Tuesday, December 26, 2006

Index - Oitava Quinzena - Virada do Ano - 11 de Janeiro

12 de Janeiro de 2007

O Reação inicía novo ciclo quinzenal a partir deste Sábado! O número é pequeno, mas esperamos continuar no ar, fortes e sempre, para as próximas edições.

Não Percam!


Abraxão,

Roy Frenkiel

O Editor que não edita


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Ajudem a formar uma Mega-Rede Reacionária!Avise-nos por e-mail de onde chegaram até nós.Há algo que você gostaria de ver no Reação? Escreva-nos avisando!Cadastrem-se para receber novidades e para colaborar futuramente, através do e-mail admin@reacaocultural.com , dizendo nome, idade, profissão e localidade!

Bom proveito e FELIZ 2007!;-)



1 – Leiam o oitavo editorial da Oitava Edição do Reação, e a humilde retrospectica deste mortal que vos escreve, vosso editor que nada edita


2 – A doce (doce?) retrospectiva de Nana de Freitas, você só acompanha clicando aqui

3 – Os Comentários da Quinzena passada esquentaram com a coluna do Professor Toni! Vocês não pode perder! Clique aqui, e acompanhe

4 – Jean Scharlau nos honra com uma bela retrospectiva política de 2006. Publicado também na revista de Fausto Wolff, a qual edita, honrosamente, o jornalista. Só clicando aqui, para saber mais

5 – Professorinha Silvia está de volta com sua coluna, em uma retrospectica fantástica de 2006 no país dos descobridores do Brasil! Cliquem aqui e se esbaldem!

6 – Caiê, a Dona de Pug, a Gata Preta, volta com um novo texto, na coluna Vênus Contra Ataca. E viva 2006! Leia mais, clicando aqui

7 – André di Bernardi e sua poesia, fechando 2006 com chave poética dourada. Acompanhem, clicando aqui

8 – Cristina Bondezan, após uma folga que nos deixou extremamente preocupados (some não, Cristina!), volta com sua retrospectiva peculiar na coluna Arquitetura Social. Clicando aqui, você acompanha

9 – Deco e seus reflexos refletidos no Reação. Clique aqui, e não perca 2006, aos olhos de Deco

10 – Amanda Oliveira, poeta, envia por primeira vez uma de suas poeisas à honra do Reação. Delicie-se, clicando aqui

11 – Jens e sua retrospectiva 2006 estão impecáveis. Não perca a Coluna de Jens, clique aqui!

12 – Priscila, a Sacerdotisa, está de volta com sua singela análise social de 2006, clique aqui e proste-se à Sacerdotisa

13 – Meu irmão psicológico, (tem gravidez psicológica, agora tem irmão psicológico) Felipe Plattek enviou a campanha ESSE MAR É MEU. Saiba como ajudar os mares cariocas, clicando aqui

14 – Halém de Souza e sua retorspectiva literária de 2006, na imperdível coluna O Povo e Livro. Clique aqui para pensar e crescer

15 – Roberto de Queiróz nos enviou uma pequena retrospectiva cinematográfica de 2006. Sabem aquela história de ‘menores perfumes, melhores frascos?’ ou seria ‘pequenos frascos, melhores perfumes?’ Ora essa, apenas clique aqui e entenda por ti!

16 – Luciano Piccazio e sua retrospectiva de 2006 jazem na coluna: Eternamente Moleque! Só clicando aqui para ler mais!

17 – Mais uma de Papai Cardoso, hilária, ágil e imperdível! Clique aqui, e acompanhe

Editorial - Oitava Quinzena - Virada do Ano - 11 de Janeiro

O Reação Cultural chega à Oitava Quinzena e edição, com o pique repartido de fim de ano, mas que, pela quantidade de colaboradores atendendo à chamada, mesmo com toda a correria que justifica – e muito – a ausência de alguns outros magos e magas, demonstra que o pessoal segue acreditando na investida de formar, nas palavras de Jean Scharlau, um bom “blogue coletivo”. Xii… Se eu fosse um editor de verdade, editava esse primeiro parágrafo. Aliás, editava também as palavras que grudam, estaria mais ligado nos links que não linkam nada, e acertaria um formato que realmente fizesse sentido. Até corrigiria erros ortográficos e/ou gramaticais… No momento, contudo, preocupo-me com os colaboradores e colaboradoras fantásticas que temos, que se orgulham em colaborar, em expôr suas palavras e seus rostos com o nome do Reação.

Sinto que 2007 tende ser um ano de poucas calmarias… Não sei se é o momento, a idade, a maturidade que ainda me falta ou os aprendizados que colecionei em 2006, mas pressinto que, daqui em diante, a única possível calmaria é a calmaria que eu me crie, e à qual conseguirei me adaptar em sincronia às calmarias alheias. Nenhuma das retrospectivas pedidas aos jornais que permitem a publicação de minhas crônicas teve um teor positivo. Muito pelo contrário… A repetição, o crescimento da apatia, a continuação da barbárie das guerras, a neurose coletiva da qual não conseguimos, tantas vezes, escapar, todos esses fatores pesam na hora de dar um veredito ao ano que se passou. Qual, as conquistas individuais contam, e muito! Mas, talvez algo esteja mesmo errado em não se importar com o ‘amigo secreto’, com as festas sociais, com os vastos sorrisos (que de tanto sorrirem, alguns se falsificam no caminho) e os votos de feliz, feliz, feliz… Talvez, haja algo mesmo fora da ordem, na ordem pessimista que me toma as perspectivas.

No ano passado, Dezembro e Janeiro foram meses de virada, e 2006 em sua íntegra também. Cresci como pessoa, e ao mesmo tempo, pessoas pelas quais sou grato, me deram o mesmo apoio incondicional que recebo desde meu nascimento, e que em épocas se expressou melhor, outras pior, mas sempre esteve presente. Ao mesmo tempo, outros personagens importantes na sociedade que me aceita, da qual orgulhosamente participo cada vez mais ativo, aceitaram minha participação por primeira vez. Minhas frases e criações malucas jazem em páginas virtuais, e alguma repercussão existe de minhas palavras… Ainda não sei exatamente o quanto é bom ter minhas palavras lidas, porque ainda não sei se o efeito delas é o mesmo intencionado, e se elas fazem mesmo o sentido que, por hora, fazem para mim. Mas, conversando com muitos dos colaboradores e colaboradoras atuais do Reação, descobri que o anseio de praticamente todo escritor é o mesmo: Será que alguém nos lê? Será que alguém se importa? Será que temos mesmo o que dizer?

Pois, apenas quando somos lidos é que sabemos, de fato, se fazemos alguma diferença. E a diferença que procuramos, ou muitos procuram fazer, é a inspiradora, motivacional, progressista… Ou seja, que nos leiam e que se importem por novos fatos, novos sentimentos, novas perspectivas, mesmo que parte delas sejam mesmo pessimistas. Estudiosos da literatura entendem que a arte escrita tem mesmo esta possível prática, a de iluminar os passos frios da mente, e acolher o calor intrépido dos sentimentos. Motivar, eventualmente, ações e reações. Em 2007, prevejo ainda mais literatura no mundo, que reluta seu esquecimento. Prevejo novas idéias, perspectivas e compromissos com a sociedade, com o meio ambiente, com a política e com a cultura. Prevejo que não exista um descanso que não nos seja merecido, e que não exista a paz sem voz, que, segundo Falcão, não é paz, é medo. Que o sonho das pessoas que sonham com seus países em melhores situações, se concretize um pouco mais. Que o processo para um melhor futuro comece imediatamente…

As boas e as más notícias co-existem… Perdemos a Sivuca, recentemente, nesta semana também a James Brown, e outros nomes brilhantes da música tanto brasileira quanto internacional, em 2006. Uma parte das passadas gerações desaparece lentamente, e logo não restam muitos nomes dos autênticos anos revolucionários de 60 e 70. Todavia, o movimento musical independente e internacional, globalizado e virtualizado, tende a uma maior aproximação à qualidade antes vista nos anais da mídia. Isso se deve a uma mídia massificada cada vez menos massificada e mais acessível, uma revolução que, apesar de não ser nova em 2006, teve novas repercussões neste ano de revoluções cibernéticas e tecnológicas, mais amplas do que as de 2005, e a previsão é de que os avanços apenas aumentem. Claro, nem tudo é maravilhoso… Invenções que poderiam beneficiar toda a humanidade já foram inventadas, mas ainda fazemos parte do gado que circula entre os terrenos das grandes corporações. A boa notícia: É possível fazer diferente, só precisamos de união e um objetivo que, apesar de comum, não restrinja nosso individualismo.

Em 2006, novas batalhas foram traçadas em nome de avanços medicinais, e ao centro deste palco baila a campanha que pede pesquisas em células tronco embrionárias, não apenas 'adultas'. Por hora, a sociedade, em grande parte, ainda considera as pesquisas um tabu a não ser rompido. Mas, as indicações são boas… Se por um lado, há tantos rostos tristes pelas ruas, por outro, o murmúrio se intensifica, os pensamentos rompem barreiras, e as vozes se multiplicam em nome da liberdade que todo e cada ser humano merece apenas por viver e existir.

Não… Não é hora de perder a postura, não é hora de jogar o pano branco, não é hora de se resmungar e reclamar, e não é necessário festejar a banalidade e o falso moralismo: Festejemos e celebremos todos a oportunidade de viver um mundo em que haja o quê melhorar, se podemos, de fato, fazer algo a respeito disso. O Reação foi criado, de certo modo, para que mais pessoas possam ditar novas idéias ao que seriam essas citadas melhoras. E por mais que capengue ainda em formato, a cada mês, novas e mais pessoas nos reconhecem pelas vias internáuticas. Nada mal, amigos e amigas reacionários. Nada mal para um bom começo, que segue em 2007, e que visa apenas crescer, de preferência para cima.

Boa virada de ano a todos, e que a vida seja, de fato, melhor para a maioria,

Obrigado, em nome de todos os colaboradores e colaboradoras, a todos nossos leitores e leitoras, por darem sentido a nossa saga!

Aos abrax, até 2007!

