Friday, September 29, 2006

Nossos Indios sao Eternos


Antes de mais nada, agradeço à ‘dona’ do blogue India Ursa Sentada, dona Angela Ursa, por sua ajuda em encontrar um número inigualável de pessoas dispostas a me ajudar com esta iniciativa.

Poucos índios vi e verdadeiramente conheci em minha vida. Conheci histórias, e a história que nos passaram. Nela, já sem hipocrisia, se falava do holocausto. Nas histórias, ouvia uma espécie de sabedoria esquecida, mas que algum dia se soube, e mal precisou-se a evolução.

Do holocausto, todos sabemos. O homem branco, hipócrita, malévolo e traquina, surrupiou a terra dos homens de pele vermelha. Claro que não foi o homem branco como, ou apenas homens, ou apenas brancos. Aprendemos desde muito cedo que a Igreja teve de re-pensar a HUMANIDADE do índio quando o avistou por primeira vez. Em sua ‘inocente’ posição, quando roubaram, tentaram escravizar, assassinaram e violentaram as vastas, inúmers populações indígenas em suas próprias terras, não consideravam que estes fossem humanos.

Da sabedoria, aprendi que a natureza a lhes pertence, os que respeitam a Terra e sua terra, e sua água, e suas árvores, e suas orquídeas, e seus diversos animais, Falam com os espiritos esquecidos pela intolerância do modernismo, ignorados pela rapidez da tecnologia. Em contato com a natureza gélida dos bites e bits, e ainda erguidos entre manipuladores das verdades universais semi-analfabetos de seu próprio idoma, falam os índios cada qual seu dialeto, e não só no Brasil, mas nos Estados Unidos também. A América algum dia foi mais bela...

Portanto, como judeu de familia sobrevivente a um holocausto de seis milhões, digamos que no mínimo me identifique com a causa dos bravos, fortes e doadores das miscigenações mais lindas existentes nesta Terra, que continuam a sobreviver entre o homem branco, a sofrer de sua crueldade, mas não todo homem branco, nem apenas brancos, nem apenas homens...
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Aqui apenas trago uma carta aberta, ipsis litteris, sem alterar uma letra sequer de professor Iran, fornecido por Edineia Isidoro, e um texto elaborado por Leidiane Felzke explicando um pouco a respeito da tribo em questão. A Agencia Carta Maior publicou um texto recente, explicando um pouco melhor sobre as atuais ocorrencias da regiao. Acesse e procure, pois jornalismo com responsabilidade se encontra por la, e com responsabilidade, jamais esquecem de tratar do que verdadeiramente importa.


Aldeia Ikólóéhj, 23 de Março de 2006


CARTA ABERTA – POVO GAVIÃO


Nós, Povos Indígenas Ikólóéhj (Gavião), habitantes da terra Indígena Igarapé – Lourdes do Estado de Rondônia, nos reunimos para refletir sobre os atos que o Governo vem praticando contra nós.

Viemos, através deste, manifestar-nos contra a construção da barragem que está prevista a ser construída em nossa terra. Não aceitamos a inundação da nossa área. Estamos totalmente contra as idéias do governo, porque não temos mais para onde ir. Nossa território já é pequeno e o governo ainda quer diminuí-lo de qualquer forma. Não temos mais onde caçar, pescar e buscar frutas.

Já perdemos milhões de hectares sem receber nenhum centavo. Perdemos nossos cemitérios, as terras que nossos ancestrais habitavam a milhões de ano. Será que isso é bom?! Vocês que vieram de outros lugares, que são imigrantes, acham ruim quando queremos nosso espaço de volta. Não estamos querendo o de vocês! Não estamos impedindo vocês de fazer barragem, explorar minérios e desmatar a floresta das terras de vocês. Esta terra é nossa! Porque surgimos, vivemos e morremos nela.

Ao invés de vocês agradecerem aos Povos Indígenas pela terra em que vivem, ficam de olho no que sobrou para os índios; tem inveja das riquezas das terras indígenas. Será que só nas terras indígenas existem riquezas? Claro há madeiras, animais, minérios, água e outras coisas em qualquer lugar!

A culpa é de quem por não existir a madeira, ou a água potável em qualquer lugar? A culpa é de vocês! Vocês são destruidores de florestas e da humanidade (Povos Indígenas).

O Brasil que era verde, vocês transformaram em deserto, agora querem transformar o Brasil em água. Querem inundar o Brasil! Não aceitamos isso! Já acabaram com nossa floresta com motosserras, as queimaram com fogo e agora querem destruí-las com água! Não queremos a água para destruição e sim para vida.

Vocês deveriam reconhecer-nos, os povos indígenas, como garantia de vida de vocês, porque preservamos a floresta que produz o ar que respiramos, preservamos a água que nos dá vida. Somos garantia da vida do mundo. Se não existissem Povos Indígenas, as florestas do Brasil não existiriam mais.

Por isso, não queremos que inundam a terra que sobrou para nós. Não queremos que inundem nossos cemitérios às margens dos rios. Não queremos que inundem nossas florestas. Não queremos que inundem nossos animais. Não queremos que poluam nossos rios. Enfim, não queremos brigas e sim a paz e a garantia da terra para as nossas futuras gerações.

Atenciosamente,
Professor Iran Kav Sona Gavião


Professor desde 1999, terminou o projeto de formação em Magistério Indígena no ano de 2004. É atual presidente da AAPIL- Associação Agrária dos Povos Indígenas da Terra Indígena Igarapé Lourdes.

