Tuesday, December 26, 2006

Professorinha Silvia

Breve Anatomia de 2006


2006 não foi um ano fácil. 2006 deixa-nos com um sabor amargo na boca quando começamos a pensar no que queremos para 2007 e desejámos para 2006. A esperança de um ano melhor é difícil de manter nos nossos corações depois de, em 2005, termos apostado num 2006 com alegria, amor e, principalmente, uma recuperação económica de um país que está no fundo.

A Ministra da Educação (porque sou professora) resolveu iniciar uma guerra contra os professores lusos com o objectivo de nos deixar na lama. Uma das frases mais famosas da Ministra é: "Perdi os professores mas ganhei a população!", deixando-nos a pensar que afinal ela não é a Ministra da Educação mas sim a Ministra da População estando, como tal, a ocupar o cargo errado. Enquanto outros países vangloriaram os professores e lhes agradeciam e agradecem o trabalho que têm feito, neste país, durante todo o ano de 2006, enxovalhou-se a profissão de educador.

Conseguiu-se, através de Decretos-Lei duvidosos e decisões ainda mais dúbias, que os professores passassem a ficar mais tempo na escola sem serem pagos para isso - constituindo, por isso, trabalho escravo por definição. No fundo não é o não pagamento que incomoda os professores, mas sim o tempo que lhes é 'roubado' para preparar as aulas, corrigir testes, trabalhos de casa e outros trabalhos que o bom professor deve sempre fazer se quer ter um bom resultado, resultado esse exigido pela população. A Ministra mede a todos pelo mesmo, pela incompetência e preguiça que, decerto, povoam a sua própria cabeça e tenta, de todas as formas, virar a opinião pública contra os professores. E tem tido sucesso na sua campanha durante 2006, infelizmente.

Portugal desceu mais baixo do que alguma vez se pôde imaginar. Continua como país em vias de desenvolvimento na cauda de uma Europa em pleno desenvolvimento e, este ano de 2006, que trazia com ele a esperança de uma evolução positiva e de tempos mais fáceis, veio a revelar-se o contrário do que se esperava. Foi um ano que ser tornou progressivamente difícil em termos económicos. Fábricas a fechar, empresas a falir, empresas a deslocalizarem-se para países onde lhes são dadas mais mais-valias deixando milhares de pessoas desempregadas com filhos para sustentar e dividas para pagar. A tudo isto o governo reagiu com um mutismo preocupante. José Sócrates, o 1º Ministro, ganhou o cognome O Embuste. Mentiu para ser eleito e continuou, ano fora, a quebrar promessas atrás de promessas e a perseguir os funcionários públicos como se fossem os principais responsáveis pelo que de mal está neste país à beira-mar plantado. Cavaco Silva, eleito na esperança de ser uma força contrária ao governo, desiludiu. Manteve-se também calado sem reacção às acções do governo e, quando finalmente falou, desiludiu pedindo para que o povo deixe que o governo trabalhe e dizendo que está de acordo com o rumo que os governantes escolheram.

Mas nem tudo foi mau. Devo também procurar o que de positivo tivemos em 2006. O que aconteceu de bom neste ano que termina dentro de alguns dias?
O que recordo de bom a nível pessoal?

Recordo as amizades que fiz, os alunos maravilhosos que tive ainda na ilha da Madeira, o meu crescimento como pessoa, o que aprendi e a conclusão que todas as dificuldades por que passei me permitiram ganhar asas para voar mais alto do que alguma vez pensei voar. Tenho hoje a força para lutar contra as dificuldades que encontrei no sítio onde agora trabalho e sei que devo trazer para cá o bom que vivi na Madeira para tentar mudar o pouquinho de mundo que me rodeia e não desistir ou fugir como seria bem mais fácil.

Em 2006 criei o meu blog. Este ponto eu não poderia esquecer de apontar. Iniciou apenas como um local para falar sobre a escola, alunos e sobre a minha profissão mas que se tornou um espaço de partilha de ideias e de sentimentos... Ao longo destes meses acho que se tornou um espaço bonito e aconchegante, do qual me orgulho.

E o país? Que houve de bom neste ano que se passou?

Este ano de 2006 começou com neve. Neve em zonas do país onde não nevava há 50 anos. Foi uma alegria enorme para adultos e crianças ver cair neve e ver tudo à nossa volta coberto de branco qual almofadas de nuvens fofas onde nos podíamos rebolar e brincar (sim, frio, mas isso que importa perante a alegria sentida?). O país parou para ver nas notícias de neve na praia, neve em Lisboa, neve até no Alentejo!

Tivemos um campeonato Mundial que nos encheu de orgulho pelos nossos jogadores! Apesar de não termos ganho o 1º lugar, soubemos lutar bem e perder de cabeça erguida, sem nos rebaixarmos nunca à falsa superioridade que povoava as cabeças de algumas selecções. No fundo dos nossos corações, saímos vencedores. Por momentos, durante dias, foram esquecidos os problemas e dificuldades das nossas vidas para apoiar a nossa selecção, esquecemos as rivalidades e unimo-nos. Vimos as janelas e varandas enfeitadas com a nossa bandeira num símbolo de amor patriótico que já não se via desde Camões há anos. Na minha opinião este foi o ponto mais alto de 2006.

Regressando aos professores, apesar de toda a negatividade que os rodeia, uniram-se em torno de um objectivo: derrubar a Ministra, reivindicar reconhecimento, mostrar que trabalham, que se preocupam, que, quem é de verdade professor, adora o que faz e dedica-se completamente à profissão. É verdade que não se conseguiu derrubar a Ministra, mas logrou-se derrubar algumas das medidas com que tentaram subjugar a classe docente. A união entre a classe docente, que não se sentia desde o século passado, regressou aqui... Espero que 2007 traga ainda mais união e força para os educadores deste país pois se é difícil vencer unidos, imaginem separados...

2 comments:

amigona avó e a neta princesa said...

Gostei muito de ler o teu texto, professorinha! Concordo contigo... também eu desejo que 2007 seja uma ano melhor para os professores...que seja possível recuperar algum respeito daquele que lhe roubaram!... Beijo amiguinha... Bom ano de 2007...

peciscas said...

Depois de ler este texto tão sincero quanto verdadeiro, só posso dizer-te:
"Os ministros passam, mas os professores ficam!".
Que 2007 traga, para a tua vida pessoal e profissional, o que de melhor desejares!

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