Roy Frenkiel

O Editor que não edita
admin@reacaocultural.com

Canto de Nana

ADEUS, ANO VELHO!
Por Nana de Freitas


Janeiro foi bom, mas custou a passar. Apesar das férias, três viagens, quatro churrascos e dois casamentos de amigos. Conheceu Júlio na Bahia e já nem se lembrava de Pedro quando se jogou nos braços de Ricardo.
Fevereiro começou com Ricardo, mas terminou com João Paulo. Entre os dois, veio o carnaval, assunto sobre o qual não podia mais falar, nem com um, nem com o outro. Antes da Semana Santa, no entanto, os encantos de Claudinho, que falava de música popular brasileira como se celebrasse uma missa, tamanho o respeito que nutria pelo assunto. Em algum ponto entre a Bossa Nova e a Tropicália, se enrolaram aos beijos e João Paulo virou passado. Remoto.
A sexta-feira santa foi de solidão e lágrimas, depois da discussão com Claudinho sobre a importância do samba rock na formação da identidade cultural contemporânea da classe média brasileira. E lá se foi Claudinho, sem dinheiro, sem nobreza, sem saber e, subitamente, sem o charme que trazia desde o início de março.
Aleluias no sábado pelo encontro com Bosco, que descia bêbado a rua da casa dela quando trombaram. Pediu desculpas e desmaiou, o coitado. Ela acudiu, cuidou, tratou, amou e sorveu. E devolveu à rua no início de maio, porque a fila anda, afinal, e Bosco bebia demais.
Às festas juninas compareceu com Jorge, Lúcio e “Júlio 2” (alcunha que o diferenciava do primeiro, o da Bahia), mas ela garantia que amava Carlos, com quem fizera um breve curso de fotografia ainda em maio. Mas Carlos foi para o Canadá estudar e as festas de junho eram para casais, com todo aquele frio e o romantismo da fogueira...
Dispensou Júlio 2 para curtir férias com Leozinho, na serra. Mas Leozinho detestou o frio, declinou do convite à caminhada e voltou mais cedo para casa, deixando a moça em companhia de Roger, o guia local - que não declinava de nada. Uma semana depois, Roger caminhava sozinho e ela voltava pra casa a fim de rever Carlos, que voltaria do Canadá. Mas não voltou. No lugar dele, veio Laurent, o “irmão” do intercâmbio – que fotografava e beijava ainda melhor que Carlos.
Laurent durou agosto inteiro e até o fim de setembro, mas perdeu o encanto justamente quando começou a domar o portugês e a se fazer entender.
Outubro teve Teco, Zé e Boi. Teve a Festa do 12 na histórica Ouro Preto e uma semana inteira sem aula nem trabalho. Ela encarou a maratona com bravura e chegou a novembro de compromisso com Henrique, com quem queria muito passar o Natal. Mas não deu. Já em dezembro, depois de uma briga, saiu na chuva, chorando, e conheceu Saulo, que a consolou e enxugou. Por essa e outras, Saulo ganhou um Natal ao lado dela, embora as intempéries sentimentais da moça não o tenham permitido chegar ao réveillon.
Nem 20h eram ainda e Bia já estava pronta para a festa e os fogos. Depois de repassar mentalmente todo o ano de 2006, queria fazer logo a contagem regressiva e começar 2007. Não agüentava mais ser sozinha. Aquele, sim, havia de ser o ano em que encontraria um amor...

Comentarios da Quinzena

Regina Ramão, na coluna do Prof. Toni


Concordo contigo em quase tudo, meu querido amigo. Também acho um saco este lance de aturar parente chato, prefiro mil vezes um bom amigo por escolha espontânea a um parente por imposição do destino.

Odeio ter que peregrinar por lojas, supermercados, e o pior, fazer a famosa faxina de final de ano, revirando gavetas que me trazem uma retrospectiva nem sempre agradável, como encontrar a tabela da Copa e ver que a Itália foi a campeã, ou esbarrar em uma cola eleitoral onde consta o nome do Olívio para governador e saber que não levamos o galo missioneiro ao Piratini e agora temos que aturar por quatro anos uma tucana paulista deslumbrada. Pior mesmo é achar alguma conta vencida e não paga.

Só não posso ser absolutamente contra a data de 25 de dezembro porque é o dia do meu aniversário, mas confesso que preferia que fosse noutra data, pois como podes imaginar, a concorrência de atenção com o maior revolucionário da História é bastante desleal.

Abraço!

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Reacionário, na coluna do Prof. Toni


Poxa... Quando vi que era um site de reacionários me animei...

Mas até isso a esquerda está privatizando (ou estatizando?) para si?

Eu adoro o Natal. Ficar com a família enchendo a cara de vinho e comendo bem pra cacete. Lembro de várias pessoas que amo, e sou lembrado pelas que me amam. Nada é perfeito, mas é muito melhor que a média!




Resposta, em Internetês sem acentos, na própria coluna do Prof. Toni:


Amigo Reacionario, eu espero que leias a resposta. Em primeiro lugar, va la ao www.osintensos.blogspot.com , minha casa, para ver o que eu escrevo a respeito, se quiser.

Aqui nada eh de esquerda ou de direita, sinceramente, eu particularmente nao acredito em lados, porque a humanidade eh uma so e todos, mais ou menos, querem as mesmas coisas, apenas enxergam a vida individual e diferentemente, o que eh natural. Por favor, participe sempre, seu comentario sera destacado nos comentarios da quinzena, no dia 26. O Prof. Toni tem o direito de expressar o que pensa sobre o Natal bem como voce, nao acha? Isso sim, eh Reacao.

abrax fraterno!

Roy Frenkiel
O Editor que nao Edita P Nenhuma

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De Paulo G. Na nova coluna da Professorinha Silvia

Essa da Madeira eu relativizaria, só porque primeiro trata-se de toda a família Jardim da família Ramos e das restantes família (são poucas, mas...) e só depois do resto.
É certo que há algumas regras que ainda por lá se mantêm, mas afinal aquilo é um feudo com jurisdição quase própria.

Jean Scharlau


O virtualíssimo amigo Roy Frenkiel, editor do blog coletivo Reação Cultural*¹, que cansou-se do estilo de vida da colônia e hoje mora na sede do império, instou-me a escrever uma retrospectiva dos sucessos de 2006 e sugeriu-me a política como tema. Pretendo pegar o assunto um pouco por fora do centro.



De julho de 2005 até hoje, vivemos muitos dos piores e dos melhores momentos de que consigo lembrar de ter testemunhado na tal 'vida pública' brasileira, ou na vida “que se publica”, mas esse enfoque já foi suficientemente apontado, em milhares de versões, da extrema direita até a extrema esquerda e assim, com a união dessas duas pontas, teve praticamente fechado o círculo.



Este ano - ano e meio, na verdade - nos fez experimentar do ponto de vista social privado, do ponto de vista, audição, tato e todos os outros sentidos, inclusive o sexto, o sétimo e o oitavo, da unidade celular social, ou seja, dos carinhas eu, tu, ele, ela, a mais árida solidão, a mais brutal insegurança, o mais insidioso desespero da humanidade, nós inclusos. E nos fez reerguermo-nos, com novas seguranças, companhias, esperanças e jeitos de crer, ao menos em nós mesmos.



Em primeiro lugar tivemos a terrível surpresa de constatar que foi e será sempre um erro confiar plenamente, principalmente naqueles a quem delegamos poderes e mesmo nos que pensávamos conhecer há décadas. Aprendemos que cheiro de fumaça quer dizer mesmo que deve haver fogo. Aprendemos que não há seres humanos acima de qualquer suspeita, e que o que eleva ou rebaixa o ser humano é suas ações e não sua posição social. Aprendemos que muitos não fazem o que dizem e negam-se a dizer o que fazem. Mas deveríamos saber disso desde o princípio! Como pudemos relaxar tanto, nos deixar ser pegos de surpresa em algo tão óbvio? Talvez por que seja extremamente difícil ficar em alerta permanente, em relação a tudo e a todos...



Mas a coisa não terminou aí, oh não! Sentindo o cheiro de ingenuidade fresca e carne nova, os predadores todos se eriçaram e começaram a salivar, principalmente perto de microfones, tribunas e câmeras. Chacais, hienas, urubus, crocodilos, serpentes, caranguejeiras, e até alguns vegetais pernósticos*², todos saíram de seus covis, ninhos, cátedras e tocas para vir a público dar lições de ética, moral e bons costumes e, claro, lançarem suas pré candidaturas. Mas a coisa ainda não terminou aí, oh não...



Os estúdios de rádio e TV ficaram coalhados de criaturas das trevas que arriscaram-se sob as luzes artificiais apenas por que estavam logrando êxito no seu chamariz à armadilha de fazer parecer que todos os outros, nós, seríamos iguais e freqüentemente piores que eles. Assim levavam-nos para dentro de sua arapuca, para a boca de seu alçapão, bem perto de suas garras. A maioria desses monstros tem seus próprios jornais, rádios e tevês, o que os mantém fartamente abastecidos de vítimas incautas. Mas o pior não foi isso, oh não!



As grandes empresas de “comunicação” (vai entre aspas porque nas suas “comunicações” só elas falam e nós ouvimos) e “jornalismo” (vai entre aspas também porque os tais “jornalistas” são mesmo é vendedores disfarçados) assumiram, à luz de todos os dias, implacável perseguição a todos os que recentemente os tinham tirado do confortabilíssimo poder absoluto. Sua estratégia passou a ser reunir os petistas em um gueto, inicialmente moral, o gueto dos “que fazem mal à Nação”, para logo tatuar-lhes no braço um número e a estrela que os identificaria. Eles sabiam que isto já funcionara uma vez, quando Hitler convenceu os alemães a condenarem todos os judeus por que entre eles havia usurários, a inflação era absurda, e esses seriam os responsáveis pelo prejuízo da Nação, portanto, “livremo-nos dessa raça!”. Ao mesmo tempo, os empresários de “comunicação” (os que entram com o texto, enquanto nós entramos com os olhos e ouvidos) abriram todas as suas lentes e diafragmas para que os poderes das trevas se manifestassem. O quê? Está muito maniqueísta isto? Daqui a pouco estarei falando em “eixo do mal”? Pode ser. Ainda assim há verdade aí e nos fizeram guerra em 2006, o ano de ano e meio, pois em julho de 2005, quando revelou-se que tínhamos inimigos (ou aloprados) na trincheira, começou a campanha para as eleições, quando decidiríamos voltar atrás ou seguir adiante. Em julho de 2005 foi dada a largada para outubro de 2006. Para vocês lembrarem como estava a coisa, seis meses depois de começarem a perseguição aos petistas, escrevi na entrada do meu blog*³ e datei, que resistiria às manobras dos neonazis, busch&vickis, tfpês, elites brancas, doutores em coisa nenhuma e respectivas matilhas.



Nessa época começamos a entrar nos meses bons de 2006. Revelada a podridão de parte do poder executivo e de grande parte do poder legislativo, a pretendida discriminação começou a deixar de colar, as tatuagens não pegavam, o gueto começou a vazar. Começamos a constatar o óbvio: éramos todos humanos e para além de crimes e erros, evidenciava-se que uns jogavam para um lado e outros para outro e isto tinha grande importância. Além e antes disso, a questão não era apedrejar alguns para expiar os pecados de todos – ficou evidente que a solução seria lutar contra os pecados e não matar os pecadores flagrados com a mão na botija, pois todos pecam e hoje, como há dois mil anos, ninguém estava em condições de atirar uma pedra, ainda que muitos já tivessem atirado várias. A solução, percebemos, era eliminar os erros, barrando e punindo os errados, não eliminando-os.



