NOVELA
República do Sol
Capítulo 2
Aquele da Padaria
Por Luciano Piccazio
Começaram, enfim, as aulas. Depois de mudarmos para perto da USP, confesso que fiquei morgando por um tempo. Enquanto o Vini e a Fé saíam para trampar, ficava em casa, fazendo nada, olhando para o teto. De pouco em pouco, comecei a ficar meio louco de olhar para o teto o dia inteiro.
Saía de dia para ver shows, visitar exposições e afins. Só que, como to completamente duro, não saía de noite. É a morte para quem tem insônia. Olhava para os livros, eles olhavam para mim e... Não nos entendíamos.
Por esse motivo, voltar às aulas foi quase que uma benção. A faculdade de história pode ser um belo lugar para desocupados como eu.
Apesar disso, ainda estávamos totalmente no clima Liberdade/Casa nova/Bebida pra caramba. Bebíamos consideravelmente.
Na segunda semana de aulas, como toda boa quinta-feira, fomos tomar cerveja na ECA (Escola de Comunicação e Artes da USP). Saí de lá trançando as pernas, lá pelas duas da matina. Agora já não tinha mais que me preocupar com horários de ônibus, ou ficar sóbrio para voltar para casa. E lá fui eu, a pé, numa caminhada que normalmente faria em 30 minutos.
Aquele breu. Andei, andei, andei. Os caminhos foram ficando turvos, as ruas se pareciam demais umas com as outras. Entrava e saía de ruas que já não faziam tanto sentido. Mas andava, liguei meu radar no automático e fui indo, indo, indo. No disc man, ouvia Bob Marley. E tudo parecia certo.
Quando já eram quatro da matina, vi que poderia, talvez quem sabe, ter me perdido. Estava numa descida, ao lado de uma padaria fechada. Nada, nem sinal de qualquer coisa que me indicasse um caminho. De lá já não sabia voltar para a avenida, e em algumas ruas gente muito estranha ficou me encarando.
Preferi sentar embaixo de um portão ao lado da padaria fechada e esperar um pouco. Dormi.
Quando acordei, um sol mascavo queimava meu rosto, e aquele gosto de guarda-chuva que fica na boca nas ressacas já dava bom-dia. Havia movimento na padaria e meu telefone já dizia que eram oito e meia da manhã. Pedi indicações para o caixa da padoca e andei até a avenida. De lá, casa e cama.
Mesmo dia, uma e meia da tarde, saí com a Camila, amiga nossa que tinha dormido em casa, para aula. Fomos andando por um caminho que ela conhecia e, qual não foi minha surpresa ao descobrir que a dois quarteirões da minha casa havia uma padaria. E qual não foi ainda, muito maior, minha surpresa ao ver que aquela era a padaria que tinha me servido de abrigo na noite passada!
Senti-me quase um Robson Crusoé, ou, para falar bem a verdade, um idiota. Mas valeu, pelo menos foi divertido. Não fosse pela dor de cabeça e a péssima aula de História Antiga, teria sido um dia bom.
Luciano Piccazio Ornelas
http://artefree.blogspot.com/
Capítulo 2
Aquele da Padaria
Por Luciano Piccazio
Começaram, enfim, as aulas. Depois de mudarmos para perto da USP, confesso que fiquei morgando por um tempo. Enquanto o Vini e a Fé saíam para trampar, ficava em casa, fazendo nada, olhando para o teto. De pouco em pouco, comecei a ficar meio louco de olhar para o teto o dia inteiro.
Saía de dia para ver shows, visitar exposições e afins. Só que, como to completamente duro, não saía de noite. É a morte para quem tem insônia. Olhava para os livros, eles olhavam para mim e... Não nos entendíamos.
Por esse motivo, voltar às aulas foi quase que uma benção. A faculdade de história pode ser um belo lugar para desocupados como eu.
Apesar disso, ainda estávamos totalmente no clima Liberdade/Casa nova/Bebida pra caramba. Bebíamos consideravelmente.
Na segunda semana de aulas, como toda boa quinta-feira, fomos tomar cerveja na ECA (Escola de Comunicação e Artes da USP). Saí de lá trançando as pernas, lá pelas duas da matina. Agora já não tinha mais que me preocupar com horários de ônibus, ou ficar sóbrio para voltar para casa. E lá fui eu, a pé, numa caminhada que normalmente faria em 30 minutos.
Aquele breu. Andei, andei, andei. Os caminhos foram ficando turvos, as ruas se pareciam demais umas com as outras. Entrava e saía de ruas que já não faziam tanto sentido. Mas andava, liguei meu radar no automático e fui indo, indo, indo. No disc man, ouvia Bob Marley. E tudo parecia certo.
Quando já eram quatro da matina, vi que poderia, talvez quem sabe, ter me perdido. Estava numa descida, ao lado de uma padaria fechada. Nada, nem sinal de qualquer coisa que me indicasse um caminho. De lá já não sabia voltar para a avenida, e em algumas ruas gente muito estranha ficou me encarando.
Preferi sentar embaixo de um portão ao lado da padaria fechada e esperar um pouco. Dormi.
Quando acordei, um sol mascavo queimava meu rosto, e aquele gosto de guarda-chuva que fica na boca nas ressacas já dava bom-dia. Havia movimento na padaria e meu telefone já dizia que eram oito e meia da manhã. Pedi indicações para o caixa da padoca e andei até a avenida. De lá, casa e cama.
Mesmo dia, uma e meia da tarde, saí com a Camila, amiga nossa que tinha dormido em casa, para aula. Fomos andando por um caminho que ela conhecia e, qual não foi minha surpresa ao descobrir que a dois quarteirões da minha casa havia uma padaria. E qual não foi ainda, muito maior, minha surpresa ao ver que aquela era a padaria que tinha me servido de abrigo na noite passada!
Senti-me quase um Robson Crusoé, ou, para falar bem a verdade, um idiota. Mas valeu, pelo menos foi divertido. Não fosse pela dor de cabeça e a péssima aula de História Antiga, teria sido um dia bom.
Luciano Piccazio Ornelas
http://artefree.blogspot.com/
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