Thursday, May 17, 2007

Index Quinzena 17 – 17 de Maio a 01 de Junho

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Index

1 – O Editorial da Quinzena traz o Evangelho do coração do Reação, acompanhem clicando aqui e faça-nos uma oração!

2 – Jiló ficou nervoso dessa vez, não brinco. Acompanhem sua estrapolia clicando aqui, nos Comentários da Quinzena.

3 – Aristóteles da Silva e a Filosofia do Direito falando sobre a entrevista do novo titular da Secretaria de Ação de Longo Prazo. Reflitam com o filósofo Da Silva, clicando aqui.

4 – Jens sempre terrível em sua coluna, novamente encarando Marconi Leal, seu casamento e o Ananias. Para enteder, somente clicando aqui.

5 – Divulgamos, como na quinzena passada, o que nos pedem divulgar. Vejam o que nos dizem a respeito da Dengue e do Instituto do Câncer, clicando aqui.

6 – A Charge do Venâncio não me cheira muito bem, sinta seu cheiro você também, clicando aqui.

7 – Mais Retalhos retalhados e uma mísera e importante Estatística Reativa. Calcule você, clicando aqui.

8 – Uma curta e charmosa Poesia di Bernardi, para matar as saudades. Dizem que o poeta às vezes se perde via web, mas nós sempre o encontramos. Encontre-os conosco, clicando aqui.

9 – A Professorinha Silvia não descansa, e nos envia mais uma coluna sobre sua perspectiva educacional lusitana e internacional. Veja que nem somos tão diferentes, clicando aqui.

10 – O FocoVertigo de Ana Luiza Schifflers mostra lágrimas e sorrisos. Clique aqui e os acompanhe.

11 – Silvio Vasconcelos nos envia sua intensa poesia. Leia, clicando aqui.

12 – A Sacerdotisa traz um dicionário para lá de interessante em sua coluna O Sexo Delicado. Goze de sua leitura, clicando aqui.

13 – Roberto Queiroz e sua coluna CLAQUE-TE decorrendo sobre o cinema não-linear de nossos tempos. Cliquem aqui e continuem acompanhando.

14 – Uma matéria com Barry Gordon sobre sua exposição El Salvador Revelado: Imagens de uma Nova Geração. Saibam por quê enxergar não é uma tarefa fácil, mas pode ser bastante intensa e divertida, clicando aqui.

Editorial Quinzena 17 – 17 de Maio a 01 de Junho






As boas novas, o evangelho segundo o Reação, é que o “site provisório” deixará mais breve do que esperava secretamente, mas com atraso em comparação ao que esperava abertamente, de ser provisório. Esperem que me explico de-va-ga-ri-nho. Conseguimos uma companhia bacana através de nosso chargista e animador oficial Bruno Venâncio, e assim que selarmos o contrato detalhamos tudo que precisar ser detalhado. O fato é que ainda esse ano, em um ou dois meses, teremos o sítio oficial do R.C.

Continuamos explorando o que podemos explorar, mas ainda não conseguimos engajar os leitores (mais de 2,000 mensais) nos debates (que se debatem ‘net a fora) e poucos realmente comentam ao público, muitos mandam e-mails privados a mim ou aos colunistas, e talvez isso ainda se deva a nossa aparência tímida e um tanto confusa. A vantagem do marketting, que nunca foi minha praia, é que com certos jeitinhos vendemos gelo ao esquimó e areia ao beduíno. Vamos ver se a companhia que arrumará nossa casa, literalmente, conseguirá nos ajudar nesse aspecto.

Foi uma quinzena interessante para meu mundo, para variar, nesses tempos interessantes. Bush conseguiu vetar a campanha do partido Democrata contra o curso atual no Iraque, e o mundo não melhorou de ontem para hoje. Talvez, o tratado que Nancy Pelosi, lider do Congresso do país que me acolhe, exigindo que 4 países (por enquanto) sigam as regras humanitárias das Nações Unidas com seus empregados afins de conduzir negócios com os EUA seja um avanço, mas a maioria de nossas roupas vem da Tailândia ou, ainda pior, da China. Caminhamos a passos curtos, mas caminhamos. Damos passos para trás, mas caminhamos para frente quando temos a oportunidade.

A última nova de minha terra é uma neblina sinistra que nos sonda desde meados da semana passada. Sexta Feira olhei diretamente para o sol e não fiquei cego, já que se escondia atrás de uma fumaça espessa, vinda diretamente das queimadas e incêncidos que circulam toda a extenção da Florida. Descendo da Georgia, atingindo pontos estratégios ao largo da costa, o fogaréu se espalhou pelo mangue sulenho e nem 30% de seu poder está contido. Os céus ainda permanecem nublados, habitualmente azuis e agora escuros, não pelas trovoadas, mas pela fumaça. Tormentas, tornados e tempestades elétricas assustam a população estadunidense. Os estados que mais votam pelos Republicanos, o partido do senhor Bush, votam contra o próprio interesse. Uma cidadezinha no Alabama simplesmente desapareceu do mapa por uma sequência de furor natural, mas o exército se encontra no Iraque, no Afeganistão e em outras poucas regiões, exausto e sob constantes ataques. O maquinário que podia ser usado para limpar as ruas da cidade agora fantasma, como também ocorreu com New Orleans, encotra-se no Iraque, geralmente usado para demolir indesejadas propriedades.

Toda história tem seus vilões, mas os nossos são muitos. Temos mais tiranos do que pacifistas em nossa lista. Colocar a Bush entre os tiranos não seria absurdo, e a maioria do planeta o pensa assim. Alguém que tiraniza o próprio país e o mundo em medidas semelhantes; que mesmo sem puxar nenhum gatilho tem tanto sangue em suas mãos; que come e bebe do bom e do melhor enquanto seus cidadãos passam cada vez maiores necessidades, não pode ser tão diferente de nenhum outro lider sociopata que a humanidade já testemunhou.