Há pouco passamos por um período de trevas em que aqueles que o poder considerava errados eram apedrejados, mortos e desaparecidos. Definitivamente não queremos mais isto. Percebemos imprescindível e urgente o combate a essa “cultura” dos erros, imoralidades e crimes. E começamos a corrigir o Brasil. Sem colocar poderosos na cadeia, infelizmente, mas descobrimos muitos mascarados ladrões, interrompemos milhares de falcatruas que corriam soltas, centenas de vezes mais do que era feito antes, e isto é um bom começo. Nunca antes o governo havia sido tão minuciosamente fiscalizado e isto é um ótimo começo.



Não retrocedemos em 2006, não optamos pelo expropriante, colonizador e falimentar processo quase levado a cabo pelo governo anterior. Optamos pela continuidade do desenvolvimento. Isto aconteceu porque os pobres souberam fazer suas próprias contas e constataram que pela primeira vez em quatro décadas haviam entrado no lucro e também por que a classe média dividiu suas posições. Pobres e classe média tiveram que resistir à lavagem cerebral goebbeliana, ou globeliana, ou globeleza, como preferirem. Vejam o interessante estudo histórico com atalho no final deste texto e ficará mais fácil entender do que estou falando*4.

A classe média dividiu-se na escolha e grande parcela da esquerda unificou-se usando uma interessante e nova ferramenta: a internet, que tornou realidade um inédito canal de COMUNICAÇÃO (maiúscula e sem aspas), que permitiu que a verdade aflorasse e a primavera trouxesse além de flores, bons frutos, para todos. Há ainda, sim, muito poder dentro das trevas, mas gradativamente o cenário se ilumina e os monstros têm que retirar-se para as suas fossas, ainda que relutantemente.



Este canal de COMUNICAÇÃO tem que permanecer aberto e ativo e seus usuários têm que permanecer vigilantes e animados, para que as trevas não voltem e a noite conte sempre com um firmamento de estrelas verdadeiras, e com Luz elétrica para Todos (não deixaria passar sem esta). Os pobres têm que continuar no lucro, cada vez mais, pois eles têm muito a recuperar do que lhes foi tirado, inclusive, e fundamental, eles têm que participar cada vez mais deste nosso CANAL DE COMUNICAÇÃO, até que “nós”, aqui, também sejamos TODOS NÓS.



Para encerrar este pequeno artigo, agradeço a Deus pelo longo ano e meio de 2006 e peço ao Aniversariante do dia 25 a Sua benção. Peço-a para todos nós, homens e mulheres de boa vontade e múltiplas crenças. Que maravilha será que nos venha a ser possível a graça de, no próximo ano, por mais dias e muitos mais momentos que neste que atravessamos, consigamos agir como irmãos e irmãs, irmãs e irmãos que se amam e saibam reconhecer, construir e desfrutar a felicidade cotidiana de estar próximos.



Jean Scharlau

Porto Alegre, RS, BR

*1 - http://reacaocultural.blogspot.com/index.html

*2 – Obviamente, quando chamo pessoas de monstros, animais pernósticos, não estou me referindo à sua essência. Refiro-me não ao ser, mas ao estar, ao agir como.



*3 – http://jeanscharlau.blogspot.com

Professorinha Silvia

Breve Anatomia de 2006


2006 não foi um ano fácil. 2006 deixa-nos com um sabor amargo na boca quando começamos a pensar no que queremos para 2007 e desejámos para 2006. A esperança de um ano melhor é difícil de manter nos nossos corações depois de, em 2005, termos apostado num 2006 com alegria, amor e, principalmente, uma recuperação económica de um país que está no fundo.

A Ministra da Educação (porque sou professora) resolveu iniciar uma guerra contra os professores lusos com o objectivo de nos deixar na lama. Uma das frases mais famosas da Ministra é: "Perdi os professores mas ganhei a população!", deixando-nos a pensar que afinal ela não é a Ministra da Educação mas sim a Ministra da População estando, como tal, a ocupar o cargo errado. Enquanto outros países vangloriaram os professores e lhes agradeciam e agradecem o trabalho que têm feito, neste país, durante todo o ano de 2006, enxovalhou-se a profissão de educador.

Conseguiu-se, através de Decretos-Lei duvidosos e decisões ainda mais dúbias, que os professores passassem a ficar mais tempo na escola sem serem pagos para isso - constituindo, por isso, trabalho escravo por definição. No fundo não é o não pagamento que incomoda os professores, mas sim o tempo que lhes é 'roubado' para preparar as aulas, corrigir testes, trabalhos de casa e outros trabalhos que o bom professor deve sempre fazer se quer ter um bom resultado, resultado esse exigido pela população. A Ministra mede a todos pelo mesmo, pela incompetência e preguiça que, decerto, povoam a sua própria cabeça e tenta, de todas as formas, virar a opinião pública contra os professores. E tem tido sucesso na sua campanha durante 2006, infelizmente.

Portugal desceu mais baixo do que alguma vez se pôde imaginar. Continua como país em vias de desenvolvimento na cauda de uma Europa em pleno desenvolvimento e, este ano de 2006, que trazia com ele a esperança de uma evolução positiva e de tempos mais fáceis, veio a revelar-se o contrário do que se esperava. Foi um ano que ser tornou progressivamente difícil em termos económicos. Fábricas a fechar, empresas a falir, empresas a deslocalizarem-se para países onde lhes são dadas mais mais-valias deixando milhares de pessoas desempregadas com filhos para sustentar e dividas para pagar. A tudo isto o governo reagiu com um mutismo preocupante. José Sócrates, o 1º Ministro, ganhou o cognome O Embuste. Mentiu para ser eleito e continuou, ano fora, a quebrar promessas atrás de promessas e a perseguir os funcionários públicos como se fossem os principais responsáveis pelo que de mal está neste país à beira-mar plantado. Cavaco Silva, eleito na esperança de ser uma força contrária ao governo, desiludiu. Manteve-se também calado sem reacção às acções do governo e, quando finalmente falou, desiludiu pedindo para que o povo deixe que o governo trabalhe e dizendo que está de acordo com o rumo que os governantes escolheram.

Mas nem tudo foi mau. Devo também procurar o que de positivo tivemos em 2006. O que aconteceu de bom neste ano que termina dentro de alguns dias?
O que recordo de bom a nível pessoal?

Recordo as amizades que fiz, os alunos maravilhosos que tive ainda na ilha da Madeira, o meu crescimento como pessoa, o que aprendi e a conclusão que todas as dificuldades por que passei me permitiram ganhar asas para voar mais alto do que alguma vez pensei voar. Tenho hoje a força para lutar contra as dificuldades que encontrei no sítio onde agora trabalho e sei que devo trazer para cá o bom que vivi na Madeira para tentar mudar o pouquinho de mundo que me rodeia e não desistir ou fugir como seria bem mais fácil.

Em 2006 criei o meu blog. Este ponto eu não poderia esquecer de apontar. Iniciou apenas como um local para falar sobre a escola, alunos e sobre a minha profissão mas que se tornou um espaço de partilha de ideias e de sentimentos... Ao longo destes meses acho que se tornou um espaço bonito e aconchegante, do qual me orgulho.

E o país? Que houve de bom neste ano que se passou?

Este ano de 2006 começou com neve. Neve em zonas do país onde não nevava há 50 anos. Foi uma alegria enorme para adultos e crianças ver cair neve e ver tudo à nossa volta coberto de branco qual almofadas de nuvens fofas onde nos podíamos rebolar e brincar (sim, frio, mas isso que importa perante a alegria sentida?). O país parou para ver nas notícias de neve na praia, neve em Lisboa, neve até no Alentejo!

Tivemos um campeonato Mundial que nos encheu de orgulho pelos nossos jogadores! Apesar de não termos ganho o 1º lugar, soubemos lutar bem e perder de cabeça erguida, sem nos rebaixarmos nunca à falsa superioridade que povoava as cabeças de algumas selecções. No fundo dos nossos corações, saímos vencedores. Por momentos, durante dias, foram esquecidos os problemas e dificuldades das nossas vidas para apoiar a nossa selecção, esquecemos as rivalidades e unimo-nos. Vimos as janelas e varandas enfeitadas com a nossa bandeira num símbolo de amor patriótico que já não se via desde Camões há anos. Na minha opinião este foi o ponto mais alto de 2006.

Regressando aos professores, apesar de toda a negatividade que os rodeia, uniram-se em torno de um objectivo: derrubar a Ministra, reivindicar reconhecimento, mostrar que trabalham, que se preocupam, que, quem é de verdade professor, adora o que faz e dedica-se completamente à profissão. É verdade que não se conseguiu derrubar a Ministra, mas logrou-se derrubar algumas das medidas com que tentaram subjugar a classe docente. A união entre a classe docente, que não se sentia desde o século passado, regressou aqui... Espero que 2007 traga ainda mais união e força para os educadores deste país pois se é difícil vencer unidos, imaginem separados...

Venus Contra-Ataca


Trezentos e sessenta e cinco dias por estrear


Nunca fui daquelas pessoas que fazem resoluções de Ano Novo; aquelas pessoas que têm listas com objectivos a alcançar e dois meses depois já estão muito desiludidas porque as metas que impuseram a si mesmas já foram destruídas por uma mudança de rumo, pelas circunstâncias, por mil e um imprevistos que se atravessaram ou por pura falta de força de vontade delas próprias. Eu penso, à partida, que trezentos e sessenta e cinco dias são muitos dias novos à minha frente para eu decidir já hoje o que quero fazer em todos eles ou de mim mesma neles. Eu nem sei se amanhã vou continuar a querer o que quero hoje… E se quiser (fenómeno raro nos seres humanos, inconstantes por natureza!) é muito provável que tudo não dependa só de mim. Assim, com tanto dia em branco à minha frente, o que há a fazer é esperar o melhor e trabalhar para o resto (provérbio que fica melhor em inglês, porque rima: «hope for the best and work for the rest»).

A verdade é que dias novos em folha temos todos os dias e não só o 1 de Janeiro. Ainda bem. Quando andava a tirar a Licenciatura, tive uma colega a quem os pais tiraram da Universidade durante dois anos porque, segundo as crenças deles, o mundo ia acabar antes do ano 2000, portanto era inútil as filhas continuarem a estudar, a aprender, a conviver, a sair de casa.

Bem vistas as coisas, nem sei porque continuaram a alimentar-se. Mas isso fizeram. Fecharam-se em casa dois anos a fio. Quando chegaram à conclusão que o mundo não dava mostras de acabar, recomeçaram a viver, no verdadeiro sentido da palavra. Esta rapariga tinha dois anos de vida em atraso. E não estou a falar de estudos. Um dia perguntei-lhe (ela tinha muito bom humor, ao contrário do que se possa imaginar por este perfil de clausura) como é que as pessoas iam ser aniquiladas, segundo as ideias dos pais dela – se pensarmos um bocadinho, quando o Novo Ano chega a Lisboa (onde estudávamos) já chegou à Nova Zelândia há cerca de 12 horas, o que implicaria um processo divino muito lento e vingativo de destruição mundial, a meu ver… Ela disse que eles nunca se tinham questionado acerca disso.

