Sunday, November 26, 2006

Toque do Toque, Gerdulli e a Musa Musical






Eis que os Beselhos nos brindam com Ovreca

Rodrigo Gerdulli entrevista Beselhos

(Confiram os Beselhos no Orkut, clicando aqui, apenas para quem tem, claro)


Genuinamente gaúchos, os Beselhos acabam de lançar seu primeiro CD, Ovreca. Com bom humor e composições criativas e originais, o trio composto por Diego Grando (guitarra e voz) Daniel Rech (baixo e voz) e Diego Altieri (bateria e voz) aposta na tradição das bandas do Sul do país para ganhar, merecidamente, espaço no cenário nacional.


(FOTO DA CAPA DO CD)

Quem são os Beselhos?

Diego Grando – Difícil, né? (pensando) Tem que dizer algo além do nome?

Daniel Rech - Diego Grando Diego Altieri e Daniel Rech


Há quanto tempo a banda está na estrada?

Diego Grando – Começamos no ano 2000, quando gravamos uma fita-demo chamada ‘Turnê na Terra’. Fizemos nosso primeiro show num 1º de setembro. De lá pra cá, gravamos outras duas demos (‘Falando Sozinho’ e ‘Alguma Coisa’) e fizemos alguns shows. Não sei muito bem se isso é estar na estrada, mas... acho que responde à pergunta.

O que diabos é "Ovreca"?

Diego Grando – Acho que é um amadurecimento sem caretice. É, é isso. É a nossa medida certa entre a vontade de fazer música do jeito que quiser (misturar, copiar, inverter, subverter, mudar tudo) e de fazer música para os outros (será que isso é ser pop?). Enfim, é o que a gente sabe fazer, exatamente do jeito que a gente quer fazer.

Diego Altieri – Tudo se torna mais simples se olharmos pelo espelho...

Como foi e quanto tempo levou o processo de gravação?

Diego Grando – Bom, já tínhamos a idéia de gravar o disco há um bom tempo, talvez desde 2004. Mas, de fato, decidimos tudo isso em 2005. Fizemos alguns shows até agosto e depois paramos pra fazer uma pré-produção. O disco nasceu aí, na real: começamos a trabalhar mais as músicas; algumas canções haviam recém sido compostas e ainda não estavam bem prontas. Determinamos mais ou menos um prazo dessa pré-produção até o final do ano. Foi nesse ponto, também, que amadurecemos a idéia de onde e com quem gravar, e começou a ficar cada vez mais lógico pra nós que só faria sentido gravarmos com o pessoal da Procura-se (Quem Fez Isso?): entendíamos que no momento de gravar precisaríamos compartilhar algumas coisas (gostos, influências, intenções), precisaríamos conviver com alguém que fosse igual e diferente de nós, diferentemente da pré-produção, quando éramos só nós três (pensando, mexendo, ensaiando etc.).
Começamos as gravações no início do ano (ainda na primeira semana de janeiro) sabendo que não queríamos ter pressa, e sim qualidade, concepção, vísceras. Alguém continua, por favor?

Daniel Rech – Procuramos alguém diferente, mas nem tanto, alguém que tivesse idéias que pudessem acrescentar algo à música e não simplesmente deixar as músicas como “músicas”. A gravação foi de janeiro até outubro, com uma parada de um pouco mais de um mês no meio das gravações por causa de problemas de ordem técnica na parte tecnológica do processo. E sem a arte dos computadores, ficou impossível a continuação do disco. Porém, depois de resolvidos os problemas, terminamos a gravação, mixamos, masterizamos e lançamos Ovreca em um show memorável totalmente organizado por nós, 100% independente (como tudo e como sempre) no Terraço da Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, junto com a banda Apanhador Só, a qual escolhemos especialmente para participar desse momento importante pela impressionante forma muito peculiar de fazer música que eles têm.

O que mudou desde as três demos anteriores?

Diego Grando – Difícil dizer. Acho que não mudou nada, o que aconteceu é que nós aprendemos a executar exatamente aquilo que queremos. E isso nos dá, me parece, mais liberdade pra criar, pra torcer, pra entortar um pouco mais as coisas.