Até quando tolerarão meus compatriotas gringos a presença do que não só não nos interessa, como mais nos prejudica, na Casa Branca? Não sei, mas a cada novo dia, a cada nova página, a cada novo pensamento entendo que se há alguma cura a toda essa loucura, a cultura é esse antídoto. Reagir por intermédio de idéias, perspectivas e pensamentos faz-se cada dia mais necessário.

As culturas sempre reagem, mas por algum motivo ainda incógnito, demoram a reagir juntas. As culturas reagem… Reaja você também!

Roy Frenkiel
O Editor que precisa de Editor
admin@reacaocultural.com

Comentários da Quinzena

No Index

Do Moita

Amigo

Do Brasil, só temos más notícias.

Vou morar na Somália.

Resposta do C.O.R: Caro Moita, a Somália parece uma excelente atração turística, manja, mas aí só não peça pra eu te acompanhar, porque pum a pum eu prefiro o cheiro do meu. Royzito te tem muita admiração e pediu pra eu pegar leve contigo, sabe como é, protección, mas eu aviso todo mundo que é pra saberem que eu, por eu, tenho protegidos nenhuns.

Agora, esse Daniel Pearl, falecido lá nos Iraque é desagradável, e ninguém, nem eu, leio o que ele tem a dizer. Ainda dizem que o marketting do R.C. é capenga, sei.

Co’ peido Brasileiro, do Jiló

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No Editorial

Do Vinícius

Pois é! É brega mas tá valendo: longe dos olhos e perto do coração. O R.C. é minha casa e devo voltar um hora para escandalizar!
Abrax
Vinícius

Resposta do C.O.R: Vinícius, eu te aaaaaaamoooo, sá como o Renato Russo falava, bem bicha? Pois é, então esse eu te aaaaaamoooo com seis ás e quatro ós é pra você. A casa é tua, mas durma na sala porque teus roncos – tua mina sabe que eu não minto – são insuportáveis.

Com algodões nos ouvidos, do Jiló

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Na Coluna O Povo e o Livro (FUNDEB)

De Meneau

Você leu a entrevista do D. Saviani, no Mais! de domingo passado? E pegou leve com idéia de capital cultural(hehehe)...Um abraço.

Resposta do Halem

Paulinho, li sim. E o Saviani fala sobre a ausência de uma proposta de Plano de Careira Nacional. E eu acabei me esquecendo de também "levantar essa bola". Fora as distorções que o Ideb pode provocar... Não quis aprofundar muito essa idéia de capital cultural, porque me lembrei daqueles pedagogos idealistas e chatos da FAE(rs). Um abraço.

De Marcelo F. Carvalho

Halem, você foi no alvo da questão! Extremamente claro e informativo. Acredito que dentro de muito pouco tempo acontecerá um colapso no ensino público por falta de profissionais e completa ausência de vergonha na cara dos que fingem pensar a educação. O governo continua "mudando tudo para não mudar nada" e nós continuamos nos reciclando, tendo várias profissões dentro da mesma. Só não nos deram o picadeiro e o pires pra pegar a esmola diária.
Abraço forte.

Resposta do Halem

Marcelo, e quando esse colapso que você mencionou chegar, o que me preocupa (e acredito que a você também) é: pra onde a gente vai correr? Um abraço.

Resposta do C.O.R: Até o C.O.R. tem bom senso, pra vocês verem como é difícil tê-lo, e quando o assunto é sério, quem não sabe – eu – cala a boca e deixa quem sabe divagar.

Calado, do Jiló

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Na nova Coluna de Cássio

De Cássio


OPa... espero que meu texto agrade os leitores do Reação!!!

De Anônimo 1

Eu concordo em alguns pontos com o que você disse, eu acho que simplesmente botar os adolescentes na cadeia talvez não irá resolver os problemas, mas talvez a curto prazo ajude até achar alguma solução melhor. Ah e essa foto também não é bem assim né, não são criancinhas inocentes que serão presas, com 16 anos já são uns baitas marmanjos e matam igual alguém maior de idade.

De Anônimo 2, Homer Simpson, o Bravo

Uma das maiores coleções de clichês, sofismas, populismo e emocionalismo que eu já tive a oportunidade de ler! Acho que vou até imprimir um monte de cópias e usar como papel higiênico aqui em casa...
Humm, pensando bem é melhor não, o papel é muito caro... não quero desperdiçar arvores imprimindo esse lixo...

Resposta do C.O.R: Caro Cássio, pois eu já estou vendo aqui embaixo que sua situação é mezzo mezzo, irmão, mas tudo bem, nisso estamos juntos, força aê e não desista.

Anônimo 1, bom ouvir que você concorda com o Cássio, eu também! Mas a foto foi o editor quem colocou, e eu acho super pertinente, porque nas arábias também não há criaturinhas inocentes e muitos deles metem bala em outras criaturinhas menos inocentes. A foto não é assim, nem a realidade, mas é assim que eu tô afim de vê-las, me faz bem aos olhos.

Homer, você foi um tremendo babaca, nada de debater o que você disse. O que você disse é indiscutível, falou que ele usou clichês, como você, e sofismo – pelo menos ele argumentou – populismo – hmm, acho que não, mas sua babaquice não colabora na hora de tentar explicar – mas, pelo menos, você teve a oportunidade de ler algumas outras coisas. Quanto à sua consciência ecológica, ponto pra você. Agora, não chamei de babaca pelo que você disse (porque você não disse nada ), mas sim pelo fato de você ter se dado o trabalho de comentar xingando sem dizer a sua opinião. Xingar ainda vai, até aí tudo bem, eu me irrito pra cacete com alguns manos e me invoco na cara dura, de sentir vergonha depois, mas chamo de babaca porque agrediu sem que o agressor possa fazer nada a respeito, o que é babaquice e covardia. Mas, tudo bem, nada contra a sua pessoa, apenas contra seu alias simpsoniano babaca.