Contrariamente a esta minha colega, o que mais faço é questionar-me. Isto não significa que sou nem melhor nem pior do que ela, mas sou, seguramente, diferente. Não olho para o dia 1 de Janeiro como um dia especial; é tão importante como o 31 de Dezembro, porque estou viva e alerta em ambos. No entanto, é verdade que, se não faço resoluções de Ano Novo, páro sempre um bocadinho para pensar, não naquilo que gostaria de ter ou de fazer (isso ia parecer-me uma infantilidade sem nexo…) mas naquilo que fiz no ano anterior.

Entro em balanço, como as lojas. Sobretudo, penso naquilo que aprendi pela experiência, no que interiorizei depois, nos erros que fiz também. Os erros são, afinal, rotas mal escolhidas. Felizmente, o bom das rotas é que podemos sempre virar de rumo; podemos é já não ir a tempo de ganhar a corrida… Mas também quem é que quer um troféu ? Era coisa para ficar a encher-se de pó e mais nada...Agora é que este texto ia entrar na parte interessante e dramática – todos sabemos que as pessoas adoram um bocadinho de drama; o que não suportam é o tédio!... – em que eu vos contava o que tinha «aprendido» este ano.

Mas não. Isto não é uma novela e eu tenho muito pouco jeito para contar histórias que não sejam sobre os outros. São os outros que observo (absorvo?) para depois os re-contar.Como não me julgo tão generosa que dê opiniões sem que mas peçam nem tão sábia que conheça a melhor maneira de viver o próximo ano, posso só desejar-vos que se surpreendam com as coisas, que gostem de vocês e de quem vos rodeia e que o vosso tempo não se perca em inutilidades sejam elas de que espécie for, porque é o tempo o mais precioso que todos temos (e nem damos conta...)

Por Caiê

Aqui o nosso editor-mor da Reacção Cultural pediu-me para eu fazer o meu Perfil. Eu disse: "Claro que eu faço! Eu sou mulher-camaleão, adapto-me a tudo..." Mas depois pensei: "Ai, perfil, perfil... Não pode ser antes frente-a-frente?"

Poesia di Bernardi

Preciso lotar de pérolas
este rosário novo.
Preciso forjar um verso firme,
constante, confiável.
Teresa, corda de fuga
às avessas,
rastro que me leve a um claustro
luminoso,
berço de um lugar escrito.
Acúmulo de hipercentros

Negero, alvo, o coração
é sempre algo provisório.
É preciso adubar sem pressa o que não uso.
No jardim, uma rosa silente.
É preciso aceitar o inominável.
De cela em cela,
de fuga em fuga,
sem m que nos alimente,

amamos até a coisa exposta.
Mas entraram ciscos nos meus olhos inteiros.
Veja bem, pois enxergo longe.
A dor, essa não merece reparação.
Está na cara.

É preciso proteger com água
o segredo mútuo das crianças. Anote:
venho de antes do valimento das pedras
e nunca saí do ventre das sementes.
Posso, largo, pois que nos protege
uma rede imensa de meninos.
É preciso obedecer ao verso inconcluso,
pois existem senhas impronunciáveis:
nada, em cada quatro,
um oito incluso,
distendido, garbo, rumo ao infinito.
O coração nunca foi algo provisório.
Crédulos, cavamos, cavamos,
até a consagraçao do verde.
O coração é um lugar estreito,
anterior ao azul,
que se tornou rubro, de repente.
Preciso lotar de pérolas
este rosário longo.
Preciso, lotado delas,
forjar no escuro um arvoar contínuo
luminoso, natural e diferente.

Andre di Bernardi


Arquitetura Social



“ Arquitetura social é aquela que se situa acima do nível individualista”.
Arquiteto Richard Neutra

Em clima de final de Ano, esperanças renovadas e balanço das realizações, sucessos e decepções, alguns conceitos e anseios na prática da arquitetura social no Brasil, menos como especialização profissional, mais como intenção e instrumento de planejamento social e organização, respeito e valorização do ser humano na comunidade, profissão- intenção levada a sério, ferramenta possível e passível de transformação...

Que... não só em 2007:

- possamos observar cada vez mais interesse e sensibilidade dos jovens arquitetos aos problemas brasileiros, sobretudo aqueles relacionados às obras de caráter social, como habitação, escolas e equipamentos de saúde.

- as verbas destinadas à viabilização dos projetos sociais cheguem a seu destino sem as “paradas obrigatórias” infelizmente reconhecidas como inevitáveis.

- aqueles que decidam ensinar, o façam por amor e idealismo, comprometimento, responsabilidade, esperança, interesse pelas nossas necessidades, limitações e possibilidades reais, que a universidade seja o grande celeiro da criação e produção de talentos.

- a relevância da arquitetura – sobretudo da arquitetura social – não resida apenas na sua beleza, no discurso político fácil ou modismo, mas na procura em ser útil à coletividade, no real benefício à sociedade.

- os projetos contratados para o consumidor de baixa renda – hoje ainda mais como objeto de lucro dos empreendedores menos como intenção ou responsabilidade social – sejam comprometidos com a organização espacial e ordenamento das funções e arranjos das necessidades e adaptados às condições de cada região, no mínimo.

- os projetos sociais relativos à saúde e educação contemplem soluções simples e eficazes, que contribuam para o bem estar psico-fisiológico das pessoas, e também promovam e estimulem a interação entre as diversas categorias de usuários e os servidores públicos .

- sejam promovidas parcerias inteligentes e bem intencionadas entre o poder público e a iniciativa privada em projetos sociais, envolvendo nomes de vulto da arquitetura, até como estímulo aos jovens profissionais, a exemplo do Arquiteto Ruy Ohtake e seu trabalho junto a uma favela de São Paulo, onde a construção de uma biblioteca – levando arte e educação aos jovens – foi tão impactante quanto a pintura da sua fachada, a qual lhe deu identidade e promoveu sua inclusão espacial, além da social.


- os dados de 2004 fornecidos pelo Sindicato da Construção Civil (Sinduscom), que nos mostram um déficit habitacional absoluto de 7,9 milhões de moradias no Basil seja dignamente alterado, diminuído e rechaçado.

- os arquitetos sejam cada vez mais contratados e valorizados pelos órgãos públicos – com salários compatíveis e, mais que isso, com respeito e autonomia para montarem as peças essenciais do planejamento urbano, as quais equilibram a qualidade de vida nas cidades, desestruturadas e despreparadas para acolher tantas vidas.

- nossos legisladores, no real cumprimento do dever e honrando seus indignos salários, promovam leis preventivas e facilitadoras da inclusão social via arquitetura, leis que estimulem e não burocratizem o crescimento sustentável desse país tão carente.


Bom, pessoal, é o mínimo que se pode desejar. A todos um grande próximo Ano. Ao editor que diz não editar, brilhante “patrão”, obrigada pelo importante espaço.

Até !

Cristina Bondezan

Cristina Bondezan é arquiteta e urbanista. Nasceu e cresceu em São Paulo entre os italianos dos bairros do Cambucí e da Mooca. Exerceu cargos públicos na área de Planejamento Urbano, é docente do curso de "Design de Interiores "nas disciplinas : Projetos, Revestimentos , Gestão e Empreendedorismo. Seu escritório profissional situa-se na cidade de Marília, interior de SP . Um sonho : Ver o Brasil livre do parasitismo político . Um prazer : viver em amplitude e com olhos atentos...

Reflexos de Deco

O AMANHÃ NÃO SE SABE
Por Andre Toledo



Quem freqüenta este espaço há algum tempo conhece bem minha ojeriza por datas comerciais, que obviamente, mega-inclui o Natal. Acho essa época apelativa, um tanto capitalista e pouco, muito pouco sincera. Se você gosta, se você conta os dias, se você acha lindo, tudo bem. Cada um é cada um, não é assim que funciona a democracia? Então vai lá encontrar a família, brindar, compartilhar a mesa e comemorar, mas faça-me um favor, não sorria amarelo pra ninguém. Não sorria para agradar, para parecer feliz, para fazer de conta. Esse sorriso falso e coletivo foi uma das coisas que mais me afastou da noite do bom velhinho. Além disso, não gosto da obrigação de ter que ir. Ir e sorrir. Ir e fingir. Ir e se fazer de feliz, de querido, de bonzinho só para agradar e manter o clima de harmonia familiar. Vocês sabem... Fachadas não são mesmo o meu forte, tão menos ter que abraçar e felicitar pessoas que não participam da minha vida, que não me curtem, que não torcem por mim, enfim, pessoas das quais eu não faço a mínima questão. Talvez por isso e também pela desigualdade tatuada, pelos velhos abandonados nos asilos, pelas muitas crianças, adolescentes e jovens sem a menor oportunidade, pelos pais de família desempregados, que se frustram por não conseguir oferecer às suas famílias às mínimas condições de vida e por todos, sem distinção, que nada têm nessa noite de fartura e desperdício em nossas mesas, vejo o Natal, sem a menor culpa, como um dia qualquer.



E se o Natal chega de um lado, meu telefone toca (pela centésima vez em dois dias) de outro... Adivinhem quem é? É mais uma pessoa querendo saber qual é a boa do reveillon. É mais uma pessoa querendo ir para os mesmos lugares... Rio, Salvador, Escarpas, Maresias, Floripa... É mais uma pessoa querendo encontrar as mesmas pessoas de sempre, nos mesmos lugares de sempre, com a mesma hipocrisia de sempre. É mais uma pessoa perdida de si, fadada por essa sociedade estúpida, a caçar um reveillon de cinema... Na praia, na ilha da fantasia, com pulseirinha colorida no pulso, muita champagne importada e gente que não sorri. É mais uma pessoa, apenas mais uma pessoa cavando mais uma oportunidade vazia para se divertir por divertir, beijar por beijar e se incluir, se igualar, se repetir na cena que tantas e tantas vezes eu já assisti.



Para todos os que me ligaram e para os que ainda vão ligar, deixo a resposta: Vou passar em casa, isso mesmo, não se assuste nem me chame de louco. Vou passar em casa, com meia dúzia de pessoas queridas, tomando minha vodka favorita. Vou passar na tranqüila, na paz e sem filas ou gente suada me esbarrando. Vou passar sem brigas, sem trânsito e sem ter que assistir o povo pastilhado transando no banheiro. Vou passar desligado, completamente livre e desalienado de qualquer protocolo. Não estou preocupado com qual lugar estará mais concorrido ou mais cheio ou mais fino... Perdi o engajo para ser descolado e o jogo de cintura e a paciência para me envolver em coisas que não fazem minha cabeça. Perdi e ganhei. A certeza de ser feliz do meu jeito, a certeza de me divertir sem precisar me sujeitar a situações irritantes. Sem precisar interagir com pessoas que não tem absolutamente nada a ver comigo. Sem precisar ver o dia nascer em meio a máscaras se desfigurando e concluir ao final de tudo, depois de juras e juros, que meu ano começou sem graça, sem sentimento e sem valor.



