavam, mas ainda não podiam pagar um apê. Quando consegui minha bolsa de iniciação científica e passei a ganhar uma graninha (um pouco mais do que um salário mínimo), decidimos rachar uma casa.

É uma casa com dois quartos, sala, cozinha, banheiro, varandinha e uma área de serviço. Terceiro andar de um prédio sem elevadores, perto da USP, do lado de um botequinho com cerveja barata. Resumindo, tudo que a gente precisa.

Terminei meu sanduíche, levantei, peguei as garrafas de vodca que tínhamos ganhado de presente dos nossos amigos e chamei o Vico e a Fê pro meio da sala. Eram nove horas da noite, e ficamos lá bebendo e conversando, ouvindo música e tocando violão, até amanhecer. Nós nos sentíamos bem, nos sentíamos vivos. Pela primeira vez na vida, éramos nossos donos.

Então dormimos no chão mesmo e só acordamos com nossos amigos batendo na porta. Eram quatro da tarde de domingo e eles vinham para comemorar a nossa liberdade com a gente. A nossa intenção era fazer da nossa república uma casa para todos os nossos amigos. Um ponto obrigatório semanal - diário para alguns.

Então levantamos, escovamos os dentes e partimos para preparar o almoço de miojo com cerveja. Trouxeram muita cerveja. Nossa vida começava, e começava bem.

Eu confesso que em alguns momentos voltava minha atenção para meu celular. Ficava vendo se uma amiga ligava. Era uma amiga de infância, que tinha reencontrado há algum tempo. Ela não ligou, nem eu liguei. Depois de uma certa hora, desisti de esperar e me esqueci tocando violão.

Eram dez da noite quando a campainha tocou. Não esperávamos ninguém, por isso o pessoal ficou meio quieto. Eu, já mais pra lá do que pra cá, fiquei só olhando. A Mariana foi ver quem era pelo olho mágico e voltou o rosto para nós com a cara assustada: é seu pai, Chico.

Fodeu, pensei. Meu pai, no meu primeiro dia de república, de vida independente, me ver bêbado tal qual um gambá. Acho que foi reação instantânea, mas voei para o quarto, e de lá fiquei num lugar escondido. Como se estivesse brincando de esconde-esconde.

Abriram a porta pra ele e o receberam. Todos muito polidos e bêbados. Pensava quão ridículo era aquela situação, como se toda a minha luta não tivesse valido pra nada. Como se eu continuasse a ser aquele menino pequeno e dependente de amor, carinho, aceitação do pai. Depois de uns quinze minutos, vi quão ridículo estava sendo. Se meu pai quisesse me ver, me veria como fosse, bêbado ou não.

Saí do quarto com o orgulho na mão, não sabendo qual seria o fim dele. Quando vi, meu pai estava tomando um shot de vodca, rindo e jogando truco. Estava em casa, e vi que tudo ficaria bem. E meu coração voltou pro peito.

(continua)

Luciano Piccazio Ornelas
Blog Arte Free
http://artefree.blogspot.com/

Filosofia de Vinicius

A decadência paulistana

Depois da cratera formada no terreno de construção da extensão Pinheiros do metrô em São Paulo, a prefeitura e o governo terão de enfrentar um dos maiores desastres infra-estruturais que uma cidade já teve de enfrentar.

São Paulo é uma cidade roleta russa. Se fizéssemos uma lista macabra das tragédias do cotidiano paulistano, teríamos, por exemplo, roubo, atropelamento, estelionato, carro riscado, enchente, ônibus atrasado, desemprego, poluição, congestionamento, Kassab, José Serra...


Num dia, chega um amigo de faculdade todo suado na sala de aula. “O maldito trem quebrou e fui a pé da Mooca até o Brás”.

Noutra oportunidade, tragicamente, um amigo é morto por bala perdida num roubo a carro forte. Seu erro foi estar ao trânsito, esperando o semáforo abrir, às 11 da matina, quando ladrões e seguranças colocaram suas armas para funcionar. “Uma bala perdida/ encontra alguém perdido/ encontro abrigo no corpo que passa por ali/ E enterra tudo/ estraga tudo/ pá de cal/ que enterra todos na vala comum de um discurso liberal” segundo Engenheiros do Havaí (fiz a citação puxando pela memória).

