Wednesday, February 14, 2007

Index - Quinzena 11, 14-28 de Fevereiro

Renovando o pedido :
Ajudem-nos a formar uma Mega- Super - Indispensável Rede Reativa!
Contatem-nos por e-mail , carta, pombo-correio ou garrafa atirada ao mar!
Vocês gostariam de ver algum tema abordado aquí? Gritem!
Vocês tem algo a dizer?
Desejam colaborar futuramente?

Então cadastrem-se pelo e-mail ADMIN@REACAOCULTURAL.COM


1 – Acompanhem o editorial sombrio do editor que não edita. Editorial reclamado, merece reclamação, aqui no Reação!

2 – Cliquem aqui para re-ler ou ler por primeira vez, os comentários da quinzena passada!

3 – Silvio Vasconcelos apresenta a crônica “Bom Dia, meu Velho!” Não envelheça sem ler, e se ja for velho, finja que o “bom dia” é contigo mesmo, clicando aqui

4 – O segundo episódio da NOVELA de Piccazio está no ar. Clique aqui, e siga sua linha peculiar de raciocínio

5 – Nosso primeiro chargista voluntário, ilustrador, desenhista, bamba de profissa, Rodrigo em Expresso! Veja a CHARGE Aquecimento Global em sua pura forma, clicando aqui

6 - Mais um fascinante poema de André di Bernardi, em sua coluna Poesia di Bernardi. Reflita com prazer, clicando aqui

7 – Filósofo Vinícius discute o PAC de Lula. Discorde dele, mas saiba antes o que ele diz, clicando aqui

8 – Halem fala sobre Sidney Sheldon e a natureza da literatura mundial. E, veja também sua canjinha, seu texto ESPECIAL sobre o Carnaval! Clique aqui, e acompanhe

9 – Bruno Venâncio se associa ao Reação, em sua CHARGE quinzenal! Clique aqui, e veja o retrato falado de Lisa Kowac, uma astronauta pra lá de ensandecida

10 – O Meio Ambiente aos olhos da Arquiteta Cristina Bondezan. Leia sua coluna Arquitetura Social, clicando aqui

11 – O Oscar vem chegando, e aqui vai mais uma coluna especial de Roberto de Queiróz em sua coluna CLAQUE-TE!

12 – Caiê, diretamente de Portugal, fala sobre o Meio Ambiente na pele feminina, em Vênus Contra Ataca. Saiba mais, clicando aqui

13 – A Sacerdotisa desfilando no salão decorre sobre o Carnaval. Clique aqui, e leia ao som de seu samba enredo predileto!

Editorial Especial e Sombrio - Quinzena 11, 14-28 de Fevereiro












Tá todo mundo blém blém blém!

Alguém já ouviu essa expressão, mais facilmente encontrada saída da boca de meu tio? “Blém blém blém” não significa pancado, chapado, maluco, doido, esquizofrênico, ou qualquer outro distúrbio psicológico dos mais aos menos populares. Para um psiquiatra como meu tio, seria desrespeitoso chamar o doente mental de algo que ele não tem culpa nem escolha em ser. Quem tem escolha, quem pode com alguma dificuldade, mas pode ultrapassar seus próprios limites psíquicos e limitações pré-determinadas de sua infância, pode também evitar o ruído dos sinos imaginários que, geralmente, andam deixando muita gente surda.

No Brasil, o “blém blém blém” não é realidade exclusiva. Mundo afora, as pessoas estão cada vez mais doentes. Há alguns dias me pediram para analisar o mundo com um olhar mais positivo. Recuso-me, porém, a encontrar estúpidas positividades. E não vejo, exatamente, o que comemorar. Vejo, apenas, que o mundo precisa de um gigantesco psiquiatra, ou de bilhões de tamanho normal, mesmo. Está doente, e não falo do aquecimento global.

Pois se não, vejamos o conto de José Tavares, nome fictício, um trabalhador qualquer, casado com uma qualquer mulher, pai de quaisquer filhos. Trabalha doze horas diárias, sob a supervisão de um camarada chamado João, que por motivos também relacionados ao mesmo mal de José, o maltrata constantemente e se aproveita de sua insegurança. Faz com que José seja dois, três, quatro vezes José por minuto. Faz com que suas doze horas de trabalho se tornem vinte e quatro, porque José chega em casa e não consegue ser cem por cento José, pensando com tristeza calamitosa, que amanhã terá de estar por perto de João. E não é só João, são os chefes de João, e os clientes da empresa dos chefes de João, e os espinhos, e os cacos de vidro, e os assaltos, e as greves, e o cansaço extremo do dia a dia, de metade de cada dia, seis, sete vezes por semana doados ao trabalho por pão e água. No fim do mês, descobre que lhe faltará pão e água se quiser pagar o aluguel. Descobre que o que precisará para a cerveja, está comprometido com o sapato do filho. Inverte prioridades, mas naturalmente, nem toma as cervejas que gostaria, nem compra o sapato necessário para o filho. A boneca para a filha, então, nunca será comprada. Teriam de tirar do dinheiro para o arroz, e todo brasileiro sabe que comida sem arroz ou farinha não é comida. Neste esquema em que vive, José decide um belo dia, tomar mais cervejas do que em outros. Consegue saciar sua besta interna apenas quando a cerveja o adormece, e na ressaca do despertar no dia seguinte, volta ao trabalho. Antes, não encontrava tranquilidade em nenhum ponto de sua casa. Com a cerveja e a cachaça, agora acoplada à dieta diária, encontra alguma calmaria, e não seria estúpido em recusá-la. Passa a tomar mais cervejas e mais cachaças. Passa a regurgitá-las nas ressacas diárias... Sua esposa, um desses belos dias, o incomoda com alguma pergunta irrelevante. Incomoda seu descanso, e a cachaça lhe dá ânimos ao protesto. Protesta com muita veemência à interrupção de sua calmaria. Com veemência, bate na esposa, e de quebra, quebra alguns ossos dos filhos. É preso, e levado ao cárcere sem chance a apelos, pois, afinal, a justiça é apenas cega quando se torna daltônica. José, no caso, não é mais negro por já ser mulato. Após juízo, pega três anos de prisão. Prepara-se a quê, esse senhor José? À morte ou à regeneração? Mistério resolvido somente depois dos três anos. José volta para casa. Ainda desempregado, pensa apenas em descansar e re-aproveitar a perdida liberdade. Sabe, contudo, que precisa começar a trabalhar logo. Aprendeu uma quantidade incontável de ‘jeitinhos brasileiros’ na cadeia, e pensa em usá-los. Certo dia, é incomodado pela esposa, novamente. A mata. Vê que os filhos não podem sem mãe, e pensa com culpa no que os causou. Mata-os também. Percebe que agora se tornou um assassino da própria família. Não consegue viver com a culpa, e se mata. Final.

