Saturday, October 28, 2006

Filosos Vinicius Comenta

A questão do segundo turno

Agradecendo a feliz oportunidade de participar desta inovadora iniciativa, venho expressar algumas linhas sobre o nosso segundo turno.

Como sempre, infelizmente, vivemos épocas de instabilidade e incertezas. O governo Lula surgiu enquanto promessa de rompimento com uma ordem sócio-econômica permeada de injustiças. Mas a história prefere ironias: um governo que se dizia de uma esquerda progressista assumiu ares conservadores, adotando práticas econômicas similares aos famigerados anos-FHC.

Essencialmente, permanecem os velhos desafios: a necessidade de ultrapassagem do neoliberalismo e consolidação permanente das organizações populares.

Vencer o neoliberalismo implica numa reorganização sócio-econômica em que se substitua um modelo de trabalho social e capital privado por um novo modelo de socialização do capital. Certo é que estas breves palavras abreviam uma série de relevantes questões. Todavia, o texto pretende apenas apontar possíveis (e antigas) causas de nossos modernos problemas.

Neste segundo turno, qual o candidato que representa a melhor opção? De imediato, a resposta mais sensata: nenhum. O candidato do PSDB implica no retorno do neoliberalismo em sua expressão mais comum. Serão menos investimentos sociais, privatizações de setores estratégicos, concentração de renda crescente, inviabilização da reforma agrária (apesar de que o governo Lula ficou devendo muito neste aspecto).

O canditado-presidente, por sua vez, criou frustrações ao manter algumas políticas neoliberais e por força das graves acusações de corrupção. Todavia, que não se espere milagre algum. Se as conquistas democráticas e garantias constitucionais asseguradas foram decorrentes de amplas mobilizações populares, seria pueril depositar integralmente as responsabilidades cidadãs num governo. O povo que se mobilize mais no sentido de criar a fazer valer direitos.

E como ficaria a gestão Lula? Ainda que se careça de um programa progressista por inteiro, é relevante ter em mente as condições em que um líder popular ascendeu ao poder: foram respeitadas as regras da democracia burguesa brasileira. Assim, o elitismo político-jurídico nacional teve que se contentar com um governo que se diz popular, apesar das pertinentes ressalvas. Votar no Lula exige maturidade no sentido de não se iludir quanto a sua política econômica num segundo mandato. Entretanto, um eventual segundo governo Lula significa a manutenção de uma onda anti-neoliberal que, para nossa graça, se espalha pela América Latina.

1 comment:

Anonymous said...

Gostei, gostei. Pela primeira vez vi uma crítica do ao governo Lula, pela esquerda, que não é sectária, raivosa. Acho que essa discussão sobre sair da camisa de força do neoliberalismo merece uma discussão mais ampla.
O Vinicius fica devendo mais. E o Roy está de parabéns por ter aberto o caminho.

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