Tuesday, December 26, 2006

Jean Scharlau


O virtualíssimo amigo Roy Frenkiel, editor do blog coletivo Reação Cultural*¹, que cansou-se do estilo de vida da colônia e hoje mora na sede do império, instou-me a escrever uma retrospectiva dos sucessos de 2006 e sugeriu-me a política como tema. Pretendo pegar o assunto um pouco por fora do centro.



De julho de 2005 até hoje, vivemos muitos dos piores e dos melhores momentos de que consigo lembrar de ter testemunhado na tal 'vida pública' brasileira, ou na vida “que se publica”, mas esse enfoque já foi suficientemente apontado, em milhares de versões, da extrema direita até a extrema esquerda e assim, com a união dessas duas pontas, teve praticamente fechado o círculo.



Este ano - ano e meio, na verdade - nos fez experimentar do ponto de vista social privado, do ponto de vista, audição, tato e todos os outros sentidos, inclusive o sexto, o sétimo e o oitavo, da unidade celular social, ou seja, dos carinhas eu, tu, ele, ela, a mais árida solidão, a mais brutal insegurança, o mais insidioso desespero da humanidade, nós inclusos. E nos fez reerguermo-nos, com novas seguranças, companhias, esperanças e jeitos de crer, ao menos em nós mesmos.



Em primeiro lugar tivemos a terrível surpresa de constatar que foi e será sempre um erro confiar plenamente, principalmente naqueles a quem delegamos poderes e mesmo nos que pensávamos conhecer há décadas. Aprendemos que cheiro de fumaça quer dizer mesmo que deve haver fogo. Aprendemos que não há seres humanos acima de qualquer suspeita, e que o que eleva ou rebaixa o ser humano é suas ações e não sua posição social. Aprendemos que muitos não fazem o que dizem e negam-se a dizer o que fazem. Mas deveríamos saber disso desde o princípio! Como pudemos relaxar tanto, nos deixar ser pegos de surpresa em algo tão óbvio? Talvez por que seja extremamente difícil ficar em alerta permanente, em relação a tudo e a todos...



Mas a coisa não terminou aí, oh não! Sentindo o cheiro de ingenuidade fresca e carne nova, os predadores todos se eriçaram e começaram a salivar, principalmente perto de microfones, tribunas e câmeras. Chacais, hienas, urubus, crocodilos, serpentes, caranguejeiras, e até alguns vegetais pernósticos*², todos saíram de seus covis, ninhos, cátedras e tocas para vir a público dar lições de ética, moral e bons costumes e, claro, lançarem suas pré candidaturas. Mas a coisa ainda não terminou aí, oh não...



Os estúdios de rádio e TV ficaram coalhados de criaturas das trevas que arriscaram-se sob as luzes artificiais apenas por que estavam logrando êxito no seu chamariz à armadilha de fazer parecer que todos os outros, nós, seríamos iguais e freqüentemente piores que eles. Assim levavam-nos para dentro de sua arapuca, para a boca de seu alçapão, bem perto de suas garras. A maioria desses monstros tem seus próprios jornais, rádios e tevês, o que os mantém fartamente abastecidos de vítimas incautas. Mas o pior não foi isso, oh não!



As grandes empresas de “comunicação” (vai entre aspas porque nas suas “comunicações” só elas falam e nós ouvimos) e “jornalismo” (vai entre aspas também porque os tais “jornalistas” são mesmo é vendedores disfarçados) assumiram, à luz de todos os dias, implacável perseguição a todos os que recentemente os tinham tirado do confortabilíssimo poder absoluto. Sua estratégia passou a ser reunir os petistas em um gueto, inicialmente moral, o gueto dos “que fazem mal à Nação”, para logo tatuar-lhes no braço um número e a estrela que os identificaria. Eles sabiam que isto já funcionara uma vez, quando Hitler convenceu os alemães a condenarem todos os judeus por que entre eles havia usurários, a inflação era absurda, e esses seriam os responsáveis pelo prejuízo da Nação, portanto, “livremo-nos dessa raça!”. Ao mesmo tempo, os empresários de “comunicação” (os que entram com o texto, enquanto nós entramos com os olhos e ouvidos) abriram todas as suas lentes e diafragmas para que os poderes das trevas se manifestassem. O quê? Está muito maniqueísta isto? Daqui a pouco estarei falando em “eixo do mal”? Pode ser. Ainda assim há verdade aí e nos fizeram guerra em 2006, o ano de ano e meio, pois em julho de 2005, quando revelou-se que tínhamos inimigos (ou aloprados) na trincheira, começou a campanha para as eleições, quando decidiríamos voltar atrás ou seguir adiante. Em julho de 2005 foi dada a largada para outubro de 2006. Para vocês lembrarem como estava a coisa, seis meses depois de começarem a perseguição aos petistas, escrevi na entrada do meu blog*³ e datei, que resistiria às manobras dos neonazis, busch&vickis, tfpês, elites brancas, doutores em coisa nenhuma e respectivas matilhas.



