Wednesday, October 11, 2006

Reação Cultural – Fazendo a nossa parte.


- Falar da função social do arquiteto para jovens estudantes que vivem na periferia da cidade , sem qualquer oportunidade lógica ou imediata de acesso a informação de nível superior, é sempre um desafio. Os olhares vão se transformando a medida que conduzo a conversa para o planejamento urbano , mais especificamente para a criação e nascimento de um novo bairro, pois são eles que mais “percebem” o espaço e os primeiros a sentirem na pele os efeitos nocivos do mau planejamento.

-Um novo bairro, chamado inicialmente nos trâmites burocráticos de “Loteamento” , para existir, precisa ser submetido a uma série de exigências e aprovações técnicas ( não estou falando , claro, de assentamentos clandestinos , mas de empreendimentos tidos como sociais feitos pelo poder público ou pela iniciativa privada ou ainda por ambos ,em parceria, para gerar lucro ).

- Ao projetista caberá o equacionamento do espaço, o traçado das novas vias ,larguras mínimas de leitos carroçáveis e calçadas e sua integração ‘a malha viária existente, a destinação de 10% ( mínimo ) de área verde para o futuro lazer da comunidade, 3% de áreas institucionais para escolas , centro comunitários e postos de saúde .

- A somatória das citadas áreas que passarão ao domínio público municipal assim que aprovadas e registradas em cartório - vias, áreas verdes e institucionais - nunca poderá ser menor que 35% desde que a legislação de Uso e Ocupação do solo ( Lei Federal n.6766/ 79) assim determinou, salvo se o município criar outra Lei ,menos restritiva , que represente melhor as necessidades locais e não sem antes ouvir a comunidade ( princípio dos Planos Diretores – assunto para texto futuro ).

- Tudo funcionaria a contento, na prática, se a ganância e a perspectiva do lucro fácil dos empreendedores ( públicos ou privados, repito ) não os levasse a implantar ruas mais estreitas que a necessidade da região , economizar em rêdes de captação de águas de chuva ( por que será que muitas trechos das cidades ficam inundados? ) , a não executar dentro da técnica rêdes de água e esgoto , a destinar áreas para recreação nos lugares mais inviáveis quanto ao relêvo , impossíveis até para um campinho de futebol, a não pavimentar, destinar a área pra escola ou posto de saúde em locais não centralizados dentro do bairro, a economizar , economizar sempre, com a anuência dos aprovadores, diga-se - já que o produto destina-se a uma população que teóricamente se contenta com pouco? E não estamos falando de casas populares ainda...estamos tratando por ora de terrenos.

- Muitos questionam a validade de um grupo de profissionais liberais ( médicos, advogados, jornalistas, arquitetos, engenheiros ) promover esses encontros de orientação profissional com jovens carentes que dificilmente terão a oportunidade de cursar uma universidade .

-É uma teimosia quixotesca da nossa parte , mas que nos dá imenso prazer e sensação de que estamos fazendo a nossa parte , saindo da velha e confortável teoria e nos mobilizando, nos movimentando , conscientizando, informando - sem qualquer caráter político partidário .

- No mínimo há de se acreditar na trajetória única e intransferível que cada um traça para sua vida apesar da visível desesperança, acreditar que alguns deles conseguirão contar uma história diferente da que está aparentemente formatada para seus destinos.

Cristina Bondezan é arquiteta e urbanista. Nasceu e cresceu em São Paulo entre os italianos dos bairros do Cambucí e da Mooca. Exerceu cargos públicos na área de Planejamento Urbano, é docente do curso de "Design de Interiores "nas disciplinas : Projetos, Revestimentos , Gestão e Empreendedorismo. Seu escritório profissional situa-se na cidade de Marília, interior de SP . Um sonho : Ver o Brasil livre do parasitismo político . Um prazer : viver em amplitude e com olhos atentos...

8 comments:

Daniel J. Butzke said...

Mandou bem, menina!!
Beijos

Esther said...

Oi, Daniel... Obrigada pelo afago!BJ

Santa said...

Excelente texto! Lembrou uma experiência que vivenciei com um projeto de extensão universitária em um loteamento de 1.000 casas, município do interior de Pernambuco.
parabéns!

Anonymous said...

Lembrei de uma musica da Legião Urbana...
"Perfeição"
Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso Estado que não é nação
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras e sequestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia e toda a afetação
Todo roubo e toda a indiferença
Vamos celebrar epidemias:
É a festa da torcida campeã
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos o Hino Nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão
Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer da nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isso
Com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou esta canção
Venha, meu coração esta com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça:
Venha que o que vem é perfeição...

Adorei o Texto
Helôcliodes!

Anonymous said...

E eu adorei esse comentario, Helo, obrigado, saudades dessa musica!

Esther said...

Oi, Santa, querida! Ensinar é melhor que fazer , neste caso..O povo quer mais é "cortar e picar" a terra ..sem usar o coração ! Beijo !

Esther said...

Helo, Helô!!!rsrsrsr...até amanhã!!!!!Bj!

Esther said...

"Cria da casa", Roy , só podia dar nisso!!rsrsr...

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