Friday, September 29, 2006

Toque de Toque - Gerdulli e a Musa Musical




Garimpe

Rãsh! Este é o meu primeiro texto para o Reação Cultural e ainda estou um pouco perdido em relação ao que tratar inicialmente. Afinal, o primeiro passo é sempre o mais difícil.

Quando recebi o convite para me juntar à família e tratar do tema música, logo pensei “ual, como tenho coisas a dizer, vai ser moleza”. Nope. Portanto, apelarei para o mais simples, farei uma singela apresentação pessoal, porém tentando direcionar para meu maior objetivo neste espaço, a renovação.

Tenho 26 anos, dez dos quais no meio musical, seja nos palcos ou divulgando artistas. Quando garoto, meu sonho era tocar especificamente em um bar aqui da minha cidade, Marília. O Alquimia era o point, reduto dos roqueiros. E eu fazia o melhor estilo rock and roll: vestia roupas pretas, cabelo comprido, brincos nas orelhas, ideologias furadas e odiava tudo o que não tivesse uma guitarra anarquista.

Ensaiei bastante com a minha banda da época, a Siddartha, fizemos alguns shows interessantes e, enfim, em 1998 conseguimos uma data no Alquimia. Já me sentia realizado sem sequer ter posto meu lustroso coturno naquele palco. Porém, durante tal apresentação ocorreu algo que jamais me esquecerei. Notei que muitos dos presentes se vestiam identicamente a mim, e vice-versa, mas por quê? Identificação de estilo? Para quê? Queríamos nos diferenciar, mas éramos uns iguais aos outros. Lembrei-me de uma máxima: "toda unanimidade é burra".

Ocorreu outra reflexão: por que estou tocando as mesmas músicas que as outras bandas tocam? Reproduzíamos as mesmas músicas das mesmas bandas que vinham (e vêm) sendo exaustivamente tocadas há anos. Existe uma lei que exige isso? Ademais, ainda me senti envergonhado por não termos composições próprias.

Caro leitor, aquela tempestade dentro da minha cabeça refletiu na minha performance e foi um dos piores shows da minha vida, contudo o mais importante, visto que serviu como um divisor de águas. Daquele dia em diante passei a insistir com meus amigos de banda para que compuséssemos e, dentro das covers, que inovássemos. Deveríamos trazer novidades ao público, e não insistir na mesmice. Nossa função, além de divertir quem nos assistisse, era a de informar. Tínhamos o poder de fazer a diferença. A partir de então corri atrás de conhecer sempre mais, independentemente do estilo, e se,atualmente alguém disser que sou roqueiro eu nego — eu gosto é de música.

Com a divergência de idéias a Siddartha não durou muito, uma pena, mas iniciei novos projetos. Passei a tocar músicas próprias em festivais e nos mais variados palcos e, quando necessitávamos do prazer de tocar uma cover, que fosse algo inusitado e novo aos ouvidos alheios. Dessa forma, mesmo que a contragosto, o público local conheceu artistas que não têm seus trabalhos executados em rádios e raramente aparecem na TV, somente nos mais alternativos programas.

Conseqüentemente, o cachê diminuiu, mas era por uma causa nobre.

Como nem só de idéias vive o homem, a primeira recompensa ocorreu quando conheci uma galera que se vestia como eu tempos atrás. Disseram eu ter sido o “culpado” por abrir suas cabeça e fazê-los enxergar o que antes jamais sonharam ver. Descobriram que havia muita qualidade além do mainstream e, por isso, estavam estudando música para em breve montar uma banda tão diferente quanto a que eu fazia parte. O movimento contra a mesmice e a favor da mudança surtia efeito.

Compreenda que não se trata de uma questão de gosto pessoal; o que quero deixar claro é que para o nosso enriquecimento, seja cultural, intelectual, profissional, enfim, é necessário irmos além. Mesmo que no começo seja difícil, principalmente pela falta de companheiros que abracem a causa, não se acomode; pesquise e divulgue. Descubra o quão afortunados somos por termos artistas competentíssimos nos guetos, nos menores palcos, nas rádios e gravadoras independentes, nos festivais, no meio alternativo, etc.

Nosso bem mais precioso está escondido da grande mídia, esperando que você o descubra. Garimpe-o!

Rodrigo Gerdulli
(Escrito ao som de David Bowie e Camera Obscura)






Rodrigo Gerdulli é músico, tradutor e colunista esportivo. Também é uma daquelas pessoas que, antes de nascer, ainda no céu, Deus aponta e diz "deste aí eu vou rir".


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