Thursday, March 15, 2007

CLAQUE-TE


Mudando de foco: atores que dirigem

(por Roberto Queiroz)


Durante muitas décadas o cinema foi movido pelo modelo do star system (ou seja, um filme era medido pelos astros que dele participavam e não propriamente pelo roteiro que possuía). Portanto, não é difícil imaginar a responsabilidade de estrelas como Elizabeth Taylor, Marilyn Monroe, Ava Gardner, Clark Gable, Montgomery Clift, Cary Grant, Bette Davis, Paul Newman, Rita Hayworth e tantos outros que viam nos seus nomes na parte mais alta dos letreiros um termômetro para atrair platéias de todo o mundo para as salas de cinema. Pois bem: o cinema – e aqui cabe um destaque muito maior para Hollywood, que sempre tem a maior fatia do mercado – não obedece mais essa exigência de forma tão precisa hoje em dia. O modelo de indústria onde as cifras arrecadadas é reflexo do desempenho de seus protagonistas famosos já caiu por terra há bastante tempo (vide o fascínio que a sociedade contemporânea tem demonstrado pelos documentários).

O que faz a diferença hoje em dia em se tratando de mercado cinematográfico é uma boa história e uma pessoa de talento e competência na direção do projeto. O próprio conceito de ator está mudando cada dia com mais velocidade. Eles querem mais envolvimento com seus projetos. Querem produzir, escrever roteiros e, principalmente, dirigir suas próprias idéias. O século XXI tam nos dado uma nova safra desses atores multifacetados que atiram para todas as direções (apostam em todos os cavalos, desde que aquele animal tenha chances de vitória). Foi assim com Dennis Hopper e seu Sem Destino, filme que marcou a contracultura norte-americana e até hoje é cultuado por legiões de fãs (sem contar o fato de ter transformado a moto Harley-Davidson numa febre universal). Entre os mais antigos na passagem de atores a diretores, não há como deixar de fora o eterno caubói Clint Eastwood, que este ano nos presenteou com duas belíssimas produções de guerra (A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima) e seus não menos importantes Os Imperdoáveis, Menina de Ouro (ambos vencedores do Oscar), Sobre Meninos e Lobos e Bird (que mostra a outra paixão de Eastwood: o jazz) e o galã Robert Redford com seus filmes-denúncia como Quiz Show: A Verdade dos Bastidores e dramas mais intensos como Gente como a Gente – que lhe deu o Oscar de melhor direção – e O Encantador de Cavalos.

Outros dois dinossauros da indústria cinematográfica que cedo se envolveram com esse lado da carreira foram o brutamontes Sylvester Stallone a saga do garanhão italiano na franquia Rocky e o pegador (satirizado por Tom Hanks no Globo de Ouro desse ano) Warren Beaty e seu belíssimo filme Reds, onde conta a história do jornalista John Reed. Outros que mostraram talento atrás das câmeras foram Kevin Costner com seu épico falado em sioux Dança com Lobos (vencedor de sete Oscars) além da aventura futurista O Mensageiro e o western Pacto de Justiça e o Mad Max Mel Gibson com suas produções que respingam sangue a cada fotograma gravado: Coração Valente (que lhe rendeu cinco estatuetas), A Paixão de Cristo – seu filme mais polêmico – e Apocalypto, dessa vez visitando a civilização maia. Da geração mais recente, podemos destacar primeiramente George Clooney (aquele mesmo da série televisiva Plantão Médico) e seus filmes Confissões de ma Mente Perigosa e o seis vezes indicado ao Oscar Boa Noite e Boa Sorte, one faz uma crítica ao macarthismo da década de 60 nos EUA. Tommy Lee Jones também se aventurou na direção (após guardar seu paletó de K da franquia Homens de Preto) e nos apresentou o belíssimo Os Três Enterros de Melquiades Estrada, onde mistura um clima bem faroeste com um drama humano contundente. O táxi driver Robert de Niro esse ano vem com sua versão sobre a história da CIA em O Bom Pastor e Emilio Estevez – o irmão mais comportado de Martin Sheen – conta num estilo bem Robert Altman as conseqüências por trás do assassinato do senador Robert Kennedy numa ousada produção. Isso sem contar as futuras direções de Laurence Fishburne em O Alquimista e Jack Nicholson em Onze Minutos, ambas adaptações de romances do escritor brasileiro Paulo Coelho em fase de pré-produção.

Isso, meus caros leitores, só para dar uma mostra do que esses geniais atores são capazes de fazer quando não estão atuando. Para quem pensava que cinema era só estética e que bastavam um belo corpo e um belo sorriso para venderem milhões de ingressos, eis uma ducha fria: fazer sucesso na sétima arte hoje é muito mais difícil do que isso. Envolve desprendimento, garra e principalmente conhecer o produto. E isso não se nasce sabendo.

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