Monday, December 11, 2006

Papai Cardoso


MEMÓRIAS (BEM) VIVAS
Por Nuno Cardoso

O facto de ter tido um segundo filho tem vindo a proporcionar uma experiência bem curiosa, mas ao mesmo tempo com o seu “quê” de doloroso.
Este pensamento vem-me à ideia quando vejo o meu filho mais novo a viver as suas primeiras aventuras no campo da “comida-que-não-se-pode-considerar-sólida-nem-líquida-mas-que-é-algo-mais-que-somente-leite-materno”.

E é engraçado, como de repente, dou por mim a pensar:
“Mas será que com a pequena também passámos por isto?”
A resposta, obviamente, só pode ser sim.

Pelo que descubro, com um misto de espanto e de algum horror, que o processo de aprendizagem porque os bebés passam para começarem a comer “comida-de-colher”, foi algo que eu enterrei no mais profundo e obscuro recanto do meu cérebro que comanda o “orgulho de pai”.

É que não há orgulho que aguente: ver o miúdo a comer (?) faz-me pensar como é que foi possível a nossa espécie ter sido capaz de sobreviver a milhares de anos de evolução?
No Reino Animal todos os filhotes se deleitam com qualquer migalhita que os pais lhe dêem. Mas nós não… rejeitamos uma, duas, três vezes ou mais o que nos é levado em mão pela colher.
Cada colher tem que ser insistentemente oferecida para ser aceite.

E ele, alegremente, com um sorriso trocista, põe-a fora enquanto nos olha de forma desafiadora…

Colher com papa lá dentro, um sorrizito e aí está: papa alegremente a escorrer pelo queixo abaixo!
Depois há coisas muito mais interessantes a concorrer com a comida para entrar na boca: no top estão as mãos.

Desde que o cachopo nasceu, uma das frases que ele mais ouve é: “Ai tão giro, tão lindo!”.
Ele deve ter decidido tirar a prova, para ver se era mesmo assim tão bom como todos lhe diziam, e toca de enfiar as mãos na boca como se não houvesse amanhã.
Eu julgo que ele deve ser mesmo bom, porque é tremendamente difícil convencê-lo a trocar a mão pela papa.

A haver banda sonora que acompanhe esta fase da vida dele só pode ser aquela música dos Xutos & Pontapés “Eu cá sou bom, sou muito bom, eu cá sou bom, sou muito bom, tou sempre a abrir…”

Convencê-lo a trocar as mãos pela papa é de tal forma difícil que estou convicto que ele vive atormentado com a resolução da seguinte equação: é a minha boca que é imensamente pequena, ou são as minhas mãos imensamente grandes?

O processo de alimentação em si é também um desafio à ciência: o rapaz deve estar convencido que é possível absorver papa pela pele.
É que só dessa maneira consigo explicar a irresistível tentação que o pequeno tem para pôr papa no nariz, nas bochechas, nas orelhas, sei lá mais onde…

E depois o final: aquela cara parece um campo de batalha onde formigas trabalhadoras já fizeram as suas trincheiras. Ou então alguém mais distraído quase podia afirmar que aquele bebé tinha acabado de disputar uma partida de paint-ball. Outra hipótese é a possibilidade de alguma experiência de um novo produto de cosmética que correu mal…

Bolas, não é fácil manter um orgulho paternal intocado quando nos deparamos com este espectáculo diário!



Nuno Cardoso,

31 anos de idade,

Pai de dois filhos, uma menina com 2 anos e 4 meses e um menino com 4 meses.
Alguém que se esforça por ter um projecto de vida muito bem definido para os filhos: incutir-lhes princípios para que possam ser Felizes!... O que, evidentemente, não quer dizer que eles não me dêem cabo da cabeça! Que dão… oh lá se dão!

1 comment:

Só Maria said...

é lindo, não é? as crianças a babarem, a papa a escorrer, os Pais cobertos daquela substancia peganhenta e adocicada...
não há, de facto, orgulho k resista!!
Ou há?

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