Coluna do Cássio
Essas palavras Vos Trazem:
crime,
maioridade penal,
TV,
violência
NÃO à Redução da Maioridade Penal
Por: Cássio Augusto
cassionl@yahoo.com.br
A violência, cada vez mais toma conta dos telejornais, e a sociedade, sempre consciente dos verdadeiros problemas da nação, cobra uma atitude enérgica, imediata e eficaz de nossos representantes. Assim, o assunto no momento é a redução da maioridade penal como solução para os nossos problemas.
No entanto, a condução acerca do tema tem sido feita de forma moralista e sensacionalista pelos veículos de comunicação. É claro que um fato bárbaro como o acontecido com o pequeno João Hélio nos deixa preocupados com o rumo que a sociedade está tomando, mas não podemos nos dar ao luxo de agir por impulsividade.
Antes de tratarmos do assunto, é importante deixar claro de que tipo de violência estamos falando. Como vivemos em uma sociedade pequeno burguesa, a violência é resumida à “pobre incomodar rico!”. Não se fala na violência moral da discriminação social e racial. Será que morar em um barraco ou mesmo viver com um salário de fome, enquanto poucos esbanjam os lucros não é violência? Ainda, será que vender sentenças, superfaturar obras e contratar parentes para cargos públicos também não é? Mas este é o tipo de discussão que a elite não quer participar.
A violência, antes de ser um problema jurídico, é um problema sociológico, e deve ser combatido com programas sociais e não apenas com a simples edição de leis. Afinal, já temos leis demais: é proibido agredir o meio ambiente, funciona? A venda/consumo de drogas é proibida, funciona? É proibido matar, funciona? Existem as leis em defesa do consumidor e do trabalhador, funcionam? Isso sem falar nas garantias constitucionais elencadas no artigo 5º da CF.
A Lei não precisa ser mudada, precisa sim ser aplicada. Um adolescente que é pego cometendo um crime é encaminhado à justiça, responde processo e tem sentença, mas a legislação, acertadamente entender que o mesmo não é um criminoso em potencial, mas sim um simples jovem que deve ser melhor orientado, por isso que a maioria das penas contra menores versam sobre Serviços à Comunidade. Mas os mais perigosos podem ficar presos por até três anos, o que diga-se, é um tempo muito maior que um adulto, pois este pode ser beneficiado com a Progressão de Regime, já o jovem não. Mas nossa justiça é falha, os policiais são mal pagos e muito mal equipados, o judiciário é lento, poucos funcionários e poucos juízes.
Simplesmente jogar nossos adolescentes para dentro das cadeias é fugir do problema. Aliás, esta é uma idéia muito simplista. Você, caro leitor, já entrou em uma cadeia? Não venha me dizer que sabe o que eu quero dizer só porque viu uma pela TV. As cadeias do Brasil mais se parecem com chiqueiros, completamente sujos, sem ventilação, sem higiene, com um odor terrível e claro, superlotadas, ou seja, sem o mínimo de condições dignas para a sobrevivência humana. Será que este é o local ideal para recuperarmos nossos jovens?
A função da prisão, além de retirar do convívio social aqueles que não cumprem as regras pré-estabelecidas, é recupera-lo para que possa voltar ao convívio social. Acontece que o sistema carcerário está falido, tomemos como exemplo o caso do bandido da Luz Vermelha, que depois de trinta anos preso não conseguiu voltar ao convívio em sociedade e acabou morto. Já avançamos muito desde Beccaria e os filósofos do Iluminismo e mais recentemente com as Penas Alternativas, não podemos retroceder no tempo e voltar à barbárie. Não podemos confundir justiça com vingança!
Há algum tempo atrás, um índio foi brutalmente assassinado em Brasília, quatro adolescentes atearam fogo no mesmo que dormia em um ponto de ônibus, mas como eram “filhinhos de papai” ninguém levantou a bandeira da redução da maioridade penal, aliás, foi só mais um índio morto, de tantos que já matamos em nossa história, que diferença faz?
Todos os dias, milhares de crianças dormem nas ruas, outras muitas são exploradas nos sinais, e quantas não são estupradas e mesmo assassinadas nas periferias? Mas não passam de mais um número de estatística. Agora, quando a violência bate à porta da classe média, aí os defensores “da família, da moral, da tradição e da propriedade” organizam-se para reivindicar uma atitude do Estado.
O que exigir de um adolescente que não possui família e escola, e que cresce sem perspectivas de um futuro descente? Ele não é culpado, mas sim mais uma vítima. Como querer que uma pessoa que está à margem da sociedade cumpra as regras estabelecidas por esta mesma sociedade? Regras aliás que servem apenas para garantir a sobrevivência do Apartheid Social, poucos com muito e muitos com pouco.