Daniel Rech - Apesar de parecer, não há nenhuma mudança na concepção e na forma de ver as músicas. O que há na verdade é um amadurecimento e entrosamento que foi adquirido ao longo dos anos. Mas, a principal diferença é a produção do disco, que foi feita por pessoas que estiveram todo esse tempo do lado de fora, mas que têm idéias de músicas parecidas com as nossas. Isso nos livra de certos vícios que se adquirem estando tanto tempo junto e fazendo as coisas da mesma forma, um baixo, uma guitarra, uma bateria e três vozes.

Diego Altieri – Na verdade o grande diferencial são as três vozes. Considero isso o mais importante nesse novo disco. Conseguimos deixar as músicas muito mais ricas trabalhando os vocais. Inclusive, eu e o Diego estamos cantando num coral aqui em Porto Alegre. Fazemos isso com o objetivo de melhorar ainda mais os vocais. Vou aproveitar para dar uma dica a quem estiver lendo esta entrevista: participe de um coral, é muito divertido e o cara nem precisa ter uma boa voz! (palmas)



Como está sendo feita a distribuição do CD?

Diego Grando – Milimetricamente manual, própria, independente [e todo e qualquer adjetivo nesse sentido]. (risos)

Daniel Rech - Tudo é independente (por pura falta de opção) e a distribuição não poderia ser diferente. A gente fez o envelope do CD já pensando nisso: ele é fino, como um vinil, o que facilita o envio do material pelos correios.

Diego Altieri – Todos os cds passam por minhas mãos. Faço a união “cd + capa + papelzinho + lacre = Ovreca”.


De onde vêm as influências da banda? São apenas musicais?

Diego Altieri – Para tocar me influencio um pouco nas baterias do Bad Religion. Acho isso meio estranho, porque nós não tocamos hardcore, nós nunca tocamos uma música do Bad Religion e nossas músicas não parecem em nada com as do Bad Religion, mas eu curto uma levada mais rápida na batera. Uma vez, em um show, começamos a tocar uma música, e eu comecei ela tão rápido que o Diego e o Daniel não conseguiram acompanhar. Sabe como é, nos shows o cara se empolga...

Diego Grando – A mim sempre interessou muito o lance com poesia, com literatura em geral... E sempre me interessa entender como algumas pessoas que admiro lidam com isso. O Humberto (Gessinger, do Engenheiros do Hawaii), por exemplo... O Arnaldo Antunes também... aquela preocupação com a frase enquanto materialidade concreta... som, forma, sentido... bem típico da poesia visual... Acho que tem alguma coisa de desenho animado também, mas não sei muito bem o quê... nunca tinha pensado nisso.

Daniel Rech - Lógico que toda banda acha seu trabalho único, acredito que, não fosse por isso, não haveria razão nenhuma da banda existir, pois não acrescentaria nada. Porém, obviamente todos têm influências no seu trabalho, algumas diretas e flagrantes, outras nem tanto. Mas o que costumam citar bastante, a Senhor F citou, por exemplo, é que temos influências de Graforréia Xilarmônica, o que provavelmente seja verdade, já que gostamos muito da banda. Há várias outras bandas que foram citadas, como Los Hermanos, Wander Wildner, Cascavelletes, mas prefiro deixar essa parte para quem ouve de fora.

Como é o processo de composição?

Diego Grando – Muito variado, eu acho. Mas reparo que há vezes que um de nós já traz a música meio pronta, com todas as idéias na cabeça... acho que Opinião é um caso assim.

Diego Altieri - Geralmente...

Daniel Rech – É verdade. Inclusive, já tentamos fazer composições em conjunto e só Arapuca até hoje saiu dessa forma. É muito complicado entender como funciona esse processo, ele simplesmente acontece.


Os Beselhos fazem uma média de quantos shows por ano? Mais freqüentemente, onde?

Diego Altieri – Passo...

Diego Grando – Repasso.

Daniel Rech – São poucos, até porque não adianta ficar tocando toda hora em qualquer lugar, porque um mau show só queima a banda, então quando é feito um show, procuramos fazer tudo muito calculado, desde o equipamento, até o preço dos ingressos e conforto do público.