Então, entre um natal comercial e a verdadeira maratona por um reveillon mais vip, fico com meu desejo, que é bem simples... Sejamos mais, ora! Mais poesia, mais emoção, mais humanos, mais coração. Mais trabalhadores, mais fortes, mais competentes, mais honestos... Mais sábios, mais inteligentes, mais doces, mais conscientes... Mais amáveis, mais compreensivos, mais amigos... Mais generosos, mais sinceros, mais sensíveis... Mais verdadeiros, mais companheiros, mais felizes... Mais amor.



Fiquem com a paz e a luz de Deus e se cuidem.

Ano que vem tem mais...

Beijos mil,

Deco.

Canto dos Versos



Eu que não gosto de samba
no meio da roda, pedi um cigarro
C’os pés na cadeira
dei grito de fúria
‘cabou brincadeira
Silencio das vozes, meu ecos
Atolei pé no bumbo
Pandeiro quebrei num berro
Enxuguei uma lágrima

(cansada de palavras, gestos e olhares
sentires, sentires, sentires
suas mãos, seus lábios, seu corpo)

Copo na mão, levantei
Um arroto!

Eu que não gosto de sol
No meio da praia, pedi uma dose
C’os pés na areia, marejando
engoli um suspiro
não via beleza
Flores ao mar, rasguei
Apaguei velas
Num buraco cai
Não, ela não, segurei

(dentro do buraco pensei,
que me enterre, me deixe
que seja enterrada
e assim permaneça, areia)

Eu que não gosto de mim,
No meio do parque, entrei na casa de espelhos
C’os pés apressados,
quis fugir
Meus olhos encarei
Mirei nas verdades
Fitei pensamentos
(tempo, tempo, tempo)
Definitivamente...
Não gostei, sou
murro desfigurei
Gota salgada dilacerando meu rosto

(o sangue jorrando das mãos,
caindo nos pés cansados
pedaços de mim ao chão
quebrados...)

Eu que não gosto de adeus
Naquele boteco, pedi o de sempre,
C’os pés aflitos
escondidos na mesa
olhei pro graçom
de você perguntei
Já tinha partido
Já tinha secado
Já tinha passado
Você tinha ido.

Amanda Oliveira

Coluna do Jens

As amargas, não

No novo tempo a gente se encontra
Brincando na praça, fazendo pirraça
Pra sobreviver
Pra que nossa esperança seja mais que vingança
Seja sempre um caminho que se deixa de herança
( Novo Tempo, Ivan Lins e Vitor Martins)

Fim de ano, mais um. Tempo de frases feitas: “Puxa, como o ano passou rápido”; “Estou comprando tudo no crediário, depois do Ano Novo vou estudar um jeito de ir pagando aos poucos “; “Ah, esse ano me adiantei, comprei todos os presentes no início do mês, só faltam umas lembrancinhas pros parentes do Jorge que resolveram aparecer na última hora”; “Rapaz, esse vai ser o verão mais quente de todos os tempos. Que calor infernal!”; “Lá em casa não vai ter nada. Tudo muito simples: a ceia a meia-noite, um chester e uma cervejinha pro pessoal”. (A propósito, alguém já viu uma criação de chester - que mais parece um pombo gigante ou uma galinha deformada? Já vi criação de galinha, peru, de chester, nunca).

Bem, mas não tergiversemos. O assunto aqui é o balanço de final de ano, conforme a intimação doce e cruel de RF, o editor. Na verdade, não vou fazer um balanço do que de bom e ruim aconteceu em 2006, de acordo com a minha ótica. Um balancete, talvez, listando apenas as coisas que considero positivas. As amargas, não. Portanto, vamos lá.

O grande acontecimento do ano: a reeleição do presidente Lula. Bombardeado sem trégua pela oposição, política e midiática, durante 18 meses, com especial vigor nos seis meses que antecederam o pleito, o presidente conseguiu amealhar 60% dos votos no segundo turno. Na minha opinião este acontecimento tornou evidente que a opinião pública, esse ser impalpável, volátil, não mais se deixa conduzir pacificamente pelos meios grandes meios de comunicação, que sempre se arvoraram “formadores de opinião”. Apesar dos ataques, das denúncias, das pré-julgamentos, das calúnias e das aleivosias, o povo rejeitou o veredicto das elites e colocou Lula lá, de novo. Votou de acordo com seus interesses e não os interesses que outros diziam que deveriam ser os seus. Nesse processo, a grande imprensa foi a grande derrotada.
Tem um personagem novo na política: a soberania popular.

Outro fato relevante, foi a conquista pelo glorioso Sport Clube Internacional de Porto Alegre do Campeonato Mundial Interclubes promovido pela Fifa. A partir de Porto Alegre, a nação vermelha dominou o planeta. Comenta-se que Fidel Castro, acamado, ao saber que a terra finalmente tingira-se de rojo disse: “agora posso morrer em paz”.
Longa vida ao povo rubro do sul, entre o qual me incluo.

Para terminar: a mobilização popular que frustrou a intenção dos parlamentares de presentearem-se com um aumento de 91% no apagar das luzes do ano legislativo. Em outras ocasiões, medidas dessa natureza geraram apenas muxoxos de contrariedade na mídia. Dessa vez foi diferente, os protestos começaram na rede de computadores e ganharam também às ruas, determinando que o Supremo Tribunal Federal julgasse à questão à luz dos anseios populares e os congressistas enfiassem o rabo entre as pernas à espera de tempos mais propícios para assaltar os cofres públicos.

Tudo indica que a consciência cidadão veio para ficar.

O Brasil está mudando. Para melhor.

Para todos, feliz Ano Novo.

Salut!

José “Edi” Nunes, o Jens

A Sacerdotisa




2006, amor vagabundo

Um misto de saudade e alívio invadem meu coração ao pensar no final deste ano, mais um ano que se foi.

Um ano complicado para a política brasileira, onde nossos ideais mais puros foram jogados na lama da corrupção, na lama da roubalheira desmedida, da corrupção ativa e as claras.

Nunca me senti tão triste ao ter meus sonhos políticos esvaindo-se pelos ralos escuros da falta de caráter, de compromisso e de valores do mundo da política. Foi um ano pobre, bre no quesito musical, poucas novidades, mas algumas bem interessantes aja visto o Grupo Papas da Língua com seu swingue pop, descobri o Jazz do Jamie Cullum, me apaixonei por algumas canções ao acaso e me joguei nas pistas de dança ao som do funk.
E se o funk representa o Brasil, há de ter seu valor reconhecido, suas raízes preservadas, cantemos o funk, o soul, o calypso e o samba com a gana dos brasileiros afoitos, ávidos por festa, por confetes e folia.

Novamente já rufam os tambores do carnaval, e a fantasia já ganha ares e brilho de entidade viva, e o pierrô já se apressa na avenida e os sonhos da porta-bandeira se agitam dentro do peito gritando: É campeã.

Somos, nós, brasileiros, confusos, cafuzos, difusos, pretos, brancos, negros, amarelos, verde e azuis o retrato de um povo que não tem “medo de fumaça” e “não se entrega não”.

Isso é Brasil, isso é a alma do povo brasileiro.

E em 2007 tem o PAN , que é no Rio, berço da beleza natural, da cor da praia, do cheiro de mar, da ginga das ondas, do verde que é meu e reveste a alma do carioca.

E viva o Brasil, viva 2007 e que tenhamos sempre um ótimo ano.


A Sacerdotisa

Campanha: ESSE MAR É MEU


O Rio de Janeiro corre o risco de perder uma das suas mais bonitas paisagens. Desrespeitando a lei, em plena Baía de Guanabara, próximo à Marina da Glória, no Aterro, está sendo construído um prédio equivalente a cinco andares (15 metros) do tamanho aproximadamente de dois campos de futebol (19 mil metros quadrados). Os jardins do Aterro e sua paisagem são patrimônios nossos. O Parque do Flamengo é tombado – não pode ser alterado.


Os invasores do nosso mar alegam que este edifício é essencial para as provas náuticas do PAN 2007. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que precisou até chamar a Polícia Federal para suspender a obra, já sugeriu acertadamente que, ao invés deste "prédio de cinco andares", seja construída apenas uma estrutura temporária para atender os barcos da competição e que seja desmontada após o PAN.


Nós, apaixonados pela Cidade Maravilhosa, também reivindicamos que não seja realizada nenhuma obra que modifique o Aterro.


No domingo, dia 17 de dezembro, nos jardins do Museu de Arte Moderna, a partir das 10h, demonstre o seu carinho pelo Rio participando da manifestação

ESSE MAR É MEU.

Afinal,

MARINA, VOCÊ JÁ É BONITA COM O QUE DEUS LHE DEU!


Teremos uma roda de samba às 15h.


Esta iniciativa já conta com o apoio do Ziraldo (que gentilmente desenhou a logomarca da manifestação), do compositor Moacyr Luz, do DJ Janot, do Maurício Azedo – presidente da Associação Brasileira de Imprensa, do vereador Eliomar Coelho, da atriz Bete Mendes, do Fórum Social do PAN e do Sindicato dos Engenheiros.


Para mais informações acesse www.essemaremeu.blogspot.com

http://www.estemaremeu.blogspot.com/

ou escreva para essemaremeu@yahoo.com.br


ATENÇÃO: REPASSE ESTA MENSAGEM SEMPRE TAMBÉM A REPETINDO COMO ANEXO, PARA FACILITAR QUE OUTRAS PESSOAS TAMBÉM A
REPASSEM.

Grato, Mr. Plattek, grato pelo envio ;-)

O Povo e o Livro



Retrospectiva – 2006

Por Halem de Souza

Roy Frenkiel, editor e mentor deste Reação Cultural, quando nos solicita alguma colaboração, não cabe titubear: escreve-se. E ele solicitou aos que por cá publicam uma espécie de retrospectiva. Pois bem, vamos a ela.

Em primeiro lugar, devo dizer que iniciei minha trajetória na blogosfera justamente neste ano de 2006. Ainda sou meio “verde” no negócio. Por isso, dividirei esta coluna em três seções: na primeira apresento os eventos que considerei significativos, relacionados a Literatura Brasileira durante o ano; a segunda, contém os dois livros que recomendo; por fim, a publicação que mereceu ser destacada no ano de 2006.

50 e 100 anos

Neste ano comemorou-se o cinqüentenário de publicação de Grande Sertão: Veredas. Pelo Brasil afora, quase não se falou de outra coisa no meio literário e nas Faculdades de Letras; afinal de contas, este é um dos mais importantes romances da Literatura universal. Houve seminários e mesas-redondas em quase todos os grandes centros urbanos e também em cidades menores. Cordisburgo, município mineiro onde nasceu Guimarães Rosa viveu dias intensos (que certamente se repetirão em 2008, no centenário de nascimento do autor). O ponto polêmico das comemorações talvez seja a seção dedicada ao livro, no Museu da Língua Portuguesa, a cargo da não menos polêmica Bia Lessa.

