A Musa Musical de Rodrigo Gerdulli
Tributo com T maiúsculo – Odair José
Por Rodrigo Gerdulli
O que mais gosto em arte é sua imortalidade. Em música, sobretudo, esporadicamente algum artista das antigas têm sua obra revista. Aconteceu com Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Tim Mais e Jorge Ben, redescobertos anos depois. Até mesmo aqueles considerados, digamos, bizarros, como Ronnie Von e Reginaldo Rossi, têm suas boas pérolas agora cultuadas.
Porém, estes não foram os poucos privilegiados com um tributo. Ainda faltava um injustiçado. E o que dizer daquele que foi o maior fenômeno popular das classes C e D da década de 1970, odiado pelos elitistas? Sim, apesar de ter vendido em torno de 66 milhões de discos, só então em 2005 Odair José juntou-se ao seleto grupo dos artistas oficialmente considerados cults.
Dentro do que se rotula como cafona, o Velho Oda é quem tem a obra mais interessante e desconhecida. Suas músicas mantinham forte apelo popular, ao mesmo tempo em que abordavam temas-tabu para uma sociedade ainda reprimida pelo regime militar. Sua prosa contemporânea sofreu tanto com a ditadura quanto a construção de Chico Buarque.
O que rolava antigamente na música popular brasileira era o namoro no portão sob a luz do luar, daí ele veio falando de cama, de pílula, de prostituta, de empregada doméstica, porque essa era a realidade do Brasil. Por tal razão, tornou-se um artista polêmico e até mesmo censurado.
Enfim, dignamente o tributo Eu vou tirar você desse lugar não foi norteado por questões comerciais, mas estéticas. Isto é, participam artistas de várias tendências, como MPB, BRock, indie, mangue beat e lá vai cacetada. Ninguém quis ser brega no disco. Brincar com a área do verdadeiro Odair já seria um exagero. Todos deram uma assinatura muito forte nas músicas.
Falar em destaques do CD é uma coisa muito pessoal, fica a cargo de cada um. Portando, uma breve apresentação, faixa a faixa:
01. Vou tirar você desse lugar — Paulo Miklos
Miklos, acompanhado na guitarra por Rick Bonadio, delicia-nos nesta faixa com o melhor do rock and roll, tanto na letra quanto no instrumental.
02. Vida que não pára — Suzana Flag
A banda de Belém, que alterna vocais masculinos e femininos, faz a versão mais otimista da obra.
03. Uma lágrima — Pato Fu
Esta versão, que é o primeiro compacto do Oda, caberia perfeitamente no álbum Toda cura para todo o mal, o último trabalho dos mineiros Uma delícia!
04. Eu queria ser John Lennon — Columbia
Uma vez perguntado por que ele queria ser John Lennon, mas no final cantava “Linda McCartney, eu quero o seu amor”, Odair respondeu: “E por acaso você acha que eu iria preferir o da Yoko?”
Enfim, a letra pra lá de sensata foi apreciada com uma doçura no ponto pelos vocais da carioca Fernanda Marques.
05. Ela voltou diferente — Mombojó
Tristíssima, porém com sutileza, esta música de corno nos arranca lágrimas.
06. Eu, você e a praça — Zeca Baleiro
Super fiel. Será que o Zeca queria ser brega?
07. Deixe essa vergonha de lado — Mundo Livre S/A
Se Arnaldo Antunes tivesse sido convidado para o tributo, eis o que ele faria. Letra recitada sob uma base eletrônica de outro mundo. O mais estranho é que ficou muito bom!
08. Foi tudo culpa do amor — Suíte Super Luxo
O dueto masculino e feminino chega a sugerir, meio que sem querer, as discussões de Odair José com sua ex-esposa Diana. Ótimo trabalho da banda brasiliense.
09. Nunca mais — Shakemakers
Uma faixa que destoa um pouco das demais, mas não por ser fundamental. Se é que me entendem...
10. E ninguém liga pra mim — Leela
Letra "down", clima pesado e Bianca Jhordão. Boa combinação.
11. Cadê você? — Sufrágio
Os paulistas do Sufrágio não decepcionaram e este clássico ganhou um Q oitentista.
12. Esta noite você vai ter que ser minha — Picassos Falsos
Uma versão em que Humberto Effe caprichou na delicadeza da melodia.
13. A maçã e a serpente — Poléxia
Talvez faltou aos curitibanos um pouco mais de convicção, mas não comprometeram.
14. A noite mais linda do mundo (a felicidade) — Jumbo Elektro
Empolgante! Estes sim vestiram a camisa e sacaram a canção.
15. Uma vida só (pare de tomar a pílula) — Arthur de Faria e Seu Conjunto
Uma introdução a la João Gilberto e um encerramento ao melhor estilo Hey Jude. Tudo a ver, não? Se for analisar pela originalidade, ficou bom...
16. Que saudade de você — Terminal Guadalupe
Dá até para imaginar Odair José emo. Interessante.
17. Vou contar de um a três — Volver
Agora, a banda brasiliense mostra como seria o Oda tocando na Jovem Guarda.
18. Cotidiano nº 3 — Los Pirata
Muito bom humor e muito portunhol. Cosa lindia de diós!
Por Rodrigo Gerdulli
O que mais gosto em arte é sua imortalidade. Em música, sobretudo, esporadicamente algum artista das antigas têm sua obra revista. Aconteceu com Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Tim Mais e Jorge Ben, redescobertos anos depois. Até mesmo aqueles considerados, digamos, bizarros, como Ronnie Von e Reginaldo Rossi, têm suas boas pérolas agora cultuadas.