Fosse ele um menino de rua, sofreria tudo o que citei acima, mas sem emprego, e sem dinheiro para comprar cachaça ou cerveja. Sem João, mas com dezenas de Robsons e Almeidas, cabos e soldados da Polícia Militar. Fosse ele uma mulher, e não tivesse esposo, seria uma Maria, e roubaria a cachaça do patrão, a maquiagem da patroa. Sendo presidiário, o maltrato apenas acaba canalizado, centrado, intensificado, mas não novo. É disso que nascem as quadrilhas, e as quadrilhas são respeitadas pelo Poder Público, porque o público todo teme as quadrilhas.

José, se não matar seus filhos, há de educá-los. No entanto, com quais exemplos? À cachaça? O desespero? O sapato do filho? O incômodo da esposa? Como Washington, de dezesseis anos, saberá se comportar se apenas concebe fragmentos da paternidade que um dia o gerou, e tem feito apenas o contrário desde então? Não sei, pois, se saberá...

Claro que em meu linguajar popular, de uma pessoa que cresceu em países de linguas esquisitas, além do Português, talvez o leitor ou a leitora ainda não consiga enxergar uma realidade tão complexa refletida neste texto. Ainda assim, a realidade não é, de fato, mais complicada. Dos telespectadores que acompanharam a morte do pequeno João Hélio na semana passada, quantos deles se indignaram com a violência? E quantos deles pediram vingança? Agora, eu pergunto, será que houve muitos que se indignaram com a situação social do país que os (des)abriga? Quantos pediram vingança, sentindo-se como sentiam-se os romanos à época em que o Big Brother ocorria no Coliseu, às custas de muito sangue e ossos estraçalhados? A besta, assim mesmo como a besta de José, despertou em seus âmagos. Pedem justiça, mas não sabem de justiça. Pedem direito, mas não conhecem direito. Exigem o fim da impunidade, mas votaram em Paulo Maluf, Aécio Neves, Sarney, Collor... Votariam em Serra, ou em seu coleguinha Alckmin... Votariam em qualquer pessoa, menos naquela, na única aquela, que pensou duas vezes antes de carimbar, a pedido de um público insano e ensandecido, a sentença de diminuição da maioridade penal, e se pôs contra ela, porque, vindo de pais analfabetos, analfabeto até idade adulta, semi-analfabeto toda sua vida, soube discernir o óbvio ululante. Por isto, apenas, e nem que seja, parabenizo a Luiz Inácio. E tiro meu chapéu. Parece que o Sapo Barbudo é ainda menos “blém blém blém” do que seus súditos, mas só parece, não me levem a mal.

Assim, encerro este texto com um pedido de auxílio aos poucos e poucas que nos lêem: Pensem duas vezes quando ouvirem os sinos ensurdecedores a tocar em suas mentes. Pensem que a loucura vale para um tanto quanto para outro. Pensem que, se exigimos o fim da violência, não podemos professar mais violência. Pensem que prender, especialmente no Brasil, já não adianta mais, porque nem quem o sistema adoraria ver atrás das grades, cabe mais por lá.

Resumindo, desliguem o “blém blém blém,” ou deixem o sino explodir um bumba infindável de intolerância, e com ela, tentem guiar nosso Brasil. Só não contem comigo.

PS: DOIS novos cartunistas colaborando com o Reação! Confie no talento de Rodrigo (Expresso) e nosso sócio Bruno Venâncio, com suas fantásticas charges! E a criação de um grupo de discussões do Yahoo para o Reação, montado por nosso administrador publicitário Vinícius, o Filósofo. Adriana Rezende de Oliveira também se juntou à família oficialmente, e fará a revisão ortográfica e gramatical de nossos textos. Obrigado a todos e todas que ajudam, ajudaram e ainda ajudarão ao Reação!

Aos abrax,

Roy Frenkiel,
O editor que nada edita

Comentarios da Quinzena

Por Camila, no Editorial

eee!!

querido editor que não edita, obrigadíssima por todos os teus parabéns...

incrível como as amizades surgem - e se fortalecem - via web...

um abraço gigante da sua colaboradora Camila/Mulher de Sardas.

______________________________________

Por um Anônimo, em Filosofia de Vinícius

Excelente texto!
Parabéns!