Outro cinqüentenário, menos badalado mas também importante, foi o da obra O Encontro Marcado, livro que influenciou não tanto o “estilo” de outros autores, mas a decisão de tornar-se escritor, adotada pela geração que leu o livro em anos posteriores. Confessional, autobiográfico O Encontro Marcado é o ponto mais alto na irregular carreira que teve Fernando Sabino.

Livro de viés também autobiográfico é O Amanuense Belmiro, cujo autor, Cyro dos Anjos completaria cem anos em 2006. Livro que não caiu nas graças do leitor médio (apesar de sua simplicidade), mas deu a Cyro dos Anjos o reconhecimento de grande escritor.

Duas obras de autores mineiros completam cinqüenta anos; um grande escritor mineiro é lembrado no centenário. É, Minas Gerais foi bem falada neste ano...

Dois livros fundamentais

Para quem gosta de refletir sobre Literatura e suas relações com a sociedade, a cultura, a escola e a política, não pode deixar de ler Texturas: sobre leituras e escritos, de Ana Maria Machado (Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001). Embora tenha sido publicado há 5 anos, só tive oportunidade de lê-lo em 2006. O maior mérito de Ana Maria Machado é conservar nos seu textos ensaísticos a mesma leveza da sua ficção. Livro fundamental.

Outro livro especial, descoberto este ano, foi Reflexões sobre os caminhos do livro, resultado de um esforça da UNESCO, e publicado no Brasil pela Editora Moderna, em 2003, organizado por Eduardo Portella. O livro conta com artigos de pessoas dos mais diversos países (o que garante uma visão culturalmente distinta ); entretanto, todos têm a mesma preocupação: entender qual será o papel e o lugar do livro, essa objeto fundador da civilização, nessa era globalizada e informatizada.
O livro do ano

Como pesquiso e trabalho faz tempo com Literatura-Infantil, para mim, a publicação do ano foi O livro dos sentidos (São Paulo, Editora Ática) do paulista Ricardo Azevedo. Sabendo como poucos se colocar na ótica da criança, Azevedo e dos poucos autores do gênero que não imbeciliza o leitor. Esse O livro dos sentidos é o resultado da reunião de livros anteriormente publicados na coleção Menino de orelha em pé. O autor, que também é ilustrador, ainda teve o cuidado de fazer referência a obra de artistas plásticos da estatura de Magritte, Picasso e Hockney, para falar da audição, da visão, do paladar, do olfato, do tato e da intuição, sem o menor traço de “pedagogismo” idiota. Simplesmente perfeito.

CLAQUE-TE


Retrospectiva do ano:
Por Roberto de Queiroz


Como resumir 2006 no quesito cinema? Foi um ano regular. A grande decepção, para o pobre colunista que aqui vos fala, com certeza foi O Código da Vinci. Muitos filmes baseados em quadrinhos enlouqueceram as platéias (o maior dentre eles, na minha modesta opinião, foi V de Vingança). Algumas boas surpresas (Pequena Miss Sunshine), algumas grandes voltas (Scorcese voltando ao gênero que o consagrou no exuberante Os Infiltrados), e, infelizmente, muitas perdas que serão sentidas nos próximos anos (destaque aqui para o falecimento do diretor Robert Altman, criador de M.A.S.H). O principal furo, lógico, veio no Oscar. A premiação de um filme marcado, cheio de Clichês (Crash) no lugar de uma grande produção que tinha tudo para abrir as portas da academia norte-americana para o século XXI (Brokeback Mountain). Entretanto, eles preferiram continuar no século XIX. Para mim, já é um grande resumo. E o de vocês?


Roberto de Queiróz

Carioca, 29 anos, morador da cidade maravilhosa,amante das mais inusitadas expressões artísticas (em particular da sétima arte), do qual me considero um confidente mordaz.

Luciano Piccazio


Eternamente Moleque (ou texto para um reveillon)

Por Luciano Piccazio, blogue ArteFree

Às vezes parece que todos os meus anos são iguais. A vida, por muito tempo pensei assim, é cíclica. Quando leio meus poemas de quando tinha quatorze anos enxergo os mesmos problemas de hoje. Parece que serão os mesmos problemas sempre.

Nós temos o grave defeito: difícil mudar. Mais difícil pelo fato de sabermos disso. Parece que as grandes mudanças de nossa vida se revelam, ao final, superficiais. E os defeitos voltam à ribalta,

hora ou outra.

Fantástico é perceber quando realmente conseguimos fazer alguma revolução na vida, algo que possa ser escrito e dito. Contado para os netos, como se diz por aí.

Sempre tive na minha vida isso: quando morrer, vão me colocar numa salinha pequena com uma televisão quatorze polegadas e um videocassete velho. Nela, um homem vai por uma fita com a gravação de toda a minha vida. Desde o começo. Minha idéia é: quero fazer deste filme o mais divertido para assistir. Que minha história não se resuma a quartos e pensamentos fúteis. Sair por aí e ver o que tem de bom pra experimentar.

Quanto mais a gente se joga nas coisas que sabemos que nos deixam felizes, quanto mais saímos do útero materno para tentar viver, mais nos vemos como reflexo de tudo aquilo que repudiamos. Algum tempo que passei fora de casa me fizeram pensar que sou o cara mais reacionário do mundo. Essa coisa de querer namorar, casar, ter filhos.

Cada um tem seus sonhos e idealizações, que normalmente vêm à tona quando é ano novo. Tempo de fazer o balanço geral do que aconteceu e pensar no ano que seguirá. Os mesmos planos, com a mesma data: começar segunda-feira.

Mudar é um dos maiores prazeres que há. Descobrir que conseguiu vencer defeitos que aporrinharam a mente durante anos. Descobrir que dá pra fazer muito mais coisas do que tempos atrás.

Mas algumas coisas ficam pra sempre. Lutei contra minha timidez e posso dizer que venci. Venci para ficar com algumas meninas bonitas da faculdade, uma ou duas amigas de infância.

Mas quando vi uma menina que realmente valia a pena, parece que todo meu mundo voltou aos meus quatorze anos. Minha mão suando, não sabia falar nada. Nada. Tirei no violão algumas músicas para falar por mim, mas foi só isso.

Tempos atrás, quando quis deixar de ser aquele menino tímido que só escrevia poesias, deixei de lado tudo que movia o sentimento que tinha, e a intenção que colocava nos relacionamentos. É fácil pensar: se você não se importar tanto, não tem porque ficar nervoso ao chegar numa garota.

A diferença é que aquela menina bonita faz minhas pernas tremerem. Bem ao estilo Mário Quintana. De repente, não vi mais nada.

Acho que neste ano que segue vou desistir de tentar mascarar o que achava que era um defeito, mas na verdade era uma característica. Nesse ano novo, vou apenas não pensar em nada, e ver no que dá. Até porque já não tenho muita escolha.

Segue um trechinho de uma das músicas que eu tirei, do Leoni. Por mais batida que seja, reflete bem o que é o pensamento masculino. Mulheres, atenção! Se quiserem saber do que é feito um homem, prestem atenção à letra. Beijos e abraços a todos.

" Garotos como eu
Sempre tão espertos
Perto de uma mulher
São só garotos"

www.artefree.blogspot.com

Papai Cardoso


AVISO À NAVEGAÇÃO
Por Nuno Cardoso

Se há coisa que eu aprecio é uma amizade sincera, duradoura, verdadeira.
Gosto de contar entre os meus amigos com alguns que me acompanham desde há muito tempo.
Aprecio imenso de receber amigos em casa, da mesma forma que, tenho a certeza, muitos deles gostam de nos receber.

E é precisamente para poder manter essa amizade nos níveis que a fomos conseguindo ter nos últimos anos que me vejo na obrigação de dizer o seguinte:

1- Se vocês são daqueles (e provavelmente são) que já contactaram com a pequena mais de duas vezes, uma das primeiras frases (senão mesmo a primeira) que irão ouvir mal entrem cá em casa será: “Qués vi bincá comigo?”.
Logo seguido de “anda bincá pó meu quáto”

2- Não adianta fingir que não ouvem, não percebem ou não sei o quê.
As interpelações vão manter-se em modo “repeat” até que ela seja atendida.
Não pensem que ela desiste. Estou convencido que se ela estivesse a competir com o coelhinho da Duracell para ver quem ganhava ele acabava a pedir misericórdia…

3- No caso de vocês possuírem alguma estranha capacidade esotérica que julguem vos safe da coisa… desenganem-se.
Nessa altura ela recorre à arma derradeira: o choro!

Desata num pranto desalmado e a dizer por entre soluços, baba e ranho:
“ O (A)……., não qué bincá comiiiiiiigoooooo! Buuuuuáááááá!”
Aqui todos se rendem. Só ainda não percebi bem o motivo, mas estou inclinado para um destes dois:
- ou têm medo de causar algum dano psicológico irreversível na miúda, que a marque para toda a vida e pelo qual eu lhes posso pôr um processo em tribunal que os esmifre até aos últimos trocos,
- ou querem manter intactas as possibilidades de ouvirem as vozes de futuros filhos ou netos, pelo que (numa atitude sensata devo admitir) tratam de proteger o aparelho auditivo de uma agressão demorada.

4- À saída esqueçam o habitual “Gostei muito, foi muito agradável, etc., etc.”
Tratem mas é de encarnar uma personagem rapidíssima (sugiro o Bip-Bip ou o Speedy Gonzalez) e ponham-se a andar bem depressa ou… voltamos ao ponto 2, com inevitável passagem pelo ponto 3.

5- Posto isto penso que estamos em condições de manter a nossa amizade.

Grato pela atenção.

Nuno Cardoso, 31 anos de idade.

Pai de dois filhos, uma menina com 2 anos e 4 meses e um menino com 4 meses.
Alguém que se esforça por ter um projecto de vida muito bem definido para os filhos: incutir-lhes princípios para que possam ser Felizes!... O que, evidentemente, não quer dizer que eles não me dêem cabo da cabeça! Que dão… oh lá se dão!

Wednesday, December 13, 2006

Index Setima Quinzena (11 a 26 Dez)

Ajudem a formar uma Mega-Rede Reacionária!
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3 – Luciano Piccazio, escritor do ArteFree, colabora aqui e critica as músicas natalinas. Clique aqui e acompanhe

4 - Para o Prof Toni, o Natal não é dos mais agradáveis... Veja porquê, clicando aqui

5 – Silvio Vasconcelos nos ilumina com mais uma de suas crônicas, Noite de Luz. Clique aqui para se deliciar e pensar

6 – Nossa nova amiga, diretamente de Portugal, Professorinha Silvia, apresenta sua nova coluna! Você não pode perder, clique aquí para saber mais

7 – Roberto de Queiróz nos ilumina com um retrospecto do relacionamento entre a fé e o cinema, em sua coluna CLAQUE-TE. Leia mais, clicando aquí

8 – Nana de Freitas e mais uma deliciosa coluna para o Reação. Preciso dizer mais? O que está esperando, clique aquí!

