Poesia di Bernardi
I
Carnadura
Triste, alegre coração humano.
Danado de lastro e lava.
Sujo, todo de delicadezas prontas.
Feito de cardos. Carneiro. Cárneo.
Pronto para o abate.
Feio de dálias leves e lúcidas,
seria o máximo dizer-lhe: sangro.
Porque Deus teceu a este ponto,
um coração feito de carne.
Nesse mossoró interno
compaixão e ternura,
lastro e lástima.
O dito cujo carnoso.
Feio de tudo,
seria o máximo dizer-lhe.
Porque teço a este ponto.
Poesia.
Seria isto soprar-lhe na ferida viva?
A palavra, das mais delicadas, a delicada.
De Deus, minhas carniças.
II
Asa pedra
Cheia de muito cuidado,
letra, palavra, asa pedra,
do jeito que a gente acha
e ela nunca é.
Como corações.
Vá se foder, vá conhecer
o vermelho por dentro.
Isso que pesa nasce pronto,
verdadeiramente neutro
e delicado.
Mas vai escrever,
e a grafia desce torta, ainda que azul.
A gente colhe o inusitado na vida,
o barulho da voz de cada pessoa única,
suas feições, ângulos e gestos, ou ainda,
mais além, nosso próprio timbre estranho,
peculiar, sentimental.
Cheia de muito cuidado,
pluma, trem, pala palavra,
a tinta decora seu papel
onde a tua, já não sei mais,
o que era alma flora.
André Di Bernardi
Nessa desordem, poeta, enólogo, mágico e jornalista, já publicou três livros, “A hora extrema”, “água cor” e “longes pertos e algumas árvores
andre.bernardi@ig.com.br
2 comments:
Mágico! O que André faz com as letras é muito mais mágico do que o que faz com o palitinho de fósforo... Genial! Bom vê-lo no Reação. Bom demais! Beijão!
O André di bernardi é impar na técnica de fazer de palavras leves, pesadas e das palavras robustas uma plunagem. Muito bom.
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