Porém, estes não foram os poucos privilegiados com um tributo. Ainda faltava um injustiçado. E o que dizer daquele que foi o maior fenômeno popular das classes C e D da década de 1970, odiado pelos elitistas? Sim, apesar de ter vendido em torno de 66 milhões de discos, só então em 2005 Odair José juntou-se ao seleto grupo dos artistas oficialmente considerados cults.
Dentro do que se rotula como cafona, o Velho Oda é quem tem a obra mais interessante e desconhecida. Suas músicas mantinham forte apelo popular, ao mesmo tempo em que abordavam temas-tabu para uma sociedade ainda reprimida pelo regime militar. Sua prosa contemporânea sofreu tanto com a ditadura quanto a construção de Chico Buarque.
O que rolava antigamente na música popular brasileira era o namoro no portão sob a luz do luar, daí ele veio falando de cama, de pílula, de prostituta, de empregada doméstica, porque essa era a realidade do Brasil. Por tal razão, tornou-se um artista polêmico e até mesmo censurado.
Enfim, dignamente o tributo Eu vou tirar você desse lugar não foi norteado por questões comerciais, mas estéticas. Isto é, participam artistas de várias tendências, como MPB, BRock, indie, mangue beat e lá vai cacetada. Ninguém quis ser brega no disco. Brincar com a área do verdadeiro Odair já seria um exagero. Todos deram uma assinatura muito forte nas músicas.
Falar em destaques do CD é uma coisa muito pessoal, fica a cargo de cada um. Portando, uma breve apresentação, faixa a faixa:
01. Vou tirar você desse lugar — Paulo Miklos
Miklos, acompanhado na guitarra por Rick Bonadio, delicia-nos nesta faixa com o melhor do rock and roll, tanto na letra quanto no instrumental.
02. Vida que não pára — Suzana Flag
A banda de Belém, que alterna vocais masculinos e femininos, faz a versão mais otimista da obra.
03. Uma lágrima — Pato Fu
Esta versão, que é o primeiro compacto do Oda, caberia perfeitamente no álbum Toda cura para todo o mal, o último trabalho dos mineiros Uma delícia!
04. Eu queria ser John Lennon — Columbia
Uma vez perguntado por que ele queria ser John Lennon, mas no final cantava “Linda McCartney, eu quero o seu amor”, Odair respondeu: “E por acaso você acha que eu iria preferir o da Yoko?”
Enfim, a letra pra lá de sensata foi apreciada com uma doçura no ponto pelos vocais da carioca Fernanda Marques.
05. Ela voltou diferente — Mombojó
Tristíssima, porém com sutileza, esta música de corno nos arranca lágrimas.
06. Eu, você e a praça — Zeca Baleiro
Super fiel. Será que o Zeca queria ser brega?
07. Deixe essa vergonha de lado — Mundo Livre S/A
Se Arnaldo Antunes tivesse sido convidado para o tributo, eis o que ele faria. Letra recitada sob uma base eletrônica de outro mundo. O mais estranho é que ficou muito bom!
08. Foi tudo culpa do amor — Suíte Super Luxo
O dueto masculino e feminino chega a sugerir, meio que sem querer, as discussões de Odair José com sua ex-esposa Diana. Ótimo trabalho da banda brasiliense.
09. Nunca mais — Shakemakers
Uma faixa que destoa um pouco das demais, mas não por ser fundamental. Se é que me entendem...
10. E ninguém liga pra mim — Leela
Letra "down", clima pesado e Bianca Jhordão. Boa combinação.
11. Cadê você? — Sufrágio
Os paulistas do Sufrágio não decepcionaram e este clássico ganhou um Q oitentista.
12. Esta noite você vai ter que ser minha — Picassos Falsos
Uma versão em que Humberto Effe caprichou na delicadeza da melodia.
13. A maçã e a serpente — Poléxia
Talvez faltou aos curitibanos um pouco mais de convicção, mas não comprometeram.
14. A noite mais linda do mundo (a felicidade) — Jumbo Elektro
Empolgante! Estes sim vestiram a camisa e sacaram a canção.
15. Uma vida só (pare de tomar a pílula) — Arthur de Faria e Seu Conjunto
Uma introdução a la João Gilberto e um encerramento ao melhor estilo Hey Jude. Tudo a ver, não? Se for analisar pela originalidade, ficou bom...
16. Que saudade de você — Terminal Guadalupe
Dá até para imaginar Odair José emo. Interessante.
17. Vou contar de um a três — Volver
Agora, a banda brasiliense mostra como seria o Oda tocando na Jovem Guarda.
18. Cotidiano nº 3 — Los Pirata
Muito bom humor e muito portunhol. Cosa lindia de diós!
3 comments:
Bela resenha, cara! O disco é realmente muito bom e deu um pouco de luz à obra tão desdenhada de Odair José.
Nada como um dia depois do outro. Ontem, cafona; hoje, clássico, com o aval da turma bem pensante da música brasileira.
De minha parte, não gostava antes e continuo não gostando agora. Fazer o quê? Birra de velho ranzinza.
Gostei da resenha, embora como o Jens (e talvez até por desconhecimento de mais canções de O. José) não goste do artista objeto do tributo. Na faixa "Eu, você e a praça", gravada por Zeca Baleiro (e este, eu adoro) você pergunta: "Será que o Zeca queria ser brega?". Respondo, acho que sim. Recentemente aqui em BH houve o "Bailão do Zeca", com direito a Márcio Greyk no palco... Acho que o Odair José chegou a fazer um show conjunto com o MV Bill no Rio. Pra ver como nenhum rótulo é mais definitivo dentro da música.
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