Crónicas da vida de casado.
Um dos grandes problemas em escrever crónicas é a periodicidade das mesmas, ou seja, de quinze em quinze dias tenho que encontrar algo sobre o que falar. Acontece que nesta quinzena o trabalho não me deu tempo para pensar e desenvolver um tema, assim sem tema e sem tempo só me restou uma solução bastante arriscada para que, num curtíssimo espaço de tempo, conseguisse encontrar um tema e desenvolver o mesmo, evitando assim o meu prematuro despedimento deste espaço. E a solução encontrada foi: convidar a minha sogra a vir passar o fim de semana cá a casa.
Antes do casamento a sogra não passa de uma figura mítica, semelhante ao lobisomem ou ao Minotauro. Pensamos que são apenas histórias para nos assustarem. “Não pode ser!” Pensamos nós. Aquela simpática senhora que nos deixa entrar na sua casa e nos oferece a filha (indo para a cama e deixando-nos sozinhos na sala) nunca se vai transformar num monstro horrível. Vai ser sempre aquela figura simpática, que se ri entre os dentes, face aos nossos comentários de que nunca nos vamos casar, pois não queremos privar uma mãe da presença da sua linda filha. Aquela simpática senhora que nos convida para comer e nunca deixa a sua gentil filha preparar as refeições dizendo-nos, mais uma vez rindo-se entre os dentes, que iremos ter muito tempo para provar as deliciosas iguarias da nossa futura esposa.
No dia do nosso casamento, o mito terminou e, tal como o IRS no primeiro mês de trabalho, a dura realidade instalou-se. A mudança começou assim que o padre disse que éramos marido e mulher. Foi aí que, pela primeira vez, ouvi gargalhadas da minha sogra, até então pensava que ela sofria de um grave problema maxilar que só lhe permitia rir entre dentes. Sinceramente, mesmo sendo ateu , acreditei na altura estar perante um milagre. Só quando notei que as gargalhadas eram dadas apontando para mim e num tom sarcástico é que comecei a ficar assustado, mas não em pânico. Em pânico só fiquei após a primeira experiência culinária a que a minha mulher me sujeitou.
Mesmo assim continuei a achar que isso da sogra não devia de ser assim tão mau como diziam. Cheguei mesmo a pensar que o facto de ela, sempre que me via, começar a gargalhar, se devia ao meu avançado estado de subnutrição, causado pela constante diarreia que me afligia logo após as refeições que a minha mulher preparava. Mas nem quando passei a ser eu a cozinhar as pizzas ultracongeladas (que comecei a comprar) e a recuperar o meu estado físico, as gargalhadas pararam.
Uma coisa que mudou radicalmente com o casamento foi a forma como a minha sogra me tratava. Antes do casamento, tratava-me apenas pelo nome próprio, depois do casamento passou a usar também o apelido, ou seja, deixei se ser apenas o “Esse” e passei a ser também designado como o “Esse Aí”. Numa coisa tenho que lhe dar crédito: nunca utilizou outro nome para me chamar, só adjectivos.
Ao longo dos meus dez anos de casamento, já pensei muitas vezes sobre o porquê desta incompatibilidade, criei e desenvolvi muitas teorias. Compreendi porque razão, no tempo dos nossos avós, as sogras eram assim. Nesse tempo era dado um dote quando as mulheres se casavam, para além disso, as mulheres sabiam cozinhar, tratavam da casa sozinhas e nunca pediam ajuda. Não se queixavam (muito) dos seus maridos, etc. Resumindo, o trabalho escravo deixava de existir na casa das sogras e passava para a dos genros, e como se isso não bastasse, ainda tiveram que pagar para que tal acontecesse. Obviamente que tudo isto é razão mais do que suficiente para ficar a odiar qualquer genro. Mas, nos dias de hoje? Não recebi qualquer tipo de dote. Tenho que ajudar (ajudar é palavra proibida cá em casa) partilhar as tarefas domésticas, ouvir as constantes queixas sobre a forma errada como encaixo a merda dos Tuperwares uns nos outros, desenvolvi uma úlcera nervosa causada por nunca saber o que esperar da próxima refeição feita pela minha mulher, e com tudo isto, ainda tenho que ouvir todos os adjectivos que a minha sogra coloca após pronunciar o tal nome (e não raras vezes, o respectivo apelido). Sim, porque as gargalhadas sarcásticas, eu até entendo (referem-se aos cozinhados com que a minha mulher me presenteia) agora os adjectivos, sempre me intrigaram.
Cheguei no entanto a uma conclusão, quando me apercebi que o meu sogro é tão, ou mais adjectivado do que eu, a existência de uma sogra tem um único objectivo: mostrar-nos como a nossa mulher irá ser dentro de alguns anos.
É essa a razão porque choro sempre que vejo o meu sogro: careca, curvado, magríssimo, sem opinião própria.....(por razões emotivas irei terminar por aqui).
Luis Miguel Luz, 38 anos, casado e pai de uma filha com 5 anos. Um gajo porreiro, bonito (de acordo com os actuais padrões de beleza patrocinados pela Fast-Food) que gosta de ouvir, tolerante e que, acima de tudo, nunca se cansa de realizar a sua parte das tarefas domésticas.....Pois...
4 comments:
Casado!!
A tua Sogra é uma "melga".
Não te esqueças que o Natal não tarda nada está ai! Podias oferecer-lhe um bilhete (só de ida) para a Gronelândia!!! Aproveito para informar que o mesmo pais tem 81.1% de area coberto por GELO!!! lol =X
Pense, se não fosse pelo casamento, os homens viveriam pensando que eles nunca erraram. hehehe!
Bem eu sou UMA casada e não UM, e a minha sogra é bem parecida com a tua....será a evolução das sogras?
Bem, devo ser uma felizarda, corro sérios riscos de entrar para o guiness...a minha sogra é um doce, aliás vejo-a como uma amiga!Quando namorava com o meu marido já a achava uma querida e depois de casar superou as expectativas!A sogra do meu marido (a minha mãezinha claro está), trata-o como um filho!
Começo a pensar que somos "bichos raros" :D
Já te disse que és brilhante?!
Boa semana!
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