Parece que São Pedro não colabora nas datas de shows. Como é isso?

Daniel Rech – Choveu muito em quase todos nossos shows. Quando tocamos em São Paulo choveu muito, e eu e o Altieri fizemos uma visita aos amigos lá de Marília-SP, voltamos de ônibus e a chuva veio nos acompanhando de São Paulo até Porto Alegre, torrencialmente. Nem precisava de shows, era só nos encontrarmos que o tempo fechava.

Diego Grando – Confesso que essa constatação parece não se confirmar. Pelo menos é a tendência que os últimos shows apontaram. Mas nossa predisposição chuvosa já causou estragos. Uma vez, íamos participar de um projeto da Prefeitura de Porto Alegre, tocando no Parque Marinha [a céu aberto] com várias outras bandas. Devia ser num domingo à tarde. O fato é que, no sábado à noite, choveu tanto, mas tanto, que o vento arrancou todas as lonas que protegiam os equipamentos, destruindo todo o evento. O show teve de ser adiado para a outra semana, em outro local.

Todos sabemos que qualquer um que suba ao palco fica mais bonito. Há alguma curiosidade envolvendo tietes?

Diego Grando – Não que eu saiba. Na verdade, acho que nossa maior tiete é o Moreirinha. (risos)

Daniel Rech – (mais risos) O Moreirinha é um cara lá de São Marcos-RS que tem a cara do Jim Morrison e que por algum motivo é completamente fanático pela banda. Sempre que vamos tocar lá, o cara tá nos esperando no Bar, aí sempre deixamos ele subir no palco e cantar com a gente e tal, é bastante divertido.

Diego Altieri – Sou baterista. (gargalhadas) Eu fico atrás do resto da banda e as gurias nunca me notam, ou notam e eu não percebo porque sou muito moscão (risos).

Nem todos os donos de casas de shows são honestos. Já tiveram algum problema com eles?

Daniel Rech - Em um show em Caxias do Sul-RS não tinha quase ninguém no bar, os poucos que tinham foram saindo, já que o equipamento de voz do bar e a bateria eram muito ruins e o som estava inaudível. Aí o dono do Bar simplesmente desligou a chave de luz e disse: - Faltou luz na cidade inteira! Olhamos pra fora e toda a cidade estava perfeitamente iluminada. (risos) Logo depois as luzes se acenderam e havia sumido nosso afinador e uns cabos.

Quando não estão tocando, o que fazem?

Diego Altieri – No momento estou terminando o mestrado acadêmico. Também canto no coral do Instituto de Artes da UFRGS e eventualmente faço uns shows em uma banda cover (tocamos Creedence, Pink Floyd, Beatles e outras coisas do gênero).

Daniel Rech - Sou Engenheiro Civil, trabalho, ouço música e assisto muito futebol na TV, nos estádios e até treinos no Beira-Rio.

Diego Grando – Eu sou professor. Dou aula de Português e Literatura em uns cursinhos pré-vestibular. Também dou aula de Francês na UFRGS. E canto no coral junto com o Diego.

O que cada um mais tem ouvido ultimamente?

Diego Grando – Ultimamente... Arnaldo Antunes, Weezer... Gog, Moreira da Silva... Apanhador Só...

Diego Altieri – Estou ouvindo direto Weezer, Mr. Bungle, Fantômas, Pato Fu (o último disco), NOFX (depois que fui no show diminuiu um pouco a dose), Pink Floyd, Faith No More. Tenho muitos discos e procuro sempre ouvir todos. Às vezes tenho até dificuldade em escolher o que ouvir.

Daniel Rech - Ouço, além dos clássicos (Pink Floyd,. Beatles, Graforréia Xilarmônica, Engenheiros do Hawaii, Mundo Livre S/A, Júpiter Maçã, Replicantes, Pato Fu, Los Hermanos, Cascavelletes, o primeiro dos Raimundos e mais um monte de coisas), ultimamente tenho ouvido bastante Apanhador Só, Volver e Procura-se (Quem Fez Isso).