Uma amiga teve uma conta bancária aberta em seu nome e só foi saber do mesmo quando, a fim de expandir seus negócios, descobriu a inscrição de seus dados em órgãos de defesa de crédito. Era mesmo de se imaginar que o senhor estelionatário não faria a delicadeza de pagar as dívidas bancárias feitas em nome alheio...

Para sair de casa, volto as minhas origens indígenas, porém, às avessas: faço “dança da não-chuva”. Orações, santinhos, promessas... tudo para que não chova. Quando eu era criança e vivia num sítio (sim! Este ser cheio de mágoas que vos escreve teve uma infância feliz num lugar tranqüilo!), era um lazer ficar vendo a chuva. Chovia divinamente e as pessoas diziam que o “tempo estava bonito”. Na vida adulta em São Paulo, o costume se repete: com a chuva, falta luz, telefone, água (curiosíssimo como um fenômeno pluvial ocasiona, justamente, o desabastecimento de água) e a cidade alaga. Só resta mesmo é ficar vendo o temporal bater maldosamente na cidade. Estou distraído quando o zelador do prédio solta a antítese das chuvas da minha infância: “Que tempo horroroso!”

Toda roleta russa respeitável zela pela angústia do inesperado. O que se falta prever em São Paulo? Enchentes, transporte público falido e violência acabam compondo, tristemente, uma rotina. Mas o que dizer do desmoronamento nas obras da estação de metrô de Pinheiros? As pobres vítimas do acidente não tinham como contar com mais esse risco. É bastante provável que todos, sem exceção, tenham tido cautelas com outros perigos citadinos. Mas como ultrapassar os desafios imprevistos de uma cidade hostil à cidadania?

E, afinal de contas, como se dará a responsabilização pelo acidente?

Ou se dirá que as causas foram tantas e tão complexas que se inviabilizará a responsabilização administrativa, civil e mesmo criminal?

Mais duas observações e encerro logo este texto que se alongou. Para o bem e para o mal, não assisto adequadamente à televisão faz anos, de modo que não acompanhei integralmente a cobertura do acidente. Tanto é que, se eu estiver errado, faço as devidas correções em ocasiões futuras. Entretanto - e aqui vai a primeira observação - o que me chamou a atenção foi que as empresas contratadas não deram o ar de sua graça no esclarecimento dos motivos do desabamento. Tão pouco seria de se esperar a nobreza por parte do consórcio em manifestar as medidas adotadas quanto às vítimas e danos causados aos moradores próximos.

Aparentemente, a iniciativa privada acabou poupando sua imagem, deixando no ar a impressão de que a responsabilização será unicamente da Administração Pública. Não que eu morra de amores pela gestão municipal e estadual, mas os chefes dos respectivos executivos poderiam, na primeira oportunidade, esclarecer que a responsabilização também é das empreiteiras contratadas. É apenas uma idéia minha, mas pode ocorrer o deslocamento inadequado das responsabilidades da iniciativa privada exclusivamente ao poder público... E todos os prejuízos podem acabar por conta do erário público.

A última observação é, pelo que se noticia, que o sindicato dos metroviários advertiu previamente sobre os riscos da obra. E mais: que durante a licitação, o governo paulista cedeu à pressão das empreiteiras, permitindo que elas mesmas fiscalizassem as obras. Afinal de contas, nosso governo estadual reluta em permitir ingerências dos próprios trabalhadores...

Vênus Contra-Ataca


A CRATERA
Por Camila Canali Doval

Há uma cratera sob meus pés. Uma cratera do tamanho daquela de São Paulo. Não, maior. Uma cratera do tamanho do espanto da população. Da indignação da população. Do luto da população.

Onde já se viu um buraco daquele tamanho? Nos filmes de ficção científica? Nos piores pesadelos? Em um país onde tudo é possível? Sim, em um país onde tudo é possível.

O Brasil é essa coisa enorme e estranha que vemos e vivemos. Nele, acontecem coisas inimagináveis, tanto para o bem quanto para o mal. Nele, existem pessoas que não são pessoas, são uma forma divina qualquer; uma forma que suporta as piores provações; uma forma que parece o teste de resistência da obra de Deus.

