Arquitetura Social
Meio Ambiente e Bom senso: o difícil encontro
Por Cristina Bondezan
Gostaria de poder falar com orgulho das leis de preservação ambiental do meu país , repletas de boas intenções ( tal qual o inferno , que está cheio delas – das boas intenções, e não das leis, claro ).
Darei um exemplo pontual.
A cidade onde vivo situa-se num gigantesco “platô” , ou seja, é uma imensa planície rodeada de vales chamados “itambés “ ou , pra ser pretensiosa , nossos “canyons” tupiniquins . Essa faixa é definida como 100.00m de distância da “quebra “ do relevo e é qualificada como de “ preservação permanente “ – assim como 30.00m dos leitos dos rios , 50.00m de raio da margem dos lagos, etc...
Objeto de muitos sonhos e projetos de várias gerações de arquitetos que sonharam - alguns ainda sonham - em tornar essa faixa de proteção algo contemplativo , de lazer à população, de incremento ao turismo.
Diferentemente disso, temos uma paisagem lindíssima e bucólica, composta por várias cachoeiras que deságuam livremente nos agüíferos das fazendas abaixo , onde o gado pasta e ... Mata a sede. A maioria dessas cachoeiras é esgoto não tratado dos bairros lindeiros , as favelas.
Gosto sempre de substituir a palavra culpa por responsabilidade. Então vamos lá..A conclusão é do leitor.
A legislação federal ( Código Florestal ) proíbe nessa faixa a construção de moradias , parcelamento do solo, ou qualquer outro tipo de atividade - pública ou privada. Nada , absolutamente nada pode ser feito , cuidado, melhorado , quando muito colocar uma cerca divisória pintadinha de branco e ... Largar lá , para preservar ( ???) . É encarada como a faixa – “batata quente na mão” , aquela que , quando um novo bairro é aprovado, discute-se se passará para o município cuidar, ou se ficará sob a responsabilidade do proprietário. Ninguém a quer porque não há flexibilidade . Ninguém investe porque não pode sequer fazer uma trilha de pedras que poderia levar, por exemplo , a um mirante . Nada. O resultado? Invasões não fiscalizadas, moradias em área de grande risco amontoadas umas sobre as outras.
Parcelar, comercializar , cuidar cada um do seu pedaço não pode...O que pode é a prática da omissão conjunta , a degradação do solo, a poluição dos rios, o desrespeito à natureza.
O exemplo é pontual, mas eu poderia dar aqui vários outros. Poderia enumerar vários casos em que a falta do velho e bom – bom senso impediu que se construísse obras importantes para a coletividade por motivos nobres como preservação de um ninho de pássaros raros ou manutenção de uma árvore nativa. É o radicalismo burocrático em detrimento de toda uma população que depende de melhores acessos, de transporte . A questão é ética e polêmica , e não sei encará-la com meu peculiar e flexível romantismo.
Acho mesmo um pé no saco!
Cristina Bondezan nasceu e cresceu em São Paulo entre apaixonados e passionais italianos dos bairros do Cambucí e da Mooca. É arquiteta e urbanista, empresária, docente no curso de Design de Interiores. Exerceu vários cargos públicos na área de Planejamento Urbano , fato do qual não se arrepende , muito se orgulha , paradoxalmente não gostaria de repetir a experiência . Seu escritório profissional situa-se na cidade de Marília, interior de SP . Um sonho : realizar os sonhos . Um prazer : Viver ...intensamente e com olhos atentos. Uma paixão: Portugal.
Gostaria de poder falar com orgulho das leis de preservação ambiental do meu país , repletas de boas intenções ( tal qual o inferno , que está cheio delas – das boas intenções, e não das leis, claro ).
Darei um exemplo pontual.
A cidade onde vivo situa-se num gigantesco “platô” , ou seja, é uma imensa planície rodeada de vales chamados “itambés “ ou , pra ser pretensiosa , nossos “canyons” tupiniquins . Essa faixa é definida como 100.00m de distância da “quebra “ do relevo e é qualificada como de “ preservação permanente “ – assim como 30.00m dos leitos dos rios , 50.00m de raio da margem dos lagos, etc...
Objeto de muitos sonhos e projetos de várias gerações de arquitetos que sonharam - alguns ainda sonham - em tornar essa faixa de proteção algo contemplativo , de lazer à população, de incremento ao turismo.
Diferentemente disso, temos uma paisagem lindíssima e bucólica, composta por várias cachoeiras que deságuam livremente nos agüíferos das fazendas abaixo , onde o gado pasta e ... Mata a sede. A maioria dessas cachoeiras é esgoto não tratado dos bairros lindeiros , as favelas.
Gosto sempre de substituir a palavra culpa por responsabilidade. Então vamos lá..A conclusão é do leitor.
A legislação federal ( Código Florestal ) proíbe nessa faixa a construção de moradias , parcelamento do solo, ou qualquer outro tipo de atividade - pública ou privada. Nada , absolutamente nada pode ser feito , cuidado, melhorado , quando muito colocar uma cerca divisória pintadinha de branco e ... Largar lá , para preservar ( ???) . É encarada como a faixa – “batata quente na mão” , aquela que , quando um novo bairro é aprovado, discute-se se passará para o município cuidar, ou se ficará sob a responsabilidade do proprietário. Ninguém a quer porque não há flexibilidade . Ninguém investe porque não pode sequer fazer uma trilha de pedras que poderia levar, por exemplo , a um mirante . Nada. O resultado? Invasões não fiscalizadas, moradias em área de grande risco amontoadas umas sobre as outras.
Parcelar, comercializar , cuidar cada um do seu pedaço não pode...O que pode é a prática da omissão conjunta , a degradação do solo, a poluição dos rios, o desrespeito à natureza.
O exemplo é pontual, mas eu poderia dar aqui vários outros. Poderia enumerar vários casos em que a falta do velho e bom – bom senso impediu que se construísse obras importantes para a coletividade por motivos nobres como preservação de um ninho de pássaros raros ou manutenção de uma árvore nativa. É o radicalismo burocrático em detrimento de toda uma população que depende de melhores acessos, de transporte . A questão é ética e polêmica , e não sei encará-la com meu peculiar e flexível romantismo.
Acho mesmo um pé no saco!
Cristina Bondezan nasceu e cresceu em São Paulo entre apaixonados e passionais italianos dos bairros do Cambucí e da Mooca. É arquiteta e urbanista, empresária, docente no curso de Design de Interiores. Exerceu vários cargos públicos na área de Planejamento Urbano , fato do qual não se arrepende , muito se orgulha , paradoxalmente não gostaria de repetir a experiência . Seu escritório profissional situa-se na cidade de Marília, interior de SP . Um sonho : realizar os sonhos . Um prazer : Viver ...intensamente e com olhos atentos. Uma paixão: Portugal.
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