9 – As memórias de Jens arrepiam sua coluna, e arrepiarão você também, se clicar aquí

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E é isso aí, até a próx!

Monday, December 11, 2006

Papai Cardoso


MEMÓRIAS (BEM) VIVAS
Por Nuno Cardoso

O facto de ter tido um segundo filho tem vindo a proporcionar uma experiência bem curiosa, mas ao mesmo tempo com o seu “quê” de doloroso.
Este pensamento vem-me à ideia quando vejo o meu filho mais novo a viver as suas primeiras aventuras no campo da “comida-que-não-se-pode-considerar-sólida-nem-líquida-mas-que-é-algo-mais-que-somente-leite-materno”.

E é engraçado, como de repente, dou por mim a pensar:
“Mas será que com a pequena também passámos por isto?”
A resposta, obviamente, só pode ser sim.

Pelo que descubro, com um misto de espanto e de algum horror, que o processo de aprendizagem porque os bebés passam para começarem a comer “comida-de-colher”, foi algo que eu enterrei no mais profundo e obscuro recanto do meu cérebro que comanda o “orgulho de pai”.

É que não há orgulho que aguente: ver o miúdo a comer (?) faz-me pensar como é que foi possível a nossa espécie ter sido capaz de sobreviver a milhares de anos de evolução?
No Reino Animal todos os filhotes se deleitam com qualquer migalhita que os pais lhe dêem. Mas nós não… rejeitamos uma, duas, três vezes ou mais o que nos é levado em mão pela colher.
Cada colher tem que ser insistentemente oferecida para ser aceite.

E ele, alegremente, com um sorriso trocista, põe-a fora enquanto nos olha de forma desafiadora…

Colher com papa lá dentro, um sorrizito e aí está: papa alegremente a escorrer pelo queixo abaixo!
Depois há coisas muito mais interessantes a concorrer com a comida para entrar na boca: no top estão as mãos.

Desde que o cachopo nasceu, uma das frases que ele mais ouve é: “Ai tão giro, tão lindo!”.
Ele deve ter decidido tirar a prova, para ver se era mesmo assim tão bom como todos lhe diziam, e toca de enfiar as mãos na boca como se não houvesse amanhã.
Eu julgo que ele deve ser mesmo bom, porque é tremendamente difícil convencê-lo a trocar a mão pela papa.

A haver banda sonora que acompanhe esta fase da vida dele só pode ser aquela música dos Xutos & Pontapés “Eu cá sou bom, sou muito bom, eu cá sou bom, sou muito bom, tou sempre a abrir…”

Convencê-lo a trocar as mãos pela papa é de tal forma difícil que estou convicto que ele vive atormentado com a resolução da seguinte equação: é a minha boca que é imensamente pequena, ou são as minhas mãos imensamente grandes?

O processo de alimentação em si é também um desafio à ciência: o rapaz deve estar convencido que é possível absorver papa pela pele.
É que só dessa maneira consigo explicar a irresistível tentação que o pequeno tem para pôr papa no nariz, nas bochechas, nas orelhas, sei lá mais onde…

E depois o final: aquela cara parece um campo de batalha onde formigas trabalhadoras já fizeram as suas trincheiras. Ou então alguém mais distraído quase podia afirmar que aquele bebé tinha acabado de disputar uma partida de paint-ball. Outra hipótese é a possibilidade de alguma experiência de um novo produto de cosmética que correu mal…

Bolas, não é fácil manter um orgulho paternal intocado quando nos deparamos com este espectáculo diário!



Nuno Cardoso,

31 anos de idade,

Pai de dois filhos, uma menina com 2 anos e 4 meses e um menino com 4 meses.
Alguém que se esforça por ter um projecto de vida muito bem definido para os filhos: incutir-lhes princípios para que possam ser Felizes!... O que, evidentemente, não quer dizer que eles não me dêem cabo da cabeça! Que dão… oh lá se dão!

Editorial Setima Quinzena (11 a 26 de Dezembro)


FELIZ NATAL! HANUKA SAMEACH! Um bom Kwanza procês tamém, e mais o que vier pelo fronte (ou pela frente?). Por falar nisso, cadê meu presente? Ah, está na Zine do Pirata, uma foto dos futuros hóspedes de Pinochet dando as boas vindas. Bom presente esse, não é mesmo?

O Reação não falará de Pinochet, só o editor que não edita, mas reage. Aliás, nem falará de Hugo Chavez, que já começou a puxar Jesus da cova, novamente. Ah, mas até eu, que sou da mesma tribo que Jesus, mas não torço pro mesmo time, fico meio lesado perante determinadas coisinhas e coisonas. Acredito que, sem a presença do filósofo Vinícius por problemas técnicos, não falaremos nem de Lula... E olha que eu já pedi a uma série de escritores da ‘oposição’ a colaborar, mas são poucos os que se empenham (brincadeira, gente, eu lá entendo umas certas mancadas que eu cometi, também). Pois então, eis o Reação Cultural cursando seu terceiro mês, mais de sete mil visitantes e uma média que caiu pela ausência de linques campeões, mas cresceu por nossa própria publicidade e união entre escritores, profissionais, blogando ou não em outros sítios pela imensa blogoesfera internacional. Além do terceiro mês, chegamos também àquela época depressiva (ou alegre?), miraculosa (ou decadente?) e mágica (ou macumba?), a época dos feriados acumulados, a época do décimo terceiro salário (às vezes tão fictício quanto as renas de Papai Noel), época de perdão e solidariedade, de paz e amor e esperança e... Peraí, mas fora o Pinochet, cadê meu presente, agora falando sério.

Não pensem que meus escritores se referem pejorativamente a Jesus Cristo, na minha raça chamado apenas pelo primeiro nome, mas que para a religião mais influente da civilização selvagem ocidental, considera-se uma deidade. Nem mesmo eu me atrevo a falar mal de uma pessoa exemplar, um lider, certamente construído pela mente humana, ao qual milagres foram atribuídos, mas provavelmente não sem motivo, já que Jesus entrou para a história como um verdadeiro mensageiro de uma paz utópica. Não falo mal de pessoas da paz, ou idéias pacíficas. Nem os escritores reacionários do Reação Cultural se atreveriam.

Não falarei mal, tampouco, dos mitos de Hanuká, em parte históricos, em parte tão fictícios quanto algumas anedotas natalinas. Nem sei absolutamente nada sobre Kwanza, ou as tradições que envolvem o feriado Africano (Africano?), assim que, sobre o Kwanza tampouco se falará. Falaremos sobre o quê, então?

Falaremos sobre meu presente, escolham o feriado, mas comprem, me dêem regalos, livros, cd’s, camisetas, camisinhas, aceito qualquer negócio. E o presente de vocês, dos seus amigos, da sua família, dos seus chefes, dos seus colegas, dos seus funcionários, dos seus, dos seus, dos seus... Aliás, é bom vocês saberem que tem gente atrás dos montes colaborando com o Reação (aleluia!) finalmente, e que provavelmente usarão a palavra ‘prenda’ para falar de presentes. Além de falar das prendas, temos também o cinema, a música, o amor e a poesia em espírito natalino, prontos para o fim do ano, que se aproxima e alguma coisa deve significar. Não falo mais, porque o Index e as colunas dizem tudo. Benvindos a mais um mês do Reação, que tenham todos e todas excelentes festas, e que realmente algo da paz, do amor, da solidariedade, da caridade, da justiça e do perdão se concretize pronto e breve na vida de cada um e uma. Olhos à massa,

Aos abrax,

Roy Frenkiel O editor que não edita

Comentários da Quinzena

(Valeu Velho Moita! – Index)

Insensatez

Se amor é insensatez
ou doença contumaz
é dívida sem liquidez
que o devedor só refaz.
A vacina é ineficaz não se cria robustez.
O coração é incapaz
de resistir outra vez.
Se o amor, não sei quem fez;
desamar, não sei quem faz.

Moita (que mandou também a do Renato Caldas, a seguir)

Fulô do Mato

Sá dona, vossa mercê
é a fulô mais chêrosa,
a fulô mais perfumosa
que meu sertão já botô.

E pode juntar um cardume
de tudo que for prefume,
de tudo que for fulô
que nenhuma, nenhuma só
tem o cheirinho do suó
que seu corpinho suô

É o cheiro da madrugada,
fartum de areia moiáda
que o orváio enchombriô.
É um cheiro bom, deferente
que a gente sentindo, sente:
das outras coisa, o fedô

RENATO CALDAS
________________________________

(Lilian Lôbo, no Canto de Nana)
Adorei todos os seus contos! Menina,você ainda vai looonge! BRILHOU!
________________________________



(R., Dr e Luísa, em ordem de aparição, no Toque do Toque, Gerdulli entrevistando Os Beselhos)

“Ouçam!!! Muito bom, vale a pena. Mesmo. Obrigado Beselhos!”

”Valeu pelo espaço, muito bacana.”

“Estes guris são umas figuras! : D”
______________________________

(Nana de Freitas, na Coluna do Jens)

Ótima estória, Jens. Aqui em Belo Horizonte, penso no lobisomen normalmente uma vez por mês, quando volto do trabalho, dirigindo na madrugada. Subindo a Avenida Nossa Senhora do Carmo, que vai dar na 040, que, por sua vez, leva ao Rio de Janeiro, a visão da lua cheia é tão atordoante que, às vezes, torço pela existência de tal criatura. Assim sendo, pelo menos, compensaria em parte os milhares de humanos que vivem a noite alheios àquele espetáculo. Alguém, afinal, deveria prestar à lua cheia um tributo de grandeza equivalente, não acha? Ainda que fosse em se transformando em algo que não fosse humano... Por outro lado, quantos de nós não se transformam, vez ou outra, independentemente da lua que vai no céu, não é verdade? rsUm abraço.

ArteFree Colabora Aqui!


Músicas natalinas



Chegou o natal, época dos comerciantes faturarem e de muitos tirarem férias. Época dos discursos inflamados sobre espíritos natalinos, do décimo terceiro, décimo quarto, décimo quinto...

Para a música, é sempre um bom período. As festas pipocam para todos os lados, o tal espírito natalino floresce nos bolsos dos homens de negócios que, para impressionar, liberam a verba.

Floresce também, nas mãos compositoras dos músicos, músicas natalinas. E é exatamente aí que mora o perigo.

Quem agüenta ouvir Jingle Bells? Ou então "Happy Xmas", do John Lennon? São músicas que ficam armazenadas num potinho enferrujado no porão de uma casa velha, e que são tiradas todo o natal, invariavelmente.

Não sei quanto a vocês, mas essas músicas me deixam num mal humor danado, bem longe do tão almejado "espírito natalino". A pior coisa do natal é ouvir aquela versão da música do John Lennon em português. É para se jogar da ponte.