Há uma cratera sob meus pés e ela me engole. Ela me puxa para baixo com a fúria da gravidade. Perder o carro. Perder a casa. Perder o filho. Perder o filho e todas as lembranças do filho. Só do coração nada disso se apaga. Dizem que desgraça pouca é bobagem.

Agora, a cada dia, encontram um corpo. Não bastou o soterramento, a sepultura antecipada. Tem que cavar, escarafunchar, encontrar, resgatar, identificar, cavar, escarafunchar e enterrar de novo. Tem que esconder bem. Tem que disfarçar bem o cheiro. Tem que fechar o buraco o mais rápido possível. Já pensou se sobra gente por lá? Um mendigo que ninguém reclama? Que não faz falta? Que não tem lembrança nenhuma para apagar? Tem que limpar tudinho. Recolher todinhos. Tem que calar os lesados com uns trocos e esquecer o processo na justiça. Que tragédia.

Há uma cratera sob meus pés, mas bem que poderia ser uma marquise sobre minha cabeça. Aqui em Porto Alegre tem disso também. Não se pode parar em qualquer lugar. Não se pode fugir da chuva. Os prédios antigos e mal demolidos desabam sobre os moradores. A cidade morta descarrega suas lembranças em cima dos cidadãos.

E uma mãe até entenderia uma tragédia do porte de uma cratera bem no meio de São Paulo; porém, não pode conceber sua única filha morta pela única marquise que caiu naquele instante na capital gaúcha. Pela minha própria mãe, a partir de agora, não vou mais pela sombra.

O Brasil é mesmo essa coisa enorme e estranha. Das maiores desgraças causadas pelos maiores equívocos vamos aos crimes mais hediondos cometidos por gente que não cabe em si de tão ruim. Gente que põem fogo em gente. Coisas que põem fogo em gente. Sei-lá-o-quês que põem fogo em gente. Porque não dá para qualificar a maldade em sua forma original e suprema. Não dá para nomear a nova espécie que criamos em nossos submundos. Não dá para discernir o que tem de nós em cada ato terrorista. Ou apenas, não temos coragem para fazê-lo.

O Brasil é enorme e é estranho; e pode ser mais enorme do que muitos, porém, não mais estranho. Falar dos problemas e dos horrores do Brasil não significa julgá-los piores. De forma nenhuma significa tomá-los como únicos. E nem de longe significa diminuir os do resto do mundo. Falar dos problemas e dos horrores do Brasil é simplesmente enxergá-los. Assim como são.

O mundo caminha junto e eu não arrisco dizer para onde. Quem dera ninguém agüentasse mais tudo isso. Mas nesse Brasil enorme e estranho as pessoas sempre agüentam mais um pouquinho, nem que seja só mais um pouquinho, porque em um lugar tão cheio de fé e de Deus viver sempre vale a pena, sempre recompensa, sempre faz sentido. E essa teimosia em fazer da vida o bem maior poderia ser ruim; se não fosse tão bom.

Em qualquer outro lugar as pessoas seguem porque têm que seguir... Vivem porque têm que viver... Suas cabeças vão baixas... Suas palavras vão caladas... Seus sonhos vão apagados... Em qualquer outro lugar as pessoas não notam que estão vivendo e que a vida ainda é o que há. Elas vivem, simplesmente, até a hora de morrer. Não raro olhamos para seus olhos e nada vemos. Não raro prestamos atenção em seus peitos para ver se ainda movem.

Mas no enorme e estranho Brasil os corações pulsam. Os pulsos batucam. E a vida samba. Nem ousarei plagiar Milton Nascimento sobre a estranha mania dessa gente em ter fé na vida. Para mim, a mania não é estranha. Estranha é essa gente. Que não é gente, é qualquer coisa que Deus insiste em alimentar.

Estranho é esse povo enorme que vê na vida um céu todo azul e mesmo com o chão se abrindo dá jeito de voar.

Camila Canali Doval
Camila Canali Doval, provável escritora, futura mãe de pequenos Caios, moça de família de comercial de margarina, formada em Letras, blogueira de plantão, taurina em alto grau (vide defeitos do signo), 26 anos de idade, infinitos de sonhos, incansáveis de busca, repletos de vida. Uma mulher de sardas assumida, apaixonada e feliz até onde pode e, olha, pode muito.