Puto, do Jiló
PS: Cássio, você me deve uma, faz o favor de pedir desculpas a ele por mim.

Filosofia do Direito



Sobre entrevista do novo titular da Secretaria de Ação de Longo Prazo

É minha segunda participação neste periódico eletrônico e fico extremante satisfeito por fazer parte desta equipe. Despertaram-me certas reflexões a leitura de uma entrevista do senhor Roberto Mangabeira Unger na Folha de S. Paulo do último dia 7 de maio (Brasil - A16).
Algumas críticas contundentes podem ser apresentadas ao filósofo. Mas antes disto, cabem algumas observações gerais. Em primeiro lugar, não seria justo resumir todas suas idéias a uma única folha de jornal. Ainda, como se trata de uma entrevista, com perguntas e respostas bastante pontuais e concisas, não se sabe ao certo qual efetivamente fora a intenção do filósofo.
Todavia, concentrando-se num aspecto geral da entrevista, percebe-se uma certa pragmaticidade do nosso novo ministro. De crítico feroz do governo - com ataques agudos até mesmo a pessoa do presidente da República, homem “avesso ao trabalho e a estudo” pelo que consta - nosso filósofo chega a ministro. Pelas minhas contas, deve se tratar do trigésimo ministro, numa escala crescente de ministérios e secretarias com “status” de ministérios.
E interessante a proposta de sua secretaria/ministério: a “tarefa de pensar o futuro se traduz no debate de propostas concretas”. Assim, a Secretaria de Ação de Longo Prazo procura canalizar o que deveria estar disperso no ar. Ação a longo prazo é (ou deveria ser) meta de qualquer ação governamental. Ação a longo prazo é o que, sem criar um discurso empresarial, eu procuro aconselhar aos poucos que me pedem conselhos: faça a faculdade, estude para o vestibular, tenha um emprego, planeje seu futuro, “aja a longo prazo”... O que muito desanima é a lentidão com que as esquerdas brasileiras tomam consciência de que o partido do atual governo assumiu em definitivo um discurso e gestão conservadores...
Por fim, cabe notar que o nosso filósofo Roberto Magabeira Unger é um dos fundadores e vice-presidente do Partido Republicano Brasileiro. É o mesmo partido do Vice-Presidente da República, José Alencar, e novamente uma criação de ministério faz entender muito mais uma acomodação de interesses.
É um triste país este...

Aristóteles da Silva

Coluna do Jens


Ananias (ou o Casamento de Marconi Leal) - Parte 1
Para ver a fonte original da imagem, clique aqui, suportando a musiquinha extremamente irritante.

Antes da mais nada quero deixar claro que a admiração que sinto por Marconi Leal, o genial e nefando escriba, é genuína. Gostaria de ter a sua inteligência, a sagacidade de espírito e a escrita fluente. Como o Criador não me aquinhoou com estas qualidades, resta-me a inv..., ops, a admiração verdadeira. Foi este nobre sentimento que me levou a pesquisar com denodo a vida pregressa do Grande Marconi, com vistas a elaboração de uma futura biografia não autorizada. Nas minhas pesquisas, deparei-me com uma situação insólita, que marcou o casamento do cronista genial, e que, sem mais delongas, divido com vocês, ilustres leitores.
***
Talvez muitos não saibam, mas a iconoclastia de Marconi Leal é apenas virtual. Ou seja, na vida real nosso personagem é um burguês conservador, que faz questão se seguir as tradições vigentes no seu meio. Assim quando decidiu que era hora de deixar para trás a vida de luxúria e devassidão e sossegar ao lado de uma boa mulher, Marconi Leal, optou pelo conservadorismo extremo: escolheu uma mulher para casar (entre inúmeros pretendentes de ambos os sexos) e fez questão que a cerimônia seguisse os ritos da Igreja Católica. Como é um homem de posses (embora a origem da sua fortuna seja nebulosa), não poupou recursos para a decoração da igreja.
No dia do casório, lá estava Marconi Leal faceiro, trajando um Armani especialmente confeccionado para a ocasião, diante do padre, este igualmente feliz pela vultosa soma destinada por Dom Marconi (como nosso mestre é conhecido entre os serviçais) para as obras sociais da Igreja. A generosidade foi tanta que, calculava o padre, seria possível trocar de carro, fazer umas reformas na parte residencial da igreja e ainda sobraria uma verbinha para ajudar os paroquianos mais necessitados.
Tudo corria bem, com a pompa e circunstância habituais, quando o pároco fez a pergunta a que ninguém, até então havia respondido:
- Se alguém sabe de algo que impeça este casamento que fale agora ou se cale para sempre.
Preparava-se para seguir adiante quando uma vozinha fez-se ouvir:
- Eu.
Surpreso, o padre ajeitou os óculos e viu uma mãozinha erguida no meio da multidão. Considerando o investimento feito por Dom Marconi, o ministro de Deus resolveu fazer ouvidos de mercador. Não deu certo.
- EU!, repetiu a voz, agora enfática.
Pânico. Óhs e Ahs em profusão. A mãe da noiva começou a adernar, sendo socorrida por três dos padrinhos, enquanto o marido, gaúcho e bagual dos bons, pedia ao filho mais novo:
- Me traz o relho Olavinho, me traz o relho que tô sentindo que vai tê entrevero.
As madrinhas com seus vestidos repolhudos e farfalhantes cor de pêssego formaram uma barreira protetora em torno da noiva aos prantos.
A primeira reação do nosso escriba genial e nefando foi pedir proteção aos jagunços que recrutou nos grotões de Pernambuco especialmente para cuidar da sua segurança pessoal:
- Protejam-me homens, protejam-me!
Dando-se conta do ridículo da situação, se recompôs e passou a gritar, com a voz tonitruante de coronel do sertão.
- Que furdunço é esse? Quem ousa apatifar o meu casório? Tragam o sacripanta à minha presença.
O sacripanta era um sujeito miúdo, cabeça grande, vestindo num terno surrado que um dia deveria ter sido branco. Aproveitando a confusão, buscou proteção junto ao padre. Alguns padrinhos mais exaltados exigiam:
- Sai da frente, meritíssimo (queriam dizer reverendo). Sai da frente que este infeliz não escapa da peixeira.
O padre, atônito, recuperou a lucidez e a autoridade.
- Silêncio, ordenou. Isto aqui á a casa do Senhor, tenham respeito, comportem-se!
A manada silenciou e o sacerdote continuou.
- Fiquem aqui, em ordem, que eu vou conversar com este cidadão em particular e esclarecer os fatos. Retirou-se para a sacristia na companhia do sacripanta.
Nervoso, acendeu um cigarro.
- Senta! Senta, porra!
O outro obedeceu, o olhar esbugalhado de susto.
- O senhor hein?, que bela confusão me aprontou. Como é o seu nome.
- Ananias.
Muito bem, seu Ananias. Qual é a sua história?
- E o seguinte, seu padre...