Vivemos na sociedade do consumo e da individualidade, somos bombardeados diariamente com diversas propagandas de produtos que não precisamos, mas sempre queremos comprar. Vemos na TV as enchentes, a seca, a fome, os tiroteios, mas depois vem a novela para nos deixar mais tranqüilos, desligamos a TV e vamos dormir.
Hipócritas são aqueles que se dizem contra a corrupção, mas sempre oferecem um “por fora” ao guarda de transito para “escaparem” da multa. Empunharei a bandeira da redução da maioridade penal, desde que os “crimes de colarinho branco” sejam severamente punidos, afinal, estes sim são os verdadeiros bandidos, pois tiveram educação e escolheram o crime como forma de vida, e não o contrário, quando o crime escolhe o adolescente.
Outro problema é a família, já há muito desestruturada. Antes de se punir um adolescente que não conhece o pai e muitas vezes têm irmãos de pais diferentes, é preciso punir os adultos que geraram estas crianças, afinal, fazer filho é fácil, mas cuidar e dar educação é que é o complicado. Os pais destes adolescentes são os principais culpados.
“_Ah! Mas você fala assim porque não teve ninguém da sua família vítima de um adolescente marginal”, bradam os moralistas. Justamente porque não tive é que defendo a não redução, afinal, quero uma solução para o problema, e não apenas varre-lo para debaixo do tapete. “_Mas quem de nós disse que é a solução?” Hipócritas! Estão finalmente admitindo que não querem uma solução. Mas porque não a querem?
É simples, a solução para o problema está na distribuição de renda, de riquezas, de oportunidades, de propriedades. Queremos realmente uma sociedade menos violenta? Então é este o debate que temos de promover: como diminuir a desigualdade social.
Mas será que a grande mídia está interessada neste debate? Com toda a certeza, não! Afinal, quem são os grandes grupos detentores dos veículos de comunicação senão aqueles detentores do capital financeiro e das grandes propriedades? Este debate não os interessa. Quem se lembra do assassinato brutal da jovem atriz global Daniela Peres? Na época a Globo fez imensa campanha pelos crimes hediondos, como a solução para a diminuição da violência. Pena que tal lei não resolveu a questão.
É assim que tratam com o povo. Para apaziguar os ânimos, de tempos em tempos inventam-se fórmulas milagrosas, no calor do momento, mas que no decorrer dos anos mostram-se insuficientes.
Por fim, não podemos ser fantoches deste debate pobre e simplista que visa tão somente a condenar ainda mais à marginalidade aqueles já estão excluídos, numa visível tentativa de fugir do verdadeiro problema. Precisamos discutir um novo “contrato social”, um novo Estado. A Redução da Maioridade Penal está longe de ser a solução. Mas como diria a professora Anita Helena Schlesener da UFPR, ao comentar sobre o pensamento de Gramsci: “enfrentar a formidável e bem organizada estrutura ideológica da classe dominante é tarefa difícil e nem sempre fadada ao sucesso”.
“Só os tolos temem o crime. Devemos temer a pobreza” – Bernard Shaw
“Quem está fora do quadro social não tarda a estar fora do quadro legal” – Gabriel Tarde
“Um vagabundo pobre é um vagabundo, um vagabundo rico é um rico” – Afrânio Peixoto
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Por: Cássio Augusto
cassionl@yahoo.com.br
A violência, cada vez mais toma conta dos telejornais, e a sociedade, sempre consciente dos verdadeiros problemas da nação, cobra uma atitude enérgica, imediata e eficaz de nossos representantes. Assim, o assunto no momento é a redução da maioridade penal como solução para os nossos problemas.
No entanto, a condução acerca do tema tem sido feita de forma moralista e sensacionalista pelos veículos de comunicação. É claro que um fato bárbaro como o acontecido com o pequeno João Hélio nos deixa preocupados com o rumo que a sociedade está tomando, mas não podemos nos dar ao luxo de agir por impulsividade.
Antes de tratarmos do assunto, é importante deixar claro de que tipo de violência estamos falando. Como vivemos em uma sociedade pequeno burguesa, a violência é resumida à “pobre incomodar rico!”. Não se fala na violência moral da discriminação social e racial. Será que morar em um barraco ou mesmo viver com um salário de fome, enquanto poucos esbanjam os lucros não é violência? Ainda, será que vender sentenças, superfaturar obras e contratar parentes para cargos públicos também não é? Mas este é o tipo de discussão que a elite não quer participar.