_______________________________________

Por Arte por Um Canudo, na coluna da Professorinha Silvia

É preciso denunciar estes casos.Fazes bem e qualquer professor concorda contigo. Só não concordam os professores de gabinete.Força.

________________________________________
Por Jens, prostrando-se à Sacerdotisa

É revoltante o descaso com que é tratado o povo pobre do nosso país. 28 paus por uma vida e estamos conversados!
É duro ver a falsa tristeza das autoridades no enterro das vítimas.
É duro ver as autoridades picando a mula rumo ao exterior para não encarar sua responsabilidade sobre o acontecido.
É duro ver programas sensacionalistas na tevê torcendo pela existência de vítimas, quando, no início da tragédia, especulava-se sobre a possibilidade ninguém haver morrido.
Mais duro aínda é ver a passividade com que o povo brasileiro (todos nós) convive com essas iniquidades.
Acorda Brasil!!!!(todos nós).
Abraços.

Silvio Vasconcelos


Bom Dia, meu Velho!

Quando acordou de manhã, havia uma velha deitada ao seu lado na cama. Ela emitia sons estranhos e seus traços lembravam sua sogra. Não, não poderia ter bebido tanto na noite anterior para ter acabado nos braços de sua sogra!

Levantou-se com dificuldade, como se seu corpo pesasse toneladas, procurou seu chinelo ao lado da cama e encontrou umas pantufas surradas que lhe aqueceram os pés.

Devagar e apoiando-se nos móveis chegou até o banheiro, onde molhou seu rosto, esfregou seus olhos e mirou assustado o espelho. Susto! Havia envelhecido quarenta anos: sua barba por fazer era branca numa pele flácida que lembrava seu avô; tufos de cabelos grisalhos saíam de suas narinas e ouvidos como se tivesse engolido um gato; suas mãos, agora as via melhor, tinham marcas marrons e avermelhadas, sobre uma pele murcha que deixava seus tendões sobressaírem-se feito cordas grosseiras de um velho violão; abriu seu roupão perante o espelho e quase caiu para trás. Estava aprisionado dentro de um velho corpo, com longos pêlos brancos pelo peito e pela barriga feita de peles caídas sobre seu sexo, que nem mais poderia ser chamado assim. Suas bolas pareciam estar tão pesadas que afundavam no vazio que era seu entre-pernas.

Voltou para o quarto e olhou aquela que parecia ser sua sogra, que nesse momento apanhava seus óculos no criado mudo e dizia:

- Adalto, meu velho, por que levantaste tão cedo?

Ele reforçou a suspeita que fosse sua sogra e sem jeito tratou de sair do quarto.
A casa era a mesma, mas possuía também rachaduras que lembravam rugas pelos cantos. Andou até o quarto dos meninos e o encontrou igual, com as mesmas flâmulas pelas paredes, um pôster do Che Guevara e uma faixa com uma canção do Ataualpa Yupanque “Yo tengo tantos hermanos...”. Parecia tudo normal, até demais... Como se tivesse sido abandonado há décadas, porém mantido feito mausoléu. A mobília empoeirada parecia ter sido esquecida, para alegria das teias de aranhas que se multiplicavam nas alturas. Em frente ao quarto, seguindo pelo corredor, o tapete de tão pisoteado, criara um trilho até a cozinha, onde agora ele se dirigia.
Chegando lá, a geladeira amarelada, o fogão, a mesa eram os mesmos com os mesmos traços amarrotados de seu corpo. As cadeiras estavam forradas, com um pano de estampa antiga, já puído.

Quis abrir a janela, porém havia novas trancas, como se quisessem aprisioná-lo naquele lugar. A porta estava chaveada, mas não teve dificuldade em sair ao quintal.

A grama crescida, sem flores e as paredes de três edifícios que cercaram seu quintal deixavam um ar lúgubre como se fosse o fundo de um cemitério de um filme antigo de Bela Lugosi.
Procurou seu cão, assobiou, chamou pelo Rex e nada. Olhou para trás e lá estava aquela mulher:
- Adalto, você chamou pelo Rex? Ele morreu há trinta anos meu velho.
Aquela intimidade lhe permitiu encontrar dentro daquele corpo mirrado da sogra, sua mulher atropelada pelo tempo.

Não havia dúvida. O tempo passara sem que ele tivesse se dado conta.

NOVELA




República do Sol
Capítulo 2
Aquele da Padaria
Por Luciano Piccazio

Começaram, enfim, as aulas. Depois de mudarmos para perto da USP, confesso que fiquei morgando por um tempo. Enquanto o Vini e a Fé saíam para trampar, ficava em casa, fazendo nada, olhando para o teto. De pouco em pouco, comecei a ficar meio louco de olhar para o teto o dia inteiro.

Saía de dia para ver shows, visitar exposições e afins. Só que, como to completamente duro, não saía de noite. É a morte para quem tem insônia. Olhava para os livros, eles olhavam para mim e... Não nos entendíamos.

Por esse motivo, voltar às aulas foi quase que uma benção. A faculdade de história pode ser um belo lugar para desocupados como eu.

Apesar disso, ainda estávamos totalmente no clima Liberdade/Casa nova/Bebida pra caramba. Bebíamos consideravelmente.

Na segunda semana de aulas, como toda boa quinta-feira, fomos tomar cerveja na ECA (Escola de Comunicação e Artes da USP). Saí de lá trançando as pernas, lá pelas duas da matina. Agora já não tinha mais que me preocupar com horários de ônibus, ou ficar sóbrio para voltar para casa. E lá fui eu, a pé, numa caminhada que normalmente faria em 30 minutos.