(Conclui na próxima quinzena. Se não enfrentarmos problemas com a Justiça).

***
(Antes que algum engraçadinho o faça, comunico que Odaléia, minha doce vizinha que gentilmente faz a revisão dos meus textos, informou-me que o escritor Carlos Heitor Cony já havia escrito algo semelhante. Como o meu relato é a expressão da verdade e não fruto da imaginação, entrei em contato com o ilustre jornalista para saber qual a fonte de sua inspiração. Relatou-me que a história completa lhe surgiu anos atrás em sonho, inclusive com parágrafos e travessões. “Foi como uma mensagem vinda do além”, confidenciou-me Cony, afirmando que o fato até hoje o intriga. O mais impressionante é que Cony narrou os fatos muito antes de Marconi Leal nascer. Como disse o bardo inglês: há muitos mais mistérios envolvendo a figura mítica de Marconi Leal do que possa imaginar a nossa vã filosofia).

Poesia di Bernardi

Pequenino, amplo,
o poeta arranha céu
em busca de azuis,
os seus possíveis.
Pode ser tarde,
sob o ouro dessa luz estranha.
Pode ser agora.

Sei do meu ofício,
fica no alto minha oficina de sombras.
Nesse tipo de usina
funciona uma rosa dos ventos
que labora para cima
e aponta sem ver.

O ideal seria
colorir no primeiro gole.
Antes da palavra
todos os acentos agudos.
Pode ser agora.
Nudez, mudez,
até lembrar do silêncio.

Charge do Venâncio


"Hmmmm... A coisa anda meio fedida..."

Retalhos e Estatísticas Reativas

Para ver a fonte original da imagem, clique aqui, e, a seguir, processos e desculpas



Papa


O Papa faz milagres: enquanto todos os vôos brasileiros atrasam, o dele adianta.
_________

“Ó Papa Papal,” perguntou o repórter, “vossa santidade diz que o Marxismo e Capitalismo deturparam a humanidade... E o catolicismo?”

Ao que o Papa responde, sereno:

“Antes do catolicismo não havia seres humanos, só alguns índios e outros animais parecidos.”

Aborto

A cada 0 homens que precisaram fazer-se um aborto, todos são contra.

Clodovil

Um discreto grupo de mulheres percorre as curvas da Ceilândia, na calada da noite, com cartazes dizendo:

“Sou feia, mas sou puta! Vivam as putas feias! Fora Clodovil!”

Ditadores Contemporâneos:

Discurso de Idi Amin:
“Os ingleses invadem nossas terras, comem da nossa comida e falam mal de nós, nos exploram e nos castigam com seu imperialismo, e aqui na Uganda isso não pode acontecer! Por isso, decidimos expulsar a todos os asiáticos!”

Discurso de Bush:
“Nosso país está sendo destruído pelas forças da natureza! Tem incêndio se alastrando por todos os matos do sul do país! Tornado apagando cidadezinha do Alabama! Precisamos fazer algo! Precisamos do exército! É por isso que acabo de assinar o decreto ao envio de mais 2,000,000 de soldados ao Iraque.”

Ecologia

Salve um pachá, a cana é só pra chupá, o árcool é só pra mamá e o sór, só pra queimá!

Poesia di Bernardi

Para ver a fonte originald a imagem, clique aqui.

pedras florem

desaprendi com os versos:
ferrolho que se abre,
coisas-faces,
feiçoes e folhas, milongas,
alguns bichos,
poucos pronomes e muitas árvores,
patos e minhocas,
caraminholas

Professorinha Silvia


Educar para a Cidadania?

Passamos horas, dias, semanas com os nossos alunos dentro da sala de aula... Passamos horas, dias, semanas a ouvir as pessoas denegrir os professores e apontá-los como os responsáveis de uma geração cada vez mais ignorante e desregrada... Passamos horas, dias, semanas a tentar ensinar aos nossos alunos o que é certo e errado... E passamos horas, dias, semanas, a ver o nosso trabalho destruído pela sociedade que temos...

Quando entrei em estágio pedagógico, a minha orientadora fartou-se de pregar a "educação para a cidadania" exigindo que as nossas aulas tivessem um carácter social de modo a que o que ensinássemos pudesse ser usado pelos alunos quando estes entrassem na vida activa. Tentámos de várias maneiras fazê-lo e parece-me que, naquele tempo e naquela escola, ainda conseguimos atingir alguns alunos e vimos que os nossos ensinamentos tiveram algum resultado prático. Ficámos contentes e sentimo-nos recompensadas pelo nosso esforço e esperançadas num futuro risonho de ensinar alunos e vê-los aprender com gosto.

