Thursday, May 17, 2007

Coluna do Jens


Ananias (ou o Casamento de Marconi Leal) - Parte 1
Para ver a fonte original da imagem, clique aqui, suportando a musiquinha extremamente irritante.

Antes da mais nada quero deixar claro que a admiração que sinto por Marconi Leal, o genial e nefando escriba, é genuína. Gostaria de ter a sua inteligência, a sagacidade de espírito e a escrita fluente. Como o Criador não me aquinhoou com estas qualidades, resta-me a inv..., ops, a admiração verdadeira. Foi este nobre sentimento que me levou a pesquisar com denodo a vida pregressa do Grande Marconi, com vistas a elaboração de uma futura biografia não autorizada. Nas minhas pesquisas, deparei-me com uma situação insólita, que marcou o casamento do cronista genial, e que, sem mais delongas, divido com vocês, ilustres leitores.
***
Talvez muitos não saibam, mas a iconoclastia de Marconi Leal é apenas virtual. Ou seja, na vida real nosso personagem é um burguês conservador, que faz questão se seguir as tradições vigentes no seu meio. Assim quando decidiu que era hora de deixar para trás a vida de luxúria e devassidão e sossegar ao lado de uma boa mulher, Marconi Leal, optou pelo conservadorismo extremo: escolheu uma mulher para casar (entre inúmeros pretendentes de ambos os sexos) e fez questão que a cerimônia seguisse os ritos da Igreja Católica. Como é um homem de posses (embora a origem da sua fortuna seja nebulosa), não poupou recursos para a decoração da igreja.
No dia do casório, lá estava Marconi Leal faceiro, trajando um Armani especialmente confeccionado para a ocasião, diante do padre, este igualmente feliz pela vultosa soma destinada por Dom Marconi (como nosso mestre é conhecido entre os serviçais) para as obras sociais da Igreja. A generosidade foi tanta que, calculava o padre, seria possível trocar de carro, fazer umas reformas na parte residencial da igreja e ainda sobraria uma verbinha para ajudar os paroquianos mais necessitados.
Tudo corria bem, com a pompa e circunstância habituais, quando o pároco fez a pergunta a que ninguém, até então havia respondido:
- Se alguém sabe de algo que impeça este casamento que fale agora ou se cale para sempre.
Preparava-se para seguir adiante quando uma vozinha fez-se ouvir:
- Eu.
Surpreso, o padre ajeitou os óculos e viu uma mãozinha erguida no meio da multidão. Considerando o investimento feito por Dom Marconi, o ministro de Deus resolveu fazer ouvidos de mercador. Não deu certo.
- EU!, repetiu a voz, agora enfática.
Pânico. Óhs e Ahs em profusão. A mãe da noiva começou a adernar, sendo socorrida por três dos padrinhos, enquanto o marido, gaúcho e bagual dos bons, pedia ao filho mais novo:
- Me traz o relho Olavinho, me traz o relho que tô sentindo que vai tê entrevero.
As madrinhas com seus vestidos repolhudos e farfalhantes cor de pêssego formaram uma barreira protetora em torno da noiva aos prantos.
A primeira reação do nosso escriba genial e nefando foi pedir proteção aos jagunços que recrutou nos grotões de Pernambuco especialmente para cuidar da sua segurança pessoal:
- Protejam-me homens, protejam-me!
Dando-se conta do ridículo da situação, se recompôs e passou a gritar, com a voz tonitruante de coronel do sertão.
- Que furdunço é esse? Quem ousa apatifar o meu casório? Tragam o sacripanta à minha presença.
O sacripanta era um sujeito miúdo, cabeça grande, vestindo num terno surrado que um dia deveria ter sido branco. Aproveitando a confusão, buscou proteção junto ao padre. Alguns padrinhos mais exaltados exigiam:
- Sai da frente, meritíssimo (queriam dizer reverendo). Sai da frente que este infeliz não escapa da peixeira.
O padre, atônito, recuperou a lucidez e a autoridade.
- Silêncio, ordenou. Isto aqui á a casa do Senhor, tenham respeito, comportem-se!
A manada silenciou e o sacerdote continuou.
- Fiquem aqui, em ordem, que eu vou conversar com este cidadão em particular e esclarecer os fatos. Retirou-se para a sacristia na companhia do sacripanta.
Nervoso, acendeu um cigarro.
- Senta! Senta, porra!
O outro obedeceu, o olhar esbugalhado de susto.
- O senhor hein?, que bela confusão me aprontou. Como é o seu nome.
- Ananias.
Muito bem, seu Ananias. Qual é a sua história?
- E o seguinte, seu padre...

