Saturday, October 21, 2006

Porandura

Poética Poranduba
Por Ademário Ribeiro em maestra iniciativa


KOYRA

(Rito de Iniciação da Criança ao Mito e Cultura da Tribo, Família e ou Nação)

Taujé kurumim, taujé (Bis)
Endé pyri mo-sã-sãia
Ta’ poranga Monangareté! (Bis)
Ejori angekyia oré
Oré r-eyî (Bis)
Mingó rekó rupi
Jandé koyr iá-bé!

Taujé kó-pir
Só kaá-bo
(jabê turuçu poryb
jabê ipó!)
Oré r-eyî (Bis)

...Nhe-mo-saraîa
monhang-kaú!
Jabê turuçu poryb
Jabê ipó:
Oré r-eyî!... (Bis)

...Nhe-mo-saraîa
Monhang-kaú!
Jabê turuçu poryb
Jabê ipó!




FOMOS E SOMOS

I
QUANDO o nosso coração de
ÍNDIO era pássaro
Voávamos pôr céus e mares com TEMBETÁ fulgurante
A Terra não era de ninguém
– ERA DE TODOS
E nos habilitávamos através dos Cantos Banhos
Danças Músicas Desenhos
Ervas e Pajelanças!

II
FOMOS uma GENTE que
através de Monangareté -
“Força Criadora” e seu Sopro Mágico,– ganhávamos a VIDA!...
FOMOS uma GENTE que se originava num Lago Encantado
FOMOS uma GENTE que se originava numa Terra do Céu
FOMOS uma GENTE que se originava numa Pedra Grande
FOMOS uma GENTE que
se originava e ressuscitava
Dos “toros” sagrados do KWARUP!
FOMOS uma GENTE
artesã - mítica - e- mística
Que coletava - caçava - plantava
E conhecia e CULTUAVA
uma Sabedoria Milenar
E com as Marés Rios Astros Ervas Plantas
Uiaras Curupiras Heróis e Espíritos
Vivíamos em HARMONIA e
TUDO era CULTO de VIDA!
FOMOS milhões e milhões
de irmãos distribuídos
Nas Terras do Pau-Brasi
e puros dividíamos
Kará Mandioka Koyá e Kauim!
FOMOS belos e fortes e
”DEUS” era

Maira Namandu Omamanì
Karu- Sakaibê Ninhò Ñhendevuruçu Iprere Kananciuê Mavutsinim
(nunca o azuado AUÊ do trovão ”Tupã”!)
FOMOS mãos dadas pelas
ALDEIAS nas FESTAS
Para PLANTAR para COLHER e para DISTRIBUIR os FRUTOS
à Criança ao Moço à Moça ao Ancião
E nos enfeitávamos de PENAS
FLORES MEL e PICUMÃ...

III
MAS, COBRA GRANDE
se aliou a ANHANGÁ:
E haja, caravelas cancros
cruzes e arcabuzes!
Atarantaram as Tribos de Pindorama/Abiayala
Em nome dos “progressos” dos reis da Coroa Portuguesa:
(Violaram - saquearam - Mistérios e Sonhos Sagrados
Inventaram – instituíram vícios
doenças e “pecados!”)
Bandeirantes, bandoleiros históricos, roubaram e destruíram
O Império Mágico das ÁGUAS SÓIS TERRAS E ARES!
Estupraram as nossas FILHAS
Aterrorizaram as nossas CRIANÇAS
Esquartejaram os nossos MOÇOS
Humilharam os nossos AVÓS
Como nos FAROESTES!...
O LUCRO abriu estradas sem-fim
E nas margens de AMERÍNDIA pesadelavam ali-aqui
Seus FILHOS - (nossos) IRMÃOS
Embora sonhássemos Montezuma
Che Lampião Tupac Amaru
Sandino e Conselheiro...
De tanto explodirem nossas cabeças
Nas bocas dos canhões por tantas Tordesilhas e Capitanias
o Sol e a Lua – Irmãos gêmeos – partiram ARURU para os céus!
Serpente Civilizatória
envenenou contra ÍNDIO:
Juiz Cachaça UDR FUNAI grileiro
Posseiro mineiro madeireiro seringueiro
E ainda Rouba o MUNDO NOVO inteiro!