Tentei, ao longo dos 7 anos de ensino que se seguiram, continuar com a mesma linha: ensinar para a cidadania... No entanto, este ano apercebi-me de que é, à partida, uma batalha perdida. Já tinha desconfiado há uns tempos atrás após ter visto uma reportagem sobre alguns indivíduos (de raça cigana - não que seja importante a raça em si mas porque o pormenor da raça também se aplica no caso que me fez dar conta da inutilidade do meu esforço) que viviam dos mais de 700 euros de rendimento mínimo que recebiam todos os meses sem trabalhar. Quando ouvi o presidente da Câmara da cidade em questão (cujo nome não recordo de momento) dizer "Não podemos exigir a indivíduos sem uma certa formação o que exigimos ao cidadão normal" (não sei se foram ao certo estas as palavras, mas o sentido é este), fiquei revoltada. O senhor presidente proferiu estas palavras quando foi confrontado com o facto de os indivíduos de raça cigana em questão conduzirem pelas ruas da cidade sem terem sequer a carta de condução e não sofrerem qualquer tipo de consequências ou sanções que um cidadão, apelidado de normal pelo presidente, sofreria se fosse apanhado nas mesmas circunstâncias...

Ora, como pode um chefe de uma autarquia, que deve dar o exemplo aos cidadãos (todos e não só os que ele apelida de normais), dizer que há uma lei para uns e uma para outros? Dizer que podemos exigir mais a uns do que a outros em termos de comportamento em relação à lei? O que estamos a passar para a geração que nos segue?

Devo dizer que esqueci a questão até à semana passada. Desde o início do ano, como de costume, tenho tentado incutir nos meus alunos a noção de que se com estudos está complicado conseguir um emprego, sem estudos será muito mais difícil. Tentei também incutir-lhes que eles não podem continuar a achar que podem fazer o que querem, quando querem e com quem querem sem que haja consequências pois no mercado de trabalho as coisas não funcionam bem como na escola em que os professores lhes dão oportunidades atrás de oportunidades.

Isto até ao dia em que, confrontada com a vontade de um aluno meu desistir da escola, lhe disse que sem o 9º ano de escolaridade ele não poderiam tirar a carta de condução. Ele respondeu-me rapidamente: "Então e depois?? Faço como os ciganos que andam aí a conduzir sem carta e ninguém lhes faz nem diz nada! Se eles podem eu também!" (a zona onde dou aulas tem uma comunidade cigana que se está a tentar integrar na escola e com a sociedade)

Que posso eu fazer para combater isto? Será mesmo que devo continuar a tentar educar para a cidadania? Que cidadania? Que sociedade é esta que destrói o meu trabalho (quando digo meu refiro-me também a todos os professores que tentam o mesmo que eu) ou a minha tentativa de educar permitindo que alguns indivíduos possam andar por aí imunes à lei? Afinal, quem são os responsáveis pelo estado dos nossos jovens? Os professores?


Nota: volto a insistir no facto de o facto de eu me referir à raça cigana nada tem de xenófobo nem desse facto podem inferir que eu seja racista. Apenas refiro a raça cigana pois foi nesse contexto que os casos a que me refiro tiveram lugar. Refiro também que, como em qualquer raça ou credo, há bons e maus elementos e que o que tento dizer com o meu texto é que o que se passa com a nossa sociedade não é culpa dos ciganos ou dos negros ou de qualquer outra raça. A culpa é nossa... Estamos cada vez mais permissivos, não impomos leis, não impomos respeito, não impomos nada pois temos uma ideia, que eu considero errada, de liberdade que advoga que todos podem fazer o que querem e que não deve haver consequências..

FocoVertigo - Fotos de Ana Luiza Schifflers


A Arte Chora


A Alma Chora

A Cidade Chora



Mas o desabrochar exprime sorrisos


Silvio Vasconcelos

Para ver a fonte original da imagem, clique aqui.

Quando a cordialidade do olhar de quem te mira
Contiver o cinismo sorridente da mentira
Ou o mesmo sorriso amplo de quem lhe agrada
Esconder fel, sarcasmo e gargalhada
O abraço frouxo de quem se aproxima
Disfarçar os grilhões que a falsidade legitima
E o beijo seco no seu rosto no meio da rua
A ocultar o comentário fácil sobre sua alma nua:

A verdade, sempre a verdade!
Mas como dizer a verdade é uma mentira!

A cortina dos olhos de quem lhe expia
Pode esconder o nojo que macula e contagia
E o desejo de bom dia que lhe oferta
Refletir um vá para o inferno, na certa
Na podridão de um aceno estereotipado
A náusea de sentir-se abandonado
Duvide então de todo falso sentimento
E lembre de fugir enquanto é tempo:

A verdade, sempre a verdade!
Mas como dizer a verdade, mentira!

Negue sempre o sorriso fugaz
Abrace somente a quem lhe apraz
Não seja cordial por compromisso
Ninguém tem nada a ver com isso
Beije espontaneamente quem lhe mereça
Mas olvide-se de estalos e desapareça
Do olhar de quem encharca de vazio
E ocupa sua vida de um nada pueril

Silvio Vasconcelos

A Sacerdotisa e o Sexo Delicado



E DANDO SEQUÊNCIA AO TEMA EDUCAÇÃO SEXUAL, RESOLVI TRAZER ESSE TEXTO PARA QUE VOCÊS TENHAM CONHECIMENTO DOS TERMOS E DOS SIGNIFICADOS DO MUNDO “GLBTS”.


Gênero: Classificação de pessoas como homens ou mulheres. Após o nascimento, as crianças são classificadas segundo um determinado sexo ou gênero com base em uma combinação de características corporais, incluindo: cromossomos, hormônios, órgãos reprodutivos internos e genitais.

Identidade de gênero: Expressão interior, de foro íntimo, do senso pessoal de pertinência a um dos sexos. Nem sempre a identidade de gênero de uma pessoa é igual ao gênero sob o qual é classificada socialmente. Por exemplo, para pessoas transexuais, seu sexo de nascimento e seu próprio senso interno de identidade de gênero não combinam.
Identidade de gênero e orientação sexual não são a mesma coisa. Transexuais podem ser gays, lésbicas, bissexuais ou heterossexuais. É sinônimo de identidade sexual.