Aquele breu. Andei, andei, andei. Os caminhos foram ficando turvos, as ruas se pareciam demais umas com as outras. Entrava e saía de ruas que já não faziam tanto sentido. Mas andava, liguei meu radar no automático e fui indo, indo, indo. No disc man, ouvia Bob Marley. E tudo parecia certo.

Quando já eram quatro da matina, vi que poderia, talvez quem sabe, ter me perdido. Estava numa descida, ao lado de uma padaria fechada. Nada, nem sinal de qualquer coisa que me indicasse um caminho. De lá já não sabia voltar para a avenida, e em algumas ruas gente muito estranha ficou me encarando.

Preferi sentar embaixo de um portão ao lado da padaria fechada e esperar um pouco. Dormi.

Quando acordei, um sol mascavo queimava meu rosto, e aquele gosto de guarda-chuva que fica na boca nas ressacas já dava bom-dia. Havia movimento na padaria e meu telefone já dizia que eram oito e meia da manhã. Pedi indicações para o caixa da padoca e andei até a avenida. De lá, casa e cama.

Mesmo dia, uma e meia da tarde, saí com a Camila, amiga nossa que tinha dormido em casa, para aula. Fomos andando por um caminho que ela conhecia e, qual não foi minha surpresa ao descobrir que a dois quarteirões da minha casa havia uma padaria. E qual não foi ainda, muito maior, minha surpresa ao ver que aquela era a padaria que tinha me servido de abrigo na noite passada!

Senti-me quase um Robson Crusoé, ou, para falar bem a verdade, um idiota. Mas valeu, pelo menos foi divertido. Não fosse pela dor de cabeça e a péssima aula de História Antiga, teria sido um dia bom.

Luciano Piccazio Ornelas
http://artefree.blogspot.com/

Cartun Expresso de Rodrigo


AQUECIMENTO GLOBAL


"Exclusivo para o Reação, por Rodrigo (Expresso)"




Vejam mais no site Humoral da Historia, clicando aqui!

Poesia di Bernardi


Quando surgirem as flores

Não direi raízes.
Raiz é princípio e origem.
Raízes ultrapassam a terra a ponto de árvores.

Não escrevo raízes.
Raízes remetem a sinos e igrejas.
- Morena, solte os cabelos, não sei dizê-los,
Mas são como raízes os teus cabelos.

E das folhas surgirão as flores.
Mas ainda é cedo, não direi raízes.
Raízes demoram, levam tempo, mas terminam,
do chão ao céu, em primavera.

Não escrevo raízes.
Raízes, raízes.
Raízes vão além e bebem da água do mundo.
Algumas árvores atingem três mil anos.
- Solte os teus cabelos morena,
Solte os teus cabelos sem data...

Não direi margens, não escrevo raízes.
Quando das folhas surgirem as flores
Soltarei também os meus cabelos
anacrônicos e despenteados.
Quando das folhas surgirem as flores
criarei também raízes
e sobre as rosas e os seus espinhos
falarei mais tarde,para o completo tormento dos sentidos

Filosofo Vinicius Comenta


PAC e segundo mandato
Por Vinícius

Muito honrado com a possibilidade de fazer parte deste time, gostaria de trazer aos leitores algumas considerações sobre o anunciado Programa de Aceleração do Crescimento.

De tempos em tempos, é possível sinalizar planos salvadores da nação. Pois bem. Deveríamos estar fartos de heróis e desacreditar, por completo, numa salvação nacional alheia a movimentação popular. A hipócrita doutrina liberal faz pensar que entre governo e povo deva haver composição. De certo que não é de todo mal assim crer, no entanto mais adequado seria imaginar não governo e povo estanques, mas sim um governo popular.

(Imagem tirada de: www.parana-online.com.br/.../lula060207.jpg)

Mil vezes um governo Lula do que os sombrios tempos de FHC. Todavia, o “Lulinha Paz e Amor” ainda está devendo ao povo que o elegeu uma resposta. Não seria produtivo ficar expondo os aspectos técnicos do PAC - ainda mais sendo este que vos escreve uma autêntica toupeira em técnica econômica - mas o que fez falta foi uma contundente contrapartida social ao projeto de crescimento econômico.

Sim! E aqui cabe uma nota. Num mundo capitalista, crescimento econômico faz entender incrementação da atividade privada cuja riqueza obtida a um custo coletivo fica no bolso da iniciativa privada. Assim, não interessa crescimento econômico se o mesmo for traduzido por aumento da exploração do trabalhador e enriquecimento de uns poucos burgueses. É como um suposto grande atirador tomar mira, mirar, mirar e mirar... E efetuar um belo disparo no pé.

O discurso do presidente Lula referiu-se à necessidade de desenvolvimento humano em paralelo, em acumulação de renda e capital. Se foi isto mesmo o que este escriba entendeu, trata-se de uma contradição central do PAC. Pois caso se entenda pela justeza da distribuição de renda, seria conveniente ir contrariamente aos interesses de grandes empresários. E olhe lá que nem mesmo este modesto escritor está a propor maiores radicalidades. Ficaria contente este que vos escreve se houvesse, por exemplo, efetivação de aumento dos postos de trabalho com registro e a tão urgente reforma agrária. Mas este não parece ser o entendimento do governo e sua equipe econômica.

O Povo e o Livro









Literatura é o quê, mesmo? ou a morte de Sidney Sheldon
Por Halem “Quelemém” de Souza

No final do mês de janeiro deste ano, morreu o escritor norte-americano Sidney Sheldon. Nascido Sidney Shechtel, o autor de “O outro lado da meia-noite” foi, possivelmente, o escritor mais lido no mundo, em todos os tempos. Vendeu mais de 300 milhões de exemplares, traduzidos para 51 idiomas e editados em mais de 180 países. Começou a escrever romances aos 50 anos, produzindo 18 livros no total, mas Sheldon também trabalhou para o Cinema e TV (foi o criador da série “Jeannie é um gênio”).

