Professorinha Silvia
Qual é o problema?
Li recentemente (no jornal o Público de dia 7 de Dezembro de 2006) um artigo sobre um estudo feito onde se acusa o sistema de ensino português de discriminar os seus alunos por turmas, anos e vias de ensino. Acusam de juntar os bons com os bons e os fracos com os fracos
Correndo o risco de não ser politicamente correcta eu pergunto: qual é o problema?
Todos sabemos que acontece e por que acontece. Todos sabemos que os alunos fracos atrasam uma turma pois não podemos avançar e deixar dois ou três alunos com mais dificuldades para trás. Seria injusto para eles. Mas não é também injusto para os alunos com mais facilidades que estão aptos para avançar mais rapidamente? Ou só há injustiça e prejuízos quando prejudicamos os mais fracos? Os alunos bons também merecem ser motivados com novas informações e matéria interessante e motivadora que lhes seja dada a um ritmo que coincida com o ritmo deles. Quantas vezes observamos na nossa sala de aula alunos que acabam os exercícios mais cedo que os outros e ficam o resto do tempo aborrecidos à espera que os colegas acabem ou se põem a falar com o colega do lado? Ou então vemos o colega do lado, mais fraco, resolver copiar tudo desse miúdo mais rápido acabando por não aprender nada nem usar a sua própria cabeça para resolver os exercícios? Os alunos bons acabam por desmotivar e achar que conseguem tudo sem estudar. Ou seja, acabam por deixar de estudar pois é tudo demasiado fácil e lento para eles.
Por que devemos atrasar uma geração de bons alunos e futuros grandes homens em nome do politicamente correcto?
Os alunos mais fracos devem ter uma turma que possa receber pedagogia diferenciada, programas adaptados, uma turma com menos alunos, com disciplinas de carácter mais prático ou virado para a vida activa, ou talvez, quem sabe, com programas totalmente diferentes, elaborados pelos próprios professores tendo em conta o meio sócio-cultural e características dos alunos. Por que não este tipo de "discriminação"? Não é necessariamente uma discriminação negativa. Não merecerão os alunos menos bons um ensino que lhes permita evoluir? Não merecerão igualmente os alunos bons um ensino que lhes permita evoluir? Por que devemos atrasar uma geração em nome do politicamente correcto?
Por que não seguir um sistema semelhante ao dos Estados Unidos da América? Por norma não sou muito fã do sistema americano, mas eles têm algo que talvez se possa adaptar ao nosso próprio sistema. Também eles têm um ensino que divide os alunos por classes. Em algumas classes os alunos têm Inglês avançado (Advance English) noutras têm Inglês Básico (Remedial English). É que além de haver alunos bons e maus, há também alunos que são bons em algumas disciplinas e menos a outras. Um aluno fraco a Inglês pode ser bom a Matemática. Por que não ter o Inglês Básico e a Matemática Avançada?
Afinal, chego à conclusão que o sistema de ensino Português deveria ser ainda mais "discriminatório" do que "é". Nem todos têm aptidão para ser bons a todas as disciplinas. A crítica ao nosso sistema de ensino tal como está não deve ser aplicada ao facto de separar os alunos bons dos maus, separar os que ficam retidos os que progridem sempre, devemos criticar o nosso sistema de ensino por achar que todos os alunos devem ser bons a tudo por igual nivelando sempre pelo mais baixo.
E por não sermos todos iguais chegou a altura de acabar com o politicamente correcto, temos que chamar as coisas pelos nomes e dizer verdades que ficaram por dizer durante anos por receio de ferir susceptibilidades.
Os melhores alunos devem ter uma turma ao ritmo deles e que satisfaça as suas expectativas assim como os alunos menos bons devem ter uma turma que siga o ritmo deles e que vá de encontro às suas expectativas. Quantas vezes nos perguntam nas aulas: "Para que quero eu o Inglês ou o Português???" O Inglês e o Português deve ter um programa que vá de encontro ao que os alunos desejam seguir no seu futuro. E tudo isto implica separação e "discriminação".
Nem todos temos o estofo, aptidão e facilidades de aprendizagem suficientes para sermos doutores, sejamos algo diferente e com todo o orgulho. O que necessitamos é de formação adequada para a nossa vocação. Formação essa que se perdeu com a uniformização do ensino, com a ideia errónea que todos os alunos são iguais. Quantos de nós não precisam de um bom electricista ou canalizador ou mesmo um carpinteiro? Onde estão eles? Há formação para as pessoas com essa vocação? Pessoas com uma formação adequada que realizem um trabalho adequado e especializado chegam a ganhar mais do que um médico, professor ou advogado! Onde está o desprestígio em estudar para ser canalizador, por exemplo?
Por isso volto a colocar a questão: qual é o problema da separação dos alunos?
Sílvia (aprofessorinha.blogspot.com) Formada como professora pela Universidade Católica Portuguesa que frequentou entre 1995 e 1998 quando foi para o 5º ano, ano de estágio pedagógico. No ano seguinte fez uma pós-graduação na Universidade do Porto. Já deu aulas do norte ao sul do país e também na Ilha da Madeira. Diz que sua melhor experiência de ensino foi na Madeira onde o ensino está bastante avançado e onde o respeito entre professores, alunos e governantes ainda existe. Tem, ao todo, 7 anos de serviço cheios de boas e más experiências mas, principalmente, 7 anos que, como diz Silvia: 'Me fizeram crescer como pessoa.'
1 comment:
Essa da Madeira eu relativizaria, só porque primeiro trata-se de toda a família Jardim da família Ramos e das restantes família (são poucas, mas...) e só depois do resto.
É certo que há algumas regras que ainda por lá se mantêm, mas afinal aquilo é um feudo com jurisdição quase própria.
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