Expressão de gênero: Expressão externa da identidade de gênero de uma pessoa, freqüentemente transmitida por meio de comportamento, roupa, corte de cabelo, voz ou características corporais “masculinas” ou “femininas”. Transexuais em geral procuram fazer com que sua expressão de gênero combine com sua identidade de gênero, em vez de combinar com o seu sexo de nascimento.

Orientação sexual: O termo mais adequado para referir-se à atração física, emocional e espiritual para pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto, incluindo, portanto, a homossexualidade, a heterossexualidade e a bissexualidade.

Papéis sexuais: Papéis construídos socialmente, aceitos como inerentemente “masculinos” e “femininos”, ligados ao sexo de nascimento de uma pessoa. Fazem parte deste rol noções como “homem não chora” ou “a mulher deve cuidar de casa”. Esses papéis sexuais, que há muito já são questionados na sociedade atual, não devem ser utilizados para caracterizar casais de lésbicas e gays.

Ativo/passivo: a orientação sexual de uma pessoa não está vinculada ao papel sexual com o(a) parceiro(a). Aliás, a sexualidade, independentemente da orientação, envolve um conjunto de fatores emocionais e afetivos que vão muito além do ato genital. Essas palavras também podem denotar, de forma extensiva, não só o ato genital como também uma postura perante a vida, no caso das mulheres, de qualquer orientação sexual, o que é falso. Exemplos que devem ser evitados: homens com roupas femininas que são gays e caracterizados como “passivos”, casais de lésbicas em que uma está vestida de forma masculina e a outra com roupas femininas, como se uma fosse “ativa” e a outra “passiva”. Evite essa diferenciação.

Homossexual: Termo utilizado para descrever gays e lésbicas indistintamente. Pode ser empregado normalmente, mas é necessário esclarecer que seu uso se encontra hoje em discussão, dado o histórico relacionado a atividades clínicas – quando a homossexualidade era considera doença ou desvio psíquico-sexual – e à origem ligada à palavra homossexualismo, considerada ofensiva. Alguns termos que podem vir a substituí-lo: homoerótico e homoafetivo.

Bissexual: indivíduo amorosamente, fisicamente e espiritualmente atraído tanto por homens quanto por mulheres. Bissexuais não precisam ter tido experiências sexuais equivalentes com homens e mulheres. Na verdade, não precisam ter tido qualquer experiência sexual para se identificarem como bissexuais.

Lésbica: mulher que é atraída amorosamente, fisicamente e espiritualmente por outras mulheres. Lésbicas não precisam ter tido experiências sexuais com outras mulheres. Na verdade, não precisam ter tido qualquer experiência sexual para se identificarem como lésbicas.

Transexual: indivíduo que tem convicção de pertencer ao sexo oposto, o que pressupõe desejar suas características fisiológicas, muitas vezes obtendo-as por meio de tratamento e cirurgia. Um transexual é aquele cujo sexo biológico não confere com sua identidade de gênero, isto é, o senso pessoal que o indivíduo possui de ser homem ou mulher. Desta forma, a cirurgia de troca de sexo e o processo de transição (terapia hormonal, alteração de identidade, cirurgias plásticas, etc.) apresentam-se como quesitos inalienáveis da felicidade do transexual, harmonizando identidade, corpo e sexo.

Transgênero: termo genérico utilizado para designar indivíduos que agem social e particularmente como pertencentes ao sexo oposto. Desta forma, pode ser empregado tanto para descrever transexuais quanto travestis, indistintamente.

Promiscuidade: a quantidade de parceiros de uma pessoa não está vinculada à orientação sexual. Além disso, muitas vezes se diferencia um homossexual e um heterossexual em relação ao número excessivo de parceiros: o homossexual é “promíscuo”, o heterossexual possui uma espécie valorizada de “supermasculinidade”. Segundo o Ministério da Saúde, qualquer pessoa com mais de três parceiros por ano é considerada “promíscua”, independentemente da orientação sexual. Ninguém é mais ou menos promíscuo por ser homo ou heterossexual.

Créditos:
Texto: editado pelo UNV a partir do “Manual para jornalistas e redatores”, elaborado pela ONG Pró-Conceito de Gays e Lésbicas e publicado pelo
Mix Brasil.

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O Cinema vira um grande “mosaico”: contando várias histórias num único rolo.
Roberto Queiroz

Nas últimas décadas o cinema internacional transformou-se numa fonte inesgotável de idéias e produções. Aumentado nos últimos anos por uma jovem geração de cineastas promissores, roteiristas e produtores tem se desdobrado cada dia mais para criar enredos complexos e, muitas vezes, múltiplos. Os filmes de narrativa simples, fechada, com base num único protagonista ou um casal de personagens (em sua grande maioria casados ou interessados romanticamente um no outro) foram dando lugar a produções cuja capacidade de alternar e multiplicar histórias é evidente desde o primeiro fotograma. E o resultado desse mosaico é uma grande vitrine de sentimentos os mais variados (paixões, conflitos, duelos, armadilhas, etc) de todos os tipos que se digladiam e se complementam a cada take, sem perder, com isso, a sua dose de neutralidade em cada sub-trama e sua capacidade de surpreender as platéias.

O diretor recentemente falecido Robert Altman – gênio por trás de filmes como M.A.S.H e Nashville – tornou-se lendário por esse tipo de cinema entrecortado e, por conta disso, vem sendo largamente copiado e seguido, criando uma filmografia bastante original que funde várias histórias dentro de um mesmo espaço físico. Os exemplos disso são produções geniais como Short Cuts – Cenas da Vida, baseado no romance do escritor americano Raymond Carver; Assassinato em Gosford Park, onde um crime é investigado de maneira bastante inusitada e seu último filme A Última Noite, sobre uma rádio americana que se tornou famosa pela difusão da música country. Nesses filmes, o diretor funciona como um grande cronista dos costumes, lamentos, incompreensões e desafios da sociedade (seja ela norte-americana, inglesa, etc).