IV
SOMOS muitos os Ajuricaba
Maroaga Marçal Sepé
Zumbi Katari
Ângelo Kretã e Pankararé
Nestes CINCO SÉCULOS de RESISTÊNCIAS e EMBOSCADAS
SOMOS muitos os dos Guetos Cárceres Canaviais Mocambos
Sertões Cidades Quilombos Favelas
buscando em Saga e Vigília:
Yby Marã-e’yma: “Terra Sem Males!”
Por todos os já TOMBADOS e REDIVIVOS na VIDA
dos que ESTÃO e dos que VIRÃO:
Abá am-iõ-te!

“Índio

Vai

Continuar

De

Pé!”


ESTADO DE PAZ

À Gilberto Dimenstein,
Às Meninas e Aos Meninos do Projeto Agente Jovem,
Aos Poetas, Arte Educadores, Brinquedistas, Oficineiros, Professores...
À Todos os Que Ainda Crêem e Aos Que Acreditam Que Não Mais Crêem.

Dia e noite com eles tantos
Divido a minha exclusão
De pai ou mãe desempregado...
Sou o menino de carro-de-mão,
Fora da escola, na porta do supermercado!

Sou eu, esse que perambula pela rua,
Vida colada pelos drops da ilusão!
Despregado aviãozinho, realidade crua:
Violência social – síntese da civilização!

Escarro, esgoto, extermínio
No berço onde nasceu o Brasil:
A velha colônia mantendo domínio:
Candelária, Galdino, Eldorado dos Carajás!
Hoje, muita: Favela, carnaval, polícia e fuzil;
Ontem: muito pau, pouco pano, pouco pão,
Muita saúva e pouca saúde:
Antigos e novos males são!!!

Somos os que estão na linha de frente
E há os que estão mais atrás.
Buscam também o direito de ser gente
E têm a utopia de um ESTADO DE PAZ!

Mas, nas oficinas e na rua,
Invertemos o modelo de “cidadãos de papel”
E, num entre sai sol e vem a lua,
De “Cidadão”, passo a ser Autor e não réu,
Pois mãos e corações com poesia e murais
(Constróem e redesenham):
UM CONCRETO ESTADO DE PAZ!!!



(Do prefácio à edição original: Com esta 4ª Edição (digital ou xerográfica), em 2006, já se passaram 20 anos da publicação de Sopros & Flexas, e, por fim, o poeta Ademario Ribeiro desengaveta Poética Poranduba – Eco – Étnica, que teve seu lançamento em 2001 por causa de uma arapuka sedutora, engenhosa e generosa de Carlos Pronzato e Olimpio Serra. Sua intenção era em 1986 trazer à lume seu livro Eco-Indigenista – Multilíngue, com poemas tematizando os Índios no Brasil, todos em línguas indígenas tais como: (Karajá, Kaingang, Pataxó, Kiriri, Wapixána, Maxakali, Kamaywrá, Yanomami, Kiriri, Guarani, Kulina, Zuruhá, Guajajara e que entre outras, predomina a Tupinambá ou Tupi Antigo), todas traduzidas para o português. Como deu com os burros n’água por falta de incentivos para esse que era uma síntese poética de seu pensamento, pesquisa e contribuição às Tribos no Brasil, resolveu abreviar a espera, nos antecipando, ora, com o Poética Poranduba – Eco – Étnica.)





Ademario Ribeiro, poeta, teatrólogo, ambientalista, pesquisador dos povos indígenas no Brasil e de cultura popular, produtor artístico-cultural, artista e diretor teatral- - DRT 443/78. Baiano de Miguel Calmon e filho de Alberto Severiano Ribeiro e Amélia Souza Ribeiro. Ao longo de 3 décadas desenvolve projetos socioeducativos, culturais, artísticos, ambientais e indioafrodescendentes. Membro fundador e vice-presidente da ALARME: Academia de Letras e Artes da RMS, fundador da Associação de Sambadores e Sambadeiras do Estado da Bahia, fundador e colaborador da Associação Muzanzu do Quilombo Pitanga dos Palmares e fundador-presidente da ARUANÃ - Associação para Recursos Ambientais e Artísticos –
www.aruana.org.br - sediada em Simões Filho - Ba.

Contatos com o autor:
71 9951 9212 - Telefax: 3296 4857E-mail:
ademarioribeiro@aruana.org.br

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