Não vou aqui detratar Sheldon, como costumam fazer os “entendidos” em Literatura. Nem vou enaltecê-lo, dando uma de “descolado” gente boa. Sua obra me é indiferente. Aliás, para ser franco, só li um de seus livros, justamente o primeiro que publicou, “A outra face”. Quero apenas constatar um fato e tentar ver a arte literária a partir do que Sidney Sheldon representa.

(Imagem retirada de: wiredforbooks.org/images/Sidney-Sheldonpage.jpg )

O fato a ser constatado está nos números hiperbólicos apresentados acima. Não há como negar: Sheldon é um escritor eficiente. Conseguiu desenvolver e encontrar, em sua escrita, uma bem sucedida técnica para atrair o leitor. É o próprio escritor quem diz:
“Escrevo meus romances de modo que, quando o leitor termina um capítulo, tem que ler o outro. É a técnica das séries de televisão, de deixar o leitor pendurado no abismo".
(A entrevista completa pode ser lida em http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u56189.shtml)

E não é desagradável lê-lo. Como passatempo é bastante apreciável, até. No caso de “A outra face”, por exemplo, o que se acha em suas páginas é um romance policial, com doses generosas de suspense, e um personagem (o protagonista do livro, o psicanalista Judd Stevens) envolvido numa trama da qual, nós leitores, não conseguimos vislumbrar saída. Quem o persegue? Algum de seus pacientes? O policial mal-encarado McGreavy?Como disse, é um bom passatempo ler um escritor desse tipo. Mas isso é Literatura?

Certamente que não. E é nisso que erram os estudiosos ao se deterem sobre autores como Sheldon, Paulo Coelho, Agatha Christie (cujos livros devorei na adolescência). Autores deste viés estão fora da arte da escrita. As categorias analíticas da crítica literária não se aplicam a eles. Produzem um outro tipo de texto que pode, de vez em quando, assemelhar-se à arte.

Não há, em Sheldon, o elemento fabular das grandes narrativas; não há o desejo de reinvenção do idioma, desejo oculto ou manifesto, por vezes, dos bons escritores; não se encontra em seus romances a profundidade filosófica das obras mais marcantes. Nas palavras de Sheldon, “os romances que escrevi não existem para justificar nada – eles foram feitos para entreter o leitor”.

É evidente que a Literatura também pode entreter, mas essa não é sua missão mais humanizadora, nem é só o que procuram os leitores mais exigentes. A opinião emitida aqui pode ser interpretada como uma visão elitista da arte literária e esclarecê-la, infelizmente, não será possível nesse artiguete. Contudo, reitero: Sheldon possuía certos méritos, só que nenhum deles tinha a ver com a Literatura.
_________________________________________
EXTRA - ESPECIAL DE CARNAVAL!


O Carnaval de Manuel Bandeira

Acredito que, quando se indicaram os temas desta edição do Reação Cultural – e, entre eles, estava O CARNAVAL – pensava-se na festividade, no fenômeno em si, propriamente, em seus aspectos antropológicos e sociais.

Mas, no momento que li a pauta, nem sequer pensei no evento. A primeira coisa que me veio à cabeça foi o livro “Carnaval” de Manuel Bandeira e em um poema contido nele, “Sonho de uma terça-feira gorda”.

Surgido em 1919 – o segundo da carreira do autor – “Carnaval” é um livro significativo porque indica uma mudança tremenda na poesia de Bandeira, mudança que ficaria mais clara no livro posterior, “Ritmo dissoluto” e se consolidaria definitivamente em “Libertinagem”, já em 1930.

Em “A cinza das horas”, primeira reunião de poemas do escritor pernambucano, qualquer leitor se dá conta do enorme débito de Manuel Bandeira com as gerações de poetas anteriores. Mesmo em seu segundo livro a quase totalidade dos textos tem uma ligação direta com os modelos estéticos anteriores (a feição simbolista de uma boa parte desses poemas foi mesmo admitida por Bandeira). Mas em “Carnaval” o sinal de incorporação de um novo ideário artístico estava impresso nos poemas “Os sapos” (que foi lido pelo poeta Ronald de Carvalho na Semana de Arte Moderna de 1922, causando imediata reação do público) e “Sonho de uma terça-feira gorda”.

“Sonho de uma terça-feira gorda” estabelece duas oposições. A primeira, entre a contenção de um par de namorados - “Nós caminhávamos de mãos dadas, com solenidade,” - e a agitação típica do carnaval - “Era terça-feira gorda. A multidão inumerável/ Burburinhava. Entre clangores de fanfarra”. A segunda se dá entre o aspecto exterior da fantasia, que inclusive contraria o colorido álacre usual deste tipo de vestimenta, e o sentimento experimentado pelo casal:

“Eu estava contigo. Os nossos dominós eram negros, e negras eram as nossas máscaras/ Íamos, por entre a turba, com solenidade,/ Bem conscientes do nosso ar lúgubre/ Tão contrastado pelo sentimento de felicidade/ Que nos penetrava. Um lento, suave júbilo”

Mais do que uma apreciável construção poética, “Sonho de uma terça-feira gorda” foi o primeiro poema em verso livre de Manuel Bandeira que veio a público, anunciando o futuro modernista que se tornaria um clássico da nossa poesia,

Charge do Venâncio


No início desta semana, uma astronauta estadunidense, da NASA, cientista nuclear, um gênio em pele de venusiana, decidiu caçar a amante de seu amante (calmalá, sem confusão!) por centenas de quilômetros com fraldinhas especiais para não precisar parar para urinar ou defecar, e um kit especial para sequestros e assassinatos. Lisa Nowak, grande mulher, levou até espingarda de chumbinho para a missão. Felizmente – para a amante do amante – ela foi presa antes de conseguir a estapafúrdia.