Apesar das críticas à irregularidade em sua carreira – por não ter conseguido realizar grande parte de seus projetos mais ambiciosos -, Altman deixou sua marca na história do cinema mundial sem precisar ter lançado ou ser citado por um determinado personagem grandioso (como aconteceu com John G. Avildsen o primeiro filme da franquia Rambo, Steven Spielberg e seu E.T, George Lucas e seus célebres Luke Skywalker e Darth Vader, entre outros). Na cinematografia do diretor o que conta são os entrelaçamentos das histórias e não necessariamente os atores que os interpretam.

Por conta dessa nova premissa de construção cinematográfica (baseada na multiplicidade de narrativas), muitos seguidores do estilo surgiram, produzindo obras interessantes: é o caso de Traffic, de Steven Soderbergh, que nos apresenta um retrato mordaz e perturbador do narcotráfico; o recente e polêmico divisor de opiniões Crash – No Limite, de Paul Haggis, onde o cineasta e produtor mostra de forma fragmentada e inconstante as diversas faces do preconceito e do racismo contemporâneo (seja ele étnico, religioso, etc); a produção independente Pesadelo Americano, de Aric Avelino, sobre o universo bélico dentro da nação norte-americano e as vítimas que ele é capaz de fazer da maneira mais brutal possível e a trilogia do diretor latino-americano Alejandro González-Iñárritu (que vem se especializando no gênero, quem sabe desejando assumir a cadeira deixada vaga pelo mestre Altman): Amores Brutos, 21 Gramas, Babel.

E o que têm em comum todos esses filmes que tanto vem atraindo multidões às salas de cinema? Eles não se limitam a destrinchar a vida de um único personagem, explorando suas virtudes e defeitos. O que seus diretores desejam é que todos os atores se misturem, troquem confidências, dividam suas mazelas, participem – mesmo que de forma breve – nas vidas uns dos outros (ou seja, uma aproximação daquilo que vemos diariamente na vida real), enaltecendo seus conflitos, ingratidões e dificuldades. Mostrar até que ponto nossas vidas estão todas entrelaçadas. O quanto um depende das decisões do outro.

Os diretores mais clássicos, avessos a essa vertente cinematográfica, apontam esse tipo de produção como o “fim do filme tradicional”, vindo a transformar a sétima arte numa enciclopédia de histórias ou mesmo numa novela (se seguirmos os moldes da América Latina) exibida na tela grande. Honestamente, não creio nessa possibilidade. Acredito que o cinema ainda tem um enorme papel a cumprir, porém não tem mais tanto tempo a perder focado num só ponto. Por que trabalhar somente um aspecto da questão quando existem tantas opiniões diferentes a serem discutidas? O volume de informação hoje é tão grande! O resultado dessa discussão só será sentido daqui a alguns anos (há quem creia em décadas). Perguntas como qual será o novo modelo de roteiro cinematográfico daqui pra frente? Haverá espaço para que os atores construam personagens célebres, grandiosos, muitas vezes capazes de venderem um filme sozinho? Haverá discórdia por bons papéis dentro da classe artística? Ou será que no final das contas quem lucrará com tudo isso é o espectador que poderá estar diante de várias atuações majestosas dentro de um único filme? Aguardemos, pois nada mais nos resta a fazer...
Aguardar, de preferência numa sala de projeção segurando um enorme balde de pipoca.

Wednesday, May 16, 2007

Barry Gordon - A Arte de Enxergar





El Salvador Revelado: Imagens de uma Nova Geração



A imagem que um país reflete ao resto do mundo pode ser tão importante quanto a imagem que uma pessoa tem de seu próprio país. Essa é a maior lição da exposição instalada no Miami Dade College, El Salvador Revelado: Imagens de uma Nova Geração, de Barry Gordon, atual diretor executivo do Cable-TAP, o canal de televisão da faculdade. Nos anos 80, Gordon vivia em Los Angeles, trabalhando em Hollywood ocasionalmente, e seus melhores amigos salvadorenhos contavam que El Salvador não era bem tratada pelos filmes hollywoodianos, que sua situação não estava bem descrita e que aquela não era a verdadeira imagem do país. Gordon passou a sentir uma imensa necessidade de viajar à América Central, ao menor país do hemisfério. Mesmo aconselhado pelo governo estadunidense e apesar da preocupação de sua família e de seus amigos, Gordon decidiu fazê-lo em 1985. Desde então, a imagem de El Salvador tem melhorado bastante.

O relógio que nunca funcionou

“Vejo as coisas não apenas por seu lado cultural. Gosto de observá-las culturalmente, e vi que o país tinha muito a oferecer, além das inúmeras paisagens referenciais maravilhosas”, afirma Gordon, que organizou o projeto auxiliado pelo Concultura (Consejo Nacional de la Cultura y el Arte). Quando, em 2005, passou as férias em El Salvador, encontrou-se com Dr. José Manuel Bonilla, diretor do conselho, e, já tendo previamente explicado seus planos, o encontro e deu largada a uma longa e rica expedição por toda a costa salvadorenha.

A Marimba, instrumento tradicional



Em dois dias, Dr. Bonilla reuniu os chefes das Casas da Cultura dos 14 Departamentos que compõem o país no saguão de um hotel, e nessa reunião, Gordon discutiu com eles suas necessidades e o projeto como um todo. Para cada Casa da Cultura, cada líder encontraria pelo menos três alunos: um do primeiro, outro do segundo ciclo do Ensino Fundamental, e um do Ensino Médio. “Se eles tivessem interesse em fotografia, tudo bem,” relembra Barry Gordon. “Se não, também.” Em pouco tempo Gordon receberia a lista das 59 crianças, com todos os 14 Departamentos representados e ainda com direito a um aluno extra.