Qual a visão de vocês quanto à cena musical gaúcha?

Daniel Rech - Notei quando saí daqui que as pessoas de fora do RS pensam que aqui tudo é uma maravilha, existem muitas bandas, muito público e toda hora bandas independentes fazem shows pra muita gente em algum “lugar do caralho”.
Na verdade, Porto Alegre é uma província. Todos reclamam que não são reconhecidos no centro do país, mas xingam os Engenheiros do Hawaii por terem “se vendido”.
Aqui não há um grande festival periódico, não há um selo pra bandas novas/independentes e não há lugares bons que abrem espaço pra bandas não-grandes/médias.
Por quê? Por falta de público? Definitivamente, não! Por falta de bandas boas? Muito menos! O que acontece é que aqui há muita informação artística por todos os lados, muito espalhada, e o grande problema é juntar tudo isso, tudo deve ser garimpado, é muito confuso pra quem é do meio artístico e tudo completamente desconhecido para maioria das pessoas (que ainda acham que o sucesso significa ir tocar no Faustão). Geralmente as bandas reclamam que não há como tocar, querem vender seu material, mas não têm em casa absolutamente nenhum CD independente de outra banda que não a sua.
Resumindo, a música do Rio Grande do Sul é toda ela dominada por uma única gravadora pertencente ao grupo de mídia que detém 90% das rádios daqui, enfim...

Diego Altieri - Bah!

Diego Grando – Acho que às vezes ela é meio um elefante branco: há que se sustentar essa visão que as pessoas têm de fora a qualquer preço. E acho que isso acaba limitando um pouco, o que é uma pena... Parece que de repente passou a ser bom vestir [ser?] um rótulo... E aí a arte ganhou a importância de uma latinha refrigerante...


Por que ela se diferencia tanto da cena do resto do país?

Diego Grando – Acho que tem que perguntar isso pra quem é do resto do país (risos).

Daniel Rech – Discordo (mais risos). Talvez se diferencie pelo público, por uma certa arrogância que é peculiar à maioria das pessoas do Rio Grande do Sul quando se trata de venerar qualquer coisa que é feita aqui. Criou-se também uma cultura de irresponsabilidade musical, aquela frescura de “o verdadeiro Rock’n’Roll”, com as bandas dos anos 80. Esse mito foi alimentado por mais 20 anos.
Mas acredito que essencialmente a diferença positiva falada não existe, pelo menos não nas proporções imaginadas. Por exemplo, há festivais em Goiânia e Curitiba que aqui não há, há uma cena musical e cultural muito boa em cidades como Recife, por exemplo. Em São Paulo tudo acontece o tempo inteiro. Há pessoas que gostam de música de verdade em todos os lugares do Brasil e do mundo, a diferença é a autopropaganda ou a mídia.
Acho que a única real diferença é que, por algum motivo, aqui em Porto Alegre todo mundo ouve Weezer.

Diego Grando - Até parece que conhece todo o Brasil...



Ovreca pode ser adquirido no conforto do seu lar, basta entrar em contato com a banda pelo e-mail beselhos@terra.com.br ou pelo telefone (51) 9119-9925. O valor "simbólico" é de R$ 10,00 para quem está na capital gaúcha e de R$ 12,00, incluso frete, às demais localidades.
Uma prévia do disco pode ser conferida no http://www.tramavirtual.com.br/beselhos e no http://www.myspace.com/beselhos







4 comments:

Anonymous said...

Ouçam!!! Muito bom, vale a pena. Mesmo. Obrigado Beselhos!

Anonymous said...

Valeu pelo espaço, muito bacana.

Anonymous said...

Estes guris são umas figuras! : D

O Cd é Muito Bacana!!!


Boys,

Boa Sort na vida!

SUCESSO!

Bjs


Lu, Ludos Vocalis!

Anonymous said...

E além de tudo esses guris gerenciam o melhor time de futebol dos formandos de 2003 (Grando, tu também!).
Um abraço aos meus amigos e pra quem já leu a entrevista, o CD é "do carvalho"!

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