Aí os artistas se reúnem. Vestem-se todos de branco, seja natal, seja ano novo. Falam de paz, amor e esperança como se fossem palavras mágicas, que por si só resolverão o problema do mundo. É particularmente risível: "Desejo a todos paz, amor e esperança e um beijo bem quentinho no coração". Ok, então. Mas... o que você está fazendo para isso?

Não, cantar na Globo não é um bom jeito de atingir a paz mundial.

Realmente o natal traz coisas boas. O tal espírito natalino, por exemplo. Não é ótimo ver as pessoas se ajudando sem esperar receber nada em troca, mas simplesmente sendo movidas por um sentimento maior? Mesmo que só por alguns dias, é ótimo. Agora entram aquelas musiquinhas horríveis e o que acontece??? A pasteurização do natal!!!!! É paz e esperança pra cá, paz e esperança pra lá! E ninguém até agora parou para pensar seriamente nestas palavras. To começando a ficar enjoado delas.

Então uma dica, neste natal dê cds de música instrumental, qualquer que seja. Pra turma parar de se pasteurizar com o cd do Michael Jackson cantando um mundo mais bonito (uóóóó). Uma boa dica é Bolling Suíte For Flute, ou qualquer um do Jeff Beck. Só farei um pedido: peloamordeDeus, quebrem os cds de musiquinhas de natal!!!!

Luciano Piccazio Ornelas
blog Arte Free: http://artefree.blogspot.com/

Prof Toni


O natal é um saco!


Povo, esse papo de natal enche o saco!
Festa brega, repleta de hipocrisia e "xaropadas".
A começar pelo famoso amigo secreto na empresa. Melhor seria se chamado de "inimigo declarado".

Depois vem uma melancolia danada, pois não é que o tal de natal é sempre pertinho da virada do ano, ou seja, mais uma convenção para que nos lembremos de que estamos envelhecendo rapidamente e que nossos sonhos ficaram para trás.
Sinceramente: deprimente!

Ainda mais por não ter coragem de romper com isso. É um tal de peregrinar por casa de mãe, sogra, irmã, etc. e tal.
Tentei contar para o meu filho que esse safado do Papai Noel é uma invenção burguesa, que serve ao desejo contínuo de lucro do capitalismo, mas fui censurado pela minha mulher. Ela afirmou que uma criança próxima dos 7 anos não tem como entender isso. Discordo, mas em nome da paz "natalina" calei-me.

E aquela história ridícula de renas naquele trenó asqueroso? Parece a torcida do São Paulo indo pro Morumbi guiada pelos seus mascotes! Melhor seriam jumentos, mais próximos de nossa realidade financeira, histórica e cultural.
Em janeiro vou levá-lo para um passeio na Praça da Sé, para conhecer um pouco da vida dos moradores de rua e depois a um assentamento do MST.

Aliás, minha mulher me proibiu de usar expressões como "concentração fundiária", "renda diferencial da terra", "camponês", "latifundiário", “distribuição de renda”... Com a mesma lengalenga de que uma criança com 7 anos não consegue compreender tais conceitos.
Mais uma vez cedi.
Dessa maneira não conseguirei educar meu filho como um verdadeiro revolucionário.

Uma providência que nunca esqueço neste período do ano é tirar a barba. Em razão do meu perfil roliço a presença da barba apresenta alguns inconvenientes, como ter que ser fotografado com crianças no colo por onde passo. Ainda perguntam pela roupa vermelha.

O natal é um saco mesmo!

Licenciado em Geografia pela Universidade de São Paulo. Docente desde 1993, é professor do CPV Vestibulares desde 2004. É autor do Material Didático de Atualidades para as turmas de Pré-Vestibular do CPV. Foi consultor do Portal Klickeducação.Atuou junto ao Núcleo de Educação de Adultos da Faculdade de Educação da USP, elaborando material didático para os professores, lecionando para o Grupo de Alfabetização Solidária e prestando assessoria para Prefeituras e ONGs.

Silvio Vasconcelos


Noite de luz

Daqui de tua lixeira, onde remexo teu lixo incógnito, vejo tua janela aberta, vejo tua família ao redor de uma mesa farta, vejo luzes, enfeites vermelhos e dourados, vejo uma árvore mágica que pisca sobre enormes caixas com laços enormes e brilhantes.

Daqui de tua lixeira, recolho o que te resta, procuro algo que termine o tormento da fome que agride meu corpo e daqueles que lá em casa me esperam de braços abertos e olhos profundos.

Daqui de tua lixeira, onde sou transparente e tu não me vês, vou partir nessa noite de paz, nessa noite feliz para alguns e quem sabe levar um bocado de tua alegria e compartilhar em minha mesa com o meio panetone que aqui encontrei.

E lá na barranca do rio, vou chamar o menino que por lá passa, sem pai e sem amor, perdido entre a cola que lhe disfarça a fome e o desejo contido de ser acolhido para levá-lo a minha casa, sentá-lo junto de nós e celebrarmos nosso Natal em família.
Não terei tantos enfeites nem luzes que lampejam cores brilhantes, mas dividirei meu jantar humilde, quem sabe um pedaço de carne com meu irmão perdido, junto com minha família amada e trarei para junto de nós o verdadeiro espírito dessa noite de luz.

Sílvio Vasconcellos, 44 anos, vive em Novo Hamburgo RS, Brasil e é administrador de empresas. Desde 2005 mantém dois blogs na Internet: Uni-verso In-verso e Contos & Encontros onde exprime sensações poéticas e textos que exploram os limites do ser humano, experimentando sentimentos em primeira pessoa ou descrevendo como um espião o desenrolar de seus personagens.

Professorinha Silvia

Qual é o problema?

Li recentemente (no jornal o Público de dia 7 de Dezembro de 2006) um artigo sobre um estudo feito onde se acusa o sistema de ensino português de discriminar os seus alunos por turmas, anos e vias de ensino. Acusam de juntar os bons com os bons e os fracos com os fracos

Correndo o risco de não ser politicamente correcta eu pergunto: qual é o problema?
Todos sabemos que acontece e por que acontece. Todos sabemos que os alunos fracos atrasam uma turma pois não podemos avançar e deixar dois ou três alunos com mais dificuldades para trás. Seria injusto para eles. Mas não é também injusto para os alunos com mais facilidades que estão aptos para avançar mais rapidamente? Ou só há injustiça e prejuízos quando prejudicamos os mais fracos? Os alunos bons também merecem ser motivados com novas informações e matéria interessante e motivadora que lhes seja dada a um ritmo que coincida com o ritmo deles. Quantas vezes observamos na nossa sala de aula alunos que acabam os exercícios mais cedo que os outros e ficam o resto do tempo aborrecidos à espera que os colegas acabem ou se põem a falar com o colega do lado? Ou então vemos o colega do lado, mais fraco, resolver copiar tudo desse miúdo mais rápido acabando por não aprender nada nem usar a sua própria cabeça para resolver os exercícios? Os alunos bons acabam por desmotivar e achar que conseguem tudo sem estudar. Ou seja, acabam por deixar de estudar pois é tudo demasiado fácil e lento para eles.

Por que devemos atrasar uma geração de bons alunos e futuros grandes homens em nome do politicamente correcto?

Os alunos mais fracos devem ter uma turma que possa receber pedagogia diferenciada, programas adaptados, uma turma com menos alunos, com disciplinas de carácter mais prático ou virado para a vida activa, ou talvez, quem sabe, com programas totalmente diferentes, elaborados pelos próprios professores tendo em conta o meio sócio-cultural e características dos alunos. Por que não este tipo de "discriminação"? Não é necessariamente uma discriminação negativa. Não merecerão os alunos menos bons um ensino que lhes permita evoluir? Não merecerão igualmente os alunos bons um ensino que lhes permita evoluir? Por que devemos atrasar uma geração em nome do politicamente correcto?

Por que não seguir um sistema semelhante ao dos Estados Unidos da América? Por norma não sou muito fã do sistema americano, mas eles têm algo que talvez se possa adaptar ao nosso próprio sistema. Também eles têm um ensino que divide os alunos por classes. Em algumas classes os alunos têm Inglês avançado (Advance English) noutras têm Inglês Básico (Remedial English). É que além de haver alunos bons e maus, há também alunos que são bons em algumas disciplinas e menos a outras. Um aluno fraco a Inglês pode ser bom a Matemática. Por que não ter o Inglês Básico e a Matemática Avançada?

Afinal, chego à conclusão que o sistema de ensino Português deveria ser ainda mais "discriminatório" do que "é". Nem todos têm aptidão para ser bons a todas as disciplinas. A crítica ao nosso sistema de ensino tal como está não deve ser aplicada ao facto de separar os alunos bons dos maus, separar os que ficam retidos os que progridem sempre, devemos criticar o nosso sistema de ensino por achar que todos os alunos devem ser bons a tudo por igual nivelando sempre pelo mais baixo.

E por não sermos todos iguais chegou a altura de acabar com o politicamente correcto, temos que chamar as coisas pelos nomes e dizer verdades que ficaram por dizer durante anos por receio de ferir susceptibilidades.

Os melhores alunos devem ter uma turma ao ritmo deles e que satisfaça as suas expectativas assim como os alunos menos bons devem ter uma turma que siga o ritmo deles e que vá de encontro às suas expectativas. Quantas vezes nos perguntam nas aulas: "Para que quero eu o Inglês ou o Português???" O Inglês e o Português deve ter um programa que vá de encontro ao que os alunos desejam seguir no seu futuro. E tudo isto implica separação e "discriminação".

Nem todos temos o estofo, aptidão e facilidades de aprendizagem suficientes para sermos doutores, sejamos algo diferente e com todo o orgulho. O que necessitamos é de formação adequada para a nossa vocação. Formação essa que se perdeu com a uniformização do ensino, com a ideia errónea que todos os alunos são iguais. Quantos de nós não precisam de um bom electricista ou canalizador ou mesmo um carpinteiro? Onde estão eles? Há formação para as pessoas com essa vocação? Pessoas com uma formação adequada que realizem um trabalho adequado e especializado chegam a ganhar mais do que um médico, professor ou advogado! Onde está o desprestígio em estudar para ser canalizador, por exemplo?

Por isso volto a colocar a questão: qual é o problema da separação dos alunos?

Sílvia (aprofessorinha.blogspot.com) Formada como professora pela Universidade Católica Portuguesa que frequentou entre 1995 e 1998 quando foi para o 5º ano, ano de estágio pedagógico. No ano seguinte fez uma pós-graduação na Universidade do Porto. Já deu aulas do norte ao sul do país e também na Ilha da Madeira. Diz que sua melhor experiência de ensino foi na Madeira onde o ensino está bastante avançado e onde o respeito entre professores, alunos e governantes ainda existe. Tem, ao todo, 7 anos de serviço cheios de boas e más experiências mas, principalmente, 7 anos que, como diz Silvia: 'Me fizeram crescer como pessoa.'

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