Nessa época começamos a entrar nos meses bons de 2006. Revelada a podridão de parte do poder executivo e de grande parte do poder legislativo, a pretendida discriminação começou a deixar de colar, as tatuagens não pegavam, o gueto começou a vazar. Começamos a constatar o óbvio: éramos todos humanos e para além de crimes e erros, evidenciava-se que uns jogavam para um lado e outros para outro e isto tinha grande importância. Além e antes disso, a questão não era apedrejar alguns para expiar os pecados de todos – ficou evidente que a solução seria lutar contra os pecados e não matar os pecadores flagrados com a mão na botija, pois todos pecam e hoje, como há dois mil anos, ninguém estava em condições de atirar uma pedra, ainda que muitos já tivessem atirado várias. A solução, percebemos, era eliminar os erros, barrando e punindo os errados, não eliminando-os.



Há pouco passamos por um período de trevas em que aqueles que o poder considerava errados eram apedrejados, mortos e desaparecidos. Definitivamente não queremos mais isto. Percebemos imprescindível e urgente o combate a essa “cultura” dos erros, imoralidades e crimes. E começamos a corrigir o Brasil. Sem colocar poderosos na cadeia, infelizmente, mas descobrimos muitos mascarados ladrões, interrompemos milhares de falcatruas que corriam soltas, centenas de vezes mais do que era feito antes, e isto é um bom começo. Nunca antes o governo havia sido tão minuciosamente fiscalizado e isto é um ótimo começo.



Não retrocedemos em 2006, não optamos pelo expropriante, colonizador e falimentar processo quase levado a cabo pelo governo anterior. Optamos pela continuidade do desenvolvimento. Isto aconteceu porque os pobres souberam fazer suas próprias contas e constataram que pela primeira vez em quatro décadas haviam entrado no lucro e também por que a classe média dividiu suas posições. Pobres e classe média tiveram que resistir à lavagem cerebral goebbeliana, ou globeliana, ou globeleza, como preferirem. Vejam o interessante estudo histórico com atalho no final deste texto e ficará mais fácil entender do que estou falando*4.

A classe média dividiu-se na escolha e grande parcela da esquerda unificou-se usando uma interessante e nova ferramenta: a internet, que tornou realidade um inédito canal de COMUNICAÇÃO (maiúscula e sem aspas), que permitiu que a verdade aflorasse e a primavera trouxesse além de flores, bons frutos, para todos. Há ainda, sim, muito poder dentro das trevas, mas gradativamente o cenário se ilumina e os monstros têm que retirar-se para as suas fossas, ainda que relutantemente.



Este canal de COMUNICAÇÃO tem que permanecer aberto e ativo e seus usuários têm que permanecer vigilantes e animados, para que as trevas não voltem e a noite conte sempre com um firmamento de estrelas verdadeiras, e com Luz elétrica para Todos (não deixaria passar sem esta). Os pobres têm que continuar no lucro, cada vez mais, pois eles têm muito a recuperar do que lhes foi tirado, inclusive, e fundamental, eles têm que participar cada vez mais deste nosso CANAL DE COMUNICAÇÃO, até que “nós”, aqui, também sejamos TODOS NÓS.



Para encerrar este pequeno artigo, agradeço a Deus pelo longo ano e meio de 2006 e peço ao Aniversariante do dia 25 a Sua benção. Peço-a para todos nós, homens e mulheres de boa vontade e múltiplas crenças. Que maravilha será que nos venha a ser possível a graça de, no próximo ano, por mais dias e muitos mais momentos que neste que atravessamos, consigamos agir como irmãos e irmãs, irmãs e irmãos que se amam e saibam reconhecer, construir e desfrutar a felicidade cotidiana de estar próximos.



Jean Scharlau

Porto Alegre, RS, BR

*1 - http://reacaocultural.blogspot.com/index.html

*2 – Obviamente, quando chamo pessoas de monstros, animais pernósticos, não estou me referindo à sua essência. Refiro-me não ao ser, mas ao estar, ao agir como.



*3 – http://jeanscharlau.blogspot.com

1 comment:

Roy Frenkiel said...

Sou se fa ;-)

aos abrax

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