Thursday, September 14, 2006

Silvio Vasconcelos

Eleonor

O que seduzia em Eleonor não era a sua voz aveludada ou seu cruzar de pernas, que invariavelmente era em câmera lenta, quadro a quadro. Era algo mágico, um élan, um mistério.

Quando ela sorria, trazia ao ambiente a expectativa de sua graça. Um lampejo de seus dentes parava a cena e ficavam todos na ansiedade do que vem depois, um artilheiro frente ao gol pronto para marcar.

Eleonor era gentil, mas trazia em si a aura dos pedestais. A todos distribuía atenção e de todos merecia o desejo de servi-la.

Não, Eleonor não era aquele mulherão de revista. Era a proporção certa entre o real e o intocável. Uma delicadeza equilibrada sobre pernas bem torneadas. Seu quadril era o arcabouço de boas carnes, mas não ofuscava os contornos do conjunto. Seus seios, rijos e definidos mereciam seus decotes. Talvez fosse a magia de seus cabelos, levemente ondulados, com balanço suave como se tivesse recém saído do cabeleireiro.

Tinha olhos de um mel com chocolate, doces, hipnóticos e amendoados. Quando naturalmente piscavam eram cortinas que baixavam para novamente trazê-los ao palco e receber bis. Sua pele bronzeada em qualquer estação era de um veludo macio, um pêssego maduro a espera da primeira mordida.

Porém, de todos os seus atributos, nenhum competia com a sensibilidade e a energia que emanava em qualquer conversa, quando a sinergia que lhe transbordava delatava sua inteligência. Seu carisma atraía ouvidos, olhos e o silêncio que precede as vozes de quem nasceu para ser seguido.

Assim era Eleonor, cheia de luz, cheia de suspense. As mulheres da faculdade lhe prestavam total apreço e, em alguns casos, olhares de encantamento. Nunca foi de ser escolhida e, por isso, fazia suas opções.

Parava o trânsito literalmente. Na rua, nos corredores, homens quase ensandecidos a viam flutuar entre todas. Mulheres não se sentiam ameaçadas e procuravam estar sempre por perto para aparar os remanescentes.

Anos atrás, era menina e com outras brincava. De tanto gostar de Jade, por ela se encantou. Não sabia muito bem o que era e no que daria, mas sonhou noites inteiras tendo Jade em abraços até acordar-se em sobressalto ao beijá-la. Jade não se confirmou, como outras tantas que passaram, mas nem por isso se abalou. Entendeu perfeitamente quanto especial era e porque isso a só ela interessava.

Enquanto os homens, seus olhos perdiam-se nas suas formas e seus ouvidos embebiam-se em sua cândida e suave respiração, Eleonor vagava imune a tudo. Sabia dos suspiros e das fantasias que despertava, mas o que ninguém sabia era o que dentro de Eleonor a fazia vibrar. O fato de ser lésbica, não vinha ao caso e por isso não revelava.













Sílvio Vasconcellos, 44 anos, vive em Novo Hamburgo RS, Brasil e é administrador de empresas. Desde 2005 mantém dois blogs na Internet: Uni-verso In-verso e Contos & Encontros onde exprime sensações poéticas e textos que exploram os limites do ser humano, experimentando sentimentos em primeira pessoa ou descrevendo como um espião o desenrolar de seus personagens.

1 comment:

Anonymous said...

Olá, Sílvio:

Que bom tê-lo encontrado em texto tão suave e lírico sobre um tema que normalmente é abordado com cargas de ironia e preconceito.

Vou acompanhar seu trabalho com especial curiosidade, pois além de ser amiga de alguns aqui do Reação, também sou praticamente sua vizinha, pois moro em São Leopoldo.

Abraço e sucesso!

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