(Conclui na próxima quinzena. Se não enfrentarmos problemas com a Justiça).

***
(Antes que algum engraçadinho o faça, comunico que Odaléia, minha doce vizinha que gentilmente faz a revisão dos meus textos, informou-me que o escritor Carlos Heitor Cony já havia escrito algo semelhante. Como o meu relato é a expressão da verdade e não fruto da imaginação, entrei em contato com o ilustre jornalista para saber qual a fonte de sua inspiração. Relatou-me que a história completa lhe surgiu anos atrás em sonho, inclusive com parágrafos e travessões. “Foi como uma mensagem vinda do além”, confidenciou-me Cony, afirmando que o fato até hoje o intriga. O mais impressionante é que Cony narrou os fatos muito antes de Marconi Leal nascer. Como disse o bardo inglês: há muitos mais mistérios envolvendo a figura mítica de Marconi Leal do que possa imaginar a nossa vã filosofia).

14 comments:

Anonymous said...

Adoramos esses caras. O Jens mais, o Marconi Leal menos

Anonymous said...

O seu Jens é porrada. Ferro na boneca (não leva a mal seu Marconi, mas é ele quem paga a conta)

Anonymous said...

Já me dou por feliz: consegui acessar a página de comentários, aqui, pela primeira vez!!! Mas sem tomar partidos: adoro vocês dois.. (JENS??? Há como adiantar o final da história por e-mail??)

Anonymous said...

e o Marconi não vai se defender? ou a história é , de fato, verídica???

Marconi Leal said...

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que a senhora minha sogra ficou muito feliz com a comparaçao que Vossa Insignificância fez da pessoa dela com um navio. Em razão do quê, já afiou a ponta do bigode, cofiou a faca e, morando na aprazível cidade de Porto Alegre e devidamente munida do vosso endereço, prepara-se para ir a sua casa, onde pretende ancorar seu braço na vossa face. Em segundo lugar, deixo claro que as insinuações de pederastia passiva, quando relacionadas a um pernambucano, como é de conhecimento geral, provam apenas a ignorância do falante, pois é sabido que todos os frangíveis e desempapados em Pernambuco procedem do bairro de Vila Nova, em Porto Alegre, de onde são anualmente importados. Em terceiro lugar, em termos de Igreja, como todos sabem, sou abstêmio. Em quarto lugar, o senhor, como transcritor da prosódia recifense é um ótimo novelista do SBT. E em quinto lugar, não digo nada, pois só sei contar até quatro. Ah, e me aguarde, pois vingança é como papa: um padre que se come cru.

GUGA ALAYON said...

Porrada! Porrada! Porrada!

sueli halfen ( POA) said...

Casório é sempre BÃO !
Inda mais esse que promete.
Vou aguardar ansiosa,prá ver se casa ou não casa!

Anonymous said...

Nós temos a oportunidade de presenciar o mais devastador duelo de escribas nos meios de comunicação (eletrônica e impressa), desde "Caio Túlio Costa X Paulo Francis". Quem viver verá...

Claudinha said...

De novo o Marconi Leal, Jens? Mas que barbaridade!
:-)

Prof Toni said...

Nossa! Isso tá me cheirando a duelo de peixeira e facão!

Jean Scharlau said...

Mas a internet, além de ser melhor que futebol,também é uma caixinha de surpresas!

Anonymous said...

A inveja ė a Senhora de todas as falácias...O senhor Marcondes é portador de inúmeros atributos que instigam esta feia Senhora...Sendo assim, tomo sua defesa e dou-lhe credibilidade incondicionalmente...(até porque foi-me creditado um link em sua página..isc..isc..)(em off...mas estamos abertos a negociações...)

Anonymous said...

isso ainda vai acabar com vocês dançando uma milonga ou, sei lá, trocando umas umbigadas.
abraços

KahSilva said...

Hahaha!!!Muito bom.Agora fico a espera da continuação,não posso perde-la.O que terá esse infeliz a dizer sobre o amigo Marconi?Bom restinho de semana!!!

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