Arquitetura Social



Meio Ambiente e Bom senso: o difícil encontro

Por Cristina Bondezan


Gostaria de poder falar com orgulho das leis de preservação ambiental do meu país , repletas de boas intenções ( tal qual o inferno , que está cheio delas – das boas intenções, e não das leis, claro ).

Darei um exemplo pontual.

A cidade onde vivo situa-se num gigantesco “platô” , ou seja, é uma imensa planície rodeada de vales chamados “itambés “ ou , pra ser pretensiosa , nossos “canyons” tupiniquins . Essa faixa é definida como 100.00m de distância da “quebra “ do relevo e é qualificada como de “ preservação permanente “ – assim como 30.00m dos leitos dos rios , 50.00m de raio da margem dos lagos, etc...

Objeto de muitos sonhos e projetos de várias gerações de arquitetos que sonharam - alguns ainda sonham - em tornar essa faixa de proteção algo contemplativo , de lazer à população, de incremento ao turismo.

Diferentemente disso, temos uma paisagem lindíssima e bucólica, composta por várias cachoeiras que deságuam livremente nos agüíferos das fazendas abaixo , onde o gado pasta e ... Mata a sede. A maioria dessas cachoeiras é esgoto não tratado dos bairros lindeiros , as favelas.
Gosto sempre de substituir a palavra culpa por responsabilidade. Então vamos lá..A conclusão é do leitor.

A legislação federal ( Código Florestal ) proíbe nessa faixa a construção de moradias , parcelamento do solo, ou qualquer outro tipo de atividade - pública ou privada. Nada , absolutamente nada pode ser feito , cuidado, melhorado , quando muito colocar uma cerca divisória pintadinha de branco e ... Largar lá , para preservar ( ???) . É encarada como a faixa – “batata quente na mão” , aquela que , quando um novo bairro é aprovado, discute-se se passará para o município cuidar, ou se ficará sob a responsabilidade do proprietário. Ninguém a quer porque não há flexibilidade . Ninguém investe porque não pode sequer fazer uma trilha de pedras que poderia levar, por exemplo , a um mirante . Nada. O resultado? Invasões não fiscalizadas, moradias em área de grande risco amontoadas umas sobre as outras.

Parcelar, comercializar , cuidar cada um do seu pedaço não pode...O que pode é a prática da omissão conjunta , a degradação do solo, a poluição dos rios, o desrespeito à natureza.
O exemplo é pontual, mas eu poderia dar aqui vários outros. Poderia enumerar vários casos em que a falta do velho e bom – bom senso impediu que se construísse obras importantes para a coletividade por motivos nobres como preservação de um ninho de pássaros raros ou manutenção de uma árvore nativa. É o radicalismo burocrático em detrimento de toda uma população que depende de melhores acessos, de transporte . A questão é ética e polêmica , e não sei encará-la com meu peculiar e flexível romantismo.

Acho mesmo um pé no saco!

Cristina Bondezan nasceu e cresceu em São Paulo entre apaixonados e passionais italianos dos bairros do Cambucí e da Mooca. É arquiteta e urbanista, empresária, docente no curso de Design de Interiores. Exerceu vários cargos públicos na área de Planejamento Urbano , fato do qual não se arrepende , muito se orgulha , paradoxalmente não gostaria de repetir a experiência . Seu escritório profissional situa-se na cidade de Marília, interior de SP . Um sonho : realizar os sonhos . Um prazer : Viver ...intensamente e com olhos atentos. Uma paixão: Portugal.

CLAQUE-TE



Temporada do Oscar: ano de surpresas
Por Roberto Queiroz

Caros leitores do reação cultural e cinéfilos de plantão: é tempo de premiações as mais diversas. Uma época em que as produções mais badaladas (o que não significa que elas caiam sempre no gosto popular) dão o ar da graça entre os mais importantes sindicatos e júris da principal indústria do cinema mundial. Não preciso nem falar aqui do tapete vermelho, das divas em seus longos vestidos brilhantes (costurados pelos mais ilustres alfaiates de Beverly Hills) e das maciças campanhas organizadas pelos estúdios (e aqui vale destacar que as majors sempre levam vantagem nessa hora) para divulgar essa ou aquela película considerada pelos diretores como a de maior potencial para ganhar as disputadas estatuetas.

Esse ano, no entanto – se pensarmos, é claro, no tão cobiçado e contraditório Oscar, o prêmio máximo da academia norte-americana – teremos uma competição bastante diferente da que temos visto nos últimos anos. Os jurados finalmente se renderam à importância do mercado independente de cinema (ou seja, aquelas pessoas que “teimam” em não ver suas películas presas aos grilhões de nenhuma companhia arrasa-filme). Os exemplos esse ano foram muitos, nas mais diferentes categorias: O Labirinto de Fauno, de Guillermo Del Toro; Pequena Miss Sunshine, de Jonathan Dayton e Valerie Faris; Babel, de Alejandro González Iñárritu; até mesmo grandes nomes que quiseram pôr o seu próprio dinheiro na fogueira, a recorrer aos cofres das grandes produtoras (casos de Mel Gibson em Apocalypto – indicado em três categorias – e Bill Condon por seu Dreamgirls, concorrendo em oito nominações).

