Tuesday, September 26, 2006

Crónicas da Vida de Casado


Por Luis Miguel Luz


O tema de hoje é o prolongamento de qualquer homem na “sua” casa, o imprescindível telecomando da televisão. Quantas vezes nós os homens, somos alvo de comentários menos dignos, por quem se comprometeu a nos respeitar perante uma suposta entidade superior, devido ao uso “excessivo” do telecomando. Esses tipos de comentários pouco respeitadores para a figura masculina, devem-se a um profundo desconhecimento, por parte da mulher, do importantíssimo papel que o telecomando tem para o homem moderno. Eis pois, o objectivo da crónica desta quinzena, elucidar todas as mulheres que incomodam, aborrecem, chateiam, embirram, e porque não dizer: maltratam os homens, quando estes estão sossegados, pacificamente acomodados no seu pequeno canto, sem chatear ninguém, com o seu amado telecomando na mão (posso-vos garantir que esta crónica será escrita com um pequeno e teimoso nó na garganta, por este ser um tema ao qual sou bastante sensível). Vamos então a isso:

Nos relacionamentos modernos, como escrevi na crónica anterior, houve uma reviravolta no conceito de chefe de família. O chefe de família deixou de ser o tradicional (o homem) e passou a ser aquele que mais dinheiro traz para casa (excepto se essa pessoa for o elemento masculino do casal, nesse caso é a mulher que assume o lugar de chefe de família). Ora bem, está provado cientificamente que o homem precisa de sentir que tem algum poder, pois caso contrário pode-se dedicar a perigosas actividades extra conjugais, tais como meter-se nos órgãos directivos de um clube de futebol, ou entrar para a política (em Portugal ao fazer uma, a outra vem por acréscimo).

É então esse o importante papel social que o telecomando da televisão representa na sociedade moderna: fazer com que o homem sinta que tem algo que realmente comanda na “sua” casa.

Sem o telecomando o homem não passa de um bicho estranho à casa, um bicho intrometido e indesejado, sem qualquer tipo de poder. Com o telecomando sentimos que existe algo que é nosso, que nos pertence, que nos obedece, que está ali para realizar todos os nossos desejos. Estamos tão dependentes do telecomando da televisão que, quando o mesmo começa a falhar, nem conseguimos acreditar. Simplesmente entramos em pânico. Como é que é possível que o nosso fiel telecomando se recuse a nos obedecer? Sentimos o mundo a cair à nossa volta. O desespero toma conta de nós: Fomos Traídos. Como é que ele se atreve? Perguntamos, cheios de raiva. Quantos telecomandos não foram já enviados ao chão, á parede, lançados pela janela fora, só porque tiveram o atrevimento de nos desobedecer? Há quem, como eu, lhe tente falar ao coração, mostrando-lhe a importância que ele tem na nossa vida, fazendo-lhe promessas desesperadas: “Vá lá meu amor. Não me faças isso. Prometo que passarei e cuidar melhor de ti. Compro-te algo que impeça a formação de mais, dessas horríveis cicatrizes, que preenchem esse teu corpo.” Pequena nota: Certifiquem-se que a vossa mulher não vos está a ouvir, pois caso contrário podem ser mal interpretados, tal como já me aconteceu a mim: “Ó grande estúpido, se voltas a referir-te assim à minha celulite, passas a dormir definitivamente no sofá. E levanta imediatamente esse cu gordo do sofá e vem pôr a mesa. E esta é a última vez que o repito.”

Quando finalmente nos apercebemos que afinal é só falta de pilhas, um alivio momentâneo toma conta de nós, momentâneo porque depois lembramo-nos que não fazemos ideia do local onde as pilhas se encontram na “nossa” casa (nem as pilhas nem qualquer outro tipo de objecto). Aí outro tipo de desespero toma conta de nós, entramos na fase de ressaca, passamos a sentir os nosso membros a tremer, a boca seca, a ter pensamentos incoerentes. Só uma coisa nos interessa: encontrar as pilhas rapidamente e dar vida ao nosso telecomando. No meio de tudo isto temos que ouvir a insensível da nossa mulher aos gritos: “O que é que tu estás a fazer? Não desarrumes as minhas gavetas? O que é que tu estás à procura? Porque é que estás com os olhos vermelhos?” Quando, finalmente, se apercebem que estamos na fase de carência, lá nos resolvem ajudar (bom, é mais para que deixemos de desarrumar as suas gavetas). “Toma lá isto, viciado.” dizem-nos elas, mas nós nem ligamos. Mal sentimos as pilhas nas mãos, tentamos o mais rapidamente que os tremores nos deixam, dar vida ao nosso telecomando. Quando, finalmente, o conseguimos, voltamos ao nosso sofá e o mundo volta a estar sob o nosso controlo. Tudo volta ao normal, finalmente.
As nossas mulheres tem que entender que o telecomando da televisão é, para o homem moderno, o equivalente às armas de caça dos nossos antepassados. Com o telecomando temos o poder de vida e morte, eliminamos sem piedade o que não nos interessa, calamos temporariamente, ou de vez uma determinada personagem, viajamos pelo espaço e pelo tempo, temos literalmente o total controlo do mundo. Mas não só do mundo televisivo, o telecomando da TV tem funções que só depois de casado conheci, funções poderosas. Quantas vezes estamos no sossego do nosso sofá, a ver um dos nossos programas preferidos, e nos apercebemos de um irritante ruído de fundo, resultante de um tagarelar constante das nossas mulheres com as suas conversas de serão. Experimentem apontar o telecomando para a vossa cara metade, e premir o botão que tira o som. FUNCIONA. Mas atenção, para que realmente funcione é necessário que elas vos vejam a fazer isso, ou seja, por razões que ainda não percebi, só funciona se apontarmos directamente para os seus olhos. Se apontarem para a nuca, nada.

Existe, ainda outro grave defeito, que espero que seja rapidamente resolvido pela mais moderna tecnologia: há uma relação qualquer entre o botão do som e a vontade pelo sexo. Quando tiramos o som à nossa mulher, infelizmente tiramos também a sua vontade para ter sexo connosco, pelo que o meu conselho para a quinzena, é que usem este botão com moderação.



Luis Miguel Luz, 38 anos, casado e pai de uma filha com 5 anos. Um gajo porreiro, bonito (de acordo com os actuais padrões de beleza patrocinados pela Fast-Food) que gosta de ouvir, tolerante e que, acima de tudo, nunca se cansa de realizar a sua parte das tarefas domésticas.....Pois...

5 comments:

Anonymous said...

se me quiser mandar a morada, envio-lhe uma caixa de telecomandos (todos com pilhas)!

bjecas said...

Ó Casado, confessa lá que o telecomando de vez em quando já não te pertence: "Paizinho, agora sou eu que estou ao comando ... vai lá mas é ajudar a mãe a descascar as batatas!"

É lixado!

Olha, cá em casa são dois, o que é muito pior.

Um abraço

Andorinha said...

Luís, como é que fazes quando a guerra é entre ti e a tua garota, que supostamente não tem voto na matéria (ó miúda, cresce e aparece!) e o que vinga é o canal Panda?
De que te serve o comando, ah? ;)

Álex said...

Eu tenho um filho de 7 anos que vê TV com o telecomando entre ambas as mãos. Não o larga! Isto vem nos "genes da pila", no cromossoma Y? o pai tem mais o hábito de se sentar encima do comando e nunca saber por onde para este...

Anonymous said...

Ah então é por isso que quando o comando falha, as pessoas têm a mania de carregar com mais força nos botões, e apontar o comando na direcção da televisão, levantando ligeiramente o rabo do local onde estão sentados ...

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