Professorinha Silvia

Agressão e violência


Ultimamente o assunto "Violência nas Escolas" tem voltado à ordem do dia desde que se soube que, numa escola de um país da Europa, a violação de uma aluna teria sido filmada com a finalidade de a chantagear de modo a que o estupro de repetisse sem que os violadores tivessem consequências. Tudo isto numa escola, claro. A seguir veio o governo aventar a ideia de se colocarem câmaras de filmar no exterior das escolas para se poder, de certo modo, desencorajar a violência.

Vieram logo em protesto pseudo defensores da privacidade e alunos que não viram com bons olhos essa medida, talvez com receio que a sua violência pudesse ser travada. Um desses alunos até disse que, se o projecto fosse para a frente, haveria modo de desligar ou pintar as câmaras de modo a que não se visse os actos violentos perpetrados contra os colegas (mais novos, geralmente). Será que os opositores de tal proposta de solução para amenizar a violência têm a mesma atitude em relação às câmaras que povoam o nosso quotidiano? Lembrem-se das câmaras dentro dos centros comerciais tão apreciadas por todos, câmaras nas auto-estradas e túneis, câmaras nos nossos locais de trabalho e para alguns até nas próprias casas... Será que quem instalou essas câmaras está errado e elas não funcionam como medida preventiva e dissuasória de males maiores?

Num programa da SIC Notícias, o Opinião Pública, em que o comum cidadão tem liberdade para telefonar e dizer o que lhe vai na alma sobre o assunto do dia, essa notícia das câmaras de vigilância foi o tema do dia. Como sempre está um comentador, neste caso foi uma comentadora, no estúdio de modo a poder responder às dúvidas dos telespectadores participantes e a comentar a notícia. Essa comentadora, se não estou em erro, foi enviado pelo Ministério da Educação, e defendeu a todo o custo que, e cito, "as escolas portuguesas são um local seguro". Isto é, nas escolas portuguesas não existe o bullying, não existe a agressão física a colegas mais novos, não existe, em resumo, qualquer tipo de violência.

Presumo, claro, que a comentadora presente tem a memória bastante curta, ou então não considera a agressão a professores como uma violência. Todos temos em mente as notícias, ainda algo recentes, de professoras (sim, mais uma vez os cobardes escolhem as professoras, e não os professores, para descarregar a sua raiva) agredidas violentamente pelos alunos e por pais de alunos que entraram pelas "seguras" escolas deste país adentro sem qualquer resistência ou interpelação.

Mas, o que a mim me incomodou mais nem foi o facto dessa comentadora não se ter lembrado dos professores como parte agredida. O que me incomodou, e continua a incomodar é o que as pessoas entendem por violência e agressão. Tomei a iniciativa de ir ao dicionário verificar o significado de ambas as palavras:

Agressão: acto ou efeito de agredir; acometimento; ataque.
Violência: qualidade ou estado do que é violento; força; intensidade; ímpeto; irascibilidade; acção violenta; crueldade; prepotência, tirania; coacção.

Ora, como se pode ler, as palavras não incluem só a agressão e a violência física. Parece-me que toda a gente esquece a violência e agressão oral e psicológica que corre pelas escolas do nosso país. Passo a relatar o meu caso pois é apenas do meu caso que posso falar com total conhecimento dos factos.

Desde o início deste ano lectivo que me tenho deparado com actos de violência e agressão dentro da minha escola, tanto de alunos em relação a colegas como de alunos em relação a professores. Os alunos, por dá cá aquela palha, como se costuma dizer, prometem aos colegas que lhes vão "partir os dentes todos", "partir-lhe o focinho", "dar dois murros nos olhos", e por aí adiante. Já para não falar do caso que me revolta mais: o caso de alunos brilhantes e inteligentes que são chamados os "cocós da turma" e que se vêem pressionados a ter maus resultados nos testes de modo a que os colegas não gozem com eles durante as aulas e nos intervalos. Claro está que dentro da aula os professores ainda podem tentar evitar o gozo, mas nos intervalos os alunos estão fora do nosso alcance.