Como será que ele conseguiu telefonar?

Acompanhado de Mario, um ex-aluno salvadorenho que demonstrou interesse em participar e colaborou na organização de todo o projeto, encontrava-se com os alunos de cada cidade às 7 da manhã, todos os dias. Ensinava o uso da câmera até às 8h e, até o meio-dia, caminhava com as crianças por suas próprias vilas, levando uma câmera na mão para cada grupo de alunos. “Se tivesse levado três câmeras, as crianças provavelemente tirariam muitas fotos repetidas,” explica Gordon. Assim, alternava-se a lente e seu foco, e os aprendizes fotógrafos por algumas horas aprendiam sobre luzes, ângulos e outros truques.

Enquanto as crianças fotografavam, Barry Gordon chegou a fazer algumas fotos interessantes dos próprios alunos fotografando e, ainda por cima, filmou toda a jornada. Depois, todos se despediam, os professores almoçavam e logo partiam para a próxima vila. De 13h30 às 17h, repetiam o processo. Jantavam, viajavam à próxima vila, dormiam em alguma Casa da Cultura, ou encontravam hospedagem em casas de nativos, todos muito abertos e honrados pela visita do norte-americano e sua equipe de filmagem. Assim repetiu-se o processo até o último dia, quando Barry Gordon decidiu viajar ao Departamento de Morazán, onde fica o Museu da Guerrilha, que jamais teve a oportunidade de ver em suas visitas anteriores.

A exposição está instalada acima da livraria do MDC, North Campus, rente as salas de computação da instituição. Com os simpáticos funcionários do balcão principal, basta deixar a carteira de motorista e pegar um fone especial para ouvir a narração da fantástica jornada e apreciar as fotos feitas pelos meninos e meninas das mais variadas idades. Lá, aprendemos que uma outra equipe também aderiu ao projeto, circulando uma pequena parte central do país, já que essa segunda equipe passava a noite sempre em casa, e a rota programada por Gordon facilitava sua constante volta ao ponto de partida.

Na equipe liderada por Gordon, as fotos são diversificadas. Algumas, mostram o amigável sorveteiro, a corriqueira “pelada”, a velha bica d’água ou a marimba, instrumento de teclas rústico, tradicional em El Salvador. Outras imagens têm um teor saudoso, pessoal, que acaba se transformando em histórico, como se a todos importasse aquele relógio esquecido pelo tempo que um menino conta ter parado desde seu nascimento há 17 anos.

No dia 1º de outubro, o Més del Niño (Mês da Criança), em El Salvador, às 18h, ocorrerá a exposição no país que hospedou a jornada. “Traremos todas as crianças,” conta Gordon, “de todos os vilarejos e cidades.Teremos um DVD, e distribuiremos diplomas simbólicos às crianças que participaram no projeto. Estou até pensando em mandar fazer algumas camisetas, alguns brindes...”
Barry Gordon e três de seus alunos por um dia

A exposição não deve contar com a mesma narrativa do professor, mas o áudio entrará em cena, talvez, apenas com os depoimentos das crianças, que também figuram no MDC, North Campus. A exibição será realizada no Teatro Presidencial, uma verdadeira honra para Barry Gordon, o fotógrafo Mario, as crianças que participaram do projeto e para todo El Salvador, que, definitivamente, se enaltece e é enaltecido por todas as pessoas envolvidas e testemunhas desse projeto.

A imagem de um país começa de dentro para fora, mas, às vezes, é preciso que de fora ressurja alguma inspiração, como a que Barry Gordon deu ao menor – e agora grandioso – país da América Latina. Por que não ajudá-lo a trazer o projeto ao Brasil? O grande – e tão complexado – país certamente o agradecerá.

O projeto de Gordon é aplicável ao mundo todo. El Salvador foi palco de guerras sangrentas e marcos históricos obscuros, como qualquer país. Gordon pretende alcançar dois claros objetivos realizando-o por toda a América Latina, África, Ásia, Oriente Médio, Europa ou Oceania. O primeiro é mostrar uma imagem diferente da região escolhida. Em segundo lugar, Gordon pretende incentivar uma melhor auto-imagem aos nativos da escolhida região.
Quando decidiu concretizar o projeto, o professor sabia que não queria fotos políticas, jornalísticas, ou turísticas. Precisava de uma nova perspectiva, nunca antes usada, ou ao menos nunca antes propriamente divulgada. Quando ensinou às crianças e adolescentes o uso das máquinas fotográficas, subia nas cadeiras e pedia que se aproximassem e percebessem a diferença que existe entre sua imagem vista de uma perspectiva comum e daquele ângulo, de cima para baixo, enaltecendo o tamanho e a importância da figura do próprio professor. Pois essa tornou-se, enfim, a primordial lição de todo o processo que culmina na exibição, hospedada pelo MDC, North Campus desde meados de fevereiro.

Todos aprenderam muito mais do que o manuseio de uma câmera comum com um filme de 35mm, preto e branco. Aprenderam a dar mais valor às próprias vilas, essas que abrigam suas famílias desde muitos anos antes de seus nascimentos. Quando Gordon passava por alguma ruína, assumia a consciência de apontá-la e questionar: “Quando vão restaurar este prédio? Quando restaurarão esta venda?” As crianças procuravam suas respostas, mas sabiam que, se não elas, ninguém reconstruirá suas vilas ou se lembrará da rica história de suas regiões.

O Brasil precisa disso, certamente, e Barry Gordon já avisa: “Estou estudando português há três semestres e pretendo visitar o Brasil em breve”. Através da divulgação de seu projeto, Gordon pretende organizar uma expedição a algum estado ou, quem sabe e por que não, a todo o país.

Amantes da fotografia, manifestem-se!

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