Tuesday, September 26, 2006

Arquitetura Social


Planejamento Urbano - Necessidade e vaidade


Nos períodos de campanha eleitoral, vemos com tristeza nos municípios desse nosso Brasil , obras com início às pressas e que muitas vezes não são concluídas até o final da gestão.
Como não existe comunicação entre uma administração e outra – até porque os funcionários públicos de carreira ,que seriam os grandes responsáveis pelas informações , querem mais é ganhar “o seu” no final do mês e boa – as obras inacabadas nem sempre são prioridade para a equipe que entra , ou por falta de recursos, ou de interesse pelo projeto , que já vem marcado com a cara de quem saiu ou perdeu , ou por todas as razões juntas.

Cada novo administrador quer deixar vaidosamente sua marca individual - desejo que acaba se concretizando , geralmente por motivos pouco edificantes ( ai, foi sem querer ).

E como fica o cidadão comum nessa ? Fica como sempre ficou: sem segurança com a falta de manutenção , limpeza e com o descaso aviltante bem na sua cara , além do evidente desperdício de recursos públicos que esse processo todo acaba por gerar.

Planejamento Urbano é a pasta mais desconsiderada de uma administração pública, em todos os níveis – municipal, estadual ou federal. É aquela que dá inúmeros discursos : preservação ambiental, qualidade de vida, respeito ao meio urbano, blá blá blá , mas que na prática pouco ou nada acontece.

Se um Prefeito precisa decidir se constrói um Centro Esportivo ( nada contra , é só um exemplo ) ou se amplia a rede de água e captação de esgoto numa determinada zona da cidade para estimular ou direcionar o crescimento ou mesmo dar um mínimo de qualidade de vida aos moradores , por qual obra ele optará ? Claro que pelo Centro Esportivo – visível e passível de se “tocar a banda” , infra estrutura ninguém vê !!!

Planejamento Urbano deveria ser levado a sério, com projetos de curto, médio e longo prazos pensados por equipes de técnicos idôneos e competentes , estimulados pelo respeito que todo técnico deveria ter , ficar a margem da política partidária , e não se traduzir por uma caixa de pandora de onde se saca idéias pontuais , normalmente desagregadas do contexto global da região , desconsiderando as necessidades da população, e o pior : muitas vezes são projetos elaborados “no sentimento “, sem qualquer detecção de necessidades e prioridades da população local, sem cadastramento físico , sem levantamentos , sem pesquisa, sem banco de dados, sem comprometimento.

Legislação urbana é a que define , padroniza e organiza ações , disciplina espaços . Pena que é elaborada sempre no modo curativo , nunca preventivo , que garanta um mínimo de segurança, conforto e harmonia no meio ambiente construído , sem falar na competência técnica de quem a elabora. Mas ainda, e mesmo dessa forma capenga , é o que temos para assegurar o não caos total e a baderna institucionalizada principalmente quanto ao uso e ocupação do solo ( matéria para próximos textos ) , mas , algumas questões insistem em me rodear : Quem fiscaliza a prática da lei? Ela é válida para todos, indiscriminadamente?
Se a moda é falar em inclusão social, por que não criar e assegurar também a inclusão urbana?


Cristina Bondezan é arquiteta e urbanista. Nasceu e cresceu em São Paulo entre os italianos dos bairros do Cambucí e da Mooca. Exerceu cargos públicos na área de Planejamento Urbano, é docente do curso de "Design de Interiores "nas disciplinas : Projetos, Revestimentos , Gestão e Empreendedorismo. Seu escritório profissional situa-se na cidade de Marília, interior de SP . Um sonho : Ver o Brasil livre do parasitismo político . Um prazer : viver em amplitude e com olhos atentos...

7 comments:

Psicanálise said...

Parabéns, vc é a prova que estudar, adquirir conhecimentos, leva a um pensar critico e construtivo.

Esther said...

Carla.. é a única forma de crescimento.Obrigada pela presença..

Eduardo Medeiro said...

Lindo....de grande intervenção política...cuidado com a sua inclusão social...acorre sérios riscos de ser excluída...masi 2 ou 3 artigos deste nível. Parabéns.

Esther said...

Não há perigo, Dú.. Pago meus impostos (quase) em dia..beijão!

Anonymous said...

Parabéns , Cris , adorei o texto.. :P
Um beijão

Esther said...

Oi, linda... Que bom que gostou! Comprometida profissionalmente como sei que você é, divulgue o Reação para a galera dos jovens arquitetos.Há matérias pra todos os gostos e...partidos !Bj!

Santa said...

A descontinuidade administrativa é uma a doença que passa de governo para governo, e o espaço urbano padece a insanidade.

Muito bom seu artigo!

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