Monday, April 30, 2007

CLAQUE-TE


Dossiê: Diretores (II)

M. Night Shyamalan:

Quando o sobrenatural convive diariamente conosco.
Por Roberto Queiroz


Crianças paranormais que ouvem vozes do além, seres humanos indestrutíveis e frágeis, sinais de outro mundo marcando extensas plantações, extraterrestres, criaturas assombrando um vilarejo, uma ninfa presa na piscina de um condomínio residencial? O sobrenatural existe de fato ou trata-se apenas de uma maneira que nós encontramos de tornar nossas existências mais célebres e emocionantes? O que pode provocar num diretor de cinema o desejo de criar mundos fantásticos, repletos de enigmas e indivíduos inusitados?

Quando o cineasta indiano M. Night Shyamalan surgiu no cenário hollywoodiano – inicialmente comparado ao diretor Steven Spielberg -, logo de cara pensamos estar diante de mais um fazedor de filmes cuja única meta era desfilar rios e mais rios de efeitos especiais através de narrativas fabulosas. Com o passar dos anos, entretanto, o que se viu foi um diretor muito mais preocupado em mostrar que a questão da sobrenaturalidade é muito menos fantástica do que aparenta em sua gênese. Seu primeiro filme (bastante promissor, aliás), o suspense O Sexto Sentido nos traz a relação da perda da infância – por conta de um menino que se comunica com os mortos e por isso é descartado do convívio das outras crianças – e o dilema de um psicólogo (vivido pelo ator Bruce Willis) para encarar o fato de que não se encontra mais nesse plano astral. Logo a seguir, o mesmo Willis, dessa vez na pele de um homem que ao longo de toda a sua vida nunca se feriu ou sofreu qualquer tipo de acidente, enfrenta um macabro Samuel L. Jackson, admirador de quadrinhos e um indivíduo de ossos frágeis, que sempre procurou alguém que fosse o oposto dele (criando assim grandes tragédias na vã expectativa de encontrá-lo) na produção Corpo Fechado.

Em Sinais, para mim seu filme mais fraco, o ex-padre Mel Gibson e o jogador de futebol Joaquim Phoenix (cuja carreira foi interrompida prematuramente) enfrentam seres alienígenas numa fazenda do interior americano. Seu filme seguinte, o ótimo A Vila, narra a história de um grupo de pessoas que para fugir da violência das grandes metrópoles decide se refugiar num vilarejo totalmente isolado (e, para manter as gerações seguintes presas também aquela realidade, criam histórias e monstros que os perseguirão caso queiram fugir do lugar) e, finalmente, no recente A Dama na Água, o zelador vivido por Paul Giamatti tem a sua rotina de trabalho modificada quando descobre que uma ninfa está vivendo escondida na piscina do condomínio onde trabalha, fugindo de criaturas horrendas que querem levá-la para um mundo de trevas.

Como se pode ver claramente, o que seria sobrenatural, irreal ou fora de série nas produções de Shyamalan, é sempre realizado com base em artimanhas e criações do cotidiano, figuras/pessoas que podemos muitas vezes ver passeando pelas ruas diariamente (o padre, o menino rejeitado, o marido que perdeu a esposa e tem dificuldade para seguir a vida em frente, etc) que ditam o ritmo dos roteiros de seus filmes. São eles que determinam quando o sobrenatural irá surgir ou não.

O que o diretor faz recorrentemente em sua obra é indagar a respeito de situações que não têm nada de extraordinárias em si (nós é que ficamos alucinados por vê-las superestimadas, idolatradas, fora do âmbito do normal, interpretadas por criaturas imaginárias, pois só assim nos consideraremos figuras especiais, importantes). Seu próximo projeto – intitulado previamente The Green Effect – ainda é um mistério. Sabe-se que trata do aquecimento global e suas conseqüências para a humanidade (ou algo do tipo). No entanto, o que eu posso adiantar é que, com certeza, deverá haver um peso moral e humano muito forte nessa nova produção (como não seria diferente do estilo do diretor). Afinal, existe algo mais fora do normal e mais além da compreensão humana do que o próprio ser humano?

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