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RONDÔNIA: COLONIZAÇÃO E CONFLITOS INTERÉTNICOS

É possível dizer que a ocupação mais intensa do território rondoniense começou em fins da década de 60 com ação particular da Colonizadora Calama, na Gleba Pirineus em Ji-Paraná, intensificada na década de 70 pela colonização oficial encetada pelo INCRA ao longo da BR 364 (Decreto Estadual 3782/88). No entanto, esta ocupação deu-se de maneira absolutamente desordenada e conflituosa, a abertura e a expansão da fronteira agrícola em direção ao noroeste brasileiro constituiu-se numa forma providencial, encontrada pelos governos totalitários, para aliviar as pressões sociais por reforma agrária e diminuição das desigualdades que estavam ocorrendo no Nordeste e Centro-Sul do país.

Assim que chegavam ao território de Rondônia, as famílias advindas das outras regiões brasileiras, atraídas pelo sonho da terra, ou ocuparam áreas não programadas ou invadiram terras indígenas (BASSEGIO e PERDIGÃO, 1992).

Este processo de colonização do estado de Rondônia provocou a concentração das 36 etnias indígenas que aqui habitam em 19 áreas denominadas Terras Indígenas e que perfazem um total de 20,15% da área do estado (4.807.290,42 ha) segundo dados do ano de 2002 da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (SEDAM). Este processo de demarcação foi acompanhado por inúmeros conflitos e lutas tanto econômicas, quanto políticas e culturais, prerrogativa, aliás, das questões relacionadas ao movimento indígena em todo Brasil e não apenas em Rondônia. Entre as Terras Indígenas (T.I.) demarcadas ao longo das décadas de 70 e 80 encontra-se a T.I. Igarapé Lourdes, localizada no município de Ji-Paraná e demarcada pelo decreto nº 88.609 de 09/08/1983. Neste local residem duas etnias: Gavião e Arara, sendo que os primeiros foram expulsos de suas terras tradicionais por fazendeiros e empurrados para a região atual.

Em função da área demarcada ser insuficiente para subsistência das duas etnias que lá habitam e pelas conseqüências do próprio contato interétnico, os índios Gavião e Arara foram inseridos de maneira mais intensa no modo de produção capitalista. Essa inserção provocou, por um período, uma utilização predatória e ecologicamente insustentável da área de reserva. Por parte dos indígenas isto se deu através da venda ilegal de madeira, prática hoje coibida. Por parte dos órgãos oficiais, especialmente a FUNAI, isso se processou pela implantação de “grandes roças” como as de 1980 e 1981 que, segundo Leonel (1983, p.94) transformaram os Gavião “[...] num golpe, em peões de uma plantação típica de fazenda estatal absolutamente desproporcional às necessidades e a capacidade de produção e venda”.

A inclusão abrupta no modo de produção capitalista trouxe a necessidade de renda para a aquisição dos produtos que anteriormente eram desconhecidos, mas que passaram a ser essenciais.

O contato do Serviço de Proteção ao Índio (originalmente denominado Serviço de Proteção ao Índio e Localização de Trabalhadores Nacionais – SPILTN) com os indígenas até então relativamente isolados aconteceu devido à necessidade de assegurar territórios e evitar que estes grupos fossem extintos diante dos conflitos com os brancos. A partir da década de 60 o SPI foi instinto e substituído pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

Os Gavião habitavam tradicionalmente as margens do Rio Branco, no atual estado do Mato Grosso. Conforme relatório de Leonel (1983, p.81) “vieram para a serra da Providência e o Igarapé Lourdes por volta dos anos 40, hostilizados por fazendeiros e pelos Cinta-Larga [...]”. Os habitantes tradicionais desta região, os Arara, já tinham um contato regular com seringueiros desde os anos 40. Foi através dos Arara que os Gavião se relacionaram regularmente com o mundo dos brancos entre os anos 40 e 50. O contato mais intenso que ocorreu em meados dos anos 50 trouxe conseqüências fatais para as etnias aqui citadas. Houve uma drástica redução populacional não fugindo à regra dos contatos interétnicos ocorridos no restante do país, chegando quase ao etnocídio.

Lediane Felzke


A luta contra a efetivaçaõ da construção das hidrélétricas no rio Machado e Madeira vem de lomga data. No caso dos Arara e Gavião, essa luta se repetiu no passado, agora mais uma vezes estão se sentindo ameaçados por esse projeto que está em vias de aprovação.

Na nossa equipe te uma pessoa que está acompanhando mais de perto as discussões em torno da hidrélétrica. Há um grupo que envolve várias entidades inclusive a universidade de Rondônia , lutando contra as hidrélétricas

O povo Gavião, é falante da língua do tronco Tupi , família Mondé, dividem a Terra Indígena Igarapé Lourdes com o povo Arara/Karo. É maioria na terra com uma população de mais de 400 pessoas. Nas suas terras há duas aldeias onde funcionam postos da FUNAI e mais 5 aldeias menores. O povo fala sua língua e ainda realiza algumas de suas festas, apesar das influências da sociedade não indígena, pois estão em contato direto com os vários segmentos da sociedade.

É um povo guerreiro, a nova geração se preocupa em preservar a memória histórica e cultural.

(Colaboração muito especial de Edineia Isodoro, formada em Letras e matemática com mestrado em sociolinguistica ( mestra fresquinha).
Profissional- Trabalha na Secretaria de Estado de Educação- REN - Ji-Paraná, mas diretamente com os povos Arara e Gavião, indiretamente desenvolve outros trabalhos com outros povos de Rondonia. Atuo ha 13 anos com a questão indígena, e educação, como formação do professor indígena, assessoria pedagogica nas escolas indígenas etc, sem quem não seria possivel fazer esta matéria, e a quem devemos milhares de obrigados!)

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