A violência, antes de ser um problema jurídico, é um problema sociológico, e deve ser combatido com programas sociais e não apenas com a simples edição de leis. Afinal, já temos leis demais: é proibido agredir o meio ambiente, funciona? A venda/consumo de drogas é proibida, funciona? É proibido matar, funciona? Existem as leis em defesa do consumidor e do trabalhador, funcionam? Isso sem falar nas garantias constitucionais elencadas no artigo 5º da CF.
A Lei não precisa ser mudada, precisa sim ser aplicada. Um adolescente que é pego cometendo um crime é encaminhado à justiça, responde processo e tem sentença, mas a legislação, acertadamente entender que o mesmo não é um criminoso em potencial, mas sim um simples jovem que deve ser melhor orientado, por isso que a maioria das penas contra menores versam sobre Serviços à Comunidade. Mas os mais perigosos podem ficar presos por até três anos, o que diga-se, é um tempo muito maior que um adulto, pois este pode ser beneficiado com a Progressão de Regime, já o jovem não. Mas nossa justiça é falha, os policiais são mal pagos e muito mal equipados, o judiciário é lento, poucos funcionários e poucos juízes.
Simplesmente jogar nossos adolescentes para dentro das cadeias é fugir do problema. Aliás, esta é uma idéia muito simplista. Você, caro leitor, já entrou em uma cadeia? Não venha me dizer que sabe o que eu quero dizer só porque viu uma pela TV. As cadeias do Brasil mais se parecem com chiqueiros, completamente sujos, sem ventilação, sem higiene, com um odor terrível e claro, superlotadas, ou seja, sem o mínimo de condições dignas para a sobrevivência humana. Será que este é o local ideal para recuperarmos nossos jovens?
A função da prisão, além de retirar do convívio social aqueles que não cumprem as regras pré-estabelecidas, é recupera-lo para que possa voltar ao convívio social. Acontece que o sistema carcerário está falido, tomemos como exemplo o caso do bandido da Luz Vermelha, que depois de trinta anos preso não conseguiu voltar ao convívio em sociedade e acabou morto. Já avançamos muito desde Beccaria e os filósofos do Iluminismo e mais recentemente com as Penas Alternativas, não podemos retroceder no tempo e voltar à barbárie. Não podemos confundir justiça com vingança!
Há algum tempo atrás, um índio foi brutalmente assassinado em Brasília, quatro adolescentes atearam fogo no mesmo que dormia em um ponto de ônibus, mas como eram “filhinhos de papai” ninguém levantou a bandeira da redução da maioridade penal, aliás, foi só mais um índio morto, de tantos que já matamos em nossa história, que diferença faz?
Todos os dias, milhares de crianças dormem nas ruas, outras muitas são exploradas nos sinais, e quantas não são estupradas e mesmo assassinadas nas periferias? Mas não passam de mais um número de estatística. Agora, quando a violência bate à porta da classe média, aí os defensores “da família, da moral, da tradição e da propriedade” organizam-se para reivindicar uma atitude do Estado.
O que exigir de um adolescente que não possui família e escola, e que cresce sem perspectivas de um futuro descente? Ele não é culpado, mas sim mais uma vítima. Como querer que uma pessoa que está à margem da sociedade cumpra as regras estabelecidas por esta mesma sociedade? Regras aliás que servem apenas para garantir a sobrevivência do Apartheid Social, poucos com muito e muitos com pouco.
Vivemos na sociedade do consumo e da individualidade, somos bombardeados diariamente com diversas propagandas de produtos que não precisamos, mas sempre queremos comprar. Vemos na TV as enchentes, a seca, a fome, os tiroteios, mas depois vem a novela para nos deixar mais tranqüilos, desligamos a TV e vamos dormir.
Hipócritas são aqueles que se dizem contra a corrupção, mas sempre oferecem um “por fora” ao guarda de transito para “escaparem” da multa. Empunharei a bandeira da redução da maioridade penal, desde que os “crimes de colarinho branco” sejam severamente punidos, afinal, estes sim são os verdadeiros bandidos, pois tiveram educação e escolheram o crime como forma de vida, e não o contrário, quando o crime escolhe o adolescente.
Outro problema é a família, já há muito desestruturada. Antes de se punir um adolescente que não conhece o pai e muitas vezes têm irmãos de pais diferentes, é preciso punir os adultos que geraram estas crianças, afinal, fazer filho é fácil, mas cuidar e dar educação é que é o complicado. Os pais destes adolescentes são os principais culpados.
