Sunday, November 12, 2006

Editorial Quinta Quinzena


Esta edição está violenta. Ao menos esse foi o tema principal
proposto aos colaboradores do Reação, em via de mudanças e
transcendências. Uma delas é a que eu disse a uma amiga querida: O
‘marketing’ das dificuldades técnicas que venho enfrentando com
este sítio acabou servindo para atrair uma simpatia maior, e um
estímulo a encontrar cartunistas e acelerar o desenvolvimento do
periódico. Isso também é violência, amigos e amigas reacionárias. A
violência pode ser tanática, de Thanatos, Deus da Morte grego, ou
erótica, de Eros, o Deus do Amor. Pode ser usada para construir e
para destruir. O processo de construção de uma idéia, de uma opinião
suficientemente forte para causar uma equivalente reação, física,
intelectual e emocional, é violento.

Com a vitória de Lula no Brasil, de Ortega na Nicarágua, o
governo de Raul Castro bem sucedendo, por enquanto, o de Fidel;
Coréia do Norte em fluxo de crescimento, a China, então, nem preciso
mencionar, e nos Estados Unidos, o eterno retorno da bipolaridade se
re-balanceia (se é que existe semelhante palavra) com o reingresso
do Partido Democrata à maioria e chefia do Congresso e Senado, com o
maior número de estados governados e representados pelo partido que
eu gosto de chamar de ‘direita canhota’; são todos indicadores de mais uma reviravolta temporal às vésperas de sua inevitável explosão. No blogue do BrTv (clique
aqui para ler o artigo e os comentários) recebi um comentário um
tanto quanto ‘ofendido’ por minha postura no que diz respeito às
eleições do país onde vivo, pago impostos e estudo, contribuindo
civilizadamente à sua produtividade. Respondi como pude, e sempre me
prolongando em demasia, tratando de abordar a questão do modo mais
geral possível, sem me perder em detalhes. Não é fácil, mas talvez a
questão seja até existencial, se pararem para pensar comigo:

A violência faz parte de nossas vidas de um modo tão arraigado que
não percebemos as maiores atrocidades, e não as perceberíamos se
estivessem acontecendo debaixo de nossos narizes. Um escritor
estadunidense descreve a frieza de trinta e sete moradores de um
edifício em um subúrbio Norte-Americano, que testemunharam um
assassinato atentado durante meia hora. Somente o trigésimo oitavo
cidadão ousou chamar a polícia, tarde demais. A vítima, uma moça em
seus anos vinte, foi abordada pelo assassino três vezes nesse
intervalo suficientemente longo para que o Exército invadisse aquela
vizinhança, caso a prontidão das testemunhas não sucumbisse à frieza
causada pelo medo nosso de cada dia. Cada vez que alguém acendia a
luz em seu apartamento, o assassino procurava refúgio na escuridão,
mas os moradores do edifício queriam capturar melhor a imagem, e
para tal efeito, apagaram consecutivamente as suas luzes. A moça
gritou, chorou, implorou, esperneou e, finalmente, deu seus últimos
suspiros aos olhos de casais e solteiros amedrontados demais para
tomar uma atitude.

No Brasil, muitos estão tão habituados aos assaltos e seqüestros-relâmpago, que quando esses ocorrem já não se tornam eventos, mas
rotineiros acontecimentos. O costume é tanto, que a vida acaba
perdendo, lentamente, o seu valor.

Em nome de coisas e bagulhos,
protocolos e números e atitudes covardes, bilhões, trilhões de
dólares são gastos anualmente com a indústria bélica. Nas ruas, as
pessoas continuam precisando de melhores empregos, melhores
oportunidades, melhor educação, melhor saúde pública, mas entre os
senadores eleitos em todas as partes do planeta, ainda há corruptos de grande porte, famigerados e
mesmo assim eleitos, e a população universal cada vez mais se divide, de
norte a sul, entre quem pensa que pensa certo e quem pensa que o
outro não pensa.

No Oriente Médio, Israel continua persuadindo o mundo de sua
similaridade aos Estados Unidos e sua história sangrenta.
Infelizmente, isso continua, como entre os vizinhos iraquianos, não
ajudando ninguém. Nem a nós, cá do outro lado do hemisfério, nem a
eles, lá do outro lado da grande muralha, que mesmo depois de
batalhas de palestinos com advogados israelenses, continuam separando
vilas árabes e suas famílias. Muralha perfeita, como a muralha de
pessoas como eu, privilegiadas a uma casa, com um quintal e uma
varanda, perfeitamente protegidos da miséria e da pobreza que assola
o mundo, e assola não só sudaneses em Darfur, norte-africanos e
latinos, brasileiros e haitianos e cubanos, mas também a meus
vizinhos estadunidenses, que muitas vezes assinam um contrato com
Papai Exército e Mamãe Forças Armadas para que não sejam os
‘cucarachas’ que Henfil, em belle époque, se considerou.

Pois, mesmo que nem todos os textos desta quinzena tratem desse
tema, é a violência que nos rodeia, que nos circunda, que nos
cerceia. E o que devemos fazer, como sempre, é reagir. Reagir
abrindo os olhos, para começar, considerando e pesando nosso dever
nesta sociedade. Debatendo, errando, lendo tudo o que possível for
com olhos críticos. Pensar já é um começo. Existencialmente,
precisamos decidir se nos perdemos em milhões de nomes e detalhes,
ou se decidimos de uma vez por todas que nada justifica uma guerra,
nada justifica a violência e algo há de muito patológico e
disfuncional em uma sociedade tão alheia a essa realidade. Pimenta
no olho do outro é refresco, não é mesmo? Que tal começar a expandir
os horizontes e sentir o que não nos arde, ainda, antes que seja
tão tarde quanto foi para a moça assassinada em uma vizinhança
qualquer de um subúrbio estadunidense...

(Contamos com a presença de Silvio Vasconcelos, Cristina Bondezan,
Filósofo Vinicius, Camila Canali Doval, Roberto de Queiróz. Luciano Picazzio e João Vítor, com seus poemas, para esta quinta
quinzena, cacoete verbal. E, olhem só, João Vítor é cartunista e
ainda há de contribuir para o Reação neste estilo que tanto procuramos! Também queremos engajar o leitor mais, fale conosco, diga o que acha que poderiamos fazer com este sítio e vamos ver se colocamos na prática. Edinéia Isidoro, nossa
colaboradora assídua para assuntos indigenas, também ofereceu apoio
e carinho, o que sempre é tudo de bom, e no geral, consegui o que
queria com este ‘marketing’ negativo, afinal, a atenção para tentar
socializar este periódico o máximo possível. Até a próxima
quinzena!)

Abrax,

Roy Frenkiel
O Editor que não edita

1 comment:

Anonymous said...

Nós, do Blog Lady Marmelade, concordamos plenamente com suas idéias.
Devemos parar de olhar para o nosso próprio umbigo, tomar coragem e, quem sabe um dia, sair novamente às ruas para exigir mudanças nesse país de desesperado.
Só que desta vez sem a influência de uma rede de TV...

Passe em nosso Blog se puder e confira nossas idéias
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