No que a mim diz respeito, este ano já fui obrigada a ouvir coisas que saem da boca de alunos mal-educados que me feriram profundamente especialmente porque eu tento sempre levar todos os alunos a bem, sem ser prepotente ou agressiva de modo a que eles façam as coisas por vontade própria. Não me atrevo a repetir aqui o que me foi dito, mas garanto-vos que foram palavras sujas e mal intencionadas que me dirigiram e agrediram-me mais do que qualquer murro ou pontapé.

Acho que este tipo de violência está implantado nas escolas do nosso país um pouco por todo o lado. Os professores não conseguem fazer frente a alunos que vêm de casa com vocabulário sujo e degradante e que o usam na sala de aula contra colegas e professores como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Dessa violência ninguém se lembra, ninguém toma medidas para impedir que aconteça.

Por mim podiam instalar câmaras de vigilância não só fora das salas de aula mas também dentro. Talvez assim a violência mais comum nas escolas portuguesas pudesse diminuir um pouco e todos nós, alunos e professores, pudéssemos aprender e ensinar em paz sem ser incomodados por rufias que não vão para a escola aprender mas sim agredir quem os rodeia com a sua ignorância, falta de educação e falta de ambição.

Canto dos Versos



FEMEANDO A FOME-FEBRE


Por Joaquim "Joshua" dos Santos

Mundo de sopa e de sapo, tripa e trapo,
merda e esperma, abram alas à miséria, fivela na favela,
sul-américa da massa imensa.
Tenho sonho-sede príncipe
de seda em pele e pêlo de ela,
boca, dente, pêlo, pele,
tua carne-país de vida e de morte bela.
Abutrem-te embora os ingénuos e os lobos,
hienem-te, triturando-te toda em ossos, os muitos, os todos, os sempre.
Abram-te o ventre eles, embora, e não este que te evoca viva,
mesmo morta.
Acolhes, acolhes sempre o falo das altri-falências ferinas,
a tripa dura, fraudulenta e lucrativa, entra, entrava, em ti aberta,
entrave, bloco sem beijo, sem ave, desalada, desolada.
Mas que puta não te chamem entre a chama!
Tu, duplamente na rua e triplamente desvalida,
castrada pelos negócios privados da gente abotoada
com tempo para dar esmolas
na tua boca, no ânus que lhes cedes…
Precisavam de um livro de reclamações esses teus rasgões em cruz,
boca, ventre, escatofuro.
O teu país-carne não tem toda a fúria que devera.
E é tarde. Jazes hirta, verminosa.
Por que não reclamas o haver frio na rua
e vestida teres a alma semi-nua,
semi-crua entre o pó que volita livre?
Arde, grita, morde a verdade, ao menos. Por que calas?
Há o que te irmana com o barbudo Melquisedec ou Matusalém
que vive debaixo de uma ponte veado e viaduto
e nada tem de seu, ou a nada chama «seu»
(coisa desaprendida ter alguma coisa: só fome, vontade de cagar, sono,
vontade de foder, embora, rodeado de pássaros e de carros a passar
e de árvores quietas,
até isso seja pertença do lado de lá, mundo há muito abandonado!)
sem mobília ou electrodomésticos
somente esse entulho que o rodeia e a que vagamente chama cama e cozinha em vez de lixo,
o que te irmana com o pedinte das moedinhas,
andrajoso, magro e com ar de não ter nascido para cabisbaixar-se à lei do mercado,
mas à liberdade pura de um nomadismo húmido e fedorento sob o sol, a chuva,
e os escapes da cidade fedorenta!
Quanto te irmana dele! Quanto dele dimanas tu, mulher de nada!
E é bom estar irmanado com alguém
que não tenha cartão de crédito, nem crédito,
que não tenha quintas nem chalés nem chaleiras fumegantes:
por uma vez ainda bem que encontras irmãos no mundo que terão por casa
apenas a madeira-limite que abriga e aconchega na medida em que apodreça.
Esses irmãos não olharão para o teu calçado salto-alto cambaleante,
(ou talvez até olhem, encontramos cada paradoxo nesta vida!),
comentando «não ter jeito nenhum andares em pleno Inverno de salto-alto, de pés nus, ao frio»,
mesmo que estejas morta,
não compararão a roupa monótona e já suja que usas com a deles,
Esses irmãos do nada, da chuva e do sol,
mandar-te-ão rezar a uma divindade que sonda os corações
e mete cunhas por todos nós, a ver se voltas ao mundo dos que ganham dinheiro
sem meter o corpo de mais nesse assunto porco de ganhar dinheiro.
Efectivamente rezarás confiante e cheia de esperança
que te não chamem puta,
porque não tens ironias nem esgares sardónicos
para com o teu santo preferido,
também ele desempregado,
esquecido e negligenciado,
como se não existisse e o que tivesse dito,
de tão absoluto, até fosse relativo.
Que não te chamem puta, Anjo da Rua.
Por Joaquim "Joshua" dos Santos
Nasci numa terra litorânea portuguesa em pleno noroeste ibérico e, antes de olhar para o mundo, já ganhava raízes e apegos apaixonados a essa pequena parcela de mundo, sonhando em voar só com a força da vontade e sem motores, enquanto olhava um céu sempre povoado de aviões comerciais, pardais e outros pássaros num voo baixo ruidosamente invitativo.

