Wednesday, August 08, 2007

Camila Canali Doval


O seguinte texto não contém nada de reação e muito menos de cultural. Ele é só um eco surdo, um grito esquálido destinado a cair no vazio. O seguinte texto são as lágrimas de quem não consegue mais chorar.

C...! P...! F... da p...!

Tragédia dá a maior ressaca. Parece que levei uma porra de uma paulada na cabeça há duas semanas e ainda dói quando mexo alguma parte do corpo. Foram uns dos quinze dias mais loucos da minha vida. Um ritmo alucinante de acontecimentos. Tonteei. E isso que eu só assisti pela televisão.

Dizem que tudo acontece no Brasil. E não tem como negar! Até o dia 17 de julho vivíamos a praga Renan Calheiros. Aquela coisa que todo mundo sabe, mas ainda parece novidade. Escândalo em Brasília. E quem ainda fica escandalizado? Eu fico. Fico mesmo. Tenho essa merda de ingenuidade dentro de mim: sempre acho que eles chegaram ao limite. Mas eles sempre podem um pouco mais.

Daí veio o Pan. Lindo. O Brasil se puxou para ajeitar toda aquela maravilha. Claro, é totalmente insano o Rio de Janeiro parar tudo para armar o circo, mas, por incrível que pareça, a violência “deu um tempinho” para que tudo corresse bem. Alguém ouviu falar em tiroteio, matança, morro? Até o Renan sumiu. Medalha de ouro para quem varreu essa sujeira toda. Ô servicinho bem feito. Hãn... Tapete? Onde? Qual? O pior é que tem gente ainda mais ingênua do que eu nesta porcaria de país.

Bem, finalmente, a tragédia. Uma puta de uma tragédia, diga-se de passagem. Os varredores não contavam com isso, né? O avião pechar no prédio. Puta que pariu, bem no meio do Pan, devem ter dito alguns. U-hu!, deve ter dito o Renan. Tem gente que nasceu mesmo com cu virado para a lua. Maldade estragar tudo. Ter que botar uma faixinha preta no meio do esfuziante verde e amarelo. Ter que chorar entre uma partida e outra. Ter que fazer um minuto de silêncio na hora da comemoração. Ter que louvar a força e desprezar a sem-vergonhice do brasileiro. Tudo ao mesmo tempo. Porque os nossos atletas são o que há de bom neste País: lutam e vencem apesar de todos os pesares. E não estou falando da Seleção Brasileira de Futebol Masculino. Com certeza não. Estou falando daqueles que só são lembrados de quatro em quatro anos, nas Olimpíadas e no Pan. Aqueles que não têm patrocínio, apoio, incentivo. Aqueles que treinam no clube da esquina. Aqueles que pedem esmolas para poder viajar. Aqueles que viajam sem avião especial, hotel especial, comida especial, mordomias surreais. Aqueles que ainda têm que ver o Galvão ficar surpreendidíssimo com o público do Maracanã em uma partida de futebol feminino. Ele disse: “parece até jogo da Seleção!”. Sério, ele disse isso. Você pode duvidar, mas ele disse. Foi até gravado. Eu juro. Pelo menos, nós louvamos a força dessa gente. Louvamos porque são brasileiros como nós. Suam como nós. Sacrificam-se como nós. Superam-se como nós. Louvamos porque nos espelhamos neles. Também queremos medalhas. Também queremos pódio. Também queremos ser super-heróis que não morrem em acidentes de avião e, sim, que evitam e salvam as pessoas das desgraças. Porque tem gente por aí com esse poder. Tem gente por aí que pode salvar o mundo. Só não quer.

E é por isso que, ao mesmo tempo, louvamos a força e desprezamos a sem-vergonhice do brasileiro. Simplesmente porque temos aqueles que mal podem fazer pouco e fazem tudo e temos aqueles que podem fazer tudo e, ao invés de pelo menos não fazer nada, ainda dão um jeito de foder com tudo.
Então, os atletas se matam treinando para, no dia de glória das suas vidas, ouvirem a praga do Galvão dizer que “parece até jogo da seleção”. Então, a gente se mata trabalhando e pagando impostos para, num dia qualquer de nossas vidas, a merda do nosso avião pechar com a porra de um prédio.

A minha cabeça dói sem parar. É Renan, é Pan, é TAM. Eu não posso com tudo isso. Eu não posso viver entre os extremos. Eu não posso dar conta de tantas emoções em um único e minúsculo coração. Eu preciso esquecer as regras de civilidade e gritar uns palavrões por aí. Preciso mesmo. Caralho! Porra! Filho da puta! (Não resolve nada, mas despressuriza, com o perdão do infame trocadilho). Preciso gritar e chorar. Preciso me cagar de medo de viver neste país. Eu não sou um super-herói. Eu sou uma decepção.

Eu estou naquela comunidade do Orkut que diz: sou brasileiro e desisti.

Para ler a coluna d'A Sacerdotisa e o Sexo Delicado, clique aqui.

1 comment:

Jens said...

Camila:
Tempos tristes e difíceis. Mas não desista. "Cutucou por baixo, o de cima cai; cutucou com jeito, não levanta mais".

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