(Imagem tirada de:
www. newsimg.bbc.co.uk/ )


A grande decepção (ou surpresa, na opinião de alguns) é o fato do maior indicado desse ano (Dreamgirls) não ter sido indicado às categorias de melhor filme e diretor (o que é, no mínimo, inusitado). Almodóvar e seu Volver estão de fora – para mim, injustamente – alimentando ainda mais as chances de O Labirinto de Fauno que, até então, corria por fora. No quesito animações não acredito que a Disney perca esse ano. Carros – que traz a volta de John Lasseter no comando da companhia - realmente é um belo desenho (apesar de ter gostado e muito da produção de George Miller Happy Feet – O Pingüim).
Entre os premiados devotados aos intérpretes, esse é um ano de reis e rainhas. De um lado, Idi Amin Dada (belíssima interpretação visual e vocal de Forrest
Whitaker em O Último Rei da Escócia), do outro, a praticamente perfeita Elizabeth II em A Rainha, vivida pela ótima atriz inglesa Hellen Mirren (só se os jurados forem loucos ou estiveram dopados no dia de escolher os vencedores para não premiar a dupla). Já nos coadjuvantes temos a volta de Eddie Murphy – espero que para ficar! – depois de várias comédias fracas e de parcas bilheterias e a correção da injustiça feita a Jennifer Hudson (criticada na época em que participou do programa American Idol). Só sinto realmente nessas categorias a ausência de Jack Nicholson e seu Frank Costello de Os Infiltrados e faria uma mudança na indicação de Leonardo Dicaprio (eu o indicaria por Os Infiltrados também).

E por falar em Os Infiltrados e Martin Scorcese? Será que agora vai? Estou torcendo para que sim! Até porque um gênio que dirigiu produções como Táxi Driver, Caminhos Perigosos e Os Bons Companheiros, não pode deixar de ser reconhecido a vida toda. E afinal, ele venceu o SAG (Screen Actors Guild) e o DGA (Directors Guild of America) os termômetros mais importantes da academia.
O Brasil? É, meus caros leitores: mais uma vez ficamos chupando o dedo. O filme até era bom, mas não deu para Cinema, aspirinas e urubus. Que fazer? Fica pra próxima. Se servir de consolação o Gibson também não foi indicado. E as grandes barbadas de última hora (os chamados azarões) são Pequena Miss Sunshine – que vem ganhando força dia-a-dia (principalmente depois de ganhar o SAG) – e, claro, o velho e bom Dirty Harry Clint Eastwood e seu Cartas de Iwo Jima, que desbancou as supremes dos principais holofotes.

Qual será o melhor filme do ano? Estava quase que certo a respeito de Babel. Agora já não tenho mais tanta certeza. Apesar de não ser tradição da academia premiar comédias, não sei, sinto que bons ventos sopram para os lados de Abigail Breslin e sua família. E além do mais, precisamos acreditar ainda, nesse mundo caótico em que vivemos, na importância de se ter uma família (por mais desajustada que ela seja).

P.S: Nobres amigos leitores: decidi montar um blog com o mesmo nome dessa coluna há alguns dias. Para aqueles que quiserem se deleitar com as maravilhas do cinema, basta acessar
http://claque-te.blogspot.com ou procurar nos links de http://cave.zip.net


ROBERTO DE QUEIROZ


Carioca, 29 anos, morador da cidade maravilhosa,amante das mais inusitadas expressões artísticas (emparticular da sétima arte), do qual me considero umconfidente mordaz.

Vênus Contra Ataca



O planeta azul e o mundo dentro dele
Por Caiê

O planeta Terra esteve sempre, constantemente, em mudança ambiental. Essa mudança faz parte do fenómeno que é a Vida – o que está vivo muda, transforma-se, ajusta-se, adapta-se como pode ou segundo o que as circunstâncias fizerem dele.

As provas dessa mudança estão presentes em mil e uma descobertas científicas, em achados arqueológicos que nos mostram um Ser Humano muito diferente de nós (já para não falar de tantas outras espécies; reparem como o ser humano é bem egoísta, puxa tudo para si!), em teorias evolucionistas e de selecção natural – enfatizando natural, nada de misturar Darwin com ideias sociais de superioridade racial – e noutras semi catastróficas.

Nestas últimas, encontramos quedas de meteoritos, épocas glaciais e outras de degelo – no fundo, brutais alterações climáticas ou choques com outros astros que levam a uma alteração demasiado rápida da Vida no planeta e, consequentemente, à extinção de várias espécies, algumas dominantes (como na época dos dinossauros).

Estou a dizer alguma coisa de novo? Não. Debito o que aprendi em Biologia.
O problema actual é que a espécie dominante é a nossa, a humana, e estamos a ver a vidinha a andar para trás... O outro problema é que o Homem pensa (enfim, nem todos, mas a espécie, que é o que pretendo referir aqui, pensa!), logo duvida. Descartes errou na frase.

A dúvida humana dos dias que passam consiste nisto: continuar a aproveitar hedonisticamente o planeta que tem, gastando-o enquanto pode, o mais que pode, sem se importar com o que aí vem ou com as gerações futuras (afinal, sabe-se lá se as haverá dado que até pode cair um meteoro na nossa rota de colisão ou haver uma terceira guerra mundial e algum world leader fazer cabummmm nisto tudo...) ou, pelo contrário, ser generoso com os seus bisnetos e os bisnetos dos americanos, dos chineses, dos iranianos e da vizinha Miquelina, e começar já amanhã a fazer reciclagem de plástico, papel, pilhas e vidro, aderir ao Greenpeace, poupar água e propangadear as energias renováveis.

