Friday, March 30, 2007

CLAQUE-TE!


Dossiê: Diretores (I)

Quentin Tarantino: o pai da violência e da exploitation contemporânea.
Por Roberto Queiroz

Outro dia desses, sentado em meu sofá velho, puído pelos anos, lendo uma Graphic Novel de Frank Miller, me fiz a seguinte pergunta: o que seria do mundo sem violência? E, principalmente – já que se trata de uma coluna sobre cinema – o que seria da sétima arte sem a violência? Essa é uma questão muito delicada que envolveria laudas e laudas de conhecimento.

No entanto, nos últimos anos um homem tem sido responsável por alterar o conceito que temos (e tivemos ao longo das décadas) a respeito da violência e suas múltiplas faces. Esse homem chama-se Quentin Tarantino, um simples gerente de vídeo-locadora que através de sua experiência como cinéfilo, aprendeu e muito a retratar a marginalidade e a maneira atroz como o ser humano pensa e age, transformando-se assim num exemplar vivo do gênero exploitation (onde barbárie e sexualidade andam de mãos a cada fotograma). Ao longo de sua carreira (curta, mas poderosa), nos apresentou os lados mais sórdidos da sociedade, muitas vezes escondidos em pequenos detalhes ou em roteiros simples, de fácil entendimento. Foi assim que começou em grande estilo nos trazendo um clima de angústia e apreensão onde um bando de desajustados, todos denominados por cores (Mr. Blue, Mr. White, etc), lutam entre si dentro de uma pequena garagem para repartir o fruto do roubo. Não há outro set senão aquele quadrilátero ermo, sufocante, devastador. É nele que os personagens se angustiarão e tramarão seus passos sórdidos.

Em Pulp Fiction: Tempo de Violência, Tarantino se divide entre três histórias que passeiam pela corrupção, a brutalidade e o desejo contido de expor o seu maquiavelismo (salvando, assim, a carreira de John Travolta que andava em baixa na época). Já em Jackie Brown, o jovem mestre do cult – pois é assim que gosto de me referir a ele – nos apresenta a sensual mulata Pam Grier como uma aeromoça que porta uma valise recheada de dólares que todos (mafiosos, policiais corruptos, informantes, traficantes) querem pôr as mãos. A mala funciona como a metonímia para a violência.
Eis então que Quentin, a fim de ousar mais em sua carreira, decide produzir o seu mais ambicioso projeto: Kill Bill. Uma verdadeira ode aos filmes de artes marciais, onde a loira fatal conhecida como the bride (a noiva), vai se vingando um por um, daquelas que tentaram matá-la no dia de seu casamento, fazendo dessa jornada um busca – em determinados momentos até espiritual – por redenção e paz. Kill é, na verdade, o sonho de um menino que se recusa a crescer. Um menino que via escondido dos pais os filmes de Bruce Lee e Sonny Chiba e desejava um dia poder realizar o seu filme de luta. E nesse ponto Kill Bill – podem acreditar! – é altamente eficaz. Atualmente, o diretor encontra-se a dias de estrear nos EUA sua mais nova produção ao lado de seu eterno parceiro Robert Rodriguez (para quem produziu A Balada do Pistoleiro e Um Drink para o Inferno e com quem co-dirigiu Sin City): Grind House, uma homenagem às antigas salas de cinema americanas especializadas em exibir filmes de baixo orçamento. E o diretor (aliás, diretores) promete de tudo: sangue jorrando, zumbis, psicopatas, falsos trailers (isso mesmo: trailers de filmes que não serão produzidos, apenas para ilustrar ainda mais o filme) numa combinação de dois médias-metragens que valem por uma megaprodução. Críticas à parte – pois muito se fala do excesso de brutalidade e de sangue nos seus filmes -, Tarantino veio para continuar o legado de diretores célebres como Sam Peckinpah, Sydney Pollack e Howard Hawks, que fizeram da violência uma expressão artística digna de respeito até entre os grandes criminosos da humanidade.

Muitos o comparam a Martin Scorcese (eu, particularmente, acho exagerado). No entanto, é inegável que a partir de fitas de vídeo mofadas (as antigas e quase extintas VHS) e muita paciência e vontade de aprender por conta própria, esse grande mestre do cult contemporâneo criou um espetáculo inigualável nos dias de hoje para aqueles, é claro, que possuem estômago forte e obsessão por adrenalina.

Sugestões de pauta, perguntas, dúvidas, acesse:
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1 comment:

Anonymous said...

Clap! Clap! Clap!
Tarantino é ótimo. E o artigo está muito bom.

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