“_Ah! Mas você fala assim porque não teve ninguém da sua família vítima de um adolescente marginal”, bradam os moralistas. Justamente porque não tive é que defendo a não redução, afinal, quero uma solução para o problema, e não apenas varre-lo para debaixo do tapete. “_Mas quem de nós disse que é a solução?” Hipócritas! Estão finalmente admitindo que não querem uma solução. Mas porque não a querem?
É simples, a solução para o problema está na distribuição de renda, de riquezas, de oportunidades, de propriedades. Queremos realmente uma sociedade menos violenta? Então é este o debate que temos de promover: como diminuir a desigualdade social.
Mas será que a grande mídia está interessada neste debate? Com toda a certeza, não! Afinal, quem são os grandes grupos detentores dos veículos de comunicação senão aqueles detentores do capital financeiro e das grandes propriedades? Este debate não os interessa. Quem se lembra do assassinato brutal da jovem atriz global Daniela Peres? Na época a Globo fez imensa campanha pelos crimes hediondos, como a solução para a diminuição da violência. Pena que tal lei não resolveu a questão.
É assim que tratam com o povo. Para apaziguar os ânimos, de tempos em tempos inventam-se fórmulas milagrosas, no calor do momento, mas que no decorrer dos anos mostram-se insuficientes.
Por fim, não podemos ser fantoches deste debate pobre e simplista que visa tão somente a condenar ainda mais à marginalidade aqueles já estão excluídos, numa visível tentativa de fugir do verdadeiro problema. Precisamos discutir um novo “contrato social”, um novo Estado. A Redução da Maioridade Penal está longe de ser a solução. Mas como diria a professora Anita Helena Schlesener da UFPR, ao comentar sobre o pensamento de Gramsci: “enfrentar a formidável e bem organizada estrutura ideológica da classe dominante é tarefa difícil e nem sempre fadada ao sucesso”.
“Só os tolos temem o crime. Devemos temer a pobreza” – Bernard Shaw
“Quem está fora do quadro social não tarda a estar fora do quadro legal” – Gabriel Tarde
“Um vagabundo pobre é um vagabundo, um vagabundo rico é um rico” – Afrânio Peixoto
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7 comments:
OPa... espero que meu texto agrade os leitores do Reação!!!
Eu concordo em alguns pontos com o que você disse, eu acho que simplesmente botar os adolescentes na cadeia talvez não irá resolver os problemas, mas talvez a curto prazo ajude até achar alguma solução melhor. Ah e essa foto também não é bem assim né, não são criancinhas inocentes que serão presas, com 16 anos já são uns baitas marmanjos e matam igual alguém maior de idade.
Uma das maiores coleções de clichês, sofismas, populismo e emocionalismo que eu já tive a oportunidade de ler! Acho que vou até imprimir um monte de cópias e usar como papel higiênico aqui em casa...
Humm, pensando bem é melhor não, o papel é muito caro... não quero desperdiçar arvores imprimindo esse lixo...
Cassio
Também sou contra a maioridade, para resolver esta questão da violência praticada por menores, temos que trabalhar as politica de desenvolvimento, atuar no cerne da questão, e não permanecermos nos periféricos. Como fazer isto? Um caminho é o desenvolvimento de projetos, usando um dos pilares da sociedade, que é o inclusão esportiva. Algo que me chamou atenção foi o seguinte, deve-se tomar cuidado quando defendemos uma classe ou apontamos uma possivel violência social e racial. Quando temos esta atitude acabamos potencializando e/ou incultindo na sociedade um preconceito talvez inexistente. Pessoas passam tempo criando não instituições por exemplo de defesa da raça negra, eles passão tempo criando uma legião de revoltados, que é uma falsa idéia do que é obstaculos vencidos. Outro detalhe não se pode permanecer na posição só de acusador, ou apresentamos uma solução concreta ou continuaremos só no ninvel de perspectiva. Será que todas as mazelas sociais é culpa da pequena burguesia, ou será que não podemos ficar indiferentes aos acontecimentos locais e contribuirmos com agumas sugestões.
é colega, concordo com algumas colocações que vc faz, mas sou a favor da redução da maioridade, deixo a discussão pra uma tarde ensolarada às portas do clidão.
abraço.
Tem algumas coisas boas, como colocar que cadeia NÃO é solução, mas apela para o clichê da desigualdade social e esquece que o verdadeiro problema é a deterioração das relações da sociedade.
Tbém concordo que redução da maioridade não vai resolver o problema, precisamos de programas de ressocialização mais eficazes. Criança é como papel em branco, nós, pais, sociedade e Estado que devemos ter a responsabilidade do que escrever nele.
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