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Oriente Médio: A nova Menina de ouro do cinema mundial Por Roberto de Queiroz
A Primeira vez que assisti ao filme O Expresso da Meia Noite (The Midnight Express, de Alan Parker), sobre a história de um jovem que é condenado a prisão perpétua numa penitenciária turca por tráfico de Haxixe, eu tinha por volta de meus treze anos.Naquele mesmo dia, conheci um homem de idade (Sr. Nélson) que me falara pela primeira vez de forma madura sobre a situação do Oriente Médio. Após aquela verdadeira aula de história informal, me perguntei: será que algum dia verei um filme sobre a situação desses países, produzido por um diretor da própria terra?
Anos mais tarde, Deus (ou Alá, para os seguidores daquelas inóspitas terras) mais a boa vontade de alguns fantásticos cineastas começaram a atender meus pedidos. Nunca fui contra filmes sobre as guerras santas, conflitos palestinos, sagas em busca de redenção, realizadas por diretores americanos e europeus (há até bons exemplares como o recente Syriana, de Stephen Gaghan e Soldado Anônimo, de Sam Mendes), mas nada se compara a história contada por aqueles que sofreram os atos bárbaros. Com a abertura oferecida pela globalização, milhares de espectadores podem se deliciar com verdadeiras obras-primas de baixíssimo orçamento e de qualidade estética inigualável. Como retratar um território marcado por fanatismo, lutas sangrentas, discussões ideológicas e, principalmente, onde ser um homem-bomba pode se tornar um atestado de heroísmo para muitos cidadãos?
Basta que um casal de noivos viva em regiões diferentes do mesmo país para que tudo acabe em guerra (como se pode ver em A Noiva Síria, de Eran Riklis), ou que um grupo de imigrantes ilegais se afobem e atravessem via mar em Israel antes dele ter se tornado sequer um estado (mote central de Kedma, filme o sempre arrojado diretor Amos Gitai), ou até mesmo para impedir uma irmã de se suicidar, fazendo com que uma mulher exilada seja obrigada a retornar a sua pátria-mãe que nada fizera de bom por ela (como percebido na belíssima produção A Caminho de Kandahar, de Mohsen Mackmalbaf).
Muitos grandes astros hollywoodianos têm se rendido a esse viés cinematográfico. Caso de Natalie Portman, que ajuda uma amiga recém-conhecida num passeio a encontrar seu marido, devedor contumaz, em Free Zone (também dirigido por Amos Gitai). Em contrapartida, há também produções dessa região que atingem notoriedade mundial, como, por exemplo, o extraordinário Paradise Now, sobre as escolhas e destinos de dois homens-bomba, dirigido por Hany Abu-Assad (candidato ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro) e Osama, do diretor Siddiq Barmak, que nos traz a trajetória de uma garota que se faz passar por homem para ajudar sua família em pleno regime do talibã. E aguardem, pois muito mais vem vindo por aí.
Se existe algum tema no cinema que virou moda de forma febril é a situação atual do Oriente Médio (e não me refiro aqui somente à luta Bush X Iraque). Portanto, preparem-se para mais indignações, espantos e, claro, genialidade nesse território tão marcado por cicatrizes de guerra e, ao mesmo tempo, tão repleto de figuras exuberantes (que, infelizmente, muitos não conseguem enxergar por trás da máscara de poeira).
ROBERTO DE QUEIROZ
Carioca, 29 anos, morador da cidade maravilhosa,amante das mais inusitadas expressões artísticas (emparticular da sétima arte), do qual me considero umconfidente mordaz.
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