A Sacerdotisa



Que país é esse ?


Era uma sexta-feira qualquer, dessas cheias de amenidades, de calor, de preguiça vindoura, pré-festejando o esperando fim de semana.
Passo, a passos largos da obra do metro, agora não mais uma obra qualquer mas uma grande fenda aberta a poucos metros da marginal pinheiros, pessoas choram, bombeiros cansados se revezam em turnos para tentar resgatar os corpos soterrados em um acidente que provavelmente não ocorreria em um país desenvolvido.

Triste, prossigo meu caminho, pensando, refletindo, não nas vítimas, mas nos homens que lidam diariamente com a morte, uma inimiga que os ronda fazendo gestos incompreensíveis, inaudíveis, amorfos, sem vida... A farda suja de lama, a alma esburacada encharcada do descaso das grandes autoridades, e ainda falam em valores do seguro: R$ 28.000,00 é o preço das vítimas do acidente.

É como jogar a dignidade das famílias pro buraco lamacento desejando que eles também se calem e aceitem docemente o dinheiro que lhes é cuspido. E se não bastasse a dor da perda, ainda temos que lidar com a televisão fazendo sensacionalismo do acidente, falando em tom piegas sobre a vida das vítimas. Um triste fim para aquele motorista, escapara do acidente mas voltara ao caminhão para apanhar seus documentos, a fala do amigo: “ Ele morreu por conta dos documentos.” E que país é esse que eu vivo em que tudo parece banal, em que ainda se assistem BBBs pagando para ser chamado de idiotas diante da Vênus Platinada.

Que País é esse? Já perguntava o Renato Russo e hoje em dia em coro nós gritamos: É a porra do Brasil!

CLAQUE-TE!

Tragédias cinematográficas: quando o ser humano é o seu maior inimigo
Por Roberto Queiroz

Tragédias sempre nos acompanham por onde quer que vamos. Quando estudava o ensino médio ouvia muito um colega meu de classe dizer: “tragédias quando acontecem, sempre acontecem em três”. Se seguisse essa prerrogativa naquela época, muito mais tragédias – além das que já aconteceram – teriam vindo à tona. E olha que a sociedade já presenciou poucas e boas nesses últimos anos de terrorismo global! Mas e quando essas tragédias (melhor enfatizando: esses atos sórdidos) são perpetradas por companhias e instituições legais? Aumentando mais ainda o meu olhar clínico: e quando elas são quase “fabricadas”, vitimando milhares de pessoas inocentes sem nenhum motivo aparente? O que devemos fazer quanto a isso?

O cinema – sarcástico denunciador desse tipo de contenda - já nos demonstrou por várias vezes um interesse contumaz nesse tipo de temática. Daí o fato de o pobre colunista dessa página não ter ficado surpreso com o acidente da estação do metrô em São Paulo, tendo em vista já ter presenciado situações bem mais complexas e mirabolantes em muitas produções cinematográficas.