O Homem divide-se, assim, entre o egoísmo e a dádiva para com futuros seres que nunca chegará a conhecer... Está-se mesmo a ver o que é que a maior parte dos seres humanos faz! Claro que há honrosas excepções, perante as quais me curvo. Mas mesmo esses hesitam entre viver o momento e ser previdentes em relação a um futuro que lhes parece hipotético, mau grado a comunidade científica bradar aos céus que não é hipótese, é fato consumado se a malta persistir nesta trilha de autodestruição. Ah, mas nós, Édipos e Electras, bem sabemos que nada apela mais ao ser humano que a autodestruição, um pouquinho encapotada e infalivelmente trágica!

Claro que alguns cientistas também mudam de opinião como quem muda de camisa (não direi de cuecas, porque espero, sinceramente, que não seja o caso). Portugal quando entrou para a Comunidade Europeia achou que era muito feio ter baleeiros e caçar baleias nas ilhas dos Açores, porque a CE assim o dizia. Vai daí, em 1986 (no mesmo ano, portanto) passou a ser proibida a caça de cachalotes. Todos sabemos que os meios de caça eram ruralmente artesanais (botes a remos de sete homens, arpão manual, etc) e o número de animais caçados por ano tão ínfimo que não causava qualquer distúrbio ao equilíbrio ecológico. Nada que se compare à indústria norueguesa, muito menos à mega-caça japonesa. Ninguém morreu de fome por cá à conta desta proibição. Mas muita gente perdeu o espírito. Um homem do mar é um homem do mar e não é feliz em aventuras terrestres.

Portugal, no entanto, faz Aquacultura (fishfarming) em variadíssimos locais, empregando biólogos e até arquitectos, nessas redes onde tanto barco vai dar. É “o futuro da indústria”, pesqueira e de mariscos. É pena que seja também altamente condenável pelas associações ambientais internacionais, onde estão outros tantos biólogos marinhos, que consideram estas redes “aspiradores dos oceanos”, perturbadoras dos ecossistemas marinhos, focos de bactérias, redes assassinas de baleias e golfinhos, um perigo para a navegação, em suma, uma mentira global. Veja-se, por exemplo:
http://oceans.greenpeace.org/en/our-oceans/fish-farming. Porém, enquanto a CE achar bem, fazemo-lo e com muito orgulho.

É que o mundo é uma construção política e o ambiente depende, também, do que nos fizerem acreditar que é bom para nós.

Aqui o nosso editor-mor da Reacção Cultural pediu-me para eu fazer o meu Perfil. Eu disse: "Claro que eu faço! Eu sou mulher-camaleão, adapto-me a tudo..." Mas depois pensei: "Ai, perfil, perfil... Não pode ser antes frente-a-frente?"

Sacerdotisa














País Tropical


Moro num país tropical, cheio de beleza, natureza e festa. E dentre essas festas, há o maior espetáculo da terra: “O carnaval”, festa da carne segundo os ritos cristãos, transformados em festa do brilho, das mulheres belas e nuas, da alegoria, do desfile, dos camarotes de cervejas cheios de celebridades.

O Brasil é um país em sua essência festivo, tudo se comemora, tudo se transforma em festa, em luxo e requinte, do Oiapoque ao Chuí há festas de todos os tipos e tradições, samba, forró, calypso, sertanejo – todos os ritmos são tocados e dignos de festa.

E assim, quem não gosta de toda essa ferveção, procura na época do carnaval um retiro dessa loucura que se transforma o Brasil, na TV é carnaval, nas ruas mais carnaval, é como uma febre terçã que invade os corpos levando-os a um movimento frenético chamado samba.

O ano efetivamente só se inicia depois da festa do carnaval, depois do enorme feriado, a ressaca moral é grande e a ansiedade só é justificada pela espera da Páscoa, outro feriado. E em terra de Samba, Suor e Cerveja, falar em trabalho é quase como uma heresia, como uma blasfêmia dita em altos brados, comemorar é o lema, trabalhar é secundário. E o que dizer do nosso governante que utiliza os microfones para reclamar do seu time que perdeu no último jogo, parece piada, mas somos liderados por um representante que virou sinônimo de piada, de graça e riso.

Mas é carnaval, minha fantasia já está separada, minha serpentina esperando o confete e minhas pernas sambando na concentração. Há muita alegria neste país, muita festa, muita música, uma pena é que toda essa festa não seja a representação de um país desenvolvido e próspero.

“ Lá vou eu, lá vou eu, que hoje a festa é na avenida...”

Convite ao Nosso Yahoo Grupo! Participe e debata!

Povo do Reação Cultural, Agora com uma gestão modernizada e o uso da mais alta tecnologia, contamos com um grupo de discussão pela internet. Pelo grupo, além de receber as tradicionais edições do Reação Cultural, o internauta também poderá debater melhor algumas questões, além de conhecer novos contatos. Para se cadastrarem, basta enviar um e-mail em branco para reacao_cultural-subscribe@yahoogrupos.com.br e faça parte do nosso grupo. Atenciosamente. Reação Cultural Editores

Os Imperdiveis!
Leia o Monblaat!
Maiores detalhes, escreva ao Fritz Utzeri

flordolavradio@uol.com.br

Leia a Zine do Pirata!
Para receber por email, escreva ao Pirata

diariopz@uaivip.com.br

Visite seu blog acessando a:

www.zinedopirata.blogspot.com


Leia O Lobo (Fausto Wolff)

www.olobo.net