Professorinha Silvia
Agressão e violência
Ultimamente o assunto "Violência nas Escolas" tem voltado à ordem do dia desde que se soube que, numa escola de um país da Europa, a violação de uma aluna teria sido filmada com a finalidade de a chantagear de modo a que o estupro de repetisse sem que os violadores tivessem consequências. Tudo isto numa escola, claro. A seguir veio o governo aventar a ideia de se colocarem câmaras de filmar no exterior das escolas para se poder, de certo modo, desencorajar a violência.
Vieram logo em protesto pseudo defensores da privacidade e alunos que não viram com bons olhos essa medida, talvez com receio que a sua violência pudesse ser travada. Um desses alunos até disse que, se o projecto fosse para a frente, haveria modo de desligar ou pintar as câmaras de modo a que não se visse os actos violentos perpetrados contra os colegas (mais novos, geralmente). Será que os opositores de tal proposta de solução para amenizar a violência têm a mesma atitude em relação às câmaras que povoam o nosso quotidiano? Lembrem-se das câmaras dentro dos centros comerciais tão apreciadas por todos, câmaras nas auto-estradas e túneis, câmaras nos nossos locais de trabalho e para alguns até nas próprias casas... Será que quem instalou essas câmaras está errado e elas não funcionam como medida preventiva e dissuasória de males maiores?
Num programa da SIC Notícias, o Opinião Pública, em que o comum cidadão tem liberdade para telefonar e dizer o que lhe vai na alma sobre o assunto do dia, essa notícia das câmaras de vigilância foi o tema do dia. Como sempre está um comentador, neste caso foi uma comentadora, no estúdio de modo a poder responder às dúvidas dos telespectadores participantes e a comentar a notícia. Essa comentadora, se não estou em erro, foi enviado pelo Ministério da Educação, e defendeu a todo o custo que, e cito, "as escolas portuguesas são um local seguro". Isto é, nas escolas portuguesas não existe o bullying, não existe a agressão física a colegas mais novos, não existe, em resumo, qualquer tipo de violência.
Presumo, claro, que a comentadora presente tem a memória bastante curta, ou então não considera a agressão a professores como uma violência. Todos temos em mente as notícias, ainda algo recentes, de professoras (sim, mais uma vez os cobardes escolhem as professoras, e não os professores, para descarregar a sua raiva) agredidas violentamente pelos alunos e por pais de alunos que entraram pelas "seguras" escolas deste país adentro sem qualquer resistência ou interpelação.
Mas, o que a mim me incomodou mais nem foi o facto dessa comentadora não se ter lembrado dos professores como parte agredida. O que me incomodou, e continua a incomodar é o que as pessoas entendem por violência e agressão. Tomei a iniciativa de ir ao dicionário verificar o significado de ambas as palavras:
Agressão: acto ou efeito de agredir; acometimento; ataque.
Violência: qualidade ou estado do que é violento; força; intensidade; ímpeto; irascibilidade; acção violenta; crueldade; prepotência, tirania; coacção.
Ora, como se pode ler, as palavras não incluem só a agressão e a violência física. Parece-me que toda a gente esquece a violência e agressão oral e psicológica que corre pelas escolas do nosso país. Passo a relatar o meu caso pois é apenas do meu caso que posso falar com total conhecimento dos factos.
Desde o início deste ano lectivo que me tenho deparado com actos de violência e agressão dentro da minha escola, tanto de alunos em relação a colegas como de alunos em relação a professores. Os alunos, por dá cá aquela palha, como se costuma dizer, prometem aos colegas que lhes vão "partir os dentes todos", "partir-lhe o focinho", "dar dois murros nos olhos", e por aí adiante. Já para não falar do caso que me revolta mais: o caso de alunos brilhantes e inteligentes que são chamados os "cocós da turma" e que se vêem pressionados a ter maus resultados nos testes de modo a que os colegas não gozem com eles durante as aulas e nos intervalos. Claro está que dentro da aula os professores ainda podem tentar evitar o gozo, mas nos intervalos os alunos estão fora do nosso alcance.
No que a mim diz respeito, este ano já fui obrigada a ouvir coisas que saem da boca de alunos mal-educados que me feriram profundamente especialmente porque eu tento sempre levar todos os alunos a bem, sem ser prepotente ou agressiva de modo a que eles façam as coisas por vontade própria. Não me atrevo a repetir aqui o que me foi dito, mas garanto-vos que foram palavras sujas e mal intencionadas que me dirigiram e agrediram-me mais do que qualquer murro ou pontapé.
Acho que este tipo de violência está implantado nas escolas do nosso país um pouco por todo o lado. Os professores não conseguem fazer frente a alunos que vêm de casa com vocabulário sujo e degradante e que o usam na sala de aula contra colegas e professores como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Dessa violência ninguém se lembra, ninguém toma medidas para impedir que aconteça.
Por mim podiam instalar câmaras de vigilância não só fora das salas de aula mas também dentro. Talvez assim a violência mais comum nas escolas portuguesas pudesse diminuir um pouco e todos nós, alunos e professores, pudéssemos aprender e ensinar em paz sem ser incomodados por rufias que não vão para a escola aprender mas sim agredir quem os rodeia com a sua ignorância, falta de educação e falta de ambição.
2 comments:
Como é evidente. Abraços!
Oi Dinha,
Estou em contato graças à Liliane, a NANA, com a qual tive contato porque, pelo acaso do destino, ela foi emprestar sua luz ao jornal Diário da Tarde, em momento de escuridão. Sou o Carlos Lúcio Gontijo, tenho um site (www.carlosluciogontijo.jor.br), e estou lhe enviando este e-mail pelo encantamento de que sua palavra é capaz. Parabéns, um abraço e felicitações pela palavra bem dita e bendita...
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