Universidade e Cultura
Por Helena Vasconcelos
Num país como o Brasil, cujo imaginário cultural reflete uma das mais fortes expressões do seu povo, a constatação que o estudante não encontra no meio acadêmico uma prática cultural integralizadora à sua formação universitária é, no mínimo, preocupante. Os programas de ensino superior são construídos em gabinetes ministeriais mais preocupados com cartilhas ideológicas e ações populistas, longe de qualquer perspectiva educacional no campo da cultura. Uma pesquisa realizada pela USP mostra que 80% dos jovens universitários entrevistados não sabem para que, afinal, em suas vidas, servem a arte e a cultura e que a passagem pelo ensino superior não altera sua prática cultural de forma diferente daquela vivenciada fora da universidade. O distanciamento pode ser entendido, a começar pela formação curricular, na medida em que se coloca à parte da cultura vivida, como se o “campus” do conhecimento, fosse uma ilha isolada do mundo externo.
Proliferam-se universidades porque é político. É comum até encontrar universidades com expressivo parque cultural construído: teatros, galerias de arte, museus, bibliotecas, livrarias, ateliês, estúdios, gráfica, editora, um núcleo de rádio e televisão, sala de cinema além de acervos históricos e artísticos. Um complexo de causar inveja a maioria das cidades do interior brasileiro, cuja população, lamentavelmente, não dispõe dessa infraestrutura. Apesar desse aparato, os estudantes não são favorecidos por uma prática cultural integrada ao ensino, no uso de seus equipamentos e bens culturais. Os programas de extensão universitária, geralmente, passam por um corredor burocrático em total desacordo com a dinâmica cultural. O modelo de cultura é o mesmo praticado nas secretarias de cultura - uma agenda de eventos isolados, recheados de ações ensimesmadas em seus gestores; política de resultado fácil e desprovida de compromisso com a pedagogia da cultura.
Este tema nunca foi preocupação de um ministério da cultura e não é do de educação, porque este, considera que cultura é outra área. Então, projetos culturais mais substanciais, por iniciativa de professores e alunos, esbarram na falta do aporte necessário à sua plena realização. Também os artistas se ressentem do tratamento dado a eles pelas universidades, o que é mais um dos sintomas da indiferença ao conhecimento da cultura durante a formação superior. Falta anima entre Universidade e Cultura - que não se reduz a um evento ou uma mostra, nem cabe em uma semana ou mês. É necessário perder o status ministrador de uma educação “desculturalizada”: renunciar a pequenas e provincianas ações para então potencializar o conhecimento da cultura na universidade. As universidades carecem de investimentos à pesquisa de vitalidade criadora e a presença de uma educação estética compartilhada aos saberes da comunidade – um mergulho na cultura - um saber que pode e deve ser construído com os estudantes, desde a educação básica até a formação universitária.
Helena Vasconcelos, é professora de Teoria da Arte e membro do Conselho de Políticas Culturais para os Países do Mercosul.
5 comments:
Helena, depois de ler o teu artigo estou convencido. Mora aí a minha ignorância em arte:))) Beijos.
Helena,
Fico imaginando quando as universidades "meia boca" de Lula inauguradas no ano eleitoral sairem do papel. Que desastre!
Cultura brasileira é estudada sim, mas por universidades estrangeiras.
Um abraço.
Excelente! Acho que sei qual universidade inspirou o artigo.:))
Helena, quem dera teu texto chegasse a quem pode decidir. Que bom se tornasse-se bandeira de um ministro.
A cultura, por não ter um fim comercial em si, acaba sendo moeda de troca. Pseudos artistas tomam enormes cifras estatais em nome da arte e, na verdade, querem nada mais nada menos que promoção de sua empresa ou de seus produtos e, assim, a herança cultural tem que crescer feito flor entre as pedras.
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