Cantos dos Versos
OSTRA DE ÓDIO
Essa terra que é o umbigo do mundo
ou o recôncavo da cloaca dele,
essa terra onde o sangue mana,
ainda que só no desejo pulsátil de que mane de todos os inimigos,
onde o sangue aspira à perpétua derramação em rio,
onde o ódio é espesso, extremo,
e o território, parcela a parcela, mais doce que a flor da vida,
sejam mortas e dêem-se à morte como arma mediática,
onde parece mais relativo que inocentes pereçam,
onde parece menos importante sorrir e festejar a vida,
vivendo e deixando viver,
essa terra da história da salvação e da condenação completa,
do anátema aos infiéis, aos goyim pelos caminhos de cabras e da Lei,
essa terra do desejo, da fome de Deus, do deserto dele,
da Lei perfeitamente observada, linearmente cumprida,
terra das guerras curtas,
dos assassínios cirúrgicos,
mas mortes estratégicas,
da liquidação de líderes, da liquidação politicamente útil de líderes,
terra da arte da vingança fria, morna, quente, incandescente,
da Vingança como símbolo,
da Vingança como via,
terra modelo vingativo de um Bush primário primata
das grande iras e castigos divinos,
dos grandes vómitos maniqueistas,
das grandes cowboyadas pelo mundo,
das grandes caças, das grandes mentiras,
do despejo de munições envelhecidas,
dos grandes contratos exploratórios de recursos,
do grande negócio das armas e do grande teste delas,
do grande negócio do óleo,
da grande mentira da violência,
da grande falácia da retaliação,
essa terra das guerras incisivas,
dos danos colaterais por que se passa sem deixar de engolir tranquilamente o café da manhã,
da memória curta da violência longa,
das facas em permanente amolação,
do sacrifício dos animais e dos humanos em sacrifício de humanos,
essa terra que encontra a pélora do ódio e vende tudo o que tem por ela,
o ódio engastado na espada,
terra onde medra a espada e onde se vive pela espada,
essa terra onde o ódio é um templo
onde o ódio é um altar,
em al-Aqsas a explodir de orgulho e ouro,
terra onde o ódio e só o ódio tem futuro,
onde os rabis pelos direitos humanos e pela paz
são a marginalidade residual da rectidão,
essa terra onde o entendimento fraterno é minoritário e silenciado,
quando há um todo território a reaver,
e uma história para reescrever,
essa terra de colonatos e dos novos muros de miséria,
terra da democracia musculada,
e da corrupção pulverizada,
essa terra de ódio como um pão,
essa terra do assassínio como vulgaridade,
Essa terra!
Esse médio-oriente onde os dentes rangem,
onde a paz shalom, salem, apodrece todos os dias
e vê os seus líderes fortes de paz liquidados
para que outros mais fracos na força empregue Olmert
sejam eleitos para punir,
para limpar o inimigo em bombas cegas,
na ilusão do oportunismo, na baba do pretexto por irradicar.
Terra onde o fanatismo hizbolah medra como o pó
no velho receituário de ódio e aniquilamento do outro.
Terra adiada.
Terra esventrada.
Terra primitiva.
Terra sem perdão.
Nasci numa terra litorânea portuguesa em pleno noroeste ibérico e, antes de olhar para o mundo, já ganhava raízes e apegos apaixonados a essa pequena parcela de mundo, sonhando em voar só com a força da vontade e sem motores, enquanto olhava um céu sempre povoado de aviões comerciais, pardais e outros pássaros num voo baixo ruidosamente invitativo.
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