O maior exemplo atual dessa nova safra de filmes, na minha opinião, é a do polêmico e discutido filme As Torres Gêmeas (World Trade Center, de Oliver Stone, 2006). Como não chamar o ataque do 11 de Setembro de uma tragédia infra-estrutural? Há quantos anos a nação norte-americana vem atiçando o ódio dos países do oriente médio? Como aprendemos nas tão famosas aulas de física do 2º grau “toda ação sofre uma reação”. Pois é exatamente isso de que trata a película de Oliver Stone: uma reação amarga a uma política devastadora dos EUA de cobiçar tudo que pertença ao próximo. Outro caso que segue essa mesma linha (já que mostra o quanto a cultura pop americana pode alterar o rumo das mentes adolescentes na terra do Tio Sam) é o de Elefante (Elephant, de Gus Van Sant, 2003) que narra a tragédia do Colégio Columbine, quando dois jovens armados entram na instituição num dia comum de aula e assassinaram mais de 50 alunos sem nenhum motivo aparente (a não ser, é claro, o desejo de manterem em alta a sua fama e popularidade, preceitos números 1 e 2 da cultura de massa americana). Não se esqueçam, porém, de que aqueles garotos compraram suas armas na internet como quem compra uma caixa de bombons. E isso num país que manda “crianças” despreparadas para lutar em suas guerras financiadas.

Outro caso muito comum nesse tipo de tragédias envolvem desleixos dos administradores. É o caso de Inferno na Torre (The Towering Inferno, de John Guillermin, 1974) quando um arranha-céu de 138 andares pega fogo devido à ganância do diretor financeiro da administradora do prédio que decide “poupar uns tostões” comprando material elétrico de segunda mão (e com isso matando milhares de inocentes que só estavam ali para se divertir) e Síndrome da China (The China Syndrome, de James Bridges, 1979) onde dois jornalistas presenciam um acidente numa usina nuclear e tentam, a todo custo, veicular a matéria no jornal onde trabalham. E é justamente nesse momento que começam os problemas do casal: a usina é uma das maiores financiadoras desse jornal e faz de tudo para cancelar a reportagem e manter a população na ignorância.

Como o pobre colunista dessa humilde revista virtual não poderia deixar de falar dos blockbusters (senão ele apanha de alguns leitores), reservei dois bons exemplos dessa safra tragédia + infra-estrutura: o primeiro é Epidemia (Outbreak, de Wolfgang Petersen, 1995) que nos traz um vírus – no caso o Motaba (evidente relação com o ebola) – assolando toda uma região dos EUA devido a um desleixo do próprio Ministério de Saúde americano que tenta elaborar uma vacina e acaba por espalhar a maldita doença entre a população; e o segundo, mais filme-catástrofe impossível, é Daylight (Daylight, de Rob Cohen, 1996), onde um túnel vem abaixo durante um acidente envolvendo motoristas descuidados, deixando milhares de pessoas presas nos destroços. A gravidade da situação surge durante a tentativa de salvar os inocentes e nos é mostrado o desleixo com que foi conduzida a obra em questão (enfim, uma tragédia que tinha tudo para acontecer e ninguém deu o braço a torcer).

Em suma, tragédias existem. São dilacerantes, cruéis, muitas vezes os responsáveis nos fazem perder a fé na humanidade? Sim. Isso é certo. Já se fala em Hollywood sobre um filme sobre o furacão Katrina. O canal de TV a cabo HBO produziu – e foi veiculado esse mês – uma minissérie em dois capítulos sobre as tsunamis. E muitas outras virão: sejam naturais ou fabricadas pela arrogância humana. Como fazer para combatê-las? Não faço a menor idéia. Só o que posso dizer aos meus adorados leitores é o seguinte: quando virem alguma, sebo nas canelas, pois é exatamente isso que os causadores das mesmas farão.

Poesia di Bernardi

Coesia

Há que se inventar uma cela de escapes.
Há que se desenhar em paredes abstratas
e em papeia remotíssimos o que jamais houve,
negros corações crestados
ou multicoloridos de realidade dúbia.
A desrazão de naus e portos.
Só o mar interfere.
Temer inutilmente o tombo,
o agarrar-se a cada cais.
A incontinência coronária do verso,
coleira colorida que amamos,
que, enfim, amamos,
para aquém de toda sorte
e campo mais que largo de estrelas,
pasto do que somos.
Minha saudade é de abrir os olhos.
Ainda existem dálias
e o escuro clássico.
Inusitado, tudo que nubla.
Processo de escadas.
De existência.



André di Bernardi


Poesia do